Farisaísmo de
Miami
Lázaro Barredo Medina
EM Miami há um jornalista que
conhece muito sobre política local e não poucas
vezes tenta conservar as aparências do código da
objetividade da imprensa estadunidense. Estou
falando de Juan O. Tamayo, da equipe do jornal
The Miami Herald.
Tamayo não é um ingênuo e sabe muito
bem que, depois da chegada ao poder de Ronald Reagan
a partir de Washington se esteve lidando para buscar
"resolver o problema cubano", concebendo como forma
ideal mudar a imagem de Miami, para que não fosse o
governo estadunidense quem de maneira direta
continuasse determinando as ações contra o governo
revolucionário cubano, senão que fosse a emigração
cubana nos EUA a responsável por exigir as medidas
específicas.
Vários dos conselheiros de Ronald
Reagan reconheceram que tinham que resolver esse
problema, para desenvolver a estratégia concebida no
programa de Santa Fé: boa parte dos cubanos
"exilados" estavam associados ao terrorismo, às
operações sujas da Agência central de Inteligência
(CIA) e à violência.
Em Washington, precisavam mudar essa
imagem por uma mais renovada e potável e o
jornalista Juan O. Tamayo não é alheio a esta
história.
Faço estes esclarecimentos, porque
há uns dias o colega Tamayo publicou uma notícia no
El Nuevo Herald onde anunciava aos leitores a
seguinte informação, da qual tiro uns parágrafos:
Antonio "Tony" Calatayud, conhecido
ativista do exílio cubano e comentador da rádio de
Miami, foi preso por estar envolvido em uma fraude
sobre bens raízes que, segundo se alega, fez com que
os compradores perdessem um milhão de dólares.
Calatayud, 74 anos, tentou esconder
o rosto entre as mãos, durante a audiência, e disse
que se sentia "humilhado" por ter sido preso, em 4
de julho passado, mas que esperava impaciente o
julgamento no sentido de provar sua inocência.
A fiança estabelecida para o
veterano da Baía dos Porcos e ex-diretor de notícias
da WQBA La Cubanísima (1140AM), no início da
década de 1990, foi de US$ 95 mil. Na hora em que
foi preso, Calatayud dirigia um programa
anticastrista, todas as quartas-feiras, desde as 20h
até as 21h, na WHIM (1080AM).
Calatayud já tinha sido preso em
2003, acusado de enganar o estado da Flórida, em
mais de US$290 mil, ao apresentar mais de 1,300
faturas fraudulentas do Medicaid de sua farmácia,
primeira farmácia latina no 300 SW 107 Ave. Acabou
saindo com uma sentença de liberdade provisória, em
novembro de 2013.
O arquiteto aposentado Rafael Huguet
testemunhou que ele tem medo de uma retaliação
física por parte de Calatayud, bem como a
possibilidade de que o acusado cometeria mais
enganos, porque a fraude a seu grupo teve lugar
quando Calatayud ainda estava em liberdade
provisória, por causa do delito cometido em 2003.
"Eu tenho medo dele", disse Huguet,
e acrescentou que se for posto em liberdade, o
acusado poderia "aproveitar a chance para buscar
novas vítimas. Por favor, não permitam que isso
aconteça".
Por que Tamayo se refere a Tonito
Calatayud Rivera, um conhecido ativista do exílio
cubano, como se fosse um cidadão pacífico dedicado à
política?
Está longe de qualquer dúvida o
histórico de Antonio Calatayud Rivera "Tonito", que
saiu de Cuba ilegalmente, em 1960; foi recrutado de
imediato pela CIA e considerado um dos homens de
confiança da Agência.
A partir da década de 60 dirigiu
ataques terroristas contra as costas e embarcações
pesqueiras cubanas. Tem sido dirigente de
organizações terroristas como RECE (Representação
Cubana do Exílio), CORU, criada por Orlando Bosch e
Luis Posada Carriles, com as quais cometeu o crime
contra o avião cubano em Barbados, em 1976, entre
outras.
Tonito, e isso está muito bem
documentado nos dossiês do FBI, dirigiu ações
terroristas contra representações diplomáticas da
Colômbia, México e o consulado da França em Miami.
Por que o arquiteto Rafael Huguet,
ligado a estes setores do "ativismo" diz que tem
medo deste homem, caso for posto em liberdade
provisória?
Tanto Tamayo como Huguet sabem que
"estes ativistas do exílio" agem de acordo aos
códigos da máfia e existem muitas histórias em Miami
de ajustes de conta.
Tonito Calatayud irá tranquilo para
sua casa. A juíza do circuito de Miami-Dade, Maria
Elena Verde, indicou que ele não constituía risco de
fuga, mas deixou claro que não pode ter contato com
seus acusadores — nem sequer poderá mencioná-los em
nenhum programa de rádio — e impôs condições
estritas para deixá-lo em liberdade.
Seria preciso ver o que diz de tudo
isto o atual prefeito de Miami, "Tomasito",
advogado, jornalista e joalheiro.
Tomás Pedro Regalado Valdés, também
foi membro da CIA, amigo de "Tonito" em quase todas
as organizações contrarrevolucionárias e terroristas
do exílio, desde Abdala, Brigada 2506, Alpha 66 e
CORU, até a Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA).
Foi secretário da imprensa no Plano
Torriente, no início da década de 70, chamado assim
por seu executor em nome da CIA, José Elías de La
Torriente, que foi assassinado em sua casa por "vendettas"
entre estes grupos e que, como disse o porta-voz da
polícia, naquela época, "na morte do senhor
Torriente há tantos indícios como cubanos há em
Miami".
"Tomasito" esteve ligado
estreitamente aos principais dirigentes das
organizações chamadas anticastristas, participando
do roubo de parte dos fundos arrecadados.
Outro vínculo importante com Tonito
Calatayud é que Regalado tem sido um dos
responsáveis pela intolerância nos meios de
comunicação de Miami. É bem conhecido que entre
todas estas personagens existe uma espécie de "irmandade".
Por isso assombra a falsidade noticiosa nesses
artigo intitulado "Detenção de conhecido ativista do
exílio".