Rafael Correa:
"O sucesso maior do Equador: resgatamos a
autoestima"
• O presidente também se
referiu a temas transcendentais, tanto na América
Latina como em seu país
Jorge Petinaud Martínez*
MOSCOU.— A vitória de Rafael Correa nas eleições
de 2006 e sua reeleição em 2009 e 2013, com o
Movimento Aliança País transformaram o Equador de
nação ingovernável a uma das mais prósperas e
estáveis da América Latina. Seu projeto de Revolução
Cidadã, inimiga do neoliberalismo anterior,
contribuíu com avanços inquestionáveis para a
economia, a educação e a formação de talento humano
nesse país. Uma recente visita de trabalho à Rússia
e a gentileza do estadista propiciaram à agência
Prensa Latina indagar sobre o suposto "milagre
econômico", ocorrido na nação andina, termo que
Correa rejeita.
Qual a importância desta visita, do ponto de
vista político, econômico e da colaboração?
"Rússia se converteu em um dos mercados
principais para o Equador, ao mesmo tempo há
importantes empreendimentos em execução, como por
exemplo, grandes hidrelétricas e outros projetos nos
quais empresas russas podem estar interessadas (...)
Em nível político, temos coincidências quanto à
política internacional sobre a crise da Síria e, em
geral, de ter um mundo multipolar sem árbitros que
pensem que estão acima do bem e do mal".
A América Latina conseguiu uma posição no mundo,
a partir da presença de figuras como o presidente
Hugo Chávez, infelizmente morto, Evo Morales, Daniel
Ortega, Néstor Kirchner, o senhor. Qual o papel da
integração latino-americana nesta posição?
"Olhe que contradição; o senhor nomeou
presidentes que têm um grande apoio popular, mas que
são censurados pela mídia constantemente. Se o
senhor lê a imprensa da Venezuela, da Bolívia, da
Argentina, do Equador, se não conhecesse nossos
países, imaginaria que os cárceres estão repletos de
opositores políticos, da imprensa livre independente.
Essa é uma grande mentira. Por que essa censura
permanente? Porque estamos enfrentando um "lobby" do
poder da mídia, que é que espalha o império do
capital, o verdadeiro inimigo da esquerda moderna.
Eles não necessitam bombas, bombardeiros, mísseis
para submeter os países. Necessitam dólares, centros
de arbitragem, todas essas estruturas em nome de uma
suposta segurança jurídica, realmente, segurança e
abuso para as multinacionais (...)"
A América avançou muito na integração: Unasul,
Celac, ALBA. Contudo, também se implementam projetos
de aparente integração neoliberal. O que acha o
senhor a respeito disso?
"É claro que existe uma reconstrução da direita
neoconservadora na região. Não sobreestimemos o que
temos avançado, tudo pode ser revertido. Há coisas
das quais o nome soa bonito, mas existe uma
desorientação a respeito do seu alcance real. O
senhor nomeou a Celac, que se tem ido consolidando,
Unasul, a ALBA. Mas por exemplo, continuamos com uma
OEA que, tal como Fidel Castro disse, não é outra
coisa que um ministério de colônias. Uma OEA com
sede em Washington, quando esse é o país que há mais
de meio século vem cometendo o maior atentado contra
a Carta Interamericana e a Carta das Nações Unidas:
o bloqueio a Cuba".
O senhor falava do império e do bloqueio contra
Cuba. Qual a sua opinião sobre esse tema?
"Quantas vezes as Nações Unidas, praticamente por
unanimidade, tem rejeitado o bloqueio? Que coisa
mais evidente que atente contra o direito
interamericano (...)? Que maior atentado aos
direitos humanos? Quanto tem custado a Cuba o
bloqueio em todo sentido, em vidas humanas, em
avanços econômicos, redução de postos de trabalho
(...) ?Enquanto a OEA e a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos não resolvam definitivamente,
contundentemente, sem claudicações, esse grave
atentado ao Direito Internacional que constitui o
bloqueio contra Cuba, o resto é simples hipocrisia".