Nigéria, o
terrorismo e as eleições
Sam Olukoya
LAGOS, Nigéria.— Os nigerianos
começam a aceitar uma realidade onde em cada esquina
pode aparecer um terrorista suicida, graças ao
contrabando constante de armas sofisticadas que
entram ao país pelas fronteiras da África ocidental.
O primo de Ngupar Kemzy, Andy Nepli,
32 anos, disse-lhe que tinha previsto passar as
férias da Páscoa cristã com ele.
Porém, dois dias depois, em 14 de
abril, Nepli tornou-se uma das 75 pessoas que
morreram, por causa de duas explosões potentes, num
terminal rodoviário, lotado de pessoas em Nyanya, um
subúrbio de Abuja.
Os corpos ficaram tão destroçados
que foi muito difícil a identificação de muitas das
vítimas.
Nessa mesma noite, 129 jovens foram
sequestradas numa escola pública de ensino
secundário, em Chibok, no estado de Borno, no
nordeste do país. Até agora, um total de 44
conseguiram fugir ou foram libertadas, enquanto o
resto permanece desaparecido.
Boko Haram, organização que emprega
a violência para instalar um regime islâmico na
Nigéria, atribuiu-se a responsabilidade pelo
atentado. Também é responsável pelo sequestro das
jovens.
O grupo extremista lança mão de
bombardeios, sequestros, queima aldeias inteiras e
assassina seus moradores, como parte de sua
estratégia.
Boko Haram opera principalmente no
nordeste da Nigéria e se pensa que tem vínculos com
a rede extremista Al Qaeda, no Magreb islâmico, e
com seu aliado na Somália, Al Shabaab.
Além da insurgência fundamentalista
islâmica, outros grupos étnicos armados também
operam no centro da Nigéria.
A crise acirrou quando os agressores
passaram de utilizar paus, machados, garrotes e
espingardas a armas mais letais e avançadas, como
metralhadoras, granadas e mísseis.
"Os que utilizam estas armas
modernas adquiriram uma audácia que jamais teria
sido possível com outras mais rudimentares", afirmou
Steve Obodokwe, do Centro para o Meio Ambiente, os
Direitos Humanos e o Desenvolvimento.
"Com estas armas modernas, os grupos
armados são capazes de reunir a coragem necessária
para atacar, inclusive, os quartéis militares",
disse.
Pensa-se que o contrabando de armas
tem sido possível em consequência dos conflitos
armados em países como Líbia e Mali.
O ex-ministro da Defesa da Nigéria,
Olusola Obada, declarou que parte das armas foram
tiradas dos arsenais da Líbia, durante a crise de
2011, que terminou com o assassinato do líder
Muammar Gadafi, no poder desde 1969.
Também se pensa que algumas das
armas, especialmente as que utilizou Boko Haram,
entraram na Nigéria através da rede Al Qaeda.
"Não seria insensato sugerir que
algumas das armas na Nigéria foram facilitadas por
grupos islâmicos na Somália e Mali", assinalou
Obodokwe.
Com seus vínculos com Al Qaeda e com
o fornecimento destas armas, esta organização
realizou ações terroristas de alto perfil na
Nigéria, como os ataques contra bases militares e os
atentados com bomba, em 2011, contra esquadras da
polícia nacional e edifícios das Nações Unidas em
Abuja.
"O sucesso de Boko Haram alentou
outros grupos a tomarem as armas contra seus
inimigos, sabendo que as forças de segurança são
incapazes de detê-los", afirmou o coordenador
nacional da rede para a pacificação da África
ocidental, Ifeanyi Okechukwu, que trabalha com
organizações internacionais para impedir os
conflitos armados.
O International Crisis Group,
organização independente que trabalha pela paz,
afirma que somente a insurgência de Boko Haram
provocou "o deslocamento de cerca de 0,5 milhão de
pessoas, destruiu centenas de escolas e edifícios do
governo e arruinou a já devastada economia do
nordeste, uma das zonas mais pobres da Nigéria".
Esta organização teme que a
insurgência se espalhe "a outras partes do norte e
chegue ao Níger e aos Camarões, países fracos e mal
equipados para combater um grupo islâmico radical
armado".
Alguns nigerianos começam a perder a
fé na capacidade das forças de segurança para deter
Boko Haram e outros grupos extremistas. Mas o
governo afirma que vai vencer a guerra contra o
terrorismo.
"O terror não vai impedir que a
Nigéria atue. Os terroristas e aqueles que os
patrocinam não vão impedir que este país atue",
declarou o presidente do país, Goodluck Jonathan,
durante um encontro político, um dia depois dos
atentados no terminal rodoviário de Abuja.
No ano próximo, a Nigéria celebrará
eleições gerais.
Neste país, a campanha eleitoral se
caracteriza por políticos que armam seus partidários
na busca do poder. Mas com tantos grupos armados e
armas de fogo ilegais em circulação, a preparação
para as eleições de 2015 poderia chegar a ser
demasiado para a Nigéria. (Fragmentos extraídos
da IPS)