Discurso proferido pelo Primeiro Vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, General de Exército Raúl Castro Ruz, no comício central por ocasião dos assaltos aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes, na Praça da Revolução Major-General Ignácio Agramonte Loinaz da cidade de Camagüey, em 26 de Julho de 2007, "Ano 49 da Revolução".

Amigos que nos acompanham;

Camagüeianas e Camagüeianos, bom dia;

Compatriotas:

Há exactamente um ano, quando escutávamos os discursos pronunciados pelo Comandante-em-Chefe em Bayamo e Holguín, não podíamos sequer suspeitar o duro golpe que nos esperava.

No próximo 31 de Julho se completará o primeiro aniversário da Proclama de Fidel, quem para alegria do nosso povo já desempenha uma actividade cada vez mais intensa e sumamente valiosa, como o demonstram as suas reflexões publicadas pela imprensa, mesmo que, nem nos momentos mais graves da sua doença deixou de contribuir com a sua sabedoria e experiência perante cada problema e decisão cardeal.

Na verdade, têm sido meses bem difíceis, embora com um efeito diametralmente diferente àquele que esperavam os nossos inimigos, que sonhavam com que se iria entronizar o caos e o socialismo cubano terminaria por se derrubar. Inclusive, importantes funcionários norte-americanos declararam o propósito de aproveitar esse cenário para destruir a Revolução.

Não conhecem bem o nosso povo aqueles que ficam espantados perante a sua capacidade de crescer-se até a altura que demanda cada desafio, por grande que ele seja, visto que esta é realmente a única atitude conseqüente com a nossa história.

É bem conhecida a luta levada a cabo pelos cubanos de muitas gerações, desde La Demajagua, o Moncada, até ao presente, sempre frente a grandes entraves e poderosos inimigos. Quanto sacrifício e dificuldades! Quantas vezes foi preciso reiniciar a luta depois de cada revés!

Somente nos anos decorridos desde 26 de Julho de 1953, veio a prisão, o exílio, o Granma, a luta na serra e na planície, até que cinco anos, cinco meses e cinco dias depois do assalto ao Moncada, chegou o primeiro de Janeiro de 1959.

Naquela altura, como vem acontecendo no presente, inclusive dentro dos próprios Estados Unidos, a mentira foi incapaz de ocultar a realidade, apesar de que o nosso povo tinha muito menos cultura e consciência política que agora.

A maioria esmagadora dos cubanos se juntou à causa chefiada por um líder que levantava ao alto a verdade como principal arma face aos inimigos do seu povo, que em vez de fazer promessas demagógicas advertia, desde o primeiro discurso em Havana, que talvez doravante tudo fosse mais difícil.

A conclusão dos hierarcas do governo norte-americano nesse tempo foi também consequente com a sua história: era preciso derrotar, ou no caso de não consegui-lo, fazer sofrer até o indizível esse povo que ousava aspirar à justiça, à dignidade e à soberania. O exemplo que Cuba representava resultava perigoso demais num continente pobre, submetido e explorado.

Mas não conseguiram pôr-nos de joelhos. A nossa resposta foi transformar-nos maciçamente em combatentes; suportar com estoicismo a escassez e as dificuldades; derramar o nosso suor nos campos, nas fábricas e trincheiras; levar a cabo inúmeras batalhas vitoriosas e estabelecer arquétipos na ajuda internacionalista.

Perante os restos de cada uma das 3 478 vítimas mortais de actos terroristas organizados directamente, apoiados ou permitidos pelas autoridades dos Estados Unidos; perante os tombados na defesa da Pátria ou no cumprimento do dever internacionalista, o nosso povo ratificou o compromisso com os seus heróis e mártires, com a sua herança "mambisa" e o exemplo de Martí, Céspedes, Maceo, Gómez e Agramonte, que seguiram homens como Mella, Martinez Villena e Guiteras, símbolos do pensamento e da acção de infinidade de patriotas anónimos.

Assim tem sido, na essência, o último meio século da nossa história. Não houve um minuto de trégua frente à política do Governo dos Estados Unidos encaminhada a destruir a Revolução.

Nessa forja de esforço e sacrifício tem crescido a moral e a consciência deste povo; nasceram-lhe filhos da estirpe de Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René González, capazes de assumirem com serenidade, valor e dignidade os rigores de uma prisão injusta, espalhados por diferentes cárceres dos Estados Unidos.

Eles são exemplos, mas não excepções. Somam milhões os cubanos e as cubanas aos quais não os amedrontam nem os perigos nem as dificuldades.

A proeza é quotidiana em cada canto desta terra, como o estão a demonstrar os nossos bravos desportistas nos Jogos Pan-americanos.

Assim tem sido durante os mais de 16 anos de Período Especial, de esforço sustentado de todo o país para ultrapassar as dificuldades e continuar adiante –e assim terá que ser, visto que ainda não temos saído do Período Especial.

Por isso resulta duplamente meritório que uma província alcance a condição de Destacada que, como se sabe, outorga-se após a avaliação dos resultados obtidos nos principais domínios.

Conseguiram-no nesta ocasião Cidade de Havana, Granma, Villa Clara e Camagüey, às quais felicitamos em nome do Comandante-em-Chefe, do Partido e de todo o nosso povo, por esse importante triunfo. Também a Cienfuegos, Matanzas e Sancti Spíritus pelo reconhecimento recebido, e a Las Tunas por se constatarem na província avanços encorajadores.

Para determinar qual delas seria a sede deste comício central, o Bureau Político avaliou muito especialmente o esforço quotidiano, calado e heróico perante as dificuldades. Assim o tem feito o povo de "O Camagüey", como diziam os mambises, para obter esses resultados.

Os avanços são fruto do esforço de centenas de milhares de companheiros; dos operários, camponeses e do resto dos trabalhadores; da contribuição imprescindível dos intelectuais, artistas e trabalhadores da cultura; das heróicas donas-de-casa e aposentados; dos estudantes da Federação de Estudantes do Ensino Médio (FEEM) e da Federação de Estudantes Universitários (FEU); dos nossos pioneiros; da Federação das Mulheres Cubanas (FMC), dos Comités de Defesa da Revolução (CDR), da Associação de Combatentes e das células zonais do Partido, que tão insubstituível contribuição fazem à sociedade.

Sem eles, sem o trabalho, o estudo e o sacrifício quotidianos de tantos homens, mulheres e crianças, o clarim da cavalaria agramontina não ressoaria hoje novamente nestas grandes planícies.

Ora bem, não deve acontecer como no beisebol, onde as vitórias são apenas dos jogadores e as derrotas são do director técnico da equipa. Não seria justo deixar de reconhecer publicamente o importante papel que desempenharam neste sucesso os dirigentes do Partido, do Governo, da UJC, e das organizações de massas e sociais a todos os níveis, ao igual que numerosos quadros administrativos.

Ressaltar em particular o bom trabalho do companheiro Salvador Valdés Mesa, actual Secretário Geral da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), quem durante uma longa etapa e até há 13 meses atrás, foi o Primeiro Secretário do Comité Provincial do Partido, e o excelente relevo feito até ao presente pelo companheiro Julio César García Rodríguez.

É justo e necessário reconhecer o que foi alcançado nos últimos anos nestas províncias e em todo o país, porém com uma clara consciência dos nossos problemas, das deficiências, erros e atitudes burocráticas ou indolentes, algumas das quais ganharam terreno nas circunstâncias derivadas do Período Especial.

Assinalar os importantes resultados atingidos nestas províncias não significa desconhecer que em todo o país se trabalha. Nas províncias orientais, por exemplo, foi necessário fazê-lo em condições muito difíceis, com escassez de recursos como consequência de razões objectivas e também subjectivas.

Contudo, nem sempre o esforço é acompanhado por iguais resultados. A efectividade depende em grande medida da constância e da organização, nomeadamente, do controlo e da exigência sistemáticos e, em particular, de até onde se tenha conseguido incorporar às massas ao combate pela eficiência.

É preciso somar a todos à batalha quotidiana contra os erros próprios que agravam as dificuldades objectivas derivadas de causas externas, em especial as provocadas pelo bloqueio económico dos Estados Unidos, que realmente constitui uma guerra implacável contra o nosso povo, e a actual administração desse país tem colocado particular animadversão em encontrar a mais mínima via de nos fazer dano.

São inúmeros os exemplos que poderiam assinalar-se. Limitar-me-ei a mencionar os obstáculos às transacções comerciais e financeiras do país no exterior, encaminhadas muitas das vezes a comprar alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas da população, e a negação de acesso a serviços bancários mediante a coacção e a imposição extra territorial das suas leis.

Também estão os entraves quase intransponíveis que chegam ao ridículo, impostos por esse governo às viagens dos seus cidadãos a Cuba e também dos cubanos ali residentes para visitarem os seus familiares; a negativa de vistos não apenas para os nossos funcionários oficiais, mas também para artistas, desportistas, cientistas e em geral para todo aquele não disposto a caluniar a Revolução.

A tudo o antes dito se somam, como denunciou recentemente o nosso Ministério de Relações Exteriores, os obstáculos ao cumprimento do estabelecido nos acordos migratórios relativamente ao número mínimo de vistos a serem outorgados anualmente.

Com essa política se estimula àqueles que recorrem à emigração ilegal e são recebidos ali como heróis, muitas das vezes depois de arriscarem a vida de crianças, e apesar de que tão irresponsável atitude coloca em perigo não apenas a segurança dos cubanos, mas também a dos próprios norte-americanos, que o seu governo constantemente proclama proteger, visto que aquele que se arrisca a traficar com seres humanos por dinheiro é provável que não hesite em fazê-lo com drogas, armas ou alguma coisa de similar natureza.

Cuba, pela sua parte, continuará a honrar, como fez até hoje, os seus compromissos com os acordos migratórios.

Os últimos doze meses são um exemplo notável da maturidade do nosso povo, da sua firmeza de princípios, unidade, confiança em Fidel, no Partido e, sobretudo, em si próprio.

Apesar da profunda dor que nos afligia não se deteve nenhuma tarefa. No país há ordem e muito trabalho; funcionam quotidianamente os órgãos de direcção do Partido e do Governo na busca colectiva da resposta mais efectiva possível para cada problema.

Não há assunto relativo ao desenvolvimento do país e às condições de vida do nosso povo que não tenha sido abordado com responsabilidade e em cuja solução não se trabalhe. Não há tarefa da Batalha de Idéias, da Revolução Energética e outras impulsionadas pelo Comandante-em-Chefe que esteja estagnada. Como sempre acontece em assuntos de tanta envergadura, foram necessários ajustes e prorrogações e não descartamos que haja que fazer outros no futuro por imperativos materiais e ameaças que todos conhecemos.

Ao mesmo tempo, desde então, com serenidade, disciplina e sem alardes, o nosso povo tem continuado a se preparar para encarar qualquer aventura militar do inimigo.

Centenas de milhares de milicianos e reservistas das Forças Armadas Revolucionárias, junto dos oficiais, sargentos e soldados das tropas permanentes, realizaram a Operação Caguairán, que permitiu incrementar substancialmente a capacidade defensiva do país ao atingir níveis de preparação combativa superiores aos de qualquer outra etapa.

É um esforço grande em momentos em que os recursos não abundam, mas resulta simplesmente imprescindível. Continuar-se-á a fazer, como até agora, com a maior racionalidade, tanto do ponto de vista material como do emprego do tempo dos cidadãos.

Com a defesa não se brinca!, orientou o Comandante-em-Chefe e o reafirmou mais uma vez há apenas uns dias. Para nós, como tantas vezes eu disse, evitar a guerra equivale a ganhá-la. Porém, para ganhá-la evitando-a, é preciso derramar muito suor e investir não poucos recursos.

A contundente resposta popular à Proclama do Comandante-em-Chefe colocou em crise todos os planos do inimigo, mas ele, em vez de avaliar a realidade e rectificar os seus erros, insiste teimosamente em continuar chocando com a mesma pedra. Especulam acerca duma suposta estagnação do país e até sobre uma "transição" em andamento. Mas, por muito que fecharem os olhos, a realidade se encarrega de destruir esses sonhos tresnoitados.

Como informara a imprensa, a Operação Caguairán continuará nos próximos longos meses. Permitirá preparar ao redor de um milhão de compatriotas e terá como cólofon o Exercício Estratégico Bastião 2008, que realizaremos a finais desse ano.

Portanto, para essa data estaremos mais bem preparados para resistirmos e vencermos em todas as frentes, incluída a defesa.

Também para essa data se terão realizado as eleições nos Estados Unidos e terá concluído o mandato do actual presidente desse país e a sua errática e perigosa administração, caracterizada por um pensamento tão retrógrado e fundamentalista, que não deixa margem à análise racional de nenhum assunto.

A nova administração terá que decidir se mantém a absurda, ilegal e fracassada política contra Cuba ou aceita o ramalhete de oliva que estendemos por ocasião do 50 aniversário do desembarque do Granma. Isto é, quando reafirmamos a disposição de discutir em pé de igualdade a prolongada desavença com o governo dos Estados Unidos, convencidos de que os problemas deste mundo, cada vez mais complexos e perigosos, apenas têm solução por essa via.

Se as novas autoridades norte-americanas deixarem finalmente de lado a prepotência e decidirem conversar de modo civilizado, bem-vindo seja. Se não for assim, estamos dispostos a continuar a encarar a sua política de hostilidade, inclusive durante outros 50 anos, se for necessário.

Cinqüenta anos parecem muito tempo, mas em breve celebraremos os aniversários 50 da vitória da Revolução e 55 do Moncada, e entre tantas tarefas e desafios decorreram esses anos sem apenas termos reparado nisso. Além do mais, praticamente 70% da nossa população nasceu depois de estabelecido o bloqueio, pelo que estamos bem treinados para continuarmos a resisti-lo e no fim derrotá-lo.

Alguns influenciados pela propaganda do inimigo ou simplesmente confundidos, não se apercebem da existência real do perigo nem do facto inegável de que o bloqueio tem incidência directa tanto nas maiores decisões económicas quanto nas necessidades mais elementares de cada cubano.

Aflige-nos de maneira directa e quotidiana na alimentação, no transporte, na habitação, e até por não contarmos com as matérias-primas e equipamentos necessários para o trabalho.

Para isso, como dizíamos, foi estabelecido pelo inimigo já lá vai quase meio século, e hoje continua a sonhar com impor-nos a sua vontade pela força. O próprio presidente Bush insiste em repetir que não permitirá a continuidade da Revolução cubana. Seria interessante perguntar-lhe como pensa impedi-lo.

Que pouco aprenderam da história!

No seu manifesto publicado no passado 18 de Junho, Fidel lhes disse mais uma vez o que é uma convicção de cada revolucionário desta ilha: "Não terão jamais Cuba!"

O nosso povo nunca cederá nem um ápice perante as tentativas de pressão ou chantagem de nenhum país ou grupo de países, nem haverá a mais mínima concessão unilateral, dirigida a enviar-lhe sinais de nenhum tipo a ninguém.

No que diz respeito às tarefas económicas e sociais, sabemos as tensões a que estão submetidos os dirigentes, nomeadamente na base, onde quase nunca coincidem as necessidades acumuladas com os recursos disponíveis.

Somos cientes igualmente de que no meio das extremas dificuldades objectivas que encaramos, o salário ainda hoje é claramente insuficiente para satisfazer todas as necessidades, pelo que praticamente deixou de cumprir o seu papel de garantir o princípio socialista de que cada qual contribua segundo a sua capacidade e receba segundo o seu trabalho. Isso favoreceu manifestações de indisciplina social e tolerância que uma vez entronizadas resultam difícil de erradicar, inclusive quando desaparecem as causas objectivas que as engendram.

Posso afirmar responsavelmente que o Partido e o Governo têm vindo a estudar com profundidade esses e outros complexos e difíceis problemas, que requerem de um enfoque integral e ao mesmo tempo diferenciado em cada lugar concreto.

Todos, desde o dirigente até o trabalhador da base, estamos no dever de identificar com precisão e avaliar com profundidade cada problema no entorno em que agimos, para encará-lo com os métodos mais convenientes.

É uma coisa muito diferente à atitude de quem usam as dificuldades como escudo perante a crítica por não agirem com a celeridade e efectividade necessárias, ou por carecerem da sensibilidade e valentia política requeridas para explicarem porquê uma coisa não pode ser resolvida logo.

Apenas me limito a chamar a atenção sobre esses temas cruciais. Não são assuntos que resolva uma simples crítica nem um apelo, embora se faça num comício como este. Requerem, antes do mais, dum trabalho organizado, de controlo e exigência um dia após o outro; de rigor, ordem e disciplina sistemáticos desde a nação até cada um dos milhares de lugares onde acontece alguma coisa ou se oferece um serviço.

Nessa direcção o país trabalha, como também noutras igualmente importantes e estratégicas. Faz-se com presteza mas sem desesperos nem muitas declarações públicas, para não criar falsas expectativas, pois com a sinceridade que sempre caracterizou à Revolução, alerto, mais uma vez, que tudo não pode ser resolvido de imediato.

Não exagero se digo que vivemos no meio de uma situação económica internacional muito difícil, em que as guerras, à instabilidade política, a deterioração do meio ambiente e a subida dos preços do petróleo, ao que parece como tendência permanente, juntou-se presentemente, como tem denunciado o camarada Fidel, a decisão, fundamentalmente dos Estados Unidos da América, de transformar em combustível o milho, a soja e outros alimentos, disparando os seus preços e os dos produtos que dependem directamente deles, fundamentalmente as carnes e o leite, que cresceram de forma exorbitante nos últimos meses.

Apenas mencionarei alguns dados. O barril de petróleo está por volta de 80 dólares nestes dias, quase três vezes o preço que tinha há só 4 anos, quando se cotizava por 28 dólares aproximadamente. E isso influi praticamente em tudo, visto que produzir alguma coisa ou emprestar um serviço requer determinada quantidade de combustível, já seja directa ou indirectamente.

Outro exemplo, o preço do leite em pó era aproximadamente de 2 100 dólares a tonelada no ano de 2004, o que já significava um grande esforço para garantir esse alimento, pois a sua importação requereu 105 milhões de dólares. Comprar o leite necessário para o actual 2007 exigiu desembolsar 160 milhões, visto que o preço se disparou até 2 450 dólares a tonelada. Nestes quatro anos, quase 500 milhões de dólares.

Neste momento, a tonelada ultrapassa os 5 200 dólares. Portanto, de não continuar o aumento da produção nacional, para garantir o consumo do próximo 2008 haverá que destinar apenas para leite em pó, 340 milhões de dólares, mais de três vezes o gasto em 2004, a não ser que continue a subir.

No caso do arroz debulhado, cotizava-se a 390 dólares a tonelada em 2006 e hoje se vende a 435. Há alguns anos chegamos a comprar o frango congelado a 500 dólares a tonelada; planejamos sobre a base de que subisse até 800 e na realidade, o seu preço actual é de 1 186 dólares.

E assim acontece com praticamente quase todos os produtos que o país importa para assegurar as necessidades, fundamentalmente da população, que como se sabe os recebe a preços que se mantiveram praticamente invariáveis apesar destas realidades.

E menciono produtos os quais acho que se dão aqui, parece-me além disso que sobra terra, parece-me além do mais que com esta generosidade das chuvas do ano passado e do actual, aproveitei para chegar aqui por terra, para ver que tudo está verde e bonito, mas o que mais bonito estava, o que mais chamava a minha atenção, era a linda que está a caatinga ao longo de toda a rodovia.

Por tanto, qualquer aumento de salários ou diminuição de preços, para que seja real, só pode provir de uma maior e mais eficiente produção ou prestação de serviços que permita dispor de mais receitas.

Ninguém, nem um indivíduo nem um país, pode dar-se ao luxo de gastar mais do que tem. Parece algo elementar, mas nem sempre pensamos e agimos em consequência com essa realidade ineludível.

Para ter mais temos que partir de produzir mais e com sentido de racionalidade e eficiência, de tal maneira que possamos reduzir importações, em primeiro lugar de alimentos que se dão aqui, cuja produção nacional está ainda longe de satisfazer as necessidades.

Estamos perante o imperativo de fazer produzir mais a terra, que está mesmo ai, seja lá com tractores ou com bois como foi feito antes de existir o tractor; de generalizar com a maior celeridade possível, embora sem improvisações, cada experiência dos produtores destacados, tanto do sector estatal quanto camponês, e de incentivar convenientemente o duro trabalho que realizam no meio do calor sufocante do nosso clima.

Para conseguir esse objectivo haverá que introduzir as mudanças estruturais e os conceitos que forem necessários.

Já se trabalham nessa direcção e começam a ser apreciados alguns resultados modestos. Como exigiu a Assembleia Nacional do Poder Popular, pôs-se ordem no pagamento aos camponeses; além disso, há melhoras discretas na entrega de insumos para algumas produções e houve incrementos notáveis do preço de armazenagem em vários produtos —ou seja, o que paga o Estado a quem produz, não o de compra da população que continua sem mudanças. Essa medida incluiu produtos importantes, tais como a carne e o leite.

No relativo à produção e distribuição deste último, o leite, somos cientes de que ainda são muito limitados os recursos materiais que se puderam assegurar à pecuária. Não obstante, durante os dois últimos anos a natureza nos favoreceu e tudo indica que serão alcançados os
384 milhões de litros de leite planejados, ainda bem longe dos 900 milhões que chegamos a produzir quando contávamos com toda a ração e o resto dos insumos necessários.

Além disso, está em andamento desde o mês de Março uma experiência em seis municípios: Mantua e San Cristóbal em Pinar del Rio, Melena del Sur em La Habana, Calimete em Matanzas, Aguada de Pasajeros em Cienfuegos e Yaguajay em Sancti Spíritus, que consiste na distribuição de 20 mil litros de leite diários directamente do produtor a 230 vendas e ao consumo social dessas localidades.

Dessa maneira são eliminados procedimentos absurdos que faziam com que esse prezado alimento percorresse centenas de quilómetros antes de chegar a um consumidor que morava, em não poucas ocasiões, a centenas de metros da fazenda de gado, com as conseguintes perdas do produto e despesas de combustível.

Vou colocar apenas um exemplo, talvez dois para mencionar um de Camagüey. Em Mantua, um dos municípios mais ocidentais de Pinar del Rio, é distribuído hoje de forma directa à população, nas 40 vendas do município, os 2 492 litros de leite que garantem o consumo racionado, com uma poupança mensal de 2 000 litros de combustível.

O que é que acontecia até há quatro meses?

A pasteurizadora mais próxima está no município de Sandino, a 40 quilómetros do povoado principal de Mantua. Por conseguinte, para levar o leite para essa fábrica um caminhão devia percorrer cada dia, no mínimo, porque são diferentes distâncias, 80 quilómetros na viagem de ida e volta. Digo, no mínimo, porque outras zonas do município estão ainda mais afastadas.

O leite que recebem, de forma racionada, as crianças e outros consumidores de Mantua, uma vez pasteurizado em Sandino, regressava pouco depois num veículo, que como é lógico tinha que voltar para o seu estacionamento quando deixava o produto. No total eram 160 quilómetros, que na realidade como já expliquei eram mais.

Não sei se actualmente continua sendo assim. Há algum tempo, quando percorria o sudeste de Camagüey num lugar conhecido por Los Raúles — meus xarás —, comecei simplesmente a perguntar. O leite que se produzia em Los Raúles vinha para Camagüey para ser pasteurizado e depois o destinado às crianças de Los Raúles voltava a esse lugar para que a consumissem, ainda será assim?

Numa ocasião não há muito tempo, menos de um ano, perguntei se esse vaivém insensato e absurdo tinha acabado. Juro que me disseram que sim, e agora descobrimos isto.

Pensem em coisas como essas e veremos finalmente quanto é que somam.

Como vemos, esse vaivém do leite de um lado para outro, fazia-se com o louvável objectivo de pasteurizar todo o leite. É uma medida que resulta lógica e necessária quando se trata de assentamentos urbanos de determinada magnitude —embora em Cuba se tem como costume fervê-lo de qualquer forma, pasteurizado ou não— portanto, continuar-se-á a armazenagem e a pasteurização de todo o leite necessário para as cidades; mas não é viável que um caminhão ou centenas de caminhões percorram diariamente essas longas distâncias para levar uns poucos litros de leite até os lugares que produzem o suficiente para auto-abastecer-se.

Depois do triunfo da Revolução, os cubanos aprendemos a viajar de ocidente para o oriente e sobretudo do oriente para o ocidente, mas no nosso afã de viajar também fizemos com que o leite viajasse também sem necessidade.

Além dos municípios participantes, mencionados anteriormente, nesta experiência, mais outras 3 500 vendas doutros municípios e províncias também estão a distribuir o leite de forma directa, e já acumulam mais de 7 milhões de litros distribuídos desta maneira.

A experiência será alargada de forma paulatina, com a maior agilidade possível, mas sem tentativas precipitadas de generalização. A sua extensão estará precedida em todos os casos por um estudo integral que demonstre a sua viabilidade nesse lugar específico e a existência das condições organizacionais e materiais requeridas.

Dessa maneira se trabalha até que todos os municípios do país, com suficiente produção de leite, se auto-abasteçam e fechem no seu território o ciclo que vai desde a ordenha da vaca até que a criança ou qualquer outra pessoa beba o leite, segundo as possibilidades actuais.

O objectivo principal desta experiência é produzir a maior quantidade de leite possível, e digo que é possível na imensa maioria dos municípios, com excepção dos municípios capitalinos, sobretudo da capital do país, os que ficam na periferia da capital, porque ai também se pode produzir leite, que já existem algumas capitais de província que nos seus próprios municípios principais podem produzir o suficiente, como é o caso específico de Sancti Spíritus, e temos que produzir ainda mais leite!

Isto é, que o objectivo principal é produzir a maior quantidade de leite para assegurar o que precisam em primeiro lugar as nossas crianças — estamos falando do alimento fundamentalmente de crianças e de doentes, com isso também não podemos brincar —, inclusive sem renunciar à perspectiva de que outras pessoas possam recebê-lo no futuro.

E além disso este plano tem como objectivo continuar a poupar combustível, questão também muito importante.

Este é um programa de acordo com as condições existentes nesta altura, em que resultaria uma quimera sonhar com as grandes importações de ração e outros insumos de décadas atrás, quando o mundo era outro, muito diferente do actual.

É apenas um exemplo das muitas reservas que aparecem cada vez que nos organizamos melhor e analisamos um assunto com a profundidade requerida e tendo em conta todos os factores que nele influem.

Sublinho que não haverá soluções espectaculares. É necessário tempo e sobretudo trabalhar com seriedade e de forma sistemática, consolidando cada resultado que for alcançado por pequeno que ele seja.

Outra fonte quase inesgotável de recursos —se tivermos em conta quanto dilapidamos— está na poupança, sobretudo de combustível como já dissemos, que atingem preços cada vez mais proibitivos e é difícil que diminuam.

Esta é uma tarefa de significado estratégico que nem sempre tem a atenção necessária e ainda não se detém o esbanjamento. O exemplo do leite é suficiente.

Da mesma maneira, é necessário, sempre que for racional, recuperar a produção industrial nacional e incorporar novos produtos que eliminem as importações ou criem novas possibilidades de exportação.

Nesse sentido, estudamos hoje o referido ao incremento do investimento estrangeiro, sempre que coadjuve com capital, tecnologia ou mercado, para dessa forma aproveitar a contribuição que ele possa dar ao desenvolvimento do país, sem repetir os erros do passado por ingenuidades e ignorância nesta actividade e a partir das experiências positivas, trabalhando com empresários sérios e sobre bases jurídicas bem definidas que preservem o papel do Estado e o predomínio da propriedade socialista.

Fortalecemos cada vez mais a cooperação com outros povos, cientes de que só unidos venceremos e na base do absoluto respeito ao caminho escolhido por cada país. Assim o demonstra o avanço junto dos irmãos da Venezuela, Bolívia e Nicarágua, e os nossos sólidos vínculos com China e Vietname, por apenas colocar alguns exemplos notáveis dentro do crescente número de países de todos os continentes com que se reatam e avançam as relações de todo tipo.

Continuaremos a dar prioridade ao Movimento de Países Não-Alinhados e ao crescente movimento de solidariedade internacional com a Revolução. Também continuaremos a trabalhar com a Organização das Nações Unidas e outros organismos multilaterais aos que Cuba pertence, que partam do respeito às normas do direito internacional e contribuam ao desenvolvimento dos povos e à paz.

São muitas as batalhas simultâneas que requerem juntar as forças para manter a unidade do povo, principal arma da Revolução, e aproveitar as potencialidades de uma sociedade socialista como a nossa. As próximas eleições do Poder Popular serão uma nova oportunidade de demonstrar a força extraordinária da nossa democracia, que é verdadeira.

É dever de cada um de nós, nomeadamente dos dirigentes, não nos deixar esmagar por nenhuma dificuldade, por grande e intransponível que possa parecer em determinada conjuntura.

Lembrar como conseguimos, apesar da confusão e dos desânimos iniciais, encarar os duros primeiros anos do Período Especial no início da passada década e sair adiante. Então o dissemos e o repetimos com mais razão ainda hoje: Podemos, sim!

Enquanto maior seja o problema ou desafio, mais organização, mais trabalho sistemático e efectivo, mais estudo e previsão a partir de uma planificação baseada em prioridades claramente estabelecidas, sem que ninguém tente resolver os seus problemas a qualquer preço nem a custa dos outros.

Além disso, é necessário trabalhar com sentido crítico e criador, sem anquiloses nem esquematizações. Nunca acreditar que o que fazemos é perfeito e não revê-lo novamente. O único que jamais porá em causa um revolucionário cubano é a nossa decisão irrenunciável de construir o socialismo.

Essa profunda convicção fez proclamar a Fidel, neste mesmo lugar, a 26 de Julho de 1989, há exactamente 18 anos, aquela histórica e profética afirmação de que ainda no hipotético caso de que a União Soviética se desintegrasse, continuaríamos adiante com a Revolução, dispostos a pagar o elevado preço da liberdade e de agir na base da dignidade dos princípios.

A história demonstrou sobejamente que essa decisão do nosso povo tem a firmeza da roca. Em conseqüência com ela, estamos no dever de pôr em causa quanto coisa fazemos em busca de realizá-la cada vez melhor, de transformar concepções e métodos que foram os apropriados no seu momento, mas que já foram ultrapassados pela própria vida.

Sempre devemos ter presente, não para o repetir de cor como um dogma, mas para aplicá-lo diária e de forma criadora no nosso trabalho, o exprimido pelo camarada Fidel no Primeiro de Maio de 2000, numa definição que constitui a quinta-essência do trabalho político ideológico, quando ele disse:

"Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos; é emancipar-nos por nós próprios e com os nossos próprios esforços; é desafiar poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é defender valores nos quais cremos ao preço de qualquer sacrifício; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais nem violar princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das idéias. Revolução é unidade, independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso Socialismo e do nosso Internacionalismo".

A melhor homenagem ao Comandante-em-Chefe num dia como hoje, a maior contribuição para o seu restabelecimento, é ratificar a decisão de nos guiar sempre por esses princípios e sobretudo agir quotidianamente em conseqüência com eles, desde a nossa posição.

Fiéis ao legado dos nossos mortos gloriosos, trabalharemos sem descanso para cumprir cabalmente as orientações da sua Proclama, as muitas que nos tem dado desde então e quanta nos dê no futuro.

O medo às dificuldades e os perigos não têm cabimento no nosso povo, que jamais deixará de estar pronto para combater os seus inimigos. Essa é a principal garantia de que nas nossas praças e caso for necessário também nas trincheiras, escutar-se-á por sempre nesta terra:

Viva a Revolução!

Viva Fidel!

 

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