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Mês crucial para o Brasil,
Bolívia e o Uruguai
Andrés
Mora Ramírez
DURANTE O mês
de outubro, no Brasil (no dia 5), na Bolívia (no dia
12) e no Uruguai (no dia 26) terão lugar as eleições
presidenciais. Estas eleições se acrescentam às já
realizadas, durante este ano, na Costa Rica, El
Salvador, Panamá e Colômbia, e cujos resultados, em
termos gerais, mantêm as tendências que se observam
na América Latina, no decurso deste século: avanço
das forças da esquerda e da centro-esquerda,
concretamente as salvadorenhas e as costarriquenhas
(mas com governos relativamente fracos, devido à
composição dos congressos e às limitações herdadas
do modelo neoliberal imposto há três décadas); e no
Panamá e na Colômbia, a reafirmação do domínio de
uns setores da direita com conflitos entre eles, por
causa de suas próprias contradições e lutas de
interesses, como ficou evidente no caso da vitória
do presidente Juan Manuel Santos para o candidato de
Álvaro Uribe Vélez.
A partir desta
perspectiva, as eleições de outubro adquirem relevo,
quanto às projeções dos resultados que se desprendem
das sondagens de opinião, especialmente no Brasil e
no Uruguai, permitem antever a possibilidade de que
o rumo progressista sul-americano que predominou,
majoritariamente, durante os últimos dez anos, se
veja ameaçado e até fraturado pelas forças da
direita, centro-direita ou um leque de alianças
pragmáticas conjunturais (por exemplo, como ocorre
no Brasil, com o acordo entre "verdes" e empresários
dos negócios agrários, a favor da candidatura de
Marina Silva).
Triunfos
eventuais da direita, neste ciclo eleitoral que se
aproxima, teriam consequências importantes, por um
lado, no processo de integração regional da Nossa
América; e pelo outro, no consenso pós-neoliberal
que, em nível regional e mundial, tem permitido
articular posições favoráveis à construção de um
sistema internacional multipolar.
No Brasil, após
o desgaste político dos últimos meses, por causa da
desaceleração do crescimento da economia e as
manifestações contra os investimentos milionários
para a realização da Copa Mundial de Futebol, na
reta final da campanha, a presidenta Dilma Rousseff
conta com 36% a 38% na intenção de voto dos
brasileiros, embora o apoio a seus contrários tenha
crescido e alguns estudos perfilam a possibilidade
de um segundo turno nas votações (contra Aécio Neves
ou Marina Silva), para escolher o futuro presidente
da potência sul-americana emergente. A presidenta
Rousseff mantém como eixos de sua mensagem eleitoral
a continuidade das mudanças iniciadas pelo
ex-presidente Lula da Silva e os avanços
conseguidos, em diferentes âmbitos, durante doze
anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Por
exemplo, o inquestionável sucesso social, econômico
e, sobretudo, humano, que representa o fato de que
quase 40 milhões de brasileiros e brasileiras tenham
saído da pobreza.
Por outro lado,
no Uruguai, a Frente ampla (FA) escolheu como
candidatos para presidente e vice-presidente duas
figuras de funda raiz histórica no partido: o
ex-presidente da República, Tabaré Vázquez
(2005-2010), primeiro presidente dessa agrupação e
Raúl Fernando Sendic, filho do líder do Movimento de
Libertação Nacional – Tupamaros, Raúl Sendic
Antonaccio. Contudo, as sondagens não preveem um
panorama simples: a FA perdeu pontos na intenção de
voto, nas últimas enquetes (passa de 42% a 39%,
entre junho e agosto); entretanto o Partido Colorado
e seu candidato, o advogado Luis Lacalle Pou, 41
anos, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle,
cresce em apoio (passou de 27% a 30%, no mesmo
período).
Um triunfo no
primeiro turno, sob estas tendências, não parece
fácil e se augura uma intensa batalha política nas
próximas semanas.
Um âmbito
diferente é o da Bolívia, onde a reeleição do
presidente Evo Morales e seu vice-presidente, Álvaro
García Linera, parece iminente. As sondagens
refletem um apoio para o candidato do Movimento ao
Socialismo (MAS) que flutua entre 52% e 59%, muito
acima de 15% a 17% do candidato da oposição, Samuel
Doria Medina. O que é que anda atrás deste
contundente crescimento do respaldo à gestão de Evo
Morales? Com certeza o radicalismo e a profundidade
das mudanças efetuadas pela Revolução Indígena e
Cultural, como é definida pelo presidente, sobretudo
se é comparada com o pesadelo neoliberal em que
viveu o país até sua chegada ao governo.
Mais além das
limitações, contradições e erros que lhe possam
atribuir seus contrários e até os simpatizantes e
militantes do MAS, as políticas implementadas por
Evo Morales e sua equipe permitiram à Bolívia
atingir avanços sociais e econômicos sem
precedentes. Katu Arkonada, intelectual basco que
vem estudando e viveu de perto o processo boliviano,
considera que a construção de um novo modelo
econômico pós-neoliberal e seu impacto positivo na
população boliviana, é um dos pilares do alto índice
de aprovação de Morales: graças à nacionalização do
setor do petróleo e o gás, o PIB do país passou de
US$ 9,5 bilhões, em 2005, para US$ 30,3 bilhões, em
2013; durante o governo neoliberal, o investimento
público, em 2005, foi de apenas US$ 629 milhões,
enquanto no de Morales, em 2013, foi de US$ 3,7
bilhões, "que são partilhados, praticamente, em
partes iguais, entre investimento em políticas
sociais, infraestrutura e desenvolvimento
produtivo".
Aumentou o
salário mínimo, diminuiu o desemprego urbano e se
reduziu a pobreza extrema (passou de 38,2%, em 2005,
para 21,6%, em 2012) e a desigualdade ("em 2005 a
diferença de receitas entre 10% do setor mais rico
em relação ao mais pobre era de 128 vezes; enquanto
em 2012, essa mesma diferença se reduziu 46 vezes").
Três países,
três eleições, três rotas possíveis da mudança de
época na Nossa América. Em cada caso, as condições
particulares com que se teve que defrontar cada
governo determinam, ao mesmo tempo, a velocidade e
profundeza das transformações, da mesma forma que a
natureza das lideranças políticas. Cada um deles
representa, ainda, as coordenadas de um pós-neoliberalismo
diverso, criativo e possível, que hoje encara o
desafio de derrotar mais uma vez, mediante o
sufrágio popular, uma direita maquiada que sonha com
voltar ao passado.
Como todos os
matizes que tiverem, os governos progressistas e
nacional-populares levam sobre eles muitas das
esperanças dos povos da região. Permitir que sua
marcha se detenha agora, após tantas décadas de luta,
seria um erro e um golpe terrível para a construção
de uma América Latina mais livre, mais independente
e mais soberana (Excertos tomados da Agência
Latino-americana de Informação).
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