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Chávez é uma luz que não se apaga
Jorge Legañoa Alonso
NO Quartel da Montanha, em
Caracas, há um ano que descansam os restos mortais
de Hugo Chávez, o comandante dos venezuelanos. O que
antigamente fosse seu comando, durante o levante
cívico-militar de 4 de fevereiro de 1992, continua
sendo hoje fervedouro de gente, lugar de encontro
para seus seguidores, terra de peregrinação e
estímulo para continuar sua luta...
Às 16h25 de uma tarde cinza,
aquele 5 de março, seu coração deixou de bater;
contudo, sua luz continua viva na rua, nas pessoas,
em todos aqueles que faiscam seus olhos quando é
mencionado. Doze meses que não têm sido fáceis para
um povo fiel, que teve que superar a dor para
enfrentar uma difícil guerra econômica, duas
eleições, incluída uma presidencial, um mês depois
de sua morte, e as ações daqueles que desterraram a
democracia de sua linguagem e apostam na violência
para galgar o poder.
Na Venezuela de Hugo Chávez, há
alguns dias, conversei de novo, com uma venezuelana
que conheço desde que cheguei a esta terra pela
primeira vez. Não sei seu sobrenome, mas seu nome é
Maritza, trabalhadora do programa Bairro Dentro, há
vários anos. Por tal motivo, para ela um cubano é um
“confidente” e nunca tem medo de expressar seus
sentimentos ante os amigos. Falamos da situação do
país, da vida, até que apareceu o tema que a
apaixona: “Chávez é mais que um corpo”, afirmou.
“Esse homem mudou a vida de todos
nós e foi embora como mesmo chegou, de surpresa, e
para que volte a haver outro assim passará muito
tempo, ao ponto tal que nem você nem eu vamos vê-lo,
mas aí está Maduro, com ele vamos porque a luta
continua”, expressou Maritza, para quem estas
palavras são sentimento e ação diária. Somente é
preciso ver seus olhos para entender isso.
A Hugo, o amigo, seu povo o tem
chorado, inclusive, cada vez que uma conversação
termina na palavra Chávez, alguma que outra lágrima
volta a sair. Tal como vi Maritza enxugar as
lágrimas, tenho visto outros tantos. Não importa que
sejam homens curtidos pelo campo ou pela luta. O
coração é mais forte, a espiritualidade de Chávez é
imensa, tocou fundo, por isso sua marca não se pode
apagar em apenas um ano, porque ele está por todos
lados.
A imagem de Chávez e suas ideias
estão presentes nas ruas. Está presente nos murais
pintados pelos jovens lutadores sociais; num velho
cartaz da campanha eleitoral de 2012, de onde ele
olha sorridente, como lembrando que sua vida foi dar
felicidade à maioria; está presente no hino nacional
que ele mesmo canta e que todos os dias aparece na
tevê no final da programação; na camiseta de uma
criança ou na mochila de um jovem.
Hugo Chávez se tornou ícone, tal
como a mítica imagem de Che Guevara fotografada por
Korda. Mas, nesta ocasião, não é um ícone, são
vários: seus olhos, o perfil do rosto, a imagem do
abraço a uma idosa, sua assinatura que parecia ‘rabo
de porco’, como ele mesmo dizia. O presidente dos
venezuelanos passou da luta militar e política ao
coração, porque fez muito por um povo com muitas
carências.
Quando se caminha pelo centro de
Caracas, a gente entende que o povo está ligado a
seu líder além da política, com um misticismo que
chega ao religioso. Nalgumas lojas de objetos
religiosos podem encontrar-se ao lado da efígie de
“Nossa senhora de Coromoto” — padroeira da Venezuela
— uma imagem de Chávez. Há alguns que o chamam o
“santo dos pobres”, enquanto outros o comparam com
José Gregório Hernández, um médico do início do
século 20, venerado pelos venezuelanos, devido ao
seu trabalho com os pobres.
Embora os inimigos do chavismo
quisessem silenciar a voz de Chávez, é impossível,
porque os venezuelanos veem todos os dias sua
figura, seus olhos pintados nas ruas e prédios altos
de Caracas, os venezuelanos lembram o carisma de um
homem que dançava, cantava, cuja vida era um show e
que se entregou totalmente a uma causa justa; porém
mais que a imagem, por onde hoje se caminha nestas
terras se vê a marca de uma Revolução bolivariana
que tem construído um país melhor.
Não é difícil encontrar jovens
tatuados com a assinatura ou os olhos de Chávez.
Dizem que é sua homenagem, porem acho que é mais que
isso: “para não esquecer jamais o que significa ser
chavista”, porque nestas terras, sem dúvida, Chávez
é uma luz que não se apaga, embora a morte se
interponha.
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