Camagüeianas e Camagüeianos, bom dia;
Compatriotas:
Há exactamente um ano, quando escutávamos os
discursos pronunciados pelo Comandante-em-Chefe em Bayamo e Holguín,
não podíamos sequer suspeitar o duro golpe que nos esperava.
No próximo 31 de Julho se completará o primeiro
aniversário da Proclama de Fidel, quem para alegria do nosso povo já
desempenha uma actividade cada vez mais intensa e sumamente valiosa,
como o demonstram as suas reflexões publicadas pela imprensa, mesmo
que, nem nos momentos mais graves da sua doença deixou de contribuir
com a sua sabedoria e experiência perante cada problema e decisão
cardeal.
Na verdade, têm sido meses bem difíceis, embora com
um efeito diametralmente diferente àquele que esperavam os nossos
inimigos, que sonhavam com que se iria entronizar o caos e o
socialismo cubano terminaria por se derrubar. Inclusive, importantes
funcionários norte-americanos declararam o propósito de aproveitar
esse cenário para destruir a Revolução.
Não conhecem bem o nosso povo aqueles que ficam
espantados perante a sua capacidade de crescer-se até a altura que
demanda cada desafio, por grande que ele seja, visto que esta é
realmente a única atitude conseqüente com a nossa história.
É bem conhecida a luta levada a cabo pelos cubanos
de muitas gerações, desde La Demajagua, o Moncada, até ao presente,
sempre frente a grandes entraves e poderosos inimigos. Quanto
sacrifício e dificuldades! Quantas vezes foi preciso reiniciar a luta
depois de cada revés!
Somente nos anos decorridos desde 26 de Julho de
1953, veio a prisão, o exílio, o Granma, a luta na serra e na planície,
até que cinco anos, cinco meses e cinco dias depois do assalto ao
Moncada, chegou o primeiro de Janeiro de 1959.
Naquela altura, como vem acontecendo no presente,
inclusive dentro dos próprios Estados Unidos, a mentira foi incapaz de
ocultar a realidade, apesar de que o nosso povo tinha muito menos
cultura e consciência política que agora.
A maioria esmagadora dos cubanos se juntou à causa
chefiada por um líder que levantava ao alto a verdade como principal
arma face aos inimigos do seu povo, que em vez de fazer promessas
demagógicas advertia, desde o primeiro discurso em Havana, que talvez
doravante tudo fosse mais difícil.
A conclusão dos hierarcas do governo
norte-americano nesse tempo foi também consequente com a sua história:
era preciso derrotar, ou no caso de não consegui-lo, fazer sofrer até
o indizível esse povo que ousava aspirar à justiça, à dignidade e à
soberania. O exemplo que Cuba representava resultava perigoso demais
num continente pobre, submetido e explorado.
Mas não conseguiram pôr-nos de joelhos. A nossa
resposta foi transformar-nos maciçamente em combatentes; suportar com
estoicismo a escassez e as dificuldades; derramar o nosso suor nos
campos, nas fábricas e trincheiras; levar a cabo inúmeras batalhas
vitoriosas e estabelecer arquétipos na ajuda internacionalista.
Perante os restos de cada uma das 3 478 vítimas
mortais de actos terroristas organizados directamente, apoiados ou
permitidos pelas autoridades dos Estados Unidos; perante os tombados
na defesa da Pátria ou no cumprimento do dever internacionalista, o
nosso povo ratificou o compromisso com os seus heróis e mártires, com
a sua herança "mambisa" e o exemplo de Martí, Céspedes, Maceo, Gómez e
Agramonte, que seguiram homens como Mella, Martinez Villena e
Guiteras, símbolos do pensamento e da acção de infinidade de patriotas
anónimos.
Assim tem sido, na essência, o último meio século
da nossa história. Não houve um minuto de trégua frente à política do
Governo dos Estados Unidos encaminhada a destruir a Revolução.
Nessa forja de esforço e sacrifício tem crescido a
moral e a consciência deste povo; nasceram-lhe filhos da estirpe de
Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González
e René González, capazes de assumirem com serenidade, valor e
dignidade os rigores de uma prisão injusta, espalhados por diferentes
cárceres dos Estados Unidos.
Eles são exemplos, mas não excepções. Somam milhões
os cubanos e as cubanas aos quais não os amedrontam nem os perigos nem
as dificuldades.
A proeza é quotidiana em cada canto desta terra,
como o estão a demonstrar os nossos bravos desportistas nos Jogos
Pan-americanos.
Assim tem sido durante os mais de 16 anos de
Período Especial, de esforço sustentado de todo o país para
ultrapassar as dificuldades e continuar adiante –e assim terá que ser,
visto que ainda não temos saído do Período Especial.
Por isso resulta duplamente meritório que uma
província alcance a condição de Destacada que, como se sabe, outorga-se
após a avaliação dos resultados obtidos nos principais domínios.
Conseguiram-no nesta ocasião Cidade de Havana,
Granma, Villa Clara e Camagüey, às quais felicitamos em nome do
Comandante-em-Chefe, do Partido e de todo o nosso povo, por esse
importante triunfo. Também a Cienfuegos, Matanzas e Sancti Spíritus
pelo reconhecimento recebido, e a Las Tunas por se constatarem na
província avanços encorajadores.
Para determinar qual delas seria a sede deste
comício central, o Bureau Político avaliou muito especialmente o
esforço quotidiano, calado e heróico perante as dificuldades. Assim o
tem feito o povo de "O Camagüey", como diziam os mambises, para obter
esses resultados.
Os avanços são fruto do esforço de centenas de
milhares de companheiros; dos operários, camponeses e do resto dos
trabalhadores; da contribuição imprescindível dos intelectuais,
artistas e trabalhadores da cultura; das heróicas donas-de-casa e
aposentados; dos estudantes da Federação de Estudantes do Ensino Médio
(FEEM) e da Federação de Estudantes Universitários (FEU); dos nossos
pioneiros; da Federação das Mulheres Cubanas (FMC), dos Comités de
Defesa da Revolução (CDR), da Associação de Combatentes e das células
zonais do Partido, que tão insubstituível contribuição fazem à
sociedade.
Sem eles, sem o trabalho, o estudo e o sacrifício
quotidianos de tantos homens, mulheres e crianças, o clarim da
cavalaria agramontina não ressoaria hoje novamente nestas grandes
planícies.
Ora bem, não deve acontecer como no beisebol, onde
as vitórias são apenas dos jogadores e as derrotas são do director
técnico da equipa. Não seria justo deixar de reconhecer publicamente o
importante papel que desempenharam neste sucesso os dirigentes do
Partido, do Governo, da UJC, e das organizações de massas e sociais a
todos os níveis, ao igual que numerosos quadros administrativos.
Ressaltar em particular o bom trabalho do
companheiro Salvador Valdés Mesa, actual Secretário Geral da Central
de Trabalhadores de Cuba (CTC), quem durante uma longa etapa e até há
13 meses atrás, foi o Primeiro Secretário do Comité Provincial do
Partido, e o excelente relevo feito até ao presente pelo companheiro
Julio César García Rodríguez.
É justo e necessário reconhecer o que foi alcançado
nos últimos anos nestas províncias e em todo o país, porém com uma
clara consciência dos nossos problemas, das deficiências, erros e
atitudes burocráticas ou indolentes, algumas das quais ganharam
terreno nas circunstâncias derivadas do Período Especial.
Assinalar os importantes resultados atingidos
nestas províncias não significa desconhecer que em todo o país se
trabalha. Nas províncias orientais, por exemplo, foi necessário fazê-lo
em condições muito difíceis, com escassez de recursos como
consequência de razões objectivas e também subjectivas.
Contudo, nem sempre o esforço é acompanhado por
iguais resultados. A efectividade depende em grande medida da
constância e da organização, nomeadamente, do controlo e da exigência
sistemáticos e, em particular, de até onde se tenha conseguido
incorporar às massas ao combate pela eficiência.
É preciso somar a todos à batalha quotidiana contra
os erros próprios que agravam as dificuldades objectivas derivadas de
causas externas, em especial as provocadas pelo bloqueio económico dos
Estados Unidos, que realmente constitui uma guerra implacável contra o
nosso povo, e a actual administração desse país tem colocado
particular animadversão em encontrar a mais mínima via de nos fazer
dano.
São inúmeros os exemplos que poderiam assinalar-se.
Limitar-me-ei a mencionar os obstáculos às transacções comerciais e
financeiras do país no exterior, encaminhadas muitas das vezes a
comprar alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas da
população, e a negação de acesso a serviços bancários mediante a
coacção e a imposição extra territorial das suas leis.
Também estão os entraves quase intransponíveis que
chegam ao ridículo, impostos por esse governo às viagens dos seus
cidadãos a Cuba e também dos cubanos ali residentes para visitarem os
seus familiares; a negativa de vistos não apenas para os nossos
funcionários oficiais, mas também para artistas, desportistas,
cientistas e em geral para todo aquele não disposto a caluniar a
Revolução.
A tudo o antes dito se somam, como denunciou
recentemente o nosso Ministério de Relações Exteriores, os obstáculos
ao cumprimento do estabelecido nos acordos migratórios relativamente
ao número mínimo de vistos a serem outorgados anualmente.
Com essa política se estimula àqueles que recorrem
à emigração ilegal e são recebidos ali como heróis, muitas das vezes
depois de arriscarem a vida de crianças, e apesar de que tão
irresponsável atitude coloca em perigo não apenas a segurança dos
cubanos, mas também a dos próprios norte-americanos, que o seu governo
constantemente proclama proteger, visto que aquele que se arrisca a
traficar com seres humanos por dinheiro é provável que não hesite em
fazê-lo com drogas, armas ou alguma coisa de similar natureza.
Cuba, pela sua parte, continuará a honrar, como fez
até hoje, os seus compromissos com os acordos migratórios.
Os últimos doze meses são um exemplo notável da
maturidade do nosso povo, da sua firmeza de princípios, unidade,
confiança em Fidel, no Partido e, sobretudo, em si próprio.
Apesar da profunda dor que nos afligia não se
deteve nenhuma tarefa. No país há ordem e muito trabalho; funcionam
quotidianamente os órgãos de direcção do Partido e do Governo na busca
colectiva da resposta mais efectiva possível para cada problema.
Não há assunto relativo ao desenvolvimento do país
e às condições de vida do nosso povo que não tenha sido abordado com
responsabilidade e em cuja solução não se trabalhe. Não há tarefa da
Batalha de Idéias, da Revolução Energética e outras impulsionadas pelo
Comandante-em-Chefe que esteja estagnada. Como sempre acontece em
assuntos de tanta envergadura, foram necessários ajustes e
prorrogações e não descartamos que haja que fazer outros no futuro por
imperativos materiais e ameaças que todos conhecemos.
Ao mesmo tempo, desde então, com serenidade,
disciplina e sem alardes, o nosso povo tem continuado a se preparar
para encarar qualquer aventura militar do inimigo.
Centenas de milhares de milicianos e reservistas
das Forças Armadas Revolucionárias, junto dos oficiais, sargentos e
soldados das tropas permanentes, realizaram a Operação Caguairán, que
permitiu incrementar substancialmente a capacidade defensiva do país
ao atingir níveis de preparação combativa superiores aos de qualquer
outra etapa.
É um esforço grande em momentos em que os recursos
não abundam, mas resulta simplesmente imprescindível. Continuar-se-á a
fazer, como até agora, com a maior racionalidade, tanto do ponto de
vista material como do emprego do tempo dos cidadãos.
Com a defesa não se brinca!, orientou o Comandante-em-Chefe
e o reafirmou mais uma vez há apenas uns dias. Para nós, como tantas
vezes eu disse, evitar a guerra equivale a ganhá-la. Porém, para ganhá-la
evitando-a, é preciso derramar muito suor e investir não poucos
recursos.
A contundente resposta popular à Proclama do
Comandante-em-Chefe colocou em crise todos os planos do inimigo, mas
ele, em vez de avaliar a realidade e rectificar os seus erros, insiste
teimosamente em continuar chocando com a mesma pedra. Especulam acerca
duma suposta estagnação do país e até sobre uma "transição" em
andamento. Mas, por muito que fecharem os olhos, a realidade se
encarrega de destruir esses sonhos tresnoitados.
Como informara a imprensa, a Operação Caguairán
continuará nos próximos longos meses. Permitirá preparar ao redor de
um milhão de compatriotas e terá como cólofon o Exercício Estratégico
Bastião 2008, que realizaremos a finais desse ano.
Portanto, para essa data estaremos mais bem
preparados para resistirmos e vencermos em todas as frentes, incluída
a defesa.
Também para essa data se terão realizado as
eleições nos Estados Unidos e terá concluído o mandato do actual
presidente desse país e a sua errática e perigosa administração,
caracterizada por um pensamento tão retrógrado e fundamentalista, que
não deixa margem à análise racional de nenhum assunto.
A nova administração terá que decidir se mantém a
absurda, ilegal e fracassada política contra Cuba ou aceita o
ramalhete de oliva que estendemos por ocasião do 50 aniversário do
desembarque do Granma. Isto é, quando reafirmamos a disposição de
discutir em pé de igualdade a prolongada desavença com o governo dos
Estados Unidos, convencidos de que os problemas deste mundo, cada vez
mais complexos e perigosos, apenas têm solução por essa via.
Se as novas autoridades norte-americanas deixarem
finalmente de lado a prepotência e decidirem conversar de modo
civilizado, bem-vindo seja. Se não for assim, estamos dispostos a
continuar a encarar a sua política de hostilidade, inclusive durante
outros 50 anos, se for necessário.
Cinqüenta anos parecem muito tempo, mas em breve
celebraremos os aniversários 50 da vitória da Revolução e 55 do
Moncada, e entre tantas tarefas e desafios decorreram esses anos sem
apenas termos reparado nisso. Além do mais, praticamente 70% da nossa
população nasceu depois de estabelecido o bloqueio, pelo que estamos
bem treinados para continuarmos a resisti-lo e no fim derrotá-lo.
Alguns influenciados pela propaganda do inimigo ou
simplesmente confundidos, não se apercebem da existência real do
perigo nem do facto inegável de que o bloqueio tem incidência directa
tanto nas maiores decisões económicas quanto nas necessidades mais
elementares de cada cubano.
Aflige-nos de maneira directa e quotidiana na
alimentação, no transporte, na habitação, e até por não contarmos com
as matérias-primas e equipamentos necessários para o trabalho.
Para isso, como dizíamos, foi estabelecido pelo
inimigo já lá vai quase meio século, e hoje continua a sonhar com
impor-nos a sua vontade pela força. O próprio presidente Bush insiste
em repetir que não permitirá a continuidade da Revolução cubana. Seria
interessante perguntar-lhe como pensa impedi-lo.
Que pouco aprenderam da história!
No seu manifesto publicado no passado 18 de Junho,
Fidel lhes disse mais uma vez o que é uma convicção de cada
revolucionário desta ilha: "Não terão jamais Cuba!"
O nosso povo nunca cederá nem um ápice perante as
tentativas de pressão ou chantagem de nenhum país ou grupo de países,
nem haverá a mais mínima concessão unilateral, dirigida a enviar-lhe
sinais de nenhum tipo a ninguém.
No que diz respeito às tarefas económicas e sociais,
sabemos as tensões a que estão submetidos os dirigentes, nomeadamente
na base, onde quase nunca coincidem as necessidades acumuladas com os
recursos disponíveis.
Somos cientes igualmente de que no meio das
extremas dificuldades objectivas que encaramos, o salário ainda hoje é
claramente insuficiente para satisfazer todas as necessidades, pelo
que praticamente deixou de cumprir o seu papel de garantir o princípio
socialista de que cada qual contribua segundo a sua capacidade e
receba segundo o seu trabalho. Isso favoreceu manifestações de
indisciplina social e tolerância que uma vez entronizadas resultam
difícil de erradicar, inclusive quando desaparecem as causas
objectivas que as engendram.
Posso afirmar responsavelmente que o Partido e o
Governo têm vindo a estudar com profundidade esses e outros complexos
e difíceis problemas, que requerem de um enfoque integral e ao mesmo
tempo diferenciado em cada lugar concreto.
Todos, desde o dirigente até o trabalhador da base,
estamos no dever de identificar com precisão e avaliar com
profundidade cada problema no entorno em que agimos, para encará-lo
com os métodos mais convenientes.
É uma coisa muito diferente à atitude de quem usam
as dificuldades como escudo perante a crítica por não agirem com a
celeridade e efectividade necessárias, ou por carecerem da
sensibilidade e valentia política requeridas para explicarem porquê
uma coisa não pode ser resolvida logo.
Apenas me limito a chamar a atenção sobre esses
temas cruciais. Não são assuntos que resolva uma simples crítica nem
um apelo, embora se faça num comício como este. Requerem, antes do
mais, dum trabalho organizado, de controlo e exigência um dia após o
outro; de rigor, ordem e disciplina sistemáticos desde a nação até
cada um dos milhares de lugares onde acontece alguma coisa ou se
oferece um serviço.
Nessa direcção o país trabalha, como também noutras
igualmente importantes e estratégicas. Faz-se com presteza mas sem
desesperos nem muitas declarações públicas, para não criar falsas
expectativas, pois com a sinceridade que sempre caracterizou à
Revolução, alerto, mais uma vez, que tudo não pode ser resolvido de
imediato.
Não exagero se digo que vivemos no meio de uma
situação económica internacional muito difícil, em que as guerras, à
instabilidade política, a deterioração do meio ambiente e a subida dos
preços do petróleo, ao que parece como tendência permanente, juntou-se
presentemente, como tem denunciado o camarada Fidel, a decisão,
fundamentalmente dos Estados Unidos da América, de transformar em
combustível o milho, a soja e outros alimentos, disparando os seus
preços e os dos produtos que dependem directamente deles,
fundamentalmente as carnes e o leite, que cresceram de forma
exorbitante nos últimos meses.
Apenas mencionarei alguns dados. O barril de
petróleo está por volta de 80 dólares nestes dias, quase três vezes o
preço que tinha há só 4 anos, quando se cotizava por 28 dólares
aproximadamente. E isso influi praticamente em tudo, visto que
produzir alguma coisa ou emprestar um serviço requer determinada
quantidade de combustível, já seja directa ou indirectamente.
Outro exemplo, o preço do leite em pó era
aproximadamente de 2 100 dólares a tonelada no ano de 2004, o que já
significava um grande esforço para garantir esse alimento, pois a sua
importação requereu 105 milhões de dólares. Comprar o leite necessário
para o actual 2007 exigiu desembolsar 160 milhões, visto que o preço
se disparou até 2 450 dólares a tonelada. Nestes quatro anos, quase
500 milhões de dólares.
Neste momento, a tonelada ultrapassa os 5 200
dólares. Portanto, de não continuar o aumento da produção nacional,
para garantir o consumo do próximo 2008 haverá que destinar apenas
para leite em pó, 340 milhões de dólares, mais de três vezes o gasto
em 2004, a não ser que continue a subir.
No caso do arroz debulhado, cotizava-se a 390
dólares a tonelada em 2006 e hoje se vende a 435. Há alguns anos
chegamos a comprar o frango congelado a 500 dólares a tonelada;
planejamos sobre a base de que subisse até 800 e na realidade, o seu
preço actual é de 1 186 dólares.
E assim acontece com praticamente quase todos os
produtos que o país importa para assegurar as necessidades,
fundamentalmente da população, que como se sabe os recebe a preços que
se mantiveram praticamente invariáveis apesar destas realidades.
E menciono produtos os quais acho que se dão aqui,
parece-me além disso que sobra terra, parece-me além do mais que com
esta generosidade das chuvas do ano passado e do actual, aproveitei
para chegar aqui por terra, para ver que tudo está verde e bonito, mas
o que mais bonito estava, o que mais chamava a minha atenção, era a
linda que está a caatinga ao longo de toda a rodovia.
Por tanto, qualquer aumento de salários ou
diminuição de preços, para que seja real, só pode provir de uma maior
e mais eficiente produção ou prestação de serviços que permita dispor
de mais receitas.
Ninguém, nem um indivíduo nem um país, pode dar-se
ao luxo de gastar mais do que tem. Parece algo elementar, mas nem
sempre pensamos e agimos em consequência com essa realidade ineludível.
Para ter mais temos que partir de produzir mais e
com sentido de racionalidade e eficiência, de tal maneira que possamos
reduzir importações, em primeiro lugar de alimentos que se dão aqui,
cuja produção nacional está ainda longe de satisfazer as necessidades.
Estamos perante o imperativo de fazer produzir mais
a terra, que está mesmo ai, seja lá com tractores ou com bois como foi
feito antes de existir o tractor; de generalizar com a maior
celeridade possível, embora sem improvisações, cada experiência dos
produtores destacados, tanto do sector estatal quanto camponês, e de
incentivar convenientemente o duro trabalho que realizam no meio do
calor sufocante do nosso clima.
Para conseguir esse objectivo haverá que introduzir
as mudanças estruturais e os conceitos que forem necessários.
Já se trabalham nessa direcção e começam a ser
apreciados alguns resultados modestos. Como exigiu a Assembleia
Nacional do Poder Popular, pôs-se ordem no pagamento aos camponeses;
além disso, há melhoras discretas na entrega de insumos para algumas
produções e houve incrementos notáveis do preço de armazenagem em
vários produtos —ou seja, o que paga o Estado a quem produz, não o de
compra da população que continua sem mudanças. Essa medida incluiu
produtos importantes, tais como a carne e o leite.
No relativo à produção e distribuição deste último,
o leite, somos cientes de que ainda são muito limitados os recursos
materiais que se puderam assegurar à pecuária. Não obstante, durante
os dois últimos anos a natureza nos favoreceu e tudo indica que serão
alcançados os
384 milhões de litros de leite planejados, ainda bem longe dos 900
milhões que chegamos a produzir quando contávamos com toda a ração e o
resto dos insumos necessários.
Além disso, está em andamento desde o mês de Março
uma experiência em seis municípios: Mantua e San Cristóbal em Pinar
del Rio, Melena del Sur em La Habana, Calimete em Matanzas, Aguada de
Pasajeros em Cienfuegos e Yaguajay em Sancti Spíritus, que consiste na
distribuição de 20 mil litros de leite diários directamente do
produtor a 230 vendas e ao consumo social dessas localidades.
Dessa maneira são eliminados procedimentos absurdos
que faziam com que esse prezado alimento percorresse centenas de
quilómetros antes de chegar a um consumidor que morava, em não poucas
ocasiões, a centenas de metros da fazenda de gado, com as conseguintes
perdas do produto e despesas de combustível.
Vou colocar apenas um exemplo, talvez dois para
mencionar um de Camagüey. Em Mantua, um dos municípios mais ocidentais
de Pinar del Rio, é distribuído hoje de forma directa à população, nas
40 vendas do município, os 2 492 litros de leite que garantem o
consumo racionado, com uma poupança mensal de 2 000 litros de
combustível.
O que é que acontecia até há quatro meses?
A pasteurizadora mais próxima está no município de
Sandino, a 40 quilómetros do povoado principal de Mantua. Por
conseguinte, para levar o leite para essa fábrica um caminhão devia
percorrer cada dia, no mínimo, porque são diferentes distâncias, 80
quilómetros na viagem de ida e volta. Digo, no mínimo, porque outras
zonas do município estão ainda mais afastadas.
O leite que recebem, de forma racionada, as
crianças e outros consumidores de Mantua, uma vez pasteurizado em
Sandino, regressava pouco depois num veículo, que como é lógico tinha
que voltar para o seu estacionamento quando deixava o produto. No
total eram 160 quilómetros, que na realidade como já expliquei eram
mais.
Não sei se actualmente continua sendo assim. Há
algum tempo, quando percorria o sudeste de Camagüey num lugar
conhecido por Los Raúles — meus xarás —, comecei simplesmente a
perguntar. O leite que se produzia em Los Raúles vinha para Camagüey
para ser pasteurizado e depois o destinado às crianças de Los Raúles
voltava a esse lugar para que a consumissem, ainda será assim?
Numa ocasião não há muito tempo, menos de um ano,
perguntei se esse vaivém insensato e absurdo tinha acabado. Juro que
me disseram que sim, e agora descobrimos isto.
Pensem em coisas como essas e veremos finalmente
quanto é que somam.
Como vemos, esse vaivém do leite de um lado para
outro, fazia-se com o louvável objectivo de pasteurizar todo o leite.
É uma medida que resulta lógica e necessária quando se trata de
assentamentos urbanos de determinada magnitude —embora em Cuba se tem
como costume fervê-lo de qualquer forma, pasteurizado ou não— portanto,
continuar-se-á a armazenagem e a pasteurização de todo o leite
necessário para as cidades; mas não é viável que um caminhão ou
centenas de caminhões percorram diariamente essas longas distâncias
para levar uns poucos litros de leite até os lugares que produzem o
suficiente para auto-abastecer-se.
Depois do triunfo da Revolução, os cubanos
aprendemos a viajar de ocidente para o oriente e sobretudo do oriente
para o ocidente, mas no nosso afã de viajar também fizemos com que o
leite viajasse também sem necessidade.
Além dos municípios participantes, mencionados
anteriormente, nesta experiência, mais outras 3 500 vendas doutros
municípios e províncias também estão a distribuir o leite de forma
directa, e já acumulam mais de 7 milhões de litros distribuídos desta
maneira.
A experiência será alargada de forma paulatina, com
a maior agilidade possível, mas sem tentativas precipitadas de
generalização. A sua extensão estará precedida em todos os casos por
um estudo integral que demonstre a sua viabilidade nesse lugar
específico e a existência das condições organizacionais e materiais
requeridas.
Dessa maneira se trabalha até que todos os
municípios do país, com suficiente produção de leite, se auto-abasteçam
e fechem no seu território o ciclo que vai desde a ordenha da vaca até
que a criança ou qualquer outra pessoa beba o leite, segundo as
possibilidades actuais.
O objectivo principal desta experiência é produzir
a maior quantidade de leite possível, e digo que é possível na imensa
maioria dos municípios, com excepção dos municípios capitalinos,
sobretudo da capital do país, os que ficam na periferia da capital,
porque ai também se pode produzir leite, que já existem algumas
capitais de província que nos seus próprios municípios principais
podem produzir o suficiente, como é o caso específico de Sancti
Spíritus, e temos que produzir ainda mais leite!
Isto é, que o objectivo principal é produzir a
maior quantidade de leite para assegurar o que precisam em primeiro
lugar as nossas crianças — estamos falando do alimento
fundamentalmente de crianças e de doentes, com isso também não podemos
brincar —, inclusive sem renunciar à perspectiva de que outras pessoas
possam recebê-lo no futuro.
E além disso este plano tem como objectivo
continuar a poupar combustível, questão também muito importante.
Este é um programa de acordo com as condições
existentes nesta altura, em que resultaria uma quimera sonhar com as
grandes importações de ração e outros insumos de décadas atrás, quando
o mundo era outro, muito diferente do actual.
É apenas um exemplo das muitas reservas que
aparecem cada vez que nos organizamos melhor e analisamos um assunto
com a profundidade requerida e tendo em conta todos os factores que
nele influem.
Sublinho que não haverá soluções espectaculares. É
necessário tempo e sobretudo trabalhar com seriedade e de forma
sistemática, consolidando cada resultado que for alcançado por pequeno
que ele seja.
Outra fonte quase inesgotável de recursos —se
tivermos em conta quanto dilapidamos— está na poupança, sobretudo de
combustível como já dissemos, que atingem preços cada vez mais
proibitivos e é difícil que diminuam.
Esta é uma tarefa de significado estratégico que
nem sempre tem a atenção necessária e ainda não se detém o
esbanjamento. O exemplo do leite é suficiente.
Da mesma maneira, é necessário, sempre que for
racional, recuperar a produção industrial nacional e incorporar novos
produtos que eliminem as importações ou criem novas possibilidades de
exportação.
Nesse sentido, estudamos hoje o referido ao
incremento do investimento estrangeiro, sempre que coadjuve com
capital, tecnologia ou mercado, para dessa forma aproveitar a
contribuição que ele possa dar ao desenvolvimento do país, sem repetir
os erros do passado por ingenuidades e ignorância nesta actividade e a
partir das experiências positivas, trabalhando com empresários sérios
e sobre bases jurídicas bem definidas que preservem o papel do Estado
e o predomínio da propriedade socialista.
Fortalecemos cada vez mais a cooperação com outros
povos, cientes de que só unidos venceremos e na base do absoluto
respeito ao caminho escolhido por cada país. Assim o demonstra o
avanço junto dos irmãos da Venezuela, Bolívia e Nicarágua, e os nossos
sólidos vínculos com China e Vietname, por apenas colocar alguns
exemplos notáveis dentro do crescente número de países de todos os
continentes com que se reatam e avançam as relações de todo tipo.
Continuaremos a dar prioridade ao Movimento de
Países Não-Alinhados e ao crescente movimento de solidariedade
internacional com a Revolução. Também continuaremos a trabalhar com a
Organização das Nações Unidas e outros organismos multilaterais aos
que Cuba pertence, que partam do respeito às normas do direito
internacional e contribuam ao desenvolvimento dos povos e à paz.
São muitas as batalhas simultâneas que requerem
juntar as forças para manter a unidade do povo, principal arma da
Revolução, e aproveitar as potencialidades de uma sociedade socialista
como a nossa. As próximas eleições do Poder Popular serão uma nova
oportunidade de demonstrar a força extraordinária da nossa democracia,
que é verdadeira.
É dever de cada um de nós, nomeadamente dos
dirigentes, não nos deixar esmagar por nenhuma dificuldade, por grande
e intransponível que possa parecer em determinada conjuntura.
Lembrar como conseguimos, apesar da confusão e dos
desânimos iniciais, encarar os duros primeiros anos do Período
Especial no início da passada década e sair adiante. Então o dissemos
e o repetimos com mais razão ainda hoje: Podemos, sim!
Enquanto maior seja o problema ou desafio, mais
organização, mais trabalho sistemático e efectivo, mais estudo e
previsão a partir de uma planificação baseada em prioridades
claramente estabelecidas, sem que ninguém tente resolver os seus
problemas a qualquer preço nem a custa dos outros.
Além disso, é necessário trabalhar com sentido
crítico e criador, sem anquiloses nem esquematizações. Nunca acreditar
que o que fazemos é perfeito e não revê-lo novamente. O único que
jamais porá em causa um revolucionário cubano é a nossa decisão
irrenunciável de construir o socialismo.
Essa profunda convicção fez proclamar a Fidel,
neste mesmo lugar, a 26 de Julho de 1989, há exactamente 18 anos,
aquela histórica e profética afirmação de que ainda no hipotético caso
de que a União Soviética se desintegrasse, continuaríamos adiante com
a Revolução, dispostos a pagar o elevado preço da liberdade e de agir
na base da dignidade dos princípios.
A história demonstrou sobejamente que essa decisão
do nosso povo tem a firmeza da roca. Em conseqüência com ela, estamos
no dever de pôr em causa quanto coisa fazemos em busca de realizá-la
cada vez melhor, de transformar concepções e métodos que foram os
apropriados no seu momento, mas que já foram ultrapassados pela
própria vida.
Sempre devemos ter presente, não para o repetir de
cor como um dogma, mas para aplicá-lo diária e de forma criadora no
nosso trabalho, o exprimido pelo camarada Fidel no Primeiro de Maio de
2000, numa definição que constitui a quinta-essência do trabalho
político ideológico, quando ele disse:
"Revolução é sentido do momento histórico; é mudar
tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser
tratado e tratar os demais como seres humanos; é emancipar-nos por nós
próprios e com os nossos próprios esforços; é desafiar poderosas
forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é
defender valores nos quais cremos ao preço de qualquer sacrifício; é
modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar
com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais nem violar
princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no
mundo capaz de esmagar a força da verdade e das idéias. Revolução é
unidade, independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para
Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso
Socialismo e do nosso Internacionalismo".
A melhor homenagem ao Comandante-em-Chefe num dia
como hoje, a maior contribuição para o seu restabelecimento, é
ratificar a decisão de nos guiar sempre por esses princípios e
sobretudo agir quotidianamente em conseqüência com eles, desde a nossa
posição.
Fiéis ao legado dos nossos mortos gloriosos,
trabalharemos sem descanso para cumprir cabalmente as orientações da
sua Proclama, as muitas que nos tem dado desde então e quanta nos dê
no futuro.
O medo às dificuldades e os perigos não têm
cabimento no nosso povo, que jamais deixará de estar pronto para
combater os seus inimigos. Essa é a principal garantia de que nas
nossas praças e caso for necessário também nas trincheiras, escutar-se-á
por sempre nesta terra:
Viva a Revolução!
Viva Fidel!