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URUGUAI
Frente Ampla em face das eleições
Lídice Valenzuela
URUGUAI é um pequeno país da América do Sul, com
apenas 3,3 milhões de habitantes, mas tem estado no
epicentro das notícias por sua bonança econômica e
algumas medidas adotadas por seu presidente, José
“Pepe” Mujica, a quem muitos políticos chamam O
Sábio, por sua maneira eloquente, sincera e culta de
dizer as verdades nos fóruns internacionais.
Também, porque sob o governo deste ex-guerrilheiro
tupamaru que durante o regime militar esteve preso
num algibe 15 anos — hoje tem 78 aos de idade— o
Uruguai se tornou o primeiro país do mundo em
regular o mercado da maconha, aprovou o casamento de
pessoas do mesmo sexo e ratificou em referendo a lei
que descriminaliza o aborto.
Contudo, poucos se referem aos sucessos do governo
de Mujica noutros aspectos da vida econômica e
social da nação: em 2013 a economia cresceu a um
ritmo de 4,5%, impulsionada pelo consumo interno, o
investimento público e, em menor medida, o
investimento privado; pelo contrário, o maior
impacto negativo voltou chegar do exterior, devido
às dificuldades das economias dos Estados Unidos e
da Europa.
O
executivo atual aprovou, no referido à política
fiscal, o imposto ao patrimônio, que substituiu o
imposto à concentração de imóveis rurais, declarado
inconstitucional.
Em
junho de 2013, o Comitê de Política Monetária
(Copom) anunciou varias medidas que incluíam o rango
de tolerância da meta de inflação num 2% (dum rango
entre 4 e 6%, a um entre 3 e 7%) em julho de 2014.
Segundo a Comissão Econômica para a América Latina
(Cepal) as exportações de bens e serviços de janeiro
a outubro atingiram os US$7 bilhões, para um
crescimento de 5,4%.
Para
este volume contribuíram o fornecimento de
eletricidade, gás e água; o transporte,
armazenamento e comunicações; serviços e comércio,
reparações, restaurantes e hotéis.
CRESCIMENTO DAS PRINCIPAIS ATIVIDADES
Segundo a Cepal, com base em dados oficiais, houve
um aumento das exportações de diferentes tipos de
grãos (a soja em primeiro lugar) e da venda de carne
bovino. A respeito das importações — sem incluir o
petróleo — o acumulado chegou aos US$7 bilhões, com
uma alta de 11,9%.
Neste ano, o desemprego em Montevidéu está próximo
de 7%, enquanto nas zonas rurais é de 6,9%. A taxa
de emprego desceu de 59,7% a 59,3%, o que demonstra
dinamismo, segundo os especialistas.
Existem outros indicadores a considerar e que
poderiam variar neste 2014, se consideramos os
vaivéns da economia internacional, mas as cifras
sugerem que o Uruguai desfruta duma bonança na
última década . O governo de José “Pepe” Mujica tem
o apoio de 52% da população, enquanto 28% o
desaprova.
Este
é o entorno que acompanha Tabaré Vázquez, quem
apesar de que terminou sua gestão com 75% de apoio
popular, agora se mantém num 40% das intenções de
voto, por causa, segundo alguns jornais, de que 250
mil votantes jovens pedem mudanças aceleradas na
educação e segurança pública.
Contudo, não devemos esquecer que uma das tendências
dos meios que respondem aos partidos opositores é
informar cifras inexistentes contra os candidatos da
esquerda, como acontece agora no Brasil, onde se têm
lançado contra Dilma Rousseff para favorecer sua
contrária socialista Marina Silva.
No
seu primeiro mandato (2004-2009), Vázquez rompeu o
esquema bipartidário existente no Uruguai durante um
século, onde alternaram no poder o Partido Colorado
e o Partido Nacional (chamado Branco).
Apesar das bondades que a Frente Ampla trouxe às
famílias uruguaias — o governo entregou grátis um
tablet aos escolares para uso pessoal; o serviço de
saúde estendeu-se a todas as cidades, realizaram-se
grátis milhares de operações da vista mediante a
Operação Milagre — os opositores colorados e brancos
trabalham para que haja um segundo turno eleitoral.
Oncologista de profissão, Vázquez deve escutar as
realidades que são diferentes às existentes em 2005,
pois agora, por exemplo, a Administração Nacional de
Educação Pública informou que no ciclo básico do
ensino secundário entre 2004 e 2012 o nível de
repetição nacional é de 32,3%, enquanto em
Montevidéu a cifra é de 40,8%.
A
seguridade pública também é outro tema da campanha.
Embora muitos organismos internacionais
qualificassem o Uruguai de “país seguro” o fenômeno
dos roubos domiciliares mantém preocupada a
população, que possui uma percepção negativa do
estão atual da seguridade pública.
A
senadora da Frente Ampla e primeira dama do Uruguai,
Lucía Topolansky, indicou que o 40% concedido a
Tabaré causou um “susto” que “lhe esclareceu a
cabeça ao militante” convencido de que as eleições
já estão ganhas.
O
Partido Nacional (PN) chegaria a 30%; o Partido
Colorado (PC), 13%; o Partido Independente (PI), 3%;
e Unidade Popular (UP), 1%, segundo as pesquisas.
“Para que efetivamente possa produzir-se uma mudança
é necessário que a Frente Ampla, os líderes
setoriais e a fórmula presidencial também consigam
transmitir à militância a necessidade de aumentar os
votos favoráveis”, advertiu o diretor do Instituto
Factum, Eduardo Bottinelli.
Contudo, para a diretora da pesquisadora Cifra,
Adriana Raga, “os políticos tendem a dar-lhe muita
importância às pesquisas de opinião no eleitorado”
quando realmente “têm pouco peso”, sendo “muito
difícil” que consigam mudar uma eleição.
Em
26 de outubro será um dia decisivo para a política
interna uruguaia.
Excelente oportunidade para que a dupla Tabaré
Vázquez-Raúl Sendic (filho), decida se o Uruguai
continua na linha da esquerda deixada por Mujica ou
se dá marcha a ré a favor da partidocracia
tradicional. (Extraído do Cubahora)
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