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N o s s a   A m é r i c a

Havana, 4 Dezembro, de 2013

 

A Ilha da Tartaruga: uma terra
de esquecimento


Leandro Maceo Leyva

enviado especial

ILHA DA TARTARUGA, Haiti.— Situada a noroeste do Haiti, com uma superfície de 180 quilômetros quadrados e uns 27 mil habitantes que vivem da pesca, do comércio e do turismo, alimentado pelas histórias de pirataria, a Ilha da Tartaruga deve seu nome ao descobridor do Novo Mundo, Cristóvão Colombo, que ao avistar suas costas a batizou assim pelo desenho que oferecia sua geografia.

Rodeada de águas cristalinas de cor azul intensa, com uma temperatura tropical e uma vegetação exuberante, marcada por diversas espécies de palmeiras, esse pequeno enclave montanhoso parece ter nascido para entrar na lenda — um passo que poderia produzir-se de maneira definitiva.

Tal como no resto do país, a maioria dos habitantes é de raça negra, os idiomas oficiais são o francês e o crioulo, e a população é principalmente católica.

Conhecida como a ilha dos piratas, pois durante o século 17 foi um baluarte para os bucaneiros e flibusteiros que navegavam no mar Caribe, o território amparou personagens ilustres do mundo da pilhagem. Talvez, o mais famoso foi o britânico conhecido como Barba Negra, que se fixou nas suas costas.

Sua reputação de albergue dos flibusteiros fez da Ilha um motivo de inspiração para escritores como Emilio Salgari, Robert Louis Balfour Stevenson ou Walter Scott, presentes em obras fundamentais da literatura como O Corsário Negro, A Ilha do Tesouro e O Pirata, respectivamente.

A curiosidade sobre esse mundo da pirataria levou-me a indagar sobre a Ilha da Tartaruga, pátria e refúgio de aventureiros. Queria conhecer daquele passado agitado e entender o porquê. Todos coincidem em que uma vez que a gente mora nela, é impossível não sentir que se sustenta num solo condenado a um estranho malefício de solidão, enquanto uma calma suspeita preside seus 400 metros de altura, até convertê-la numa terra de esquecimento.

“Há médicos cubanos na Ilha da Tartaruga!” exclamou com assombro um amigo, ao dialogar sobre o alcance da Brigada Médica Cubana, ao longo da geografia haitiana. Esse também foi outro de meus motivos para visitar o lendário enclave.

No dia em que viajamos era tranquilo, pois os haitianos dormiam, falou-me um jovem enfermeiro Royler Valdivia, que passou 18 meses ali e servia de guia numa viagem que começou no porto de Port-de-Paix (sede departamental do noroeste do Haiti), num veleiro que navega em pleno século 21.

Segundo conta Royler, às vezes o mar está “difícil” e os haitianos começam a orar, como se “pressentissem” algo ruim. Ainda assim, ele faz o trajeto confiado, viaja na beira da embarcação como mais um dos cinquenta nativos que geralmente o acompanham na travessia, que repete duas vezes por mês, no início e no fim.

Todos o conhecem no navio La Salles, um negócio que alimenta a família, e a bordo do qual deve cooperar, às vezes, com as atividades próprias do deslocamento.

Enquanto navega, Royler não esquece sua condição de especialista cubano. Leva consigo comprimidos de Dramin e uma garrafa de água, os quais divide, fundamentalmente com as crianças.

Fala da “letargia” das viagens, dos retornos que são “mais calmos”, dos golfinhos que o despedem de vez em vez, e da “bondade” dos haitianos que o transportam. Os mesmos que naquela tarde nos aproximaram seguros até a ilha, aqueles que nos estenderam a mão para abordar uma embarcação mais pequena para atingir o cais, e com quem escalamos — numa motocicleta — as íngremes inclinações do terreno.

Uma vez em terra firme, Royler não apenas deverá enfrentar qualquer urgência médica que se apresente, mas também a ausência de eletricidade e de qualquer sinal do mundo moderno, enquanto enxerga, cada tarde, o pôr do sol e as embarcações que retornam, como expressão de que o dia chega a seu fim.

Mas ele permanecerá prazeroso dois anos ali. Continuará viajando impulsionado pelo vento e quem sabe, talvez um dia, decida escrever sua própria lenda.

 

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