Armas químicas,
retorna a manipulação contra a Síria
Waldo Mendiluza
SÍRIA está
enfrentando uma nova cruzada do Ocidente e seus
aliados, acerca do emprego de armas químicas no
conflito, justamente quando está perto de cumprir
seu compromisso de destruir ou extrair do país esses
apetrechos bélicos.
As notícias
correm em uníssono. Damasco tirou ou extraiu dessa
nação do Levante mais de 90% das substâncias
perigosas e retornam aos grandes órgãos da mídia os
discursos ameaçadores, que atribuem ao governo o
emprego, por parte de suas tropas, de gás cloro em
vários recantos do país.
Trata-se de
um cenário que não é novo, pois no ano passado,
Estados Unidos anunciaram uma intervenção militar na
Síria, após terem acusado o governo do presidente
Bashar al Assad de empregar esse gás contra os
civis, apesar de carecerem provas de tais fatos.
Uma
iniciativa russa e a decisão de Damasco de aderir à
Convenção de Armas Químicas frustraram a aventura
bélica e provocou a aprovação de uma resolução do
Conselho de segurança das Nações Unidas, que pôs
como data topo o dia 30 de junho de 2014 para a
desmontagem dos gases perigosos.
Segundo o
embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, a nova
campanha procura, além do mais, afetar o processo
eleitoral em andamento nesse país árabe, onde
extremistas e mercenários apoiados com abundantes
recursos estrangeiros procuram derrubar Al Assad,
desde 2011, na trilha das intenções de mudar o
regime, promovidas por Washington e seus aliados.
“Rejeitamos
categoricamente o emprego das armas químicas e as
recentes alegações do emprego de gás cloro por parte
das tropas sírias ou grupos afiliados”, advertiu o
diplomata na véspera de um encontro com a imprensa,
após uma reunião do Conselho.
O órgão de
15 membros escutou, às portas fechadas, um relatório
da perita holandesa Sigrid Kaag, coordenadora da
Missão Conjunta da Organização para a Proibição das
Armas Químicas (OPAQ) e da ONU, para supervisionar a
desmontagem dos aparelhos.
Kaag
reconheceu os avanços no campo, apesar das condições
de insegurança próprias do conflito e da atuação dos
terroristas, os quais atacaram comboios que
transportam substâncias químicas e instalações do
porto de Latakia, onde são embarcados os agentes que
depois serão neutralizados no alto mar.
“Não só se
verificou um sólido avanço como também há indicações
bem claras do compromisso governamental de respeitar
e cumprir o prazo estabelecido (30 de junho), a não
ser que, naturalmente, continuem os ataques
terroristas aos comboios”, indicou Jaafari.
Nos últimos
dias, funcionários, diplomatas e meios de imprensa
ocidentais trouxeram à baila o tema do suposto
emprego de armas químicas pela Síria.
O
Departamento do Estado norte-americano assegurou que
investiga casos denunciados pelos extremistas e
lançou a advertência — mediante a porta-voz Jen
Psaki — de que “o emprego de qualquer agente tóxico,
com a intenção de provocar morte ou danos, é uma
clara violação da Convenção”.
Washington
manteve um estreito acompanhamento do processo de
destruição das armas químicas na Síria e aproveitou,
nos começos de ano, os atrasos no cronograma de
extração para ameaçar Damasco.
As
autoridades dessa nação atribuem a demora nas
operações que devem ser feitas no porto de Lakatia
aos ataques terroristas e a dificuldades logísticas,
situações enfrentadas com sucesso, a julgar pelos
avanços das últimas semanas e às próprias
declarações da Missão Conjunta OPAG/ONU.
Acabando o
ano 2013, uma equipe de cientistas atuando às ordens
das Nações Unidas verificou o emprego de substâncias
químicas na Síria, mas não acusou nenhum das partes
envolvidas no conflito.
Segundo os
especialistas, recolheram-se evidências “claras e
convincentes” do emprego do gás Sarin em Ghouta, em
21 de agosto, assim como elementos que indicam o
provável uso de armas químicas em Khan al Asar,
Jobar, Saraqueb e Ashrafiah Sahnaya, embora sem ter
podido verificá-lo, diante da falta de provas
determinantes.
Na hora do
relatório, Rússia asseverou que os artefatos letais
foram uma provocação para propiciar a intervenção
militar estadunidense nesse país árabe.
As denúncias feitas na véspera por Jaafari colocam
mais uma vez na mesa o emprego de campanhas contra
as armas químicas, com um salva-vidas para aqueles
que veem com preocupação os triunfos militares do
exército sírio e a determinação soberana de Damasco
de realizar eleições no dia 3 de junho. (PL)