Cem dias sem
sucessos
para primeiro-ministro francês
Carmen Esquivel
Sarría
NO início de julho, o primeiro-ministro
francês, Manuel Valls, completou os primeiros cem
dias no cargo, sem resultados específicos no seu
programa: reduzir o desemprego e aumentar o
crescimento econômico.
Valls foi indicado para o cargo pelo
presidente, François Hollande, depois da derrota do
governamental Partido Socialista (PS) nas eleições
municipais de 23 e 30 de março.
Hollande encarregou Valls, que até
esse momento era o ministro do Interior, a formação
de um gabinete "reduzido e de combate" para deixar
atrás o pesadelo sofrido nas urnas, onde o PS perdeu
151 cidades, passando ao segundo plano, atrás da
União por um Movimento Popular (UMP- conservadora) e
seus aliados.
Em seu primeiro discurso, o chefe do
governo prometeu reativar a economia, reduzir o
índice de greves e reduzir o déficit fiscal.
"Qualquer ação do governo deve estar
encaminhada a esses homens e mulheres que sofrem,
que têm medo do desemprego", disse.
Contudo, a última informação do
Ministério do Trabalho mostra um incremento
constante desse flagelo, que já afeta quase 3,39
milhões de pessoas.
Se somamos todas as categorias, isto
é, aqueles que trabalham tempo parcial ou com
salários reduzidos, o número poderia atingir os 5
milhões, cifra jamais vista no país.
Quanto ao PIB, tanto o Instituto
Nacional de Estatísticas, como o Fundo Monetário
Internacional, prognosticam um incremento de apenas
0,7%, três décimas abaixo das estimativas do
governo.
O primeiro-ministro defende como via
para relançar a economia a aplicação de um grupo de
reformas, onde é incluído o Pacto de
Responsabilidade, anunciado pelo presidente Hollande
no início do ano.
Na essência, o plano prevê um
drástico corte de 50 bilhões de euros na despesa
pública para 2017, quando termina a atual
administração.
Desse dinheiro, 30 bilhões servirão
para financiar isenções fiscais ao setor privado, em
troca de novas fontes de trabalho e investir mais no
país.
Com o resto se buscará o equilíbrio
das finanças públicas e a redução do déficit fiscal
para menos de 3% do PIB, como exige a União
Europeia.
Este programa provocou críticas de
dirigentes políticos, inclusive dentro do PS, bem
como dos grêmios, que o consideram um presente aos
donos, sem exigir garantias em troca.
De fato, a principal central
sindical do país, a Confederação Geral do Trabalho,
e outras agrupações como Força Operária, Solidários
e a Federação Sindical Unitária rejeitam a política
econômica e social do executivo, os cortes do
orçamento, as vantagens fiscais outorgadas aos
empresários, o aumento dos anos de cotação dos
assalariados para terem direito a uma pensão
completa, entre outras medidas.
"A austeridade representa um risco
para o bem-estar social, para a economia e inclusive
para a democracia", disse o máximo dirigente de
Força Operária, Jean-Claude Mailly.
Durante os últimos três meses, o
governo tem enfrentado várias greves, entre elas a
dos ferroviários contra um plano de privatização do
setor, e agora a dos trabalhadores temporais do
espetáculo, que se opõem ao corte dos subsídios.
Por seu lado, o Partido Socialista
depois da derrota nas eleições municipais, também
sofreu um revés nas eleições para o Parlamento
Europeu, onde passou do segundo ao terceiro lugar,
atrás da Frente Nacional (extrema direita) e da
conservadora UMP.
Os analistas atribuem estes
resultados ao descontentamento da cidadania com os
partidos tradicionais e à continuação das políticas
de ajuste aplicadas na União Europeia, com o
fim de enfrentar a crise iniciada em 2008.
Cem dias depois de sua chegada ao
Palácio de Matignon (sede do governo), Valls ainda é
o melhor ministro do executivo, se bem sua
popularidade despencou em mais de 15%.
Relativamente ao seu desempenho, uma
pesquisa publicada pelo portal Francetv info
assinala que uma ampla maioria de franceses
desestima os resultados de sua gestão.
Perguntados sobre se o primeiro-ministro
tem tido sucesso em seus primeiros cem dias, 76,2%
responderam que não; 19,3 disseram o contrário e 4,5
não se pronunciaram. (Excertos extraídos da PL)