Governo do
presidente Carlos Valera completa cem dias
Luis Manuel
Arce Isaac
SEM que exista uma lei escrita, é
usual que cada executivo seja submetido a uma
avaliação em seus primeiros cem dias de gestão, e no
caso do presidente Carlos Valera, que completou esse
tempo, em 8 de outubro, os panamenses duvidam e têm
expectativas.
Relativamente aos temas sociais, à
responsabilidade fiscal e a outros relacionados com
suas promessas eleitorais, as críticas em geral não
são muitas porque ele iniciou seus projetos
essenciais.
Entre estes, já esta em execução
Tetos de esperança, consistente na construção de
aproximadamente 25 mil moradias; Sanidade Básica,
que dotará de água potável o país todo; Controle dos
Preços de 22 produtos da cesta básica e a Linha dois
do metrô do Panamá, que esta em licitação.
Também, o programa Panamá bilíngue,
ampliação da Bolsa Universal, 120 dólares de
subsídio aos maiores de 65 anos de idade, reativar o
setor agropecuário, reparação de uns três mil
centros de ensino e o programa Bairros seguros, que
consiste na inclusão de jovens da rua em programas
trabalhistas.
Contudo, não podemos dizer o mesmo
relativamente ao seu compromisso de lutar contra a
impunidade e a eliminação do governo paralelo
deixado por seu antecessor, Ricardo Martinelli, para
obstaculizar sua administração e blindar
ex-funcionários, acusados de estelionato e outros
delitos.
Varela é criticado por agir
demasiado devagar e por não investigar penalmente
ex-ministros e outrora funcionários incapazes de
justificar as riquezas que possuem, desde carros de
luxo, iates e chácaras até residências milionárias e
contas bancárias.
E embora assinalasse que está
verificando todos os contratos herdados para
determinar que sejam verdadeiramente convenientes
para o Estado, o processo vai devagar e em especial
sem nenhum ex-funcionário ainda processado, e alguns
poucos investigados têm sido por assuntos menores.
À margem desta situação, a própria
dinâmica de limpeza do governo paralelo se vê
obstaculizada pela dificuldade das novas
designações, como o debatido caso da controladora da
República, Gioconda de Bianchini, que ainda não tem
sido demitida, pois não houve um acordo com o
Partido Revolucionário Democrático (PRD).
Precisamente, estes cem dias se
completam sob a advertência expressa pelo presidente
do PRD, Benicio Robinson, de que avaliarão a
conveniência ou não de manter o acordo de
co-governabilidade na Assembleia Nacional, sem o
qual para Varela seria muito difícil executar seus
projetos.
O problema assenta em que o partido
de Varela detém somente 12 cadeiras das 71 da
Assembleia Nacional e sem as 25 atuais do PRD muito
pouco poderia fazer para levar a termo suas leis e
decretos.
Algo semelhante ao que está
acontecendo com o cargo da controladora,
supostamente acontecerá em dezembro próximo quando
terminarem seus mandatos o presidente da Suprema
Corte de Justiça e o Promotor Eleitoral.
Varela reafirmou, recentemente, que
respeitará o equilíbrio de poder que o povo
determinou nas urnas, ao negar-lhe a maioria
absoluta no Parlamento, nas prefeituras e entre os
corregedores, mas não explica em que consistirá esse
respeito que, aliás, foge de suas mãos.
Se realmente deseja modernizar o
Estado, como tem dito, terá que romper esse
equilíbrio para conseguir apoio para suas reformas
constitucionais que, segundo seu ministro de governo,
Milton Henríquez, significa uma mudança
institucional dos poderes Executivo e Judicial e da
própria estrutura do Estado.
Sobre as relações internacionais há
uma mudança muito evidente respeito ao governo de
Martinelli, caracterizado pelo enfrentamento e a
diatribe, e um interesse de retornar às posições
históricas de neutralidade, mediação e busca da paz
que caracterizaram o Panamá em sua condição de país
com canal.
Seu discurso em 23 de setembro
passado, no atual período de sessões ordinárias da
Assembleia Geral das Nações Unidas, não deixou
dúvidas a esse respeito.
Varela reafirmou o compromisso do
Panamá de "ser um Estado facilitador do diálogo, que
permita reunir à comunidade internacional novamente,
para redefinir a agenda global de desenvolvimento a
partir de 2015, quando termine o prazo para os
Objetivos do Milênio".
Nesse sentido, lembrou que em abril
de 2015 seu país será sede da Cúpula das Américas
pelo que "estamos trabalhando para esse evento, para
conseguir reunir todos os chefes de Estado e de
governo do hemisfério, a fim de impulsionar a
integração e a paz social, com equidade e
prosperidade". (PL)