Entrevista coletiva
do chanceler de Cuba Felipe Pérez Roque sobre mercenários a
serviço do Império que foram julgados nos dias 3, 4, 5 e 7 de
abril. Havana, 9 de abril do 2003.
(Versões taquigráficas –
Conselho de Estado)
José L. Ponce (apresentador).- Bom dia a todos os
colegas. Bem-vindos a esta intervenção especial do chanceler
Felipe Pérez Roque.
Aqui estão presentes 82 jornalistas da imprensa
estrangeira credenciada, representando 59 meios de 22 países, e
está toda a imprensa nacional.
Deixo vocês imediatamente com o ministro Felipe
Pérez Roque, que fará uma intervenção especial, e depois faremos
uma rodada de perguntas e respostas.
Felipe Pérez Roque.- Bom dia a todos os
correspondentes da imprensa estrangeira credenciada em nosso país e
da imprensa nacional.
Convocamos a coletiva para dar informação sobre os
processos judiciais acontecidos em dias recentes, sobre os
antecedentes, e vamos comentar também alguns outros temas de
interesse.
Em primeiro lugar, gostaria de fixar que o governo e
o povo de Cuba estão bem cientes de que ainda travam, hoje, uma
dura batalha pelo seu direito de livre determinação, pelo seu
direito à independência.
O povo e o governo de Cuba não perdem de vista
nenhum minuto a idéia de que em Cuba estão em jogo a
independência, o futuro de nosso país como nação e o desfrute de
todos os direitos para todos os cidadãos de nosso país.
Após mais de 40 anos de ferrenho bloqueio
econômico, financeiro, comercial, agressões, atos terroristas,
mais de 600 planos de atentados, planos de assassinato contra o
Chefe de Estado cubano; após décadas de encorajamento à
subversão, à emigração ilegal, às sabotagens, à ação de
grupos armados, que têm sido tolerados em seu desempenho terrorista
contra nosso país; após toda essa história que o nosso povo
conhece bem e teve de sofrer com a perda de seus filhos, com
consideráveis prejuízos materiais- só o bloqueio já custou a
Cuba mais de 70 bilhões de dólares-; depois de tudo isso, nosso
povo teve de lidar com a obsessão dos governos dos Estados Unidos
de fabricar em Cuba uma oposição, de fabricar em Cuba uma quinta
coluna, de fomentar em Cuba a aparição e o fortalecimento de
grupos que respondam a seus interesses, com uma clara visão
anexionista. São os encarregados de, um dia, propiciar a anexação
de Cuba aos Estados Unidos, num suposto teatro de derrota da
Revolução Cubana. Essa tem sido sua obsessão: leis,
financiamento, estímulo, atuação dos serviços especiais.
Um plano atrás do outro se espatifou na
unidade de nosso povo, na autoridade moral da Revolução Cubana
diante de seu povo, no fato inquestionável de que a imensa maioria
do povo cubano apóia e defende a Revolução, na inquestionável
liderança moral da direção histórica da Revolução Cubana.
Bateram em cheio com isso, não puderam ultrapassar essa
resistência, que causou a admiração do mundo.
Devo mencionar este antecedente, porque não se pode
examinar os acontecimentos recentes em Cuba esquecendo de que em
Cuba ainda se sustenta em discussão um litígio histórico.
Trata-se do direito e da luta dos cubanos por ser um país
independente, que teve de enfrentar os apetites históricos e os
planos concretos de anexionar Cuba aos Estados Unidos. Em Cuba,
hoje, se dirime isso e, para analisar a realidade cubana e o que
está se passando em Cuba, é preciso levar em conta esse fator.
Cuba sabe muito bem que o direito internacional
está do seu lado, porque a Carta das Nações Unidas reconhece a
Cuba o direito de escolher seu próprio sistema político, reconhece
o respeito ao princípio da igualdade entre os Estados e reconhece o
direito à livre determinação dos povos. Portanto, o bloqueio, a
atividade de agressão e de pressões contra Cuba, tenta violar que
todo o nosso povo exerça seu direito de livre determinação, crie
suas instituições, funde seu sistema político e econômico à sua
livre vontade.
Em Cuba, hoje, o que está em jogo é se um país
pequeño, próximo de um grande superpotência, pode ser um país
independente, pode ser um país que siga seu próprio caminho.
Os pactos internacionais de direitos humanos,
aprovados nas Nações Unidas e dos que tanto se fala hoje em dia
expressam literalmente que "todos os povos têm o direito de
livre determinação", e nós, os cubanos, nos demos esse
direito. Aprovamos uma Constituição, emendamos a mesma, temos
leis, temos instituições, temos mais de 2 000 organizações da
sociedade civil, entre organizações não governamentais,
instituições gremiais, e temos nosso próprio sistema, nossas
instituições e escolhemos nosso caminho e devemos ser respeitados.
Aqui, o que está em jogo é se podemos ou não fazer o nosso
próprio caminho e exercer esse direito.
A Carta da Organização de Estados Americanos, de
onde Cuba –como sabemos-foi expulsa pela pressão do governo dos
Estados Unidos e da qual nossa opinião foi renovadamente dita, pois
bem, a Carta da OEA, à qual os Estados Unidos pertencem e na qual
exercem todo o seu poderio, expressa: "Cada Estado tem direito
de escolher, sem ingerências externas, seu sistema político,
econômico e social, organizar-se na forma que melhor lhe convenha,
e tem o dever de não intrometer-se nos assuntos de outros
Estados".
Isso diz a Carta da OEA, que se supõe pedra angular
da organização das Américas. Em Cuba, nós estamos lutando por
este direito, contra as pressões e contra a endurecida hostilidade
de um novo governo nos Estados Unidos, que, no exercício de seu
poderio unilateral no mundo, potenciou a graus insuspeitos sua
retórica e sua hostilidade contra Cuba.
É isso o que está em jogo em Cuba, hoje em dia.
Portanto, nos parece importante como precedente, como antecedente de
tudo que vamos explicar, que estes elementos sejam levados em conta.
Pois bem, é verdade que o bloqueio, as agressões
existem há mais de 40 anos; é verdade que sempre se encorajou a
emigração ilegal contra Cuba; é verdade que houve uma política
que seguiram 10 administrações norte-americanas e Cuba teve de
enfrentá-las e sobrevivê-las. Mas, com a chegada do governo do
presidente Bush nos Estados Unidos houve um salto na hostilidade
contra Cuba.
A presença em postos chave do governo dos Estados
Unidos de mais de 20 cubanos oriundos dos grupos extremistas de
Miami, a decisão de entregar a principal responsabilidade no
Departamento de Estado nos Assuntos de América Latina e, portanto,
de Cuba, ao senhor Otto Reich, propiciaram, junto ao compromisso e
à dívida de gratidão que o presidente Bush já tinha com os
grupos extremistas de Miami, que o apoiaram na campanha eleitoral e
jogaram papel determinante em sua eleição, uma nova fase de
hostilidade, mais dura, contra Cuba.
Devo dizer claramente que nós não culpamos o povo
dos Estados Unidos dessa situação. Nossos sentimentos pelo povo
dos Estados Unidos são de amizade e de respeito, e demos prova
disso.
Nós não culpamos a maioria dos cubanos que vivem
nos Estados Unidos, não nos referimos a eles como " a
máfia", e sim a comunidade de cubanos que vivem ali.
Respeitamos e defendemos também seu direito de relacionar-se com
suas famílias, de visitar Cuba. Não culpamos eles. Não
culpamos os vastos segmentos da sociedade norte-americana, da
intelectualidade, os empresários, que compreendem a necessidade de
uma mudança na política em relação a Cuba e apóiam a
normalização das relações. Nós culpamos os grupos
extremistas de Miami, que são uma minoria, e os segmentos que
dentro do governo se comprometeram numa política de hostilidade
contra Cuba.
Não culpamos nem sequer a maioria da Câmara e do
Senado, que deram provas, nos últimos anos, de sua vontade, sua
determinação, sua aspiração a que a relação entre os dois
países se normalize, a que haja comércio, vendas de
alimentos e medicamentos, viagens dos cidadãos norte-americanos a
Cuba e sejam eliminadas as anacrônicas proibições de viajar a
Cuba atualmente.
Quer a maioria da sociedade norte-americana, segundo
as pesquisas, dados, publicações, seguir o caminho que se segue
hoje em dia? Não. Seguiu-se um caminho contra Cuba, um caminho que
implicou endurecimento do bloqueio, endurecimento das
medidas do bloqueio- depois veremos algumas decisões recentes de
endurecimento-; um caminho de encorajar, mais do que nunca, a
emigração ilegal, maior tolerância.
Basta dizer que nos últimos sete meses houve sete
seqüestros de aeronaves e embarcações cubanas, propiciados pela
tolerância, pela aplicação indiscriminada da Lei de Ajuste
Cubano, da prática de receber ali pessoas que recorrem a atos
terroristas, à violência para chegar, uso de armas, que é punido
em convenções internacionais, das quais, aliás, os Estados Unidos
fazem parte. Os seqüestradores terroristas de quatro dos casos
permanecem livres e não há notícias sobre processos penais
abertos contra eles. Trata-se dos primeiros quatro casos desses sete
casos desde agosto do ano passado até hoje.
Em quatro casos, os seqüestradores que cometeram
atos de terrorismo estão soltos. Em Miami, vivem livres pessoas que
assassinaram para desviar aviões, embarcações aos Estados Unidos.
Tudo isso foi adquirindo mais força- sobre isso tornarei a falar de
novo.
Financiam-se, com mais força do que nunca,mais de 1
200 horas semanais de transmissões de rádio contra Cuba. A
Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana recebeu
indicações de se tornar, praticamente, o estado maior e o QG da
subversão interna em Cuba, com um perfil do chefe dessa
Repartição nunca antes visto nos 25 anos em que vêm funcionando
as Repartições de Interesses. Em aberta violação das leis do
comportamento diplomático, em aberta ingerência nos assuntos
internos de Cuba, com um tom e performance impróprios,
realmente, de um diplomata.
Multiplicou-se o uso do malote diplomático da
Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana para
financiar, abastecer de ferramentas os grupos criados e financiados
pelo governo dos Estados Unidos a fim de que possam exercer seu
trabalho contra-revolucionário em Cuba. Enfim, aumentou o trabalho
subversivo, o desrespeito às leis cubanas, o desafio aberto à
institucionalidade legal de Cuba, à que cada representação
diplomática deve respeito em seu trabalho no nosso país.
Vamos dar um exemplo de como se delineava o trabalho
do chefe da Repartição de Interesse dos EUA em Havana, senhor
James Cason em relação a Cuba. Colocarei agora um breve trecho das
declarações que fez à televisão de Miami, no mes de
dezembro, para ouvir em suas próprias palavras do que estamos
falando.
(Passam vídeo)
Jornalista..... novo cargo, como Chefe da
Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana. O
senhor já está viajando, se reuniu com o cubano comum, com
dissidentes em Cuba. Já se reuniu também com líderes das
organizações anticastristas do exílio?
James Cason.- É, duas ou três vezes. Cada vez que
viajo a Miami, quero me reunir e me reúno com todos os grupos: a
Fundação Nacional Cubano-Americana, o Conselho para a Liberdade de
Cuba, grupos independentes, e todos os grupos aquí, porque quero
lhes explicar o que vi em Cuba, o que está se passando e
escutar seus pontos de vista sobre aquilo que nós estamos fazendo.
É uma conversa muito amigável. Uma de minhas mensagens é que o
importante em Cuba é que existe uma oposição, são isolados,
perseguidos, mas insistem e são muito corajosos. É importante que
se reúnam, se unam e se centrem no essencial, nos direitos que não
têm, e nas liberdades que devem ter.
Devem esquecer personalismos, divergências, o
importante é que a oposição ganhe espaço, porque virá o dia em
haverá uma transição. Há uma transição agora, mas haverá uma
Cuba nova, algum dia. E eles têm que assumir sua parte em formar e
decidir o futuro de Cuba. Têm que conquistar seu espaço, começar
a discutir o que é preciso fazer diferente para mudar Cuba. É
importante que se debrucem sobre o importante, e não no não
essencial.
Jornalista.- O senhor, que sustentou reuniões com
os dissidentes – não sei se deseja entrar nestes detalhes-, onde
vê que talvez a dissidência não estaria se encaminhando bem? Qual
é a sua mensagem para a dissidência? Antes de pedir ao
senhor, se me permite, uma mensagem para os grupos anticastristas de
Miami. Qual é a sua mensagem à dissidência em Cuba, com base no
que viu?
James Cason.- Bom, primeiro quanto ao futuro de
Cuba..., nós, os norte-americanos não vamos determinar qual é o
futuro de Cuba, serão os cubanos, fora de Cuba e dentro de Cuba.
Eles devem, do meu ponto de vista, meu conselho é focalizar o
essencial. Quais são os fatores importantes? Não se dividr,
reunir-se e tratar de chegar a um acordo sobre 10 pontos. Por
exemplo, onde todos estejam de acordo, e não falar nos que não
estão de acordo. Na democracia, todo o mundo tem divergências, hã
ações, mas o importante é que isso é uma ditadura militar onde
se as pessoas não se reúnem, não terão muita chance de
prosperar. Que se concentrem no essencial e procurem pontos de
coincidência, não de divergência.
Jornalista.- Sobre o tema da dissidência. Uma das
prioridades também é ajudar a dissidência em Cuba. Como o senhor
pretende ajudar a oposição castrista
James Cason.- Como já disse, oferecendo
informação, apoio moral, espiritual, de que não estão sozinhos,
que o mundo sabe o que está se passando dentro de Cuba. Prova
disso, é que muitos líderes, como Osvaldo Payá, Vladimiro Roca,
Marta Beatriz Roque, receberam prèmios de direitos humanos europeus
e de outras partes do mundo. O mundo sabe o que está acontecendo em
Cuba, e nós estamos ali para lhes dizer esta realidade e ajudá-los
no que for possível.
Não damos, não é verdade, como diz Castro, que
estamos financiando a oposição. A oposição insiste porque o
sistema fracassou e nós estamos ali para oferecer o apoio do povo
americano e do resto do mundo democrático ao que estão fazendo,
que é advogar pelos direitos básicos humanos que Cuba assinou na
Declaração de Direitos Humanos, nas declarações universais, e
não cumpriu em todos estes anos.
Felipe Pérez.- Este é o senhor Cason em dezembro,
sua tarefa é unir os grupos, ajudã-los a criar um programa de 10
pontos.
O senhor Cason, como vemos, vem a Cuba com a tarefa
de criar um partido único da "dissidência" em Cuba,
portanto, não sei por que lhe incomoda tanto que os
revolucionários cubanos tenhamos um partido único para defender a
Revolução, porque é isso o que ele tentou propiciar com a
denominada "dissidência".
Sua direção desses grupos visa eliminar as
diferenças internas, as "brigas" intestinas por razões
de protagonismo ou de dinheiro, e tratar de criar um grupo unido,
com dinheiro.
Me assombra que não fale nos prêmios concedidos
nos Estados Unidos. Justamente, o Instituto Republicano
Internacional, um dos grupos que recebeu dinheiro do governo dos
Estados Unidos, que recebeu nada mais e nada menos do que 1 674 462
de dólares no 2002. Para que? Para ajudar a criar as bases de apoio
internacional, para fornecer ajuda material, moral e ideológica aos
ativistas em Cuba, inclusa a entrega de prêmios, reconhecimentos
internacionais. E nós sabemos como esta instituição e outras, nos
Estados Unidos, participaram da outorga dos prêmios. Para isso lhe
fornecem cada vez mais dinheiro, organizando as viagens, os
prêmios, as tournés, temos informação de tudo isso.
De modo que, sublinho diante de vocês a idéia de
que o senhor Cason marca uma fase de aprofundamento da política
contra Cuba, da política de subversão contra Cuba, aberta,
deslavada.
Aí ele diz: "Meu reúno cada vez que posso com
a Fundação Nacional Cubano-Americana", os que financiaram a
cadeia de atentados terroristas contra os hotéis em Cuba, que
provocaram a morte de um turista italiano e feridas em dezenas de
turistas e trabalhadores cubanos.
"Me reúno com eles cada vez que posso",
com o Conselho para a Liberdade de Cuba, que é a ala militar da
antiga Fundação Nacional Cubano-Americana; Martin Pérez, chefe do
aparato paramilitar da Fundação, organizador de múltiplos planos
de assassinatos do Chefe de Estado cubano, o presidente Fidel
Castro, em eventos internacionais; participantes em organizar e
financiar a tentativa de colocar 40 quilos de explosivo C-4 na
cúpula Ibero-Americana do Panamá para assassinar o Presidente de
Cuba.
Então, "me reúno com eles cada vez que posso
para passar informação, trocar idéias; encorajo-os, lhes digo que
está perto o dia em que eles e os grupos de dentro, que nós
apoiamos, possam finalmente garantir o desfrute dos direitos
humanos", a todos esses elementos, batistianos a maioria,
ligados à repressão e ao assassinato de 20 000 cubanos durante a
ditadura de Fulgêncio Batista.
Nós sabemos muito bem o que veio fazer aquí o
senhor Cason, as indicações que traz, as motivações e as
filiações que tem. Portanto, nós temos o dever e o direito de
defender a independência de nosso país, usando a legalidade
estabelecida em nosso país, dentro, estritamente, do respeito às
nossas leis, à nossa ética e a nosso sentido da vida e das
convicções que nos móvem.
Isso foi em dezembro. Desde então, o que foi que se
passou? Em 27 de fevereiro do 2003, o cubano Adolfo Franco, um
desses mais de 20 que tem cargos no governo, administrador para o
atendimento à América Latina e o Caribe na USAID, Agência de
Ajuda ao Exterior norte-americana, uma agência do governo dos
Estados Unidos, declara perante um subcomitê de Relações
Exteriores da Câmara de Representantes, que a Agência de Ajuda ao
Exterior norte-americana investiu mais de 20 milhões de dólares-
22 milhões de dólares- desde 1997 para aplicar a Lei Helms-Burton
em Cuba.
Igualmente, declara que, ao espírito da lei,
enviaram-se materiais, propaganda, entregaram-se mais de 7 000
rádios preparados para escutar Rádio Marti, entre outras ações.
A própria Agência norte-americana de Ajuda ao
Exterior declarou que os 22 milhões representam uma fatia mínima
dos fundos canalizados para Cuba. Uma fatia mínima! Isso porque a
maior fatia do dinheiro para a subversão não se canaliza através
da USAID. A Lei Helms-Burton tem o inciso 109 que orienta o governo
distribuir por esta via dinheiro para subversão em Cuba, através
da USAID, mas tem o 115 que propicia dar dinheiro por vias secretas,
dos serviços especiais. A própria USAID diz que o que eles dão é
mínimo, e foram 22 milhões, segundo admite este funcionário,
desde 1997.
A 28 de fevereiro, os Cinco Heróis cubanos,
injustamente presos nos Estados Unidos por ajudarem a combater o
terrorismo, são mandados de novo a celas de castigo, de onde não
sairiam até o dia 2 de abril.
Em 24 de março, o Escritório de Controle de Ativos
Estrangeiros- dependência do governo que zela pelo cumprimento do
bloqueio- estabelece novas regulações que endurecem ainda mais o
bloqueio; limitam-se ainda mais as viagens dos norte-americanos a
Cuba; as pequenas autorizações que se davam para que estudantes
viessem a Cuba, para intelectuais, se restringem praticamente até
eliminá-las. Eliminam-se os intercâmbios educacionais;
restringe-se de maneira arbitrária não só que venham aquí, mas
também que se possa ir ali; negam quase de ofício os vistos para
jovens, estudantes, intelectuais cubanos, atletas, cientistas para
assistir a eventos aos que foram convidados nos Estados Unidos;
aumentam as facilidades de viagens a Cuba para abastecer os grupos
que realizam tarefas de subversão interna: se proíbe aos
norte-americanos participar de seminários e conferências que sejam
organizadas por instituições cubanas. Ou seja, em 24 de março se
produz um novo endurecimento do bloqueio levando até a
esquizofrenia as medidas contra Cuba relativas ao bloqueio.
A 26 de março, o secretário de Estado, Colin
Powell, comparece perante o Subcomitê de Verbas do Senado e anuncia
que o orçamento que apresenta inclui 26 900 000 de dólares para as
transmissões contra Cuba de Rádio e Televisão Marti. Esta quantia
se soma aos vinte e tal milhões que já explicamos e constitui uma
violação da legalidade internacional, dos regulamentos da União
Internacional de Telecomunicações; foi admitido o financiamento de
uma emissora que viola nosso espaço rádio eletrônico com mais de
1 200 horas semanais de transmissões para Cuba, encorajando a
subversão interna, os planos de sabotagem, encorajando a
deserção, a emigração ilegal. Essas emissoras se dedicam
justamente a isso difundindo mentiras e falsidades contra Cuba.
A 31 de março, o Departamento de Estado publica o
informe sobre Direitos Humanos no mundo que, como se sabe, fala de
todo o mundo, menos dos próprios Estados Unidos. E dedica a Cuba
páginas de infâmias e de mentiras que constituem a base para
apresentar depois a Resolução contra Cuba na Comissão de Direitos
Humanos em Genebra, que os Estados Unidos patrocinam e
organizam.
A mencionada Resolução, neste ano, será votada em
16 de abril. Os Estados Unidos, em face de sua incapacidade e falta
de autoridade para apresentá-la, especialmente depois de terem sido
afastados por um ano da Comissão de Direitos Humanos por considerar
a comunidade internacional que não preenchem os requisitos para
serem membros da comissão, e depois de terem voltado à mesma
graças à Espanha e à Itália que desistiram de entrar para que os
Estados pudessem ser eleitos sem votação. Eles não queriam que
houvesse votação, colocaram esta condição, porque temiam
perdê-la levando em conta que a votação é secreta e eles temem
as votações secretas, em troca, nós, queremos que sejam assim.
Pois bem, eles voltaram, mas têm medo de apresentar a resolução
contra Cuba.
Assim, foram aplicados esses artigos da Lei de
Proteção da Independência Nacional e da Economia de Cuba, Lei nº
88, e o Código Penal cubano.
Por outro lado, apresentou-se extensa prova,
material probatório de peritos, de testemunhas. Por exemplos,
peritos do Banco de Cuba demonstraram a um dos tribunais como o
dinheiro flui, do governo e as agências dos Estados Unidos, a seus
agentes em Cuba. Já está clara a rota do dinheiro sujo, sabe-se
como vem: governo dos Estados Unidos/agências fachadas, ONG e
grupos e institutos nos Estados Unidos, e daí a Cuba, por
contrabando, sob o manto de remessas familiares, sabe-se em
detalhes. Esse é o dinheiro público da USAID, não estamos aqui
falando do dinheiro dos serviços especiais, o dinheiro que é
entregue diretamente aqui, na Repartição de Interesses, e tudo
isso.
Depois de ter fornecido esses dados, resta-me
informá-los agora de algumas outras coisas, muito interessantes.
O papel principal na formação, na criação desses
grupos, na direção desses grupos, no financiamento desses grupos,
na estimulação e proteção desses grupos mercenários em Cuba é
do governo dos Estados Unidos. É a Repartição de Interesses
Norte-Americanos em Havana, e ficou amplamente comprovado nos
julgamento quem cria, dirige, financia, estimula, protege a
criação e o trabalho subversivo de seus agentes em Cuba. E faz
isso em virtude de quê? Em virtude do cumprimento da Lei
Helms-Burton.
"Seção 109: Autorização do apoio" –
diz – "aos grupos democráticos e de direito humanos".
"Seção dedicada: Autoriza-se o Presidente a
prestar assistência" – ou seja, dinheiro; dinheiro do
contribuinte norte-americano – "e outros tipos de apoio a
pessoas e organizações em Cuba..."
Seção 115 da Lei Helms-Burton: "Repercussão
desta lei sobre as atividades lícitas" – vejam que curioso
– "do governo dos Estados Unidos.
"Nada do disposto na presente lei" – ou
seja, nada do que é dito aqui, que o governo e o presidente têm de
apoiar através da USAID – "proíbe nenhuma das atividades de
investigação" – vejam agora que nomes mais interessantes
–, "proteção ou inteligência, juridicamente autorizadas,
de um organismo encarregado de fazer cumprir a lei ou de um
organismo de inteligência dos Estados Unidos".
Para que não haja confusão e se pense que agora a
única maneira de dar dinheiro e organizar em Cuba seja através da
via legal, o legislador, o senador Helms, o congressista Burton,
asseguraram-se de que ficasse claro no texto que aquilo não tem
nada a ver com o outro, de qualquer maneira, têm de seguir dando
dinheiro, financiando, etc., pela via secreta dos organismos de
inteligência.
Isso é que está sendo executado em Cuba.
Pretende-se apresentar isso como um movimento autóctone, surgido de
Cuba, da "sociedade civil – chamam assim – em Cuba,
ignorando às mais de 2.000 organizações não-governamentais e
associações cubanas, que incluem desde associações de chefes de
cozinha, até organizações femininas, grupos ecologistas, centros
de estudos, organizações de jovens, de estudantes, sobre as mais
diversas matérias da atividade social e econômica do país,
insultando realmente a todas essas organizações e a suas dezenas,
centenas de milhares e, em alguns casos, milhões de membros.
O que se está fazendo aqui? Apresentando como se
fosse o surgimento de um movimento opositor em Cuba a um intento de
oposição fabricado e financiado do exterior, em cumprimento à Lei
Helms-Burton.
Nós, que tivemos de defender a Revolução por mais
de 40 anos, quando vemos o senhor Cason declarar em Miami: "O
futuro dos cubanos é um assunto dos cubanos, nós queremos que
eles, os de dentro e os de fora" – pensando, como pensam os
batistianos, que virão aqui a reclamar a riqueza que roubaram do
povo e que a Revolução nacionalizou –, "que sejam eles que
cheguem a um acordo", quando o ouvimos, recordamos que eles
disseram o mesmo aos patriotas que lutavam pela independência de
Cuba, e declararam que "Cuba devia ser livre de fato e de
direito", por resolução do Congresso, e depois o país foi
ocupado militarmente e lhe impuseram a Emenda Platt, e roubaram seus
recursos naturais.
Recordamos, quando ouvimos o senhor Cason, que agora
também se diz que "o futuro dos iraquianos corresponde aos
iraquianos", imagino que, inclusive, a administração dos
poços de petróleo e dos novos contratos.
Nós nos curtimos na defesa de nossa soberania, e
não acreditamos em "histórias da estrada", e sabemos que
se fabrica a subversão a partir do exterior, que se tenta criar uma
quinta-coluna aqui, e exercemos nosso direito soberano a
enfrentá-la legalmente e respeitando as leis e a ética; nunca
apelando a métodos de seqüestros, de assassinatos; jamais criando
um esquadrão da morte, jamais violando a integridade física e
moral das pessoas.
Agora, eu disse que a Repartição de Interesses dos
Estados Unidos em Havana cria os grupos dissidentes, organiza-os, e
o sustento. Aqui está uma das fotos apresentadas em um dos
julgamentos. Foram apresentadas centenas de fotos.
Aqui aparece o senhor Cason, no momento em que ele
– um diplomata estrangeiro acreditado em Havana – funda o setor
juvenil do Partido Liberal Cubano, coisa incrível, fundador de um
partido em Cuba. Um cidadão estrangeiro fundar um partido em Cuba
me parece..., e não há legislação no mundo que permita que
cidadãos estrangeiros formem partidos dentro do país. Bem, aqui
está, retratado na foto de ocasião, no momento em que fundava o
setor, ou seja, não apenas o partido, senão que agora estava
criando o setor juvenil, ou seja, os que tratarão de derrubar a
Revolução em 2080 ou 2091. Pelo que se vê, a guerra será longa.
Aqui está a reunião, o momento em que o comitê
organizador – são quatro pessoas –, os quatro membros dessa
nova agrupação, fundam; ou seja, ele está reunido aqui com a
plenária do novo movimento, uma assembléia: estão os quatro, e
está o senhor Cason, elegante. Na mesa se vêem bandejas de
presunto, copos ali, com certeza houve uns "comes e
bebes", para refrescar. Aí está.
A Repartição de Interesses Norte-Americanos
cria esses grupos em Cuba. Sustento-o e foi provado nos julgamentos.
Repito que não confundo em nada a atuação do
governo, de alguns de seus agentes, de um diplomata norte-americano
em Havana – não confundo isso com a atitude do povo
norte-americano com Cuba, e distingo muito bem, e nenhum de nós foi
"contaminado" por um vírus antinorte-americano, não
fomos educados nos ódios ou no chauvinismo, e defendemos nosso
direito á independência e a nossa pátria, com o mesmo fervor com
que somos solidários com o mundo e respeitosos com todos os povos,
inclusive o povo norte-americano.
Aqui tenho outra peça interessante: "Passes
para livre acesso", acesso aberto a qualquer hora do dia e da
noite, a alguns desses mercenários, para entrar na Repartição de
Interesses Norte-Americanos em Havana apenas apresentando-os.
Os cubanos não podemos entrar ali, porque, bem, ali
há mecanismos de proteção; além disso, é cada vez mais
difícil, para os cubanos, entrar ali: impressões digitais,
registro, revista.
Bem, há alguns que não passam por isso, têm –
como vemos aqui –: Passe Aberto do senhor Oscar Elías Biscet, a
qualquer hora do dia e da noite; Passe Aberto do senhor Héctor
Palacios.
As novas restrições impostas pelo Escritório de
Segurança da Pátria, que reforçaram as medidas de proteção nos
imóveis oficiais norte-americanos, que tornaram mais difícil
penetrar a fronteira – é lógico, reação depois dos atos
terroristas de 11 de setembro –, não valem para estas pessoas,
eles têm ali o status de um funcionário. Eles podem entrar aí
como Cason, apresentam o passe e entram. Imagino que, com o passar
do tempo, como já são conhecidos, se lhe dizem: "Passe",
você entra também. Essa é a realidade.
Bem, e como é possível que um cubano normal, um
peão, possa ter acesso irrestrito, com passe oficial assinado pelo
Chefe da Repartição, para entrar a qualquer hora do dia e da
noite, a qualquer lugar da Repartição de Interesses
Norte-Americanos em Havana? Parece que tem de ser alguém que goze
de extrema confiança, porque eu nunca tive esse passe, nem essa
possibilidade. Quando tenho de ir a uma embaixada, o embaixador sabe
antes, autoriza os que estão na porta a que eu entre; inclusive a
segurança cubana que protege o imóvel diplomático é avisada.
Aqui tenho outro momento de celebração (mostra uma
foto). Esta é com a senhora Vicky Hudleston, no momento em que,
todos sorridentes, desejavam-lhe êxito em sua nova missão em Mali,
onde ela foi trabalhar como embaixadora; estão desejando-lhe um bom
trabalho, bom ambiente. Conversavam ali, tinham terminado uma
reunião, estão também alguns outros funcionários da RINA.
Então, nós conhecemos muito bem a responsabilidade
da Repartição de Interesses na criação desses grupos.
Aqui há outra – não vou cansá-los –, aqui há
outra interessante, vê-se uma mesa; diversas fotos, uma mesa. Ali
estão as bandeirinhas norte-americanas, parece que houve uma
recepção, distingue-se aqui uma garrafa, parece que é Bacardí
branco. Estou quase certo de que é uma garrafa de Bacardí. Bem,
estão suas garrafas, houve uma celebração, há fotos. Dessa
maneira são feitos os planos para tratar de derrotar a Revolução
Cubana.
O senhor Cason deve saber que sabemos, deve saber
que, antes que ele chegasse a Cuba, nós já lidávamos com esses
temas. Bom, vai ver que ele se esforça para atingir seus
propósitos, mas deve saber que não é fácil, porque não está
lidando com um povo ingênuo, que não aprendeu a defender sua
soberania e sua independência.
Eu disse que o governo dos Estados Unidos dirige
esses grupos. Agora digo que os financia. O dinheiro para esses
grupos é dinheiro oficial do governo dos Estados Unidos. Aqui
está, só o programa da Agência norte-americana para a Ajuda
Exterior, a USAID, só esse, já disse que eles dizem que a parte
deles é a menor.
"Para incrementar no mundo a solidariedade com
os ativistas em Cuba", para propiciar-lhes viagens, prêmios,
reconhecimentos, dinheiro designado no ano 2002: 8.099.181 dólares.
Se a Agência norte-americana para a Ajuda, num ambiente de
relações normais com Cuba, dedicasse esse dinheiro realmente ao
bem-estar econômico e social dos cubanos, com esses oito milhões,
Cuba poderia construir escolas, equipar policlínicas, construir
moradias; entretanto o dinheiro é dedicado à subversão. E não é
que estejamos pedindo, nada disso, nem que o necessitemos;
desenvolvemos nosso país, apesar do bloqueio que eles nos
impuseram, e nosso povo sabe disso, e enfrentamos as dificuldades.
"Para ajudar a criar ONG’s independentes em
Cuba", 1.602.000 dólares; "para dar voz aos jornalistas
independentes", 2.027.000 dólares; "para planejar a
transição em Cuba", 2.132.000 dólares; "para avaliar o
programa", como vai, 335.000 dólares. Como se fez isso?
Criando grupos nos Estados Unidos, que são os que recebem esse
dinheiro, embolsam a maior parte, porque business são business,
e mandam uma parte para Cuba, a esses grupos.
Centro para uma Cuba Livre recebeu, em 2002,
2.300.000 dólares. Recebe informação dos grupos de direitos
humanos e a envia, dissemina, distribui. Grupo de Trabalho da
Dissidência Interna, deram-lhe 250.000 dólares; Freedom House,
são os encarregados do Programa para a Transição de Cuba, ou
seja, os que estão na coisa mais estratégica – este era Frank
Calzon –, 1.325.000; o Instituto para a Democracia em Cuba... Tudo
isso é em Miami, alguns em Washington, a maioria em Miami; ali
sempre há cubanos vivos, que sabem que é possível que não se
tenha de justificar uma parte desse dinheiro, vai direto a
"gastos de representação", e a outra parte mandam para
aqui. Instituto Republicano Internacional, um dos organizadores dos
prêmios, das excursões ao exterior, dos financiadores das viagens
de alguns do "ilustres" patriotas que foram premiados no
mundo... Grupo de Apoio à Dissidência, 1.200.000. Estiveram
repartindo. Enfim, são estes.
Cubanet recebe notícias e as publica, 98.000
dólares, baixaram seu orçamento. O Centro Americano para o
Trabalho Internacional de Solidariedade – vejam esta, a que se
dedica, trabalha para "persuadir os investidores estrangeiros a
não investir em Cuba", é seu objeto social declarado –
recebe do governo norte-americano 168.575 dólares por ano.
Daí vem o dinheiro, e dos serviços especiais.
Como chega? Por exemplo, Frank Hernández Trujillo,
chefe do chamado Grupo de Apoio à Dissidência, radicado
logicamente em Miami, recebeu no ano de 2001, 400.000 dólares –
apenas da USAID –, e no ano de 2002 recebeu 1.200.000, triplicaram
o dinheiro que lhe deram; isso está publicado na Internet, nos
sites oficiais do governo dos Estados Unidos. Que fazia com o
dinheiro? Mandava coisas para Cuba de contrabando, ou com gente que
vinha.
Aqui tenho, porque ele tem de justificar – isso
foi apreendido, como parte das investigações para os julgamentos
–, uma relação, onde explica em que coisa usou o dinheiro
empregado. Então, aqui tenho: computador, número de série, uma
coisa bem profissional. Aqui tenho os nomes das pessoas em Cuba,
esses "patriotas" que vão fazer a transição e lutam
pela "democracia" em Cuba, e ao lado está o dinheiro que
lhe deram e para que tem de usá-lo aqui. Ou seja, Frank tem de
dizer lá: "Dei-lhe o dinheiro, e o dinheiro é para tal
coisa". Aqui aparece – coisas que estavam entrando por
contrabando, uns contêineres, violando os regulamentos aduaneiros
–:
Fulana de tal, duas luminárias. Luminária, vídeo,
duas luminárias. Luminária. pacote especial para Armando Villar.
Fogareiro elétrico para Ángel Jiménez. Telefone, telefone,
telefone. Para Marta Beatriz Roque, módulo nº 1.
Há alguns pacotes, como uma sacola, ou seja, já
traz um conjunto de coisas, e se chama módulo nº 1.
Ana María Espinosa Escabillo, jogo de panelas
(risos), para lutar pela democracia em Cuba. Luminária, televisor,
vídeo, pacote, pacote. Pacotes de alimentos e medicamentos.
Porque é preciso dizer que uma das mais cruéis
ironias do trabalho desses grupos é que o governo dos Estados
Unidos propiciou que tenham alimentos e medicamentos para, no
bairro, aproveitando-se da escassez, aproveitando-se da necessidade,
aproveitando-se da urgência de um pai que busca um medicamento, –
nestes anos em que nós, apesar de todo o esforço, não pudemos
garanti-lo – fazer então seu trabalho de recrutamento por essa
via, de conseguir que as pessoas lhes devam favores, e criaram o que
chamam de "centros de distribuição", para dar às
pessoas os alimentos e os medicamentos que o bloqueio
norte-americano, que eles ajudam a manter, impede que os cubanos
tenham.
Então, é uma ironia. Você vê aqui: dinheiro,
dinheiro, televisor, luminárias, jogo de 21 potes – não está
claro de quê – para bebês. Idelfonso Hidalgo recebeu, módulo
para bebê. Não sabemos o que isso tem a ver com a "luta pela
democracia" em Cuba. Este é um desses grupos. Dinheiro para
viver desse dinheiro. Não trabalham, a maioria viveu disso por anos
e anos.
Aqui tenho outro interessante: tolões de entrega de
dinheiro; ou seja, comprovantes de haver recebido o dinheiro. Este
é dinheiro repartido por Héctor Palacios a outras pessoas,
dinheiro que chegou de Porto Rico também ilegalmente a Cuba. Aqui
está o senhor Héctor Palacios escrevendo ao senhor de Porto Rico,
responsável por essa operação de financiamento, que se chama
Enrique Blanco, Bibliotecas Independentes de Cuba, é o timbre do
papel onde foi escrito.
"Senhor Enrique Blanco, 1º de agosto de 2002.
"Anexo comprovantes que justificam os gastos,
de acordo com o dinheiro que você enviou e suas instruções para
entregá-lo".
Está claro? Presto contas do que fiz com o dinheiro
que você me mandou, e de como cumpri suas instruções, a esse
senhor instalado em Porto Rico.
"Restam em fundo 160 dólares, os quais
estarão congelados até receber suas instruções". Ou seja,
uma contabilidade bastante exata, parece que cumpre os Princípios
Gerais.
"Com cumprimentos sinceros, seu amigo, Héctor
Palacios".
Aqui há comprovantes, faturas.
"Pela presente, entrega-se ao senhor Iván
Hernández Carrillo, coordenador da província de matanzas, 30
dólares" – porque em Cuba 30 dólares é muito dinheiro,
porque nenhuma destas pessoas tem de usar esses dólares para pagar
o médico, para mandar os filhos à escola, para ter aposentadoria
depois; todas essas pessoas vão ao estádio de beisebol pagando um
peso, então 30 dólares – imagine! – é um tremendo salário,
isso lhe permite viver como um gerente de empresa nos Estados Unidos
– "com caráter de ajuda, pelo projeto das bibliotecas
independentes..." E assim, esta é uma longa lista de
comprovantes, faturas (mostra), que provam de onde vem o dinheiro.
Aqui temos este senhor, Oscar Espinosa Chepe, no
MINREX algumas pessoas se lembram de seu nome. Esse senhor recebeu,
de janeiro de 2002 a janeiro de 2003, em um ano, segundo os recibos
e as faturas, 7. 154 dólares; imagino que mais que quase todos os
jornalistas sérios que estão aqui e que trabalham duro para seus
jornais, 7.154 dólares. Tinha guardado na casa, no forro de um
terno – não se sabe por quê, um dinheiro bem havido, porque em
Cuba não está proibida a posse de divisa, pode colocar num banco,
ganhar dividendos –, 13.660 dólares, as economias, além de 7.000
dólares no ano. Não trabalha há aproximadamente 10 anos. De onde
recebeu esse dinheiro, por mandar o que lhe pediam que publicasse?
Recebeu o dinheiro de CUBANET. CUBANET, como eu
disse, recebeu 343.000 dólares em 2001, e mais de 800.000 dólares
em 2002, para fazer isso.
Agora vejam que interessante! Aqui está a
comprovação que Oscar Manuel Espinosa Chepe tem, com a data de
quando recebeu: 14 de janeiro, 165 dólares; 15 de fevereiro, 220
dólares; 14 de março, 140 dólares; 23 de julho, 1.750 dólares;
22 de agosto, 1.996 dólares. 16 de setembro, 1.923 dólares. Toda
esta lista é de remessas.
Héctor Palacios tinha quase 5.000 dólares em casa.
Qualquer um pode ter dólares, não se sabe por que os tinha
escondidos dentro de um vidro de remédio; se era um dinheiro bem
havido, não havia por que escondê-lo.
Devo dizer que, nos trabalhos anteriores a esses
julgamentos, foram apreendidas dezenas de milhares de dólares, e
– vejam que curioso – apenas 1.200 pesos cubanos; a quase
totalidade é de desempregados, não trabalham em Cuba, não têm
emprego, vivem disso, de "lutar pela liberdade e pela
democracia".
Como se vê, a contabilidade da "luta pela
democracia em Cuba" é em dólares, 1.200 pesos foi o que se
encontrou nas casas de toda essa gente, de tudo que puderam ter. E
creio que devo dizê-lo, e tento controlar-me e ter paciência,
porque vocês compreendem, e nosso povo compreende, que indigna
saber que haja gente que recebeu dinheiro e viva disso, a serviços
da potência que agride a seu povo, enquanto em Cuba dezenas de
milhares de médicos cubanos, centenas de milhares de professores
trabalham na maior austeridade, para levar bem-estar às pessoas,
para trabalhar pelas pessoas, para garantir-lhes direitos humanos
básicos, que hoje não estão garantidos para milhões de
habitantes do planeta; para que tenha direito à saúde, como não
têm 40 milhões de cidadãos nos Estados Unidos, que não direito
assegurado à saúde, ou para que tenham direito à educação, que
não têm quase 900 milhões de pessoas no mundo, que não sabem ler
nem escrever. Então, ver essa gente "lutando pela
democracia" é algo que realmente nos...
Agora gostaria que víssemos o testemunho que deu em
julgamento, voluntariamente, o senhor Osvaldo Alfonso, cujo nome
também ressoou várias vezes estes dias.
Presidente do Tribunal – A Lei lhe concede o
direito de declarar o de abster-se de fazê-lo.
O senhor deseja declarar?
Osvaldo Alfonso Valdés – Sim, claro.
Presidente do Tribunal – Deseja expressar-se
livremente?
Osvaldo Alfonso Valdés – Sim.
Presidente do Tribunal – Tem a palavra.
Osvaldo Alfonso Valdés – Posso fazê-lo lendo?
Presidente do Tribunal – Sim.
Osvaldo Alfonso Valdés – Eu Osvaldo Alfonso
Valdés, reconheço que, em nosso trabalho opositor, pudemos ser
utilizados por funcionários da Repartição de Interesses, porque,
em nossa intenção de realizar uma luta pacífica, respondemos, de
alguma maneira, aos interesses dos Estados Unidos.
Sabemos que os recursos que nos chegam, para nossas
atividades, provêm de fundos aprovados pelo governo daquele país.
Recordo uma ocasião, uma entrevista com um funcionário da USAID,
no próprio escritório, a que ele veio para comprovar se os
recursos do escritório chegavam a nossas mãos. Naquele momento
analisaram-se vias alternativas, para que esses recursos chegassem a
nosso poder, alguns estiveram de acordo, outros não, pois
significaria demonstrar evidentemente que éramos sustentados pela
Repartição de Interesses, coisa que negamos. Alguns propuseram que
chegassem através de representantes nos exterior, com o objetivo de
não demonstrar o vínculo direto entre o governo norte-americano e
os opositores. Interessou-se pelo que faríamos na Cúpula
Ibero-Americana, se seria enviado algum documento. Tratou-se também
da necessidade de unidade da dissidência interna.
Naquela ocasião, recomendou-se que era muito
importante que tivéssemos encontros com pessoas provenientes de
países que foram socialistas, como a Polônia, a Tchecoslováquia e
outros, pois estas tinham experiências que nos seriam muito úteis
na luta contra o regime socialista imperante em Cuba.
Participaram desse encontro, pela Repartição de
Interesses, a senhora Vicky Huddleston, o visitante, cujo sobrenome
não recordo bem, creio que é Muller, e, por Cuba, entre outros, o
senhor Jesús Llanes Pelletier, já falecido.
Reconheço que recebi fundos e ajuda material de
organizações radicadas em Miami, e que esses recursos provêm do
governo dos Estados Unidos, e que, portanto, de alguma maneira,
estivemos servindo a seus interesses.
Felipe Pérez – Esta é a declaração que ele
faz, quando, no final, lhe perguntam: "O senhor está em seu
direito de declarar ou não, quer fazê-lo?" "Sim".
Posso fazê-lo por escrito?" "Sim". Ele declarou.
Aqui está um comprovante de entrega de dinheiro a
esse senhor (mostra).
"Pela presente, entrega-se ao senhor Osvaldo
Alfonso, membro da comissão de relatório de Todos Unidos, 400
dólares, que lhe enviam, como ajuda humanitária, os irmãos de
Ação Democrática Cubana", uma organização em Miami que em
2002 recebeu 400.000 dólares da Agência de Ajuda ao Exterior, dos
Estados Unidos.
Aqui há, por outro lado, outro material
interessante.
Esta é uma carta enviada por Carlos Alberto
Montaner:
"Meu querido Osvaldo" – diz a esse
senhor –: "Aqui vão 200 dólares" – 26 de janeiro de
2001 –, "lamentavelmente não há muito que contar, salvo o
que todos sabemos, o regime endurece, e todo mundo tem como
horizonte a morte de Fidel. Depois veremos. É tudo muito triste,
mas assim são as coisas. Um forte abraço, Carlos Alberto
Montaner".
Bem, isso é de 26 de janeiro de 2001: 200 dólares.
Em 22 de março, dois meses depois: "Meu
querido Osvaldo, um amigo que você conhece tem a bondade de
fazer-lhe chegar 30.000 pesetas" – ainda não existia o euro
como moeda obrigatória, imagino. "Logo, logo, vão chamá-lo
uns amigos espanhóis de alto nível, para falar do Projeto Varela.
Sugeri cinco nomes para fundar essa nova idéia: Payá, Alfonso,
Arcos, Raúl Rivero e Tania Quintero".
Vou repetir: "Logo, logo, vão chamá-lo uns
amigos espanhóis de alto nível, para falar do Projeto
Varela", 22 de março de 2001. "Sugeri cinco nomes: Payá,
Alfonso, Arcos, Raúl Rivero e Tania Quintero. Vai um forte abraço
e uma revista Encuentro. Carlos Alberto Montaner".
Dois dias depois, em 24 de março de 2001: "Meu
querido Osvaldo, um amigo comum tem a bondade de fazer-te chegar
esses 200 dólares" – dois dias depois das 30.000 pesetas,
pode haver problemas de efetivo, vocês sabem que isso às vezes
acontece – "e um recado pessoal que Raúl te dará. Chama-me
a Espanha, quando receba este bilhete. Um forte abraço, Carlos
Alberto Montaner". Agente da Agência Central de Inteligência,
reconhecido, confesso, público, em Miami e em Cuba, e em Madri,
para os que o conhecem de perto.
Essa é a história do financiamento. Eu disse que
os criam, disse que os dirigem, disse que os financiam, e digo que
os estimulam e protegem.
Agora vou mostrar essa curiosa carta, uma coisa
realmente assombrosa. Primeiro, ficamos sabendo pela televisão de
Miami. Acontece que Luis Zúñiga, terrorista, membro do aparelho
militar da Fundação Nacional Cubano-Americana, envolvido no
financiamento das bombas aos hotéis de Havana, vinculado a planos
de assassinato contra Fidel, este senhor, que foi representante dos
grupos de Miami na Comissão de Direito Humanos nestes anos, lê uma
carta diante da imprensa em Miami – vamos ver como conta isso o
Canal 51 de Miami:
"Apesar de estar mergulhado numa guerra"
– isso foi em 27 de março de 2003 –, "o presidente Bush
enviou um reconhecimento em forma de carta a um conhecido opositor
encarcerado em Cuba, o que implica que a Casa Branca não se
esqueceu dos dissidentes. Juan Manuel Cao nos diz que esta não foi
o único sinal do presidente Bush".
Creio que isto coincide com o momento em que havia
ido ao quartel-general e – imaginem – toda a máfia ali, tinha
de fazer alguma coisa com eles.
Diz Juan Manuel Cao: "Um sino de esperança
soou para os dissidentes em Cuba. O presidente dos Estados Unidos,
George Bush, fez uma parada em seu caminho para Bagdá e escreveu
uma carta de solidariedade ao preso cubano Oscar Elías
Biscet", coisa realmente comovedora.
Dão então a palavra a Luis Zúñiga, que lê um
fragmento que dizia: "... Seu esforço e seu exemplo são a
encarnação dos valores democráticos, incluindo a
autodeterminação...", o presidente Bush falando de
democracia, de autodeterminação, Kafka realmente não fez nada.
Então a curiosidade nos levou a buscar o texto completo da carta
que está aqui (mostra).
Carta de 26 de março: "Querido doutor
Biscet". Assinada: "presidente dos Estados Unidos, George
Bush".
"Parabéns pelo reconhecimento que o senhor
recebeu do Instituto Republicano internacional", aquele que
vimos que tinha recebido 1.600.000 dólares para o ano de 2002, que
é o que cria prêmios com esse dinheiro, consegue prêmios na
Europa, consegue viagens de reconhecimento.
"Parabéns pelo reconhecimento que recebeu do
Instituto Republicano Internacional, com o prêmio outorgado por
eles, prêmio à democracia popular. Seu esforço e seu exemplo são
a encarnação dos valores democráticos, incluindo a
autodeterminação (...), Laura e eu continuamos orando por você...
Afetuosamente, George Bush".
Eu nunca vi uma carta do presidente Bush
felicitando, por exemplo, a doutora Concepción Campa, a doutora
Conchita, autora principal, chefa do coletivo que criou a vacina
cubana contra a meningite meningocócica, única de seu tipo no
mundo, graças à qual já não morre, há anos, nenhuma criança em
Cuba, e da qual se utilizam milhões de doses no mundo, recebedora
do prêmio mundial da Organização Mundial da Propriedade
Industrial, a organização mais prestigiosa nessa área. Alguém
viu uma carta do presidente Bush felicitando a Conchita? Eu não vi.
Eu não vi uma carta do presidente Bush felicitando
a nenhum dos atletas cubanos que foram campeões mundiais ou
campeões olímpicos, quando chegou o momento de retirar-se; na
verdade, o que vi foi como negaram os vistos à nossa equipe
nacional de luta, impedindo-a de participar no campeonato mundial
que se celebrava nos Estados Unidos, depois de dois anos treinando
para participar dessa competição.
Por isso, eu estranho muito essa carta que o
presidente Bush dirige a um cubano, quando nunca se dirigiu a
cientistas, escritores, jornalistas, destacados cubanos, homens e
mulheres das letras, da ciência, da cultura, da produção, eu
nunca vi. Nunca vi que tenha escrito uma carta ao companheiro Lazo,
felicitando-o pela erradicação do mosquito Aedes aegypti aqui na
Cidade de Havana, o que dá uma garantia de saúde aos habitantes da
capital, como também a todo o país.
Então, tenho de ter alguma suspeita, quando vejo
uma carta de Bush ao senhor Oscar Elías Biscet, no momento em que o
senhor Bush foi a Miami, tranqüilizar a opinião pública, quando
os acontecimentos da guerra no Iraque já tinham começado.
Aqui temos outro exemplar, a Revista de Cuba
(mostra), revista da sociedade de jornalistas "Manuel Márquez
Sterling", número de dezembro de 2002, encadernado. Alguém
aqui adivinha onde foi impressa essa revista? Dou uma dica, não foi
no MINREX (risos). Onde pode ter sido impressa a Revista de Cuba,
da sociedade de jornalistas "Márquez Sterling"? Morno,
morno: na Repartição de Interesses norte-americana em Havana!
Assim vamos, os exemplares são impressos ali; ou seja, a
Repartição de Interesses é como a gráfica, digamos, como a casa
editorial da revista dos "jornalistas independentes
cubanos".
Por isso, quando me dizem que essas são
organizações não-governamentais, sempre esclareço que sim são
governamentais, o que acontece é que são do governo dos Estados
Unidos e atuam a seu serviço.
Bem, aqui temos a revista El Disidente, este
é outro caso, distribuído pela RINA – neste caso, a RINA
distribui, não edita –; esta é editada em Porto Rico. Em Porto
Rico, a revista recebeu 60.000 dólares do governo dos Estados
Unidos, para sua impressão, e depois a mandam para aqui, no malote
diplomático, e a RINA distribui essa revista, que se chama El
Disidente, La carta de Cuba e outros folhetins. Tudo isso
é distribuído por eles próprios.
Bem creio que lhes dei alguma informação
interessante. Finalmente, parece-me que esses dois testemunhos que
vamos mostrar-lhes agora podem ser de muito interesse para vocês.
Vamos Vê-los, são rápidos.
Promotor – Seu nome? Onde vive? A que se dedica na
vida social?
Néstor Baguer – Com muito prazer.
Meu nome é Néstor Baguer Sánchez Galarraga.
Resido em Centro Habana. Sou jornalista de profissão; mas, além
disso, desde o ano de 1960, trabalho para os Órgãos da Segurança
do Estado.
Promotor – Que nome tem, para os Órgãos da
Segurança do Estado?
Néstor Baguer – Octavio.
Promotor – Octavio. Vamos chamá-lo de Octavio.
Sim, Nestor, se o senhor tivesse a amabilidade de
dizer-nos, então, sobre quais são as origens da Associação de
Imprensa Independente, se esteve relacionado com esse tipo de
atividade.
Néstor Baguer – Isso me foi sugerido por pessoas
contra-revolucionárias, porque necessitavam de um jornalista,
primeiro; mas então eu peguei como um trabalho, para fazê-lo para
os Órgãos da Segurança do Estado, ou seja, que, em lugar de cair
nas mãos dos que iam fazer muito dano, eu tratei de reduzir o dano.
Promotor – E isso lhe serviu para receber
informação, e para que se aproximassem pessoas que estavam
interessadas em dar informação ao inimigo?
Néstor Baguer – Exatamente.
Promotor – Como foi que se comportou? Como é que
se oferece esse tipo de informações ao exterior?
Néstor Baguer – Antes, uma coisa: os primeiros
que se interessaram foram os da Repartição de Interesses dos
Estados Unidos. Eu não conhecia nenhum deles, e me chamara, me
convidaram a que fosse conversar com eles, e demonstraram um grande
interesse, e que eles me respaldariam em tudo, para que levasse a
cabo esse trabalho. Então depois, imediatamente, começaram
jornalistas, ou eu não poderia dizer jornalistas, porque, na
realidade, de 30 ou 40 jornalistas que vinham, somente dois eram
jornalistas, um era eu, e o outro que estava, todos os demais,
nenhum; porque eu posso dizer ao senhor que atualmente, das mais de
100 pessoas de que dizem jornalistas independentes, não passam de
cinco ou seis, os profissionais, os demais são uns mercenários que
se dedicam a difamar, porque dizem mentiras, insultam, desrespeitam
a nosso Chefe de Estado e a nosso governo, ou seja, não são
jornalistas, são terroristas da informação.
Promotor – Quando eles confeccionam essa
informação, a quem enviam?
Néstor Baguer – Enviam a mim, e então eu, como
tinha as conexões telefônicas, telefones diretos, punha-me em
contacto direto com a Rádio "Martí"; mas depois
aparecem, nos Estados Unidos, cubanos contra-revolucionários que
criam agências para ajudar aos que estávamos aqui em Cuba.
Promotor – Que tipo de agências foram essas? O
senhor recorda alguns nomes de algumas dessas agências?
Néstor Baguer – Sim, como não, havia CUBANET;
CubaPress, enfim, começaram a proliferar, como se fossem fungos.
Promotor – Néstor, o senhor utilizou a palavra
"mercenários".
Néstor Baguer – Sim.
Promotor – Evidentemente, referindo-se a que são
pagos.
Néstor Baguer – Lógico.
Promotor – Como eram feitos esses pagamentos?
Néstor Baguer – Bem, vou a isso. Eles, o governo
norte-americano, entrega milhões, porque eu tenho cifras para
prová-lo. Por exemplo, CUBANET recebia 2 ou 3 milhões de dólares
para os que trabalham para CUBANET. Por exemplo, minha agência
trabalhava para CUBANET.
Promotor – Através de que via enviam o dinheiro?
Néstor Baguer – Por exemplo, a maioria usa
Transcard. Há alguns, quando é uma quantia um pouco grande, que
mandam por um correio, que eles chamam correios. A embaixada te
oferece muitas coisas, muitos presentes, muitas festas, muitas
atenções; dão, por exemplo, sacolas que têm rádios portáteis
especiais para pegar a Rádio "Martí", ou gravadores,
máquinas fotográficas, enfim, tudo o que você pode necessitar
para seu trabalho. Você passa por ali nos dias em que eles atendem,
eles te recebem, te oferecem uma festa e depois te passam a um
salão onde há centenas de sacolas cheias de todos esses presentes,
para que você escolha o que quiser, não que escolha uma ou dois,
que escolha o que quiser. E o que acontece? Que alguns pegam oito ou
dez sacolas. Por quê? Porque depois, esses radinhos, que são
especiais, são uns rádios muito bons, eles vendem a 20 dólares
cada rádio, ficam com um rádio e vendem o restante. O mesmo com os
gravadores, ter uma gravadora, hoje em dia, é um negócio, porque
se vende em seguida.
Promotor – Agora, quando vocês vão à
Repartição de Interesses, recebem algum tipo de insinuação sobre
as atividades que vocês têm de fazer no país?
Néstor Baguer – Eles aconselham todos os temas
que devem sair: "Devem falar sobre isto, devem falar sobre a
escassez de alimentos, sobre os apagões, sobre o transporte, sobre
a falta de medicamentos, sobre o tratamento nos hospitais, o
tratamento nas prisões"; ou seja, eles indicam os temas que
lhes interessam, não que interessem a Cuba, senão que interesse a
eles que sejam difundidos no exterior.
Promotor – Com que funcionários da Repartição
de Interesses, principalmente, vocês mantiveram esses contactos?
Néstor Baguer – É sempre com o chefe da Seção
de Imprensa e Propaganda; o chefe e o segundo chefe. Essas coisas
são tratadas com eles.
Promotor – Quanto ao dinheiro com que lhes pagam,
a que o senhor se referia há alguns minutos, quando esse dinheiro
veio pelas distintas vias, o senhor sabe se houve divergências
entre os diversos membros do grupo, por perdas, extravios,
distribuição do dinheiro?
Néstor Baguer – Não apenas houve divergências,
houve roubos, eles se roubam entre eles mesmos. Há jornalistas que
estiveram trabalhando por seis meses e não pegaram um centavo, e
depois, quando trataram de investigar, esse dinheiro tinha sido
enviado pela agência em Miami a Cuba, mas como tudo quase sempre
vem em nome do chefe do grupo, ele pegou. Aconteceu um caso recente,
de um que pegou o dinheiro de seis meses de todos os jornalistas.
Promotor – Que caso foi?
Néstor Baguer – O senhor que diz que se chama
jornalista Jorge Olivera, que ficou com o dinheiro enviado, durante
seis meses, para seus auxiliares.
Promotor – Néstor, se possível, gostaríamos que
nos explicasse quais são os principais funcionários da SINA que
tiveram vínculos com vocês, nessas atividades.
Néstor Baguer – Sim, primeiro estava Kozak,
depois, Vicky, e depois, Cason, que é quem está agora. E sempre,
como é lógico, com os de imprensa e propaganda; agora puseram
Gallegos, e antes houve vários, entre eles, por exemplo, Beagle,
uma infinidade deles, porque esses eles trocam muito, por isso
conheci a muitos, até mulheres, uma que se chamava Mary, que era
casada com um argentino, então falava espanhol perfeitamente. Ou
seja, conheci a todos os que passaram pela Repartição.
Promotor – E o acesso do senhor à
Repartição, como se...?
Néstor Baguer – Para ir à Repartição, tem de
pedir um passe, te dão um passe para um dia determinado e uma hora
determinada; mas o meu passe é especial, diz "aberto",
que quer dizer que posso ir qualquer dia, a qualquer hora.
Promotor – Quais são as principais atividades que
esses funcionários organizam com você, dessas em que eles
participam; bem, qualquer tipo de atividade que eles possam
organizar com vocês?
Néstor Baguer – Cada vez que há uma atividade a
que se convidam cubanos, todos eles participam, todos eles
participam, inclusive as esposas deles; porque a questão deles é
falar com muita gente, falar com a maior quantidade possível de
cubanos, para ver o que podem tirar. "Ei, como estão os
preços no mercado, na praça? Há escassez, não há
escassez?"
Promotor – Quando o senhor visita o Escritório,
tem possibilidade de fazer ali algum tipo de trabalho jornalístico
ou de ter acesso a informações?
Néstor Baguer – Bem, aí eu tenho o salão, há
um salão dedicado á Internet, onde há inúmeras máquinas, e
você pode usá-las. por exemplo, eu posso usá-las sem necessidade
de pedir o turno, porque fazem isso para os jornalistas cubanos,
dão um turno para um dia fixado e duas horas de trabalho na
máquina.
Promotor – Neste salão a que o senhor se refere,
têm possibilidade de retirar algumas publicações?
Néstor Baguer – As publicações, eles sempre me
entregam, eles mandam a minha casa. Toda publicação que chegue
aí, mandam a minha casa, jornais, revistas.
Promotor – No dia 14 de março, o senhor
participou de uma atividade que ocorreu ali?
Néstor Baguer – Sim.
Promotor – Quais foram os motivos dessa atividade,
e onde foi a atividade?
Néstor Baguer – A atividade foi na sala de
almoço da residência do senhor Cason, ou seja, dentro de seu lar.
Então, se dividiu; dividiram as pessoas em três grupos: um, o
grupo de ética jornalística, que eu presidi; outro, o grupo de
contactos e relações coma imprensa de outros países; e outro que
era também pelos temas a trabalhar e essas coisas.
Deram-me a mesa de ética, a pedido dos próprios
americanos; mas, imagine, falar, eu fiz mais... Aí estava a France
Press, estava a TV espanhola, estava a alemã, havia umas cinco
emissoras dessas (risos).
Promotor – E o senhor poderia falar-nos sobre a
pessoa de Raúl Rivero e seus vínculos com esse tipo de atividades?
Néstor Baguer – Ele é um alcoólico, e o
alcoolismo levou-o ao fundo do poço, porque dizia barbaridades na
UPEC, na UNEAC, aos berros, e isso custou que o expulsassem de toda
parte. Então se afundou sozinho, e para ganhar a vida começou a
mandar poemas e coisas assim ao exterior, e daí, quando viu que é
um jornalismo distinto, falso, mas que dava dinheiro, fez contacto
com os antigos companheiros dele da UNEAC e da UPEC que estão no
exílio, porque todos traíram, e utilizou a amizade com eles para
que conseguissem onde escrever. Então essas pessoas fizeram
contacto com os jornalistas norte-americanos e lhes conseguiram que
escrevesse no Herald de Miami, que é o jornal mais
conservador que há no sul da Flórida e, evidentemente, pagando-lhe
muito bem.
Depois puseram-no em contacto com a instituição da
imprensa norte-americana, a que pertencem todos os donos de jornais
dos Estados Unidos, que é a SIP (Sociedade Interamericana de
Imprensa), e, com a influência deles e a influência da máfia de
Miami, conseguiram que Raúl fosse nomeado vice-presidente para o
Caribe, da Sociedade Interamericana de Imprensa e, é claro, com um
salário de vice-presidente de uma instituição americana.
Promotor – Pagam a Raúl por essas informações
que oferece?
Néstor Baguer – Claro, e muito bem pago!
Promotor – Como é que se faz o pagamento a ele?
Néstor Baguer – Pagam-lhe lá nos Estados Unidos,
pagam a sua filha, que vive nos Estados Unidos.
Promotor – O que o senhor nos ia dizer de Ricardo?
Néstor Baguer – Ricardo se pendurou em Raúl
porque Ricardo não é jornalista, nem nada parecido. Se pendurou em
Raúl. Raúl estava numa situação em que estava separado de todos
os seus amigos, porque, quais eram os seus amigos? Os jornalistas da
UPEC e os escritores da UNEAC. Ficou sem amigos. O único amigo que
lhe restava era eu, compreende? E como não coincidíamos nas
idéias, não brigávamos, mas não coincidíamos nas idéias –
estivemos, algumas vezes, meses sem ver-nos –, recorreu a este,
que praticamente o convenceu. Então ofereceu sua casa de Miramar,
para instalar ali uma redação com tudo; ou seja, com todos os
equipamentos eletrônicos, tem três empregados pagos para isso,
enfim, todas as necessidades para trabalhar, e pôs à disposição
de Raúl. Então Raúl constitui a sociedade "Márquez
Sterling", que Raúl preside, quer dizer, é ele que dirige e
que manda ali, e o outro é apenas uma figura decorativa, é o que
é o outro.
Promotor – Quando se refere ao outro, refere-se a
Ricardo?
Néstor Baguer – O outro é Ricardo, é isso, a
figura que aparece à frente, mas que não é ninguém, não é
ninguém.
Promotor – Ricardo também teve vínculos com o
governo dos Estados Unidos, a Repartição de Interesses?
Néstor Baguer – Lógico, lógico. Se aparece como
presidente da associação "Márquez Sterling", já tem
seu vínculo ali.
Promotor – E com elementos radicados em Miami?
Algum dos dois tem vínculo?
Néstor Baguer – Bom, Raúl sim. De Ricardo, não
sei, porque não conheço sua vida, eu o vi pela primeira vez há
uns quatro ou cinco meses. Raúl sim, todos os poetas que se foram,
todos os escritores que se foram, todos são amigos dele, todos são
amigos dele, porque foram companheiros da UNEAC durante muitos anos,
companheiros de bebedeiras, companheiros de farras e coisas assim.
São amigos íntimos, tem muitos. Todos os poetas cubanos exilados,
todos, são amigos de Raúl.
Promotor – O senhor sabe quem é Frank Calzón?
Néstor Baguer – Claro, como não.
Promotor – Alguma dessas duas pessoas tem
relações com Frank Calzón, que o senhor saiba?
Néstor Baguer – Tanto Ricardo quanto o Gordo, que
é Raúl, porque Frank Calzón conhece todos nós; desde que ele se
separou da agência em que estava, não tive contacto. Tenho seu
telefone e tudo, mas não tive necessidade...
Promotor – O senhor pode descrever quem é Frank
Calzón?
Néstor Baguer – Bem, em primeiro lugar, Frank
Calzón não é jornalista, senão um velho agente da CIA, que leva
anos trabalhando para a CIA.
Felipe Pérez – Gostaria de destacar que Néstor
Baguer, o agente Octavio da segurança cubana desde 1960, é o
presidente da Associação de Imprensa Independente de Cuba. São
duas instituições, a presidida por Raúl Rivero e a dele. Como
vocês vêem, tem uma longa experiência no tema.
Agora vamos ver o tema dos defensores dos direitos
humanos.
Promotor – A senhora pertence a alguma dessas
agrupações que se dizem dos direitos humanos?
Odilia Collazo – Sim.
Promotor – Qual delas?
Odilia Collazo – Partido pró Direitos Humanos de
Cuba.
Promotor – Qual é o seu cargo ali?
Odilia Collazo – Bem, neste momento, sou a
presidenta do Partido pró Direitos Humanos de Cuba.
Promotor – Já visitou a Repartição de
Interesses?
Odilia Collazo – Sim. Eu vou à Repartição de
Interesses para entregar relatórios sobre violações de direitos
humanos e de outro tipo.
Promotor – E essas pessoas que estão aqui,
também vão à Repartição de Interesses com esse mesmo objetivo,
entregar informações sobre supostas violações dos direitos
humanos?
Odilia Collazo – Bem, eles podem entregar
denúncias de violações de direitos humanos; mas também se pode
falar sobre os problemas econômicos, políticos e sociais.
Promotor – Sua entrada na Repartição de
Interesses é livre, ou é controlada?
Odilia Collazo – Não, minha entrada no
Escritório de Interesses é livre, porque eu tenho um passe não
apenas para este ano, eu tenho passe aberto desde 1991.
Promotor – Existem outras facilidades para
comunicar-se com os funcionários daquela Repartição de
Interesses?
Odilia Collazo – Bem, sim, nós temos os telefones
deles, temos os ramais, temos os números dos celulares e os
telefones das casas.
Promotor – E isso é algo que a senhora tem
exclusivamente, ou os demais acusados aqui presentes também têm
acesso a esses detalhes informativos?
Odilia Collazo –Bem, que eu saiba, Héctor
Palacios tem, eu não sei se os demais também têm.
Promotor – Tinha possibilidades de fotocopiar
documentos, de imprimir documentos?
Odilia Collazo – Sim, lá há impressoras, há fax
e computadores, e devido aos meios que existem aí, nosso trabalho
é facilitado.
Promotor – E nessas visitas, a senhora recebia
orientações sobre tarefas específicas que devia executar?
Odilia Collazo – Bem, sim, as minhas tarefas
específicas, porque foram nos dividindo, cada um com sua
especialidade. Eu me aperfeiçoei – com bem diz meu partido –
nas violações de direitos humanos, e me davam oportunidade a que
eles me entregassem os relatórios, que eram o resultado de todos os
anos, que esses relatórios iam para o Departamento de Estado, para
Genebra, para a Anistia Internacional, American Watch e outras
organizações, que era para que eu me estimulasse e visse o
resultado, que o trabalho que eu tinha desenvolvido estava recolhido
naqueles relatórios, precisamente para que sancionassem a Cuba em
Genebra.
Promotor – Orientações, testemunho, havia outros
pedidos de informação solicitados naquela Repartição de
Interesses?
Odilia Collazo – Sim, sempre se monitorava em que
estado se encontrava a situação cubana, como era que estava o povo
naqueles momentos. Era como um termômetro para medir, na realidade,
a situação. Queriam avaliar se podia haver uma explosão social.
Promotor – Com relação aos funcionários da
Repartição de Interesses, tendo em conta o tempo que leva
executando essas ações ilícitas, a senhora verifica alguma
mudança, a partir do mandato de Vicky Hudleston e seu seguidor, o
senhor James Cason?
Odilia Collazo – Bem, sim, a mudança foi
notória, porque a senhora Vivky e os outros antecessores, como o
próprio senhor Sullivan e Kozack – pois também tive boas
relações com Michael Kozack – nunca nos haviam oferecido sua
casa, nem a Repartição de Interesses, nem a residência da
Repartição de Interesses, para que efetuássemos reuniões, e
quando James Cason chegou, tive oportunidade, junto com outros aqui
presentes, de participar daquela reunião, e ele nos disse que as
portas de sua casa estavam abertas para que pudéssemos reunir-nos,
debater, fomentar o que era a sociedade civil em Cuba, e, bem, posso
dizer que eu nunca estive de acordo com isso.
Promotor – Toda essa ampla informação que a
senhora ofereceu, sua experiência, seu conhecimento sobre os
fornecimentos, sobre a monitoração que a Repartição de
Interesses realiza constantemente sobre as atividades que a senhora
e outras pessoas realizam, a senhora chega á conclusão de que
todos esses grupos que se dizem defensores dos direitos humanos
são, realmente, pessoas que atuam de forma desinteressada para
propiciar o desenvolvimento em direção a um futuro melhor em nosso
país?
Odilia Collazo – Bem, quero dizer que, durante
todos esses anos, sofri muitas decepções, mas via que muitas
pessoas integravam as fileiras dos partidos pró direitos humanos,
que não é só o meu, os grupos da sociedade civil, os grupos de
NATURPAZ, por exemplo, que têm a ver com o problema ecológico, e
muitas outras organizações que existem neste momento, apenas
buscando uma via de emigrar do país; porque você pode haver estado
presa, haver cumprido 12, 20, 30 anos, e quando você chega à
Repartição de Interesses, ao Departamento de Refugiados, se você
não esta avalizada por nenhuma organização opositora neste
momento ao regime cubano, que avalize que você realmente manteve
uma conduta justa, você é desaprovado no Programa de Refugiados, e
outras pessoas, que nunca estiveram presas, ingressam nas fileiras
opositoras ou dissidentes com apenas um fim: utilizar isto como uma
agência de viagens, como uma forma fácil de sair do país; mas
depois dão com o fato de que isto é um sorteio.
Promotor – Em sua opinião, além dessas questões
de caráter migratório que colocou, a senhora acredita que essas
pessoas eram movidas também por um sentimento de interesse de
lucro?
Odilia Collazo – Bem, eu conheço pessoas que se
dedicavam a entrar para a oposição exatamente porque viam que
tínhamos um padrão de vida diferente do que eles tinham, e viam
pelo jornal – que eu tenho aqui, que posso mostrar como provas
testemunhais, que eram exatamente para distribuir ao povo em geral,
não apenas aos opositores, como já disse, para distribuir ao povo
–, viam aí como a RINA estava ajudando os grupos de oposição
interna.
Então, pessoas que estavam trabalhando e outros que
estavam desempregados, viam como uma forma de via ou uma forma de
escape: "Bom, eu entro no grupo de Direitos Humanos, me mandam
o dinheiro, eu vivo de uma forma mais folgada, tenho coisas que
outras pessoas não têm, talvez possa ter mais coisas que um
médico, que um professor, que um intelectual"; porque o
padrão de vida de muitos de nós era completamente diferente de
como pode viver, neste momento, um médico ou um jornalista que
esteja acreditado aqui.
Promotor – Testemunha Odilia Collazo Valdés, a
senhora é realmente uma opositora? A senhora é, única e
exclusivamente, a presidenta do Partido Cubano pró Direitos
Humanos?
Odilia Collazo – Bem, eu não sou realmente uma
opositora. Hoje eu tenho o privilégio de dizer a vocês que eu sou
precisamente uma das pessoas escolhidas pelo governo de Cuba, pelo
Ministério do Interior, hoje, estou mostrando a todo mundo que eu
sou uma agente, a agente Tania (risos).
Felipe Pérez – Do que você está rindo, Anita?
(Referindo-se a Anita Snow, Chefa do Bureau da Agência de Imprensa
norte-americana, AP) Por que você ri tão desbragadamente?
Creio que vocês deveriam ajudar-nos a dizer ao
senhor Cason que ele deve avaliar a tarefa que se propôs, ele deve
avaliá-la, ele deve saber que já passaram 10 presidentes dos
Estados Unidos, 20 diretores da CIA.
É preciso adverti-lo, é preciso alertá-lo de que
em Cuba ninguém "chupa o dedo", que lhe dissemos apenas
uma parte do que sabemos; ele deve sabê-lo, e deve saber que nosso
povo aprendeu a se defender e conta com as pessoas, porque tem,
sobretudo, o apoio do povo; porque tem a legitimidade que emana de
seus atos transparentes e a serviço do bem-estar comum. Deve saber,
deve saber que aqui ninguém é bobo, e que ele, que chegou há
pouco tempo, tem de conseguir avaliar a tarefa que se propôs; ou
teremos de continuar organizando as reuniões ali e indo aos
coquetéis que ele dá (risos).
Finalmente, como é óbvio, diante de nossa
legítima decisão de nos defendermos, usando nossas leis e nossas
instituições legais, houve reações.
Vimos aqui, primeiro, que no próprio dia 26 de
março, a Casa Branca emitiu uma declaração, no momento em que o
presidente Bush regressava da base McDill da força aérea, em
Tampa, em que chamava o governo de Cuba a não exercer sua
soberania; uma precipitada declaração, que só pode ser entendida
como um evidente gesto do presidente Bush à máfia cubana de Miami,
que estava lá em Tampa, ajudando-o a explicar a guerra que ninguém
compreende e, evidentemente, teve esse gesto de responder aos
pedidos da extrema direita cubana em Miami, emitindo uma
declaração.
Depois, o vice-porta-voz do Departamento de Estado,
o senhor Philip Reecker, distribuiu uma declaração escrita, em que
informa sobre as medidas, as prisões que se realizavam em Cuba, e
em que diz, por exemplo, "os Estados Unidos chamam a comunidade
internacional a unir-se a nós, para condenar esta repressão e para
demandar a libertação desses prisioneiros de consciência
cubanos".
O senhor Reecker deveria saber que a comunidade
internacional realmente está é espantada com a guerra que seu
governo deflagrou, sem nenhum tipo de autorização internacional,
contra a opinião pública mundial, com enormes danos materiais,
morte de civis, e que também há espanto pelos mais de 600 presos
que ainda estão na Base naval de Guantánamo, num limbo jurídico,
tratados como não-pessoas, e pendentes de uma decisão para
apresentar-se diante de tribunais militares secretos
norte-americanos; que poderiam incluir no acesso da defesa e dos
acusados aos papéis da acusação, por ser declarada informação
secreta. Deveria saber que isso é que assombrou a comunidade
internacional, e os mais de 2.000 presos que ainda hoje estão nos
cárceres norte-americanos, e não se sabe nem seu nome, apesar das
diversas ações da sociedade civil que houve ali, reclamando que
está sendo criado um sistema paralelo de justiça nos Estados
Unidos, onde são tratados os acusados como perigosos para a
segurança nacional, e que houve um incremento realmente
extraordinário de medidas desse tipo.
O senhor Reecker deve saber que também nos
preocupa, e que acreditamos que o governo dos Estados Unidos é o
menos qualificado no mundo para julgar o que aconteceu em Cuba. Se
há um governo que deveria calar por pudor, é o governo dos Estados
Unidos.
O Washington Post, em 1º de dezembro de
2002, publicou que o governo do presidente Bush desenvolveu, cito:
"um sistema legal paralelo, para investigar, encarcerar,
interrogar, condenar e castigar a pessoas suspeitas, inclusive
cidadãos norte-americanos". Isso não aconteceu em Cuba, como
tampouco houve um decreto criando tribunais militares especiais com
caráter secreto e sumaríssimo. Não existem.
"Os procedimentos incluem a detenção militar
indefinida, autorizada pelo Presidente. A autorização de
gravação das comunicações e invasão das instalações
utilizadas. Julgamentos realizados por comissões militares e
deportações adotadas após audiências secretas". Isso é do Washington
Post.
Em editorial de 27 de dezembro de 2002, o Washington
Post se opõe a que a CIA "aplique a tortura e a violência
em seus interrogatórios", e coloca que "essas novas
táticas na luta contra o terrorismo estão se desenvolvendo de
forma secreta".
Não foi à toa que os Estados Unidos foram
excluídos da Comissão de Direitos Humanos, a que só pôde
retornar – como já disse – graças ao apoio da Itália e da
Espanha, que se retiraram, para que os Estados Unidos pudessem
entrar sem submeter-se a uma votação.
O senhor Reecker deveria saber que foi publicado no
mundo inteiro, em 6 de abril de 2003, que o número de presos nos
Estados Unidos, ao terminar o mês de junho de 2002, superou os dois
milhões, pela primeira vez na história dos Estados Unidos. De
maneira que eu creio que há preocupações maiores e temas da
própria realidade norte-americana a explicar, que deveriam
realmente ocupar o vice-porta-voz do Departamento de Estado, antes
de avaliar as ações que nós, em legítima defesa, tivemos de
empregar.
Aqui há um cabo do senhor Cason, em Miami. O senhor
Cason, como se vê, distribui seu tempo entre Havana e Miami. Estava
em Miami ontem. Quando lhe perguntaram o que opinava sobre as
acusações das autoridades cubanas, de que ele se está dedicando a
atividades conspiratórias em Cuba, diz o cabo da Agência Francesa
de Imprensa, que disse: "’Mentira!’ limitou-se a responder
em espanhol, Cason, quando lhe perguntaram sobre isso".
O senhor Cason deve conhecer o conto de Pinóquio,
deve saber que "cresce o nariz de quem diz mentira".
Disse também... Muito interessante, disse "que
as prisões e autuações foram friamente calculados para serem
realizados enquanto a atenção do mundo está centrada em outra
parte". Não se sabe a que quis se referir com essa expressão
pudorosa de "em outra parte". Ou seja, que "em outra
parte". Evidentemente não teve a coragem de dizer
"enquanto está acontecendo a guerra no Iraque", que é o
que ele estava pensando, mas sabia, e então evitou dizer, e disse
"como a atenção mundial está em outra parte", os
cubanos se aproveitaram disso.
Eu rejeito isso. Já provei aqui que as prisões e a
decisão de aplicar a Lei ocorreram antes do começo da guerra,
antes dos atos de terrorismo contra os aviões e as embarcações
cubanas. Ficou amplamente provado aqui.
Por outro lado, também houve declarações da
União Européia, que, aliás, estranhamos, quando cinco cubanos
foram condenados injustamente, em julgamentos arranjados, numa corte
de Miami; naquele momento, a União Européia não expressou nenhuma
preocupação. Como também não vimos a União Européia expressar
nenhuma preocupação tão contundente, sobre o que está ocorrendo
na Base Naval de Guantánamo. Como vimos que não foi capaz de
manter-se unida e expressar uma posição contrária a uma guerra
que claramente viola o direito internacional, desatada contra o
Iraque.
Recordamos bem, recordamos bem que, em seu momento,
a União Européia chegou a um entendimento com os Estados Unidos
sobre a aplicação da lei Helms-Burton, que é o que agora estamos
combatendo e enfrentando em Cuba, um texto realmente vergonhoso. E
sabemos bem que a União Européia não teve capacidade para
projetar uma posição independente em relação a Cuba, e isso
explica sua débil reação contra o bloqueio a Cuba; explica seu
alinhamento com a posição norte-americana contra Cuba em Genebra;
explica o fato de que não foram capazes de formular uma posição
européia sobre Cuba, que defenda o direito internacional, que
defenda o direito de nosso povo á independência, à soberania, que
não reclamou respeito para Cuba, país também descendente de
europeus. Essa é a realidade. Portanto, sobre isso, o mínimo que
posso fazer é manifestar assombro.
Assombra-me que a União Européia, precisamente
neste momento, ocupe-se de Cuba, e não dê ao mundo uma lição de
ética e de estatura moral, opondo-se à violação do direito
internacional. A União Européia não disse uma palavra dos mais de
2.000 presos em cárceres norte-americanos, dos quais não se
publicou nem o nome. Então, temos nossas razões para ter reservas
sobre a declaração da União Européia.
Falou-se que isso poderia complicar a entrada de
Cuba no Acordo de Cotonu, e que agora, bem, a União Européia teria
de reavaliar... alguns da União Européia, porque nós não a vemos
como um bloco; bem, a União Européia não pode ser vista como um
bloco, como sabemos, não é um bloco, existem diferentes
tendências, facções, e existem determinados países cujo norte
está situado em outro lugar, e não no da construção européia.
Falou-se e especulou-se que, bem, "isso põe em
perigo a entrada de Cuba no Acordo de Cotonu, e que isto nos fará,
então, manter a Posição Comum". Sobre isso, devo recordar
que já houve uma vez em que Cuba retirou sua solicitação do
Acordo de Cotonu, e que se tivesse de fazê-lo de novo, faria.
Nosso país não pode ser chantageado nem
pressionado. Nosso país resistiu ao bloqueio da principal
superpotência mundial, e não se rendeu; não teria, então,
razões para aceitar pressões de outro ator internacional.
Recordo, ademais, que Cuba não pediu acesso ao
Acordo de Cotonu pensando na ajuda ou no dinheiro europeu. Ela o fez
por solicitação dos países caribenhos, que nos pediram para
ingressar no grupo de países África, Caribe e Pacífico, pensando
no apoio que nos deram em todo esse tempo os países africanos,
asiáticos, do Caribe, que são membros do Acordo; tivemos uma
posição solidária com eles e correspondemos a seu interesse, já
que nos fizeram observadores, e por isso solicitamos nosso ingresso.
Mas ninguém pense que com isso se pode fazer alguém aqui perder o
sono, nem que nós vivemos morrendo de tanto pensar, todos os dias,
e averiguando, antes mesmo de saber como está o tempo, o que opinam
sobre nós ali, ou qualquer coisa assim.
Portanto podemos assegurar, desde agora, com total
equilíbrio, sem nos exaltarmos, mas deixando clara nossa posição
de firmeza. Se outros não defendem sua soberania, nós sim, e nos
custou muito cara, sabemos seu preço, e não estamos dispostos a
renunciar a ela.
Sei também que houve declarações da Ministra de
Relações Exteriores da Espanha, por exemplo. Ela já havia feito
umas declarações em 20 de fevereiro, em Madri, tinha falado
publicamente... (interrupção na transmissão)... Isso deve ser uma
ação da RINA (risos).
Bem, eu dizia que, em 20 de fevereiro, haviam sido
publicadas algumas estranhas declarações da Ministra sobre Cuba.
Referia-se às "profundas diferenças que mantinha com
Cuba" e à "falta de vontade das autoridades cubanas, de
avançar na democratização do regime e no respeito aos direitos
humanos".
Eu penso que se há outro governo no mundo que não
deveria falar de democracia, é o governo espanhol, que está
apoiando uma guerra à qual se opuseram 91% dos espanhóis. Quase
todos os espanhóis se opuseram á guerra, que são os que elegeram
ao governo; supõe-se que o governo deveria agir segundo o que
pensam os governados, que é o que fazemos, e por isso não puderam
derrotar-nos com bloqueios nem agressões.
Parece-me que devo responder à Ministra,
expressando nossas condolências pela morte, ontem, em Bagdá, de
dois jornalistas espanhóis, fato que lamentamos, e mandamos nossas
condolências a ela, ao governo espanhol e ao povo da Espanha, pela
morte desses dois jornalistas, numa guerra que o governo espanhol
apoiou incondicionalmente.
Bem, tinha dúvida sobre se devia referir-me às
declarações da ministra de Educação, Cultura e Esportes da
Espanha, senhora Pilar del Castillo. Disse que "a maioria dos
intelectuais cubanos estão na prisão", disse isso. Deixe ver
se tenho quando disse, foi em 6 de abril. Disse que "tínhamos
aproveitado a guerra para apertar a rosca contra os
intelectuais". Não tenho notícias de que a União Nacional de
Escritores e Artistas de Cuba tenha se queixado de "um aperto
de rosca" aqui, pelo contrário, e "pessoas vinculadas ao
mundo da cultura". É preciso informar à Ministra que atuamos
contra pessoas vinculadas à Repartição de Interesses e aos
serviços especiais dos Estados Unidos, e não à cultura.
Bem, ela teve uma reação histérica que mostra
total ignorância sobre o que ocorre em Cuba. Não sei, a Ministra
de Cultura espanhola saiu de repente à imprensa e fez uma
declaração de altos decibéis sobre Cuba. Não se sabem suas
razões para isso.
Não sei também se a Ministra sabe a luta que os
cubanos tivemos de travar durante mais de um século, por nossa
independência e por nossos direitos humanos, depois das
conversações de Paris, em que a Espanha entregou Cuba aos Estados
Unidos, não sei se sabe disso, enfim, não sei. Só sei que essas
declarações me pareceram um tanto raras.
Por último, comento aqui a declaração emitida
pelo Diretor Geral da UNESCO, o senhor Koichiro Matsuura, que diz
que "a informação que recebemos com relação às detenções
é alarmante", diz. Não sei por que o senhor Matsuura se
alarmou de maneira especial no caso de Cuba, porque ninguém o viu
alarmar-se nem dos presos de Guantánamo, nem dos presos nos Estados
Unidos, nem dos excessos da guerra no Iraque, nem da morte de
crianças, nem de pessoas civis, nem ninguém o viu alarmar-se e
decretar que há uma agressão e uma violação do direito
internacional, ninguém o viu fazer isso; não se sabe por quê, de
repente, alarmou-se de maneira especial com Cuba, diz que foi
informado, que seus assessores lhe explicaram.
Diz que "a promoção de livre circulação de
idéias por meio da palavra e da imagem forma parte da
Constituição da UNESCO". Isso nós sabemos bem, que
defendemos o exercício desses direitos por mais de 100 povos do
Terceiro Mundo que pertencem à UNESCO, aos quais se pretende impor
um novo modelo cultural, eliminando seu direito de desfrutar de suas
culturas autóctones. De maneira que nós travamos essa batalha
muito antes que o senhor Matsuura chegasse ali, ao posto de Diretor
Geral, e parece-me que, para falar da livre circulação de idéias,
poderia dedicar-se, por exemplo, a reclamar sobre a cobertura
tendenciosa que essa guerra vem tendo, de um grupo de meios de
imprensa internacionais. Tem sido um espetáculo vergonhoso, que
provocou protestos e preocupações a amplos setores intelectuais e
de opinião pública no mundo todo; sobre isso, o senhor Matsuura
não disse uma palavra.
Diz que "segundo a informação que recebemos,
os acusados não têm direito a uma defesa legal correta". Não
se sabe quem deu informação ao senhor, diz que é a que recebeu.
Não sei se foi a nova representação norte-americana lá na
UNESCO, que agora os norte-americanos decidiram voltar à UNESCO, e
já se notam os efeitos de sua presença ali.
Disse que "pedia com urgência às autoridades
cubanas que respeitem..." Nós pedimos ao senhor Matsuura com
urgência que se atenha a seu mandato, e se ocupe dos mais de 800
milhões de pessoas no mundo que não sabem ler nem escrever e que
formam parte essencial do conteúdo da organização especializada
das Nações Unidas, de maneira que também me parece muito estranha
essa declaração, embora possa imaginar suas motivações e seus
objetivos.
Bem, isso é o que queria informar-lhes rapidamente
(risos), embora tenha me sentido animado ao ver que todos mantiveram
um grande interesse. De qualquer maneira, se há perguntas, estou a
sua disposição.
Moderador – Peço aos que vão perguntar que
utilizem os microfones, identifiquem-se e identifiquem o meio de
imprensa a que pertencem.
Sr. Medem (TVE) – Bem, minha pergunta é sobre a
referência que fez a uma carta de Carlos Alberto Montaner – se
não recordo mal –, dirigida a Osvaldo Alfonso, na qual mencionava
certas vinculações de determinado pessoal de alto nível – penso
ter escutado – espanhol, em relação ao projeto ou à gestação
do projeto "Varela".
Queria perguntar-lhe se há, por parte do governo
cubano, ou se no transcurso desses processos se descobriu algum tipo
de informação que não seja pública, que explique um pouco qual
foi a gestação do Projeto "Varela", e se o Projeto
"Varela" fica incluído nessa definição de cumplicidade
com as agressões dos Estados Unidos contra a Revolução, o governo
e o povo de Cuba.
Felipe Pérez – Sim, está incluído; sim, temos
informação, e no momento adequado iremos divulgá-la; e não, não
sei mais sobre o tema da carta. Creio que se pode perguntar com
profundidade ao senhor Carlos Alberto Montaner, que deve saber os
nomes dos funcionários aos quais aludia na carta que eu li.
O Projeto "Varela" forma parte da
estratégia de subversão contra Cuba, foi concebido, financiado e
dirigido do exterior, com a ativa participação da Repartição de
Interesses norte-americana em Havana; faz parte do mesmo esquema de
subversão, não tem o menor respaldo nas leis cubanas, é uma
grosseira manipulação da Constituição e das leis de Cuba, e
chegará o momento de falar com amplitude sobre isso.
Vanesa Dausá (Sun Sentinel) – Tem havido
rumores de que é possível que o governo cubano ofereça exílio a
algumas das pessoas julgadas na semana passada, em vez de cumprir as
condenações aqui em Cuba.
O senhor poderia desmentir isso ou dizer-nos algo
sobre isso?
Felipe Pérez – Que o governo cubano esteja
pensando nisso, eu desminto; além disso, em Cuba há
instituições, tribunais que tomam as decisões, o governo não
pode passar por cima das decisões dos tribunais, aqui há um Estado
de direito, Vanesa.
Vanesa Dausá – Também ouvimos a palavras do
Presidente, de que Cuba pode prescindir da Repartição de
Interesses.
Existe a possibilidade real de fechar esta
Repartição, ou a de vocês em Washington?
Felipe Pérez – Bem, sabemos que essa é a
aspiração, o sonho dourado dos que sustentam o bloqueio e a
política de agressões contra Cuba; talvez seja também o sonho do
senhor Cason, seu regresso heróico, expulso de Cuba.
Sabemos bem quem celebraria e quem se encantaria com
essa decisão; mas, em todo caso, fechar a Repartição de
Interesses em Havana e pedir ao senhor Cason que abandone o país é
um direito que nos reservamos.
Gerardo Arreola (La Jornada) – Ministro, o
chanceler mexicano Derbez também fez comentários sobre os
julgamentos a que o senhor se refere e sobre o possível voto do
México na Comissão de Direitos Humanos.
O senhor tem algum comentário?
Felipe Pérez – O chanceler Derbez estava com a
ministra Ana Palacio, da Espanha, em Madri, e reportam as agências
de notícias que disse: "Sem dúvida, os recentes atos naquele
país nos preocupam. O tema foi analisado pelas duas delegações,
certamente terá incidência e será avaliado pelo governo antes da
reunião da Comissão de Direitos Humanos".
Penso que o chanceler Derbez, de maneira
relativamente cuidadosa, embora não oculte o fato real de que está
se referindo aos assuntos internos de outro país, tratou de
explicar, de alguma maneira, por antecipação, o que nós sabemos
que será a segura posição do México, ao votar na Comissão de
Direitos Humanos, no próximo dia 16 de abril, que será um voto
favorável à resolução contra Cuba.
Nós sabemos que isso será assim, porque
compreendemos que o governo do México não tem espaço para algo
diferente, e acreditamos que essa declaração prepara um pouco o
caminho do que, para nós, é uma "crônica de um voto
anunciado".
Gerardo Arreola – Desculpe, se posso
perguntar-lhe, Ministro: o senhor crê que isso afetará as
relações bilaterais?
Felipe Pérez – Não me antecipo a avaliar isso.
Tenho muitas coisas sobre as quais opinar ainda. Não me antecipo,
não quero dizer que não vá opinar em algum momento; mas, por ora,
já falei bastante.
Fernando Rasgver (BBC) – Ministro, no dia anterior
ao início dos julgamentos, tiraram das celas de castigo os cinco
cubanos presos nos Estados Unidos.Têm alguma relação esses
encarceramentos com a situação desses cinco cubanos nos Estados
Unidos? Seria possível, em algum momento, negociar?
Felipe Pérez – Nem sequer nos passou pela mente
essa idéia. Em Cuba ninguém pensou sequer na possibilidade de
negociar os acusados e condenados nos tribunais cubanos, nestes
dias, pelos cinco cubanos injustamente condenados nos Estados
Unidos. Ninguém aqui pensou nisso.
Lembremos que há diferenças: Aqueles são
inocentes, aqueles lutavam contra o terrorismo; aqueles foram
julgados sem garantias do devido processo, num julgamento arrumado,
que se converteu num circo dominado pelos grupos de extrema direita
cubanos; àqueles, foram recusadas garantias elementares, como o
acesso a seus advogados. Recordemos que aqueles esperaram o
julgamento, após 17 meses de encarceramento, em celas de castigo,
nas quais não puderam preparar sua defesa. Recordemos que foram
novamente encarcerados, para impedir que participassem da
preparação dos advogados para a apelação á corte de Atlanta.
Há diferenças profundas nas motivações, na
qualidade moral e nas circunstâncias dos delitos imputados aqui, e
dos supostos delitos de lá, e das condições de seus julgamentos;
mas, em todo caso, não existe a menor idéia de fazer algo dessa
natureza.
Moderador – Alguma pergunta?
Não vejo mais perguntas.
Ministro, muito obrigado por sua intervenção.
Felipe Pérez – Agradecemos a todos sua presença
aqui (aplausos) |