Canal de Panamá:
razões suficientes para comemorar seu aniversário
NESTE 15 de agosto, o Panamá
comemorou o centenário da entrada em operações do
Canal do Panamá, quando nesse dia de 1914 o vapor
Ancón o atravessou para unir, por via marítima, os
oceanos Atlântico e Pacífico.
Há muitas razões para comemorar este
acontecimento, de maneira geral porque abriu as
portas ao comércio internacional para dinamizá-lo e
modernizá-lo; para a navegação porque estimulou à
indústria a inová-la, e para a cultura porque tem
sido veículo de união e conhecimento dos povos.
Aos panamenhos facilitou uma fonte
permanente e inesgotável de emprego e rendas que
poderiam converter o país numa joia da economia
universal pelo que sua contribuição significa para o
desenvolvimento da logística e a tecnologia aplicada
a esse setor.
Contudo, desde aquele mesmo dia 15,
os Estados Unidos foram os únicos donos do Canal e
da zona próxima, beneficiando-se das riquezas que
gerou. Mas essa situação mudou em 1977, quando o
general Omar Torrijos assinou os acordos do Canal
com o presidente James Carter, que permitiram sua
entrega ao Panamá em 1999. Decorreram já 15 anos e
os resultados são fantásticos.
Nos 85 anos sob sua administração,
os Estados Unidos entregaram ao Tesouro Nacional do
Panamá somente US$1,833 bilhão, à razão de 22
milhões por ano, mas nestes quase 15 anos de
controle panamenho tem recebido US$9,8 bilhões.
De ter continuado sob controle
estadunidense, em seu centenário o Canal do Panamá
teria entregado a seu povo, dono legítimo, somente
US$290 milhões nos 15 anos de reversão e não os
quase US$10 bilhões conseguidos, e isso graças aos
tratados Torrijos-Carter.
Quando a terceira eclusa estiver em
operações, o que deverá acontecer no primeiro
trimestre de 2016, o canal poderá chegar a entregar
até US$4 bilhões cada ano ao tesouro público.
AMPLIAÇÃO DO CANAL PARA O
DESENVOLVIMENTO NAVAL
Assim como o canal do Panamá influiu
de forma determinante na modernização dos mercados
ao encurtar distâncias como ninguém imaginou, e
contribuiu para o desenvolvimento da indústria
naval, ao mesmo tempo recebeu o estímulo para
ajustar-se às exigências do setor.
Desta forma surgiu a ideia, bastante
polêmica, e em meio a debates, ao ponto tal que foi
necessário um plebiscito, de ampliar a via
interoceânica, a qual se tornaria uma das obras de
maior envergadura de início do século 21.
A ampliação do Canal para instalar
um terceiro jogo de eclusas, prevista para que
conclua no início de 2016, permitirá que navios de
maior envergadura, inclusive grandes tanqueiros,
petroleiros, porta-aviões, atravessem a via
interoceânica em ambos os sentidos, isto é, do
Atlântico ao Pacífico e vice-versa.
Esses navios enormes são os
denominados postpanamax, pois foram construídos
depois de concluído o Canal com medidas que superam
a capacidade de fundo e largura da passagem e em
consequência não podem atravessá-la.
Esta situação obrigou a aumentar a
capacidade portuária em ambas as entradas do Canal
para receber os carregamentos desses navios e
transportá-los até o outro extremo por trem, como se
realiza desde há muitos anos, ainda que a operação
encareça o frete de mercadorias.
Agora, com a nova eclusa, a
ampliação permitirá o trânsito de navios com o
triplo do volume de carga, navios com 12.600
contêineres e 366 metros de distância.
Segundo as explicações publicadas
pela Autoridade do Canal (ACP), cada uma das duas
novas saídas ao mar estará formada por três câmaras
de água fechadas com eclusas que salvarão os 27
metros de desnível dos dois oceanos em relação com o
lago Gatún — situado na metade do Canal — e seguindo
o funcionamento desse tipo de sistemas, os navios
avançarão ao equilibrar-se o nível de água entre
câmaras contíguas.
Um navio poderá atravessar o salto
de água de cada lado em aproximadamente duas horas e
meia, completando sua passagem pelos 80 quilômetros
do Canal em mais ou menos dez horas e
excepcionalmente em oito.
A maior dificuldade da obra, que já
está em sua etapa final, tem estado em suas
dimensões, que conta com 158 válvulas e 16 comportas
gigantescas com um peso total de 50 mil toneladas de
aço, as quais já começaram a ser levadas a seus
nichos mediante impressionantes rampas de betão para
que possam suportar seu peso. Essas estruturas foram
construídas em Trieste, Itália, e houve que
reacondicionar o navio Sunrise para que as pudesse
levar ao Panamá.
Esta nova parte do Canal tem como
característica singular um sistema de piscinas
laterais, que permitirá reutilizar 60% de água em
cada compartimento, de maneira que seja reduzido o
consumo total do líquido em 70%, e o funcionamento
das instalações será revisado desde vários pontos de
controle. O consórcio estima que para o trânsito dum
cargueiro grande pelo Canal são necessários 200
milhões de litros de água.
Este projeto de ampliação não tem
estado isento de litígios, paralise empresarial e
greves operárias.
As obras de ampliação estão a cargo
do Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), integrado pela
empresa espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana
Impregilo, a belga Jan de Nul e a panamenha
Construtora Urbana (Cusa) que executam a um custo
total de US$5,2 bilhões, mas há em litígio um
sobrecusto de quase 1 bilhão mais.
O passado ano fiscal (1 de outubro
de 2011 a 30 de setembro de 2012) mais de 333
milhões de toneladas de carga atravessaram o velho
Canal, que neste 15 de agosto completou seu primeiro
centenário. Nestes cem anos, mais de um milhão de
navios têm transitado suas águas.
Os Estados Unidos são o principal
cliente da via, no último ano transportou 143,5
milhões de toneladas, seguido da China (52,7 milhões),
Chile (28 milhões) e Japão (22,3 milhões).
Atualmente pelo Canal transitam 14 mil embarcações,
que transportam aproximadamente 5% do comércio
mundial.
Quando a ampliação do Canal
terminar, os custos e o tempo de transporte serão
reduzidos, além de abrir uma nova rota para o
transporte de combustíveis, produtos agrícolas e
manufaturas.
No próximo século o Canal do Panamá
terá um forte competidor, a partir de que seja
concretizada outra obra majestosa: o canal
interoceânico por território nicaragüense, que com
278 quilômetros de longitude e um montante previsto
de investimento por mais de US$50 bilhões, será
executado pela empresa chinesa HKND.