Consulta e eleições, variante
independentista da Catalunha
Miguel Lozano
UMA consulta alternativa e possíveis eleições
plebiscitárias marcam hoje o novo capítulo do
enfrentamento entre o movimento independentista
catalão e o governo espanhol, cheio de manobras,
passeatas e contramarchas políticas. O presidente
catalão, Artur Mas, inflamou, mais uma vez, as
paixões ao anunciar uma consulta cidadã, em 9 de
novembro próximo, em lugar dum referendo a favor da
independência, aprovado pelo parlamento regional,
que foi suspenso pelo Tribunal Constitucional.
Embora restassem detalhes por conhecer acerca da
iniciativa, Mas informou que seu governo colocará
urnas e entregará cédulas eleitorais para conhecer o
critério dos catalães acerca do futuro dessa região
do norte da Espanha onde se registra um forte
movimento separatista.
Mas considera que esse exercício pode ser
acompanhado de eleições plebiscitárias, onde
participariam os partidos independentistas em bloco
ou com acordo prévio de favorecer a separação, caso
triunfar.
Caso resultar triunfante essa opção, o novo
parlamento catalão nasceria — segundo esse projeto —
com o mandato de declarar a independência e
comunicar a decisão ao governo espanhol e à União
Europeia.
Quanto à consulta de 9 de novembro, supõe-se que
terá uma pergunta igual ou similar à estabelecida
para o referendo suspenso, na mesma data deste, mas
convocada e organizada pelo governo em lugar do
Parlamento.
Segundo seu critério, será difícil proibir esta
opção porque as autoridades regionais têm o direito
de convocar os cidadãos a consultas, se bem
reconhece que a variante reduz o consenso atingido
pelas forças que apoiam a separação.
Para várias dessas correntes, a consulta
alternativa carece das garantias dum referendo e
isso afeta a unidade mantida, apesar da suspensão
por parte do Tribunal Constitucional, graças à
promessa de Mas de continuar com o processo.
Esquerra Republicana da Catalunha, um dos partidos
regionais mais fortes, exige uma declaração
unilateral de independência imediata, seguida dum
processo constituinte.
Nesse contexto, a variante da consulta alternativa
fica a meio caminho dos independentistas mais
radicais, mas tampouco foi bem recebida pelos
inimigos do referendo e a separação.
Numa das primeiras reações, o ministro da Justiça,
Rafael Catalá, adiantou que se a votação se faz a
partir da mesma pergunta do referendo, o governo
espanhol voltará a impugná-la ante o Tribunal
Constitucional e não poderá ser efetuado.
Segundo o ministro, os governos autonômicos podem
fazer consultas sem exceder-se, mas na opinião do
governo central a iniciativa independentista é
assunto de todos os espanhóis e não de uma parte,
pois constitui um tema de soberania e
territorialidade.
A nova variante foi rejeitada pelo Partido Popular
(no governo) e pelo Partido Socialista Operário
Espanhol, enquanto Esquerda Unida (IU), a terceira
força política, criticou tanto a posição de Mas como
a do chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy.
O porta-voz de Esquerda Plural (agrupação de
partidos dessa tendência, liderados por IU), José
Luis Centella, considerou mais honesto realizar uma
consulta legal e enfrentá-la com naturalidade.
A declaração de Centella, pouco depois de conhecer
a nova iniciativa, coincide com a posição desse
partido, o qual apoia o direito de qualquer região a
pronunciar-se sobre sua forma de Estado, mas não
apoia a independência.
O próprio Centella qualificou recentemente de
péssima solução para o povo catalão separar-se da
Espanha e advogou por um estado plural,
multinacional, e prurilinguista, de forma a garantir
a convivência e o progresso da Espanha.
Embora existam interrogações, os acontecimentos
indicam que a longa saga catalã continuará com duas
posições diametralmente enfrentadas, quaisquer das
decisões que sejam tomadas futuramente: referendo,
consulta ou eleições plebiscitárias. (PL)