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N o s s a   A m é r i c a

Havana, 27 Fevereiro de 2014

 

BOLÍVIA
Quatro anos do Estado Plurinacional, oito anos de governo nacional-popular

Katu Arkonada

 EM 22 de janeiro passado foi comemorado na Bolívia o 4º aniversário do Estado Plurinacional, bem como o início do nono ano de governo do presidente Evo Morales e o Movimento ao Socialismo (MAS).

 Nestes oito anos de governo foi construído um projeto político desde e para as classes populares, que durante o ciclo rebelde 2000-2005 passaram da resistência à proposta e da proposta ao governo.

Podemos caracterizar os primeiros quatro anos de governo, 2006-2009, como um segundo ciclo onde se passou do governo à tomada de poder, derrotando política, militar e eleitoralmete a direita racista, que se atreveu atacar a Assembleia Constituinte, queimar instituições públicas em Santa Cruz e protagonizar atrozes atos de racismo em Sucre; e consolidando as rupturas sociais, políticas e epistemológicas que de alguma maneira cristalizaram na nova Constituição Política do Estado, que deixava atrás o Estado republicano para apostar num modelo plurinacional.

Um terceiro ciclo recém completou-se, com a celebração dos quatro anos do Estado Plurinacional (2010-2013) e a entrada dum ano curto, de transição, porém não menos importante, devido às eleições presidenciais de outubro próximo. Este ciclo de quatro anos poderíamos qualificá-lo como o da gestão, e nesse sentido é preciso lermos o discurso do presidente Evo Morales ante a Assembleia Legislativa PLurinacional, em 22 de janeiro.

AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA E DA GESTÃO

Juntamente com a gestão, estes quatro anos de Estado Plurinacional têm sido os anos da ampliação da democracia. A democracia na Bolívia tem deixado de ser, como expressou o vice-presidente do país, Alvaro García Linera em seu discurso, nesse mesmo 22 de janeiro, “uma democracia fossilizada, agora a democracia na Bolívia é algo vivente”.

Ante uma direita (e acrescentaria uma nova-velha socialdemocracia) que tem pervertido o conceito de democracia, na Bolívia se ampliam as fronteiras dessa democracia. A ação coletiva, a gestão comum, a participação dos movimentos sociais na tomada de decisões e na elaboração das leis, a transparência e controle social... isto é, na Bolívia se recuperou a política como bem comum e os limites da democracia estão mais para lá de onde os colocou o liberalismo.

 Na Bolívia a democracia é algo mis que ir votar cada quatro ou cinco anos, algo mais que a democratização da gestão governamental, é a ampliação do campo de batalha, que é o Estado com novas regras de jogo, que surgem de abaixo e da esquerda.

Na Bolívia a democracia é algo mais do que o respeito aos direitos humanos , é a ampliação dos direitos coletivos. A democracia na Bolívia é o governo do povo e para o povo.

Na nação do altiplano se demonstra com contundência como o processo avança, como se democratiza a saúde e a educação, ampliando o orçamento e os temas dedicados a estas áreas; como se dá início a uma segunda etapa da nacionalização dos hidrocarbonetos, isto é a industrialização, como o país se torna, segundo a Cepal, na terceira economia que mais cresce na América Latina (6,5% em 2013) e ao mesmo tempo cresce o peso do Estado na economia, que já soma 35% do total, como a nação se torna referente internacional, assumindo a presidência do G77+China, conseguindo uma histórica readmissão no seio da Convenção Única das Nações Unidas sobre Entorpecentes de 1961, onde se aceita a reserva sobre o mastigado e o uso medicinal da folha da coca, conseguindo a aprovação na reunião da instância mundial o reconhecimento do direito à água potável e ao saneamento básico, como direitos humanos essenciais ou a Declaração do Dia Internacional da Mãe Terra; além disso, a Declaração de 2013 como o Ano Internacional da Quinua.

Inclusive, além dos números, dados e avanços, entre os meses de dezembro e janeiro tiveram lugar vários acontecimentos, como a recuperação do sentimento nacional de um povo acostumado à derrota. A posta em funcionamento do satélite boliviano Tupac Katari, fabricado na China, com o objetivo de democratizar as telecomunicações, especialmente no meio rural; a eleição para a presidência, juntamente com o anúncio da celebração da Cúpula pelos 50 anos do G77+China, em Santa Cruz, ou a passagem do Rally Dakar por território boliviano, tem recuperado um sentimento nacional que o presidente Evo agradece, por posicionar a Bolívia como referente internacional.

Se a isto somamos que cada ano a economia boliviana (PIB) cresce acima de 4,5%, se pode entender que a popularidade de Evo Morales seja de mais de 60%.

HORIZONTE 2014

E enquanto a intenção de voto a favor do governo se coloca em torno de 60%, a oposição boliviana está dividida entre três candidatos-partidos, que reúnem aproximadamente 30% dos votos contra o processo de mudanças; o Movimento Sem Medo, de Juan del Granado (centro-esquerda); a Frente Ampla, de Samuel Doria Medina (direita neoliberal), empresário dono das franquias da Burger King e da principal fábrica de cimento do país e o Movimento Democrata Social, do governador de Santa Cruz, Rubén Costas (direita regionalista).

Por tal motivo, com uma oposição fragmentada e sem projeto ante um oficialismo que transformou a revolução política e descolonizadora em gestão, que faz colapsar o neoliberalismo, melhora as condições de vida das classes populares e recupera a nação para os bolivianos, o principal desafio é continuar aprofundando o processo de mudanças.

Para isto será necessário reforçar o projeto político e buscar um equilíbrio entre os processos de formação e aprofundamento político; entre manter o apoio eleitoral no ocidente do país e expandir-se rumo ao oriente e, inclusive, ir por uma vitória eleitoral em Santa Cruz, buscando uma proporção entre continuar incorporando outros setores, com o objetivo de alargar sua base social e ao mesmo tempo manter a coesão nos movimentos sociais e povos indígenas, que têm dado forma a este processo.

Se todos estes equilíbrios se dão, é mais do que segura a vitória eleitoral e a posterior radicalização do processo.

Em qualquer caso e precisamente pela fragmentada oposição, devemos estar atentos ante um cenário de desestabilização, para desgastar a figura do presidente Evo Morales, com vista às eleições de outubro, quer pela geração de conflitos, quer pela possibilidade de uma guerra econômica, continuando a metodologia aplicada na Venezuela.

Na Bolívia o que se vive é uma insurgência emancipadora, que vai tomando forma e nomeando-se no projeto político do socialismo comunitário do Bom Viver; um Viver Bem que é como a utopia de Saramago, avanças dois passos e o horizonte se mexe outros dez mais para lá, um Viver Bem que serve para caminhar e continuar construindo um projeto político (Excertos extraídos de Rebelión).

 

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