O desastre das
políticas de austeridade
Vincenç Navarro
ERA fácil antever que as políticas
de austeridade promovidas pela tróica — o Fundo
Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia e
o Banco Central Europeu (BCE) e pelo Conselho
Europeu, liderado pelo governo alemão, seriam um
desastre para a maioria dos países pertencentes à
Eurozona.
Assim o publicamos e o prevemos
vários economistas e especialistas em políticas
públicas.
Ainda, previmos que as crises
econômicas e financeiras causadas, em boa parte por
essas políticas de austeridade, seriam enormemente
antipopulares e criariam um grave problema de
legitimidade, tanto das instituições europeias
responsáveis pela governança da União Europeia e da
Eurozona, quando dos governos dos seus países
membros. E assim foi mesmo.
O que é inclusive mais notável é que
tampouco foram bem-sucedidas na hora de conseguir os
objetivos que se tinham proposto atingir, como era a
diminuição da dívida dos países membros.
A grande maioria destes países viu
aumentar sua dívida e seu crescimento econômico tem
sido paupérrimo. Realmente, na grande maioria deles
o crescimento foi negativo. Grécia, Espanha e
Itália, países nos quais foram aplicadas com dureza
as políticas de austeridade, têm registrado, desde o
ano 2008, uma queda sem precedentes do referido
crescimento.
Uma coisa semelhante aconteceu com o
déficit público dos seus Estados. Nos cinco maiores
países da União Europeia dos Quinze (EU-15), o
déficit público tem aumentado consideravelmente,
desde que explodiu a crise no ano 2007. Esta
situação é devida, como bem indica John Weeks (e
vários de nós também temos indicado) a duas causas.
Uma delas é a redução das receitas ao Estado, como
resultado do recuo da atividade econômica,
consequência das políticas de austeridade (que
tiveram como centro as reformas trabalhistas, cujo
objetivo era reduzir os salários e os cortes na
despesa pública).
A outra causa dos elevados déficits
tem sido a enorme despesa pública empregada para
resgatar os bancos e o setor financeiro.
A Espanha é um exemplo bem claro
disso. As contas do Estado espanhol passaram — em
conseqüência das políticas de austeridade e do
resgate bancário — de terem 2% de superávit para 11%
de déficit, em 2009.
E, inclusive, esta situação tem sido
pior para a dívida pública. Nestes cinco países com
as maiores economias da UE-15 (Reino Unido, Alemanha,
França, Itália e Espanha), houve um incremento da
dívida pública, de maneira que em 2013 todos eles
tinham uma dívida pública muito maior do que em
2007.
O GRANDE FRACASSO
Todos estes indicadores mostram com
muita clareza que a maneira de reduzir o déficit e a
dívida pública de um país não pode ser aplicando
políticas de austeridade. Estas políticas reduzem a
procura de bens e serviços, e com isso provocam uma
queda do crescimento econômico. E essa queda do
crescimento econômico gera menos recursos para o
Estado, aumentando o déficit e a dívida pública.
Dessa maneira cria-se um ciclo vicioso, que é a
paralisia na qual nos encontramos agora.
Já previmos isso no ano 2007, em
2008, em 2009, em 2010, em 2011, em 2012 e em 2013,
e assim até hoje. Os dados são demolidores, robustos
e convincentes, mas os neoliberais fazem ouvidos
moucos dos dados. Seu dogma alimenta-se da fé e não
das evidências. E assim vamos andando até hoje.
Acabo este artigo na hora em que
estou lendo outros, nos jornais de maior difusão do
país, escritos por economistas e, inclusive,
catedráticos de algumas das universidades de maior
prestígio da Espanha, que gozam de grande
visibilidade na mídia, os quais continuam ainda hoje,
apesar do enorme fracasso de tais políticas,
expressando sua oposição ao aumento da despesa
pública, questão que acontece em um país como a
Espanha que tem uma das despesas públicas (incluindo
a despesa social) mais baixas da EU-15. Acho isso
vergonhoso. (Other News)