Os desafios do
próximo
presidente do Egito
SETE vezes os egípcios têm comparecido nas urnas,
depois do colapso de Hosni Mubarak, em fevereiro de
2011, incluídas duas eleições presidenciais, a
última delas ganha pelo marechal Abdel Fatah al Sisi,
chefe do Exército quando do golpe militar, em julho
passado, que tirou do poder o governante eleito
democraticamente, Mohamed Morsi.
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Mulher
egípcia com um cartaz do candidato
presidencial Abdel Fatah al Sisi. |
Al Sisi, 59 anos, desfruta de grande popularidade
entre alguns setores egípcios por comandar, em julho
de 2013, o derrubamento de Morsi. O militar obteve
mais de 96% dos votos ante seu único contrário, o
político Hamdínm Sabbahi, de esquerda, que somente
teve 3% de apoio, numas eleições onde votou menos de
50% das pessoas inscritas. A posse do presidente
eleito será em 7 de junho, segundo meios
jornalísticos da região.
Na busca da estabilidade, Al Sisi deverá
enfrentar vários desafios e problemas em todos os
setores da vida cotidiana, no maior país do mundo
árabe, acirrados por causa dos turbulentos últimos
três anos.
ECONOMIA CAMBALEANTE
Estabilizar economicamente o país será a maior
dificuldade que enfrentará o novo governante egípcio,
devido ao panorama atual: o déficit fiscal e a
dívida pública aumentaram, desde 2011 até hoje,
atingindo 14% e aproximadamente 100% do PIB,
respectivamente. Devido à instabilidade política e à
insegurança, não existe investimento estrangeiro. Um
quarto da população (25,2%) vive na extrema pobreza,
o desemprego atinge 13% e, ao mesmo tempo, 70% dos
desempregados têm entre 15 e 29 anos. "Estes dois
problemas socialmente explosivos estavam entre as
principais causas que incitaram o levante popular
contra Mubarak, e os dois pioraram nos últimos três
anos", advertiu numa análise publicada no jornal
online Sada, o economista cairota Mohammed
Samhouri.
Para completar, a instabilidade e a insegurança
têm afetado o setor turístico (que representava
11,3% do PIB e proporcionava 12,5% do emprego), ao
ponto tal que o ano 2013 foi considerado pelo
governo como "o pior ano (para a indústria) na
história moderna" do país. A isto se acrescenta que
logo após do derrubamento de Morsi, boa parte do
pouco dinheiro existente nas arcas egípcias provém
de seus aliados da Arábia Saudita, Kuweit e dos
Emirados Árabes Unidos. Ainda se desconhece em troca
de quê se entrega esta ajuda (uns US$ 20 bilhões nos
últimos 10 meses) nem até quando vai durar.
SUBVENÇÕES VERSUS APOIO
Qualquer solução econômica em longo prazo
implicará algum corte aos amplos subsídios estatais,
sobretudo ao pão e ao combustível, que consomem
perto de um terço do orçamento nacional.
"Qualquer eliminação dos subsídios seria
politicamente custosa e requereria de um consenso
social, quase impossível de conseguir atualmente",
escreveu no jornal australiano The Sydney Morning
Herald, Adel Abdel Ghafar, especialista em temas
árabes da Australian National University.
INTERESSES DO EXÉRCITO
Ainda que seja popular, ter o apoio do poderoso
exército não garante a Al Sisi um futuro prometedor.
A instituição possui seu próprio império econômico e
qualquer reforma poderia afetar seus interesses, que
englobariam 40% de toda a economia egípcia, segundo
o jornal britânico The Guardian.
GRUPOS EXTREMISTAS
Desde 3 de julho passado até hoje, mais de 1.400
pessoas — a maioria seguidores de Morsi — têm sido
assassinados por policiais e soldados, segundo a
agência France Presse. Em resposta a esta
violenta repressão, centrada principalmente contra
os Irmãos Muçulmanos e seu entorno, os insurgentes
yihadistas têm multiplicado os atentados contra as
forças militares.
Embora seus ataques se concentrem na península do
Sinai, também houve alguns no Cairo. Por tal motivo,
nos dez meses decorridos desde o golpe de Estado, os
ataques extremistas já deixaram mais de 500 mortos,
segundo o jornal espanhol El Mundo. A maioria
deles foram reivindicados pelo grupo Ansar Beit al
Magdis. O governo interino tentou aplicar mão de
ferro e não funcionou. Al Sisi prometeu o mesmo. (Redação
do Granma Internacional e das agências)