NOTA OFICIAL
• UM artigo do The
New York Times informava, em 17 de abril, que o presidente
Bush estava examinando uma série de passos para punir o governo de
Cuba.
«Entre os mais
drásticos» — afirma-se textualmente — «está a possibilidade
de suspender o envio de remessas a familiares em Cuba, uma ajuda
essencial para milhões de cubanos, ou a suspensão dos vôos
diretos à Ilha, disseram os funcionários.
«Possivelmente, o
presidente Bush fará uma declaração pública sobre estas medidas
repressivas», afirma o artigo.
«Funcionários da
administração declararam que estão preparando um número de
opções para o presidente, e que ainda não foi adotada uma
decisão final». As sanções mais severas têm a ver com a
restrição ou eliminação das transferências de dinheiro,
chamadas remessas, a amigos ou familiares na Ilha. Estas quantias,
enviadas fundamentalmente por exilados do sul da Flórida, são
fundamentais para milhões de cubanos e, calculadas em cifras até
de US$ 1 bilhão, são vitais para a economia cubana.
«Também está sendo
considerada a limitação do número de norte-americanos que viajam
a Cuba» — continua o artigo — «mediante o cancelamento dos
vôos diretos entre os dois países. Milhares de viajantes,
principalmente cubano-norte-americanos que vêm visitar seus
familiares, utilizam todos os meses os vôos charter que saem de
Miami, Nova York e de outras cidades».
Talvez as pessoas
beneficiadas pelas remessas não sejam milhões, como se afirma no
artigo, mas sim milhares de famílias ou pessoas cujo número é
difícil de precisar com exatidão. No começo, esta ajuda familiar
beneficiava só os que tinham vínculos familiares com residentes
nos Estados Unidos e outros países, que podiam adquirir produtos
nas lojas de divisas ou trocar dólares por pesos cubanos para
comprar nas lojas, nos mercados agropecuários e noutras
instalações de produtos ou serviços. Hoje, todos os cidadãos
têm a possibilidade de comprar ou vender dólares e pesos cubanos
eqüivalentes a dólares nas casas de câmbio do Banco Central, o
qual tem significado um progresso importante.
O presidente dos Estados
Unidos e seus assessores da máfia de Miami, amigos íntimos aos
quais agradece sua eleição mediante a fraude escandalosa que estes
fizeram, são da idéia de que as remessas e as viagens a Cuba para
ajudar ou visitar aos familiares devem ser proibidas. Expõem a
teoria de que isto significa milhões de dólares para a economia
cubana. Alguns, inclusive, falam de um bilhão. A realidade é que
com um dólar em Cuba as pessoas que recebem remessas podem adquirir
alimentos e outros produtos essenciais em volumes superiores aos que
receberiam em qualquer parte do mundo. Podemos colocar vários
exemplos: uma família com uma criança de até sete anos, que
receba um dólar, com o câmbio de 26 pesos por um dólar, pode
adquirir 104 litros de leite, que em nosso país custa para esses
meninos 25 centavos de peso, quer dizer, menos de um centavo de
dólar, enquanto a matéria-prima no mercado mundial varia entre 15
e 20 centavos de dólar cada litro, quer dizer, de 15 a 20 vezes
mais. Da mesma forma, pode adquirir no mercado normado e subsidiado
mais de 50 quilos de arroz por um dólar, cujo preço em moeda
nacional é de 12 centavos o quilo. O mesmo acontece com o feijão,
o pão e outros tantos alimentos. Os medicamentos adquiridos nas
farmácias pagam-se na mesma moeda, a metade do preço que tinham
há 40 anos; os que se utilizam nos hospitais recebem-se de forma
absolutamente gratuita. A recreação é gratuita. Um jogo de
beisebol, que se paga em pesos, custa aproximadamente 500 vezes
menos do que nos Estados Unidos.
Com um dólar que um
cidadão receber pode assistir a 26 jogos de beisebol, que nos
Estados Unidos custa US$ 20 cada um, um número de funções de
teatro ou de cinema, que variam entre 5 e 26 vezes em cada dólar;
nos Estados Unidos custam entre 10 e 12 dólares cada função.
Estas cifras são aproximadas e podem variar de uma instalação ou
de uma cidade a outra. Em Cuba, 85% das casas são propriedade da
família em virtude das leis revolucionárias, e não pagam nem um
centavo de aluguer nem de imposto; 15% restante da população paga
só um aluguer simbólico que não ultrapassa o eqüivalente a 4
dólares cada mês; pela eletricidade, uma média de 0,5 centavo o
quilowatt; serviços de educação e saúde, absolutamente gratuitos
para toda a população; e utilizando só 20 centavos de dólar em
material impresso e eletricidade podem receber um excelente curso de
160 horas de idioma inglês pela televisão.
Isto é possível porque
em Cuba o Estado subsidia cada ano, com mais de US$ 500 milhões, os
alimentos essenciais que se importam, e com muitos milhares de
milhões de pesos serviços vitais oferecidos gratuitamente a toda a
população, incluindo os cidadãos que recebem remessas em
dólares.
Estes dados relacionados
com os alimentos e serviços que podem ser adquiridos aos preços
mencionados, servem para demonstrar de quantas coisas poderia ser
privada uma família ou um cidadão cubano se proibirem a familiares
seus residentes nos Estados Unidos enviar-lhes um dólar. Durante
mais de 30 anos não foi admitido o envio de dinheiro do Exterior a
familiares em Cuba por constituir um privilégio de que não podia
desfrutar a maioria da população. Tampouco eram autorizadas as
visitas a Cuba de familiares residentes nos Estados Unidos devido
aos riscos que implicava para a segurança de um país que tinha
sido vítima de milhares de ações de sabotagens, terrorismo,
espionagem, subversão, planos de atentados, e outras atividades
semelhantes que iam desde a invasão a Girón, há 42 anos, até os
recentes ataques terroristas a hotéis e instalações turísticas,
empregando cidadãos cubanos residentes nos Estados Unidos.
Numa dada altura, a
fortaleza, maturidade e experiência da Revolução permitiram
flexibilizar a política seguida durante dezenas de anos. É curioso
que seja agora o governo desse país que pense na idéia de
proibí-lo para punir Cuba. Mais de quatro décadas de Revolução
têm demonstrado que nosso país é capaz de enfrentar qualquer
ameaça e derrubar sinistros planos em qualquer sentido. Nada pode
ser mais difícil do que 44 anos de criminoso bloqueio e guerra
econômica, derrubamento do campo socialista e desintegração da
URSS, Período Especial, Lei Torricelli, Lei Helms-Burton, Lei
assassina de Ajuste Cubano, vigente desde 1966, ataques biológicos
a colheitas e ao gado. Temos enfrentado tudo sem que nada possa
impedir nosso desenvolvimento social, que coloca Cuba nos primeiros
patamares, acima de muitos países desenvolvidos. Sejam quais forem
os planos de punição no terreno econômico, o governo dos EUA tem
muito poucas armas para o conjunto de ações que possa realizar
contra Cuba. Todas as ações possíveis foram previstas e serão
enfrentadas. Os afetados serão muitas famílias que têm adaptado
suas vidas ao padrão econômico e aos consideráveis benefícios
que nas condições de Cuba lhe propiciam pequenas remessas, como
demonstramos com dados irrecusáveis, ou pior ainda, muitas pessoas,
em sua maioria da terceira idade, que dependem dessas remessas. A
economia cubana e seus serviços sociais podem resistir a suspensão
dos supostamente grandiosos benefícios de tais remessas, ou dos
vôos charter ou qualquer outra medida, incluída a suspensão das
vendas de alimentos que, sem receber nenhum crédito bancário temos
adquirido, cujo montante atinge a cifra de mais de US$ 300 milhões,
sem deixar de pagar até o último centavo e sem um segundo de
atraso. Esta medida só serviria para demonstrar que os Estados
Unidos, por causas estritamente políticas, não são um fornecedor
seguro e confiável de alimentos. Isso limitou nossas compras, que
contudo, aumentaram a um ritmo elevado, dada a eficiência e
seriedade dos agricultores norte-americanos. Se tivéssemos
financiamento, então o dano teria sido maior.
As dificuldades de
proibir as remessas e as viagens a Cuba, afetando um número
incalculável de pessoas, tanto em Cuba quanto nos EUA, serão para
o governo desse país. Os afetados vão fazer pelos seus familiares
o que esteja a seu alcance, tentando impedir que seus vínculos mais
elementares e relações sejam sacrificados de forma tão injusta e
arbitrária.
Cuba, onde não existe
nenhum cidadão abandonado, será capaz inclusive de amparar aos que
por tão desumana política precisarem da ajuda da Revolução.
As advertências, em
linguagem ameaçadora, de que não permitirão êxodos de balseiros,
se contrapõem totalmente com o estímulo que as autoridades desse
país oferecem a seqüestradores de naves aéreas e marítimas
cubanas, que utilizaram armas de fogo ou métodos semelhantes aos
que, com armas brancas no pescoço de pilotos e tripulantes, jogaram
aviões cheios de pessoas inocentes contra as Torres Gêmeas de Nova
York e o Pentágono.
Mais de 90% dos
emigrantes ilegais chegam a território norte-americano através de
lanchas rápidas e traficantes de emigrantes residentes lá, que
entram e saem quando quiserem, impunemente, dos Estados Unidos e
Cuba, o que, unido à absurda e criminosa Lei de Ajuste Cubano, e à
ambição dos traficantes que carregam mais pessoas que o que
permite a capacidade das embarcações, provocou a morte de grande
número de pessoas.
É evidente que os
prêmios e privilégios que o governo dos Estados Unidos concede a
delinqüentes que seqüestram aviões e navios com métodos
terroristas, em nada contribuem para a emigração legal e ordenada
com a que os Estados Unidos se comprometeram. Tampouco contribuem as
infames calúnias contra Cuba pelas medidas enérgicas que, de forma
absolutamente legal, Cuba foi obrigada a adotar para evitar uma onda
de seqüestros de aviões e embarcações de passageiros.
As supostas medidas
anunciadas de proibir vôos e remessas estimulariam a emigração
ilegal, da qual Cuba não poderia ser culpada, pois nosso país
cumpre estritamente as obrigações que lhe cabem nos acordos
migratórios, sem exceção.
É verdadeiramente
absurdo e contraditório que os Estados Unidos ameacem aplicar
medidas relacionadas com os êxodos em massa um país que, como
Cuba, tem proposto reiteradamente um acordo de cooperação para a
luta contra o tráfico de imigrantes, que o governo dos Estados
Unidos nem sequer se deteve a considerar.
Esperaremos os
pronunciamentos e as medidas punitivas que se anunciam. Entretanto,
tentamos adivinhar e utilizar a imaginação para enfrentar com
sucesso, com dignidade, firmeza e eficácia qualquer forma de
hostilidade e agressão, como a Revolução cubana tem feito durante
mais de quatro décadas. •
18 de abril de 2003
1h40 a.m. |