Vladimir Putin assina decreto para
oficializar adesão da Crimeia à Rússia
CRIMEIA já faz parte da Rússia. Assim foi
oficializado, depois que em 18 de março
o presidente russo, Vladimir Putin e os líderes da
Crimeia e Sebastopol assinassem no Kremlin um acordo
bilateral para a adesão da “nova república
independente” e sua cidade como parte da Federação
Russa.
Na
ocasião, o chefe de Estado da nação euroasiática
afirmou que Crimeia é “terra santa russa”. “Tudo tem
um limite” e Washington “o transgrediu” na Ucrânia,
assinalou, acusando-o de estar acostumado a atuar
segundo a lei do mais forte, se referindo ao apoio
da Casa Branca e do ocidente ao regime de fato
instaurado pela força em Kiev.
Putin pediu ao Parlamento, aos governadores e aos
membros do governo para adotarem uma normativa para
acelerar o processo: “proponho à Assembleia federal
— as duas câmaras do Parlamento russo — que adote
uma lei para incorporar na Federação Russa duas
novas entidades, Crimeia e a cidade de Sebastopol”,
disse o presidente russo.
Segundo alguns meios jornalísticos, o decreto
assinado pelo presidente russo começou a reger de
forma imediata e inclui um reconhecimento para o
“status autônomo especial” de Sebastopol, a cidade
onde a Rússia tem sua frota do mar Preto.
A
assinatura teve lugar em cerimônia solene ante o
pleno do Parlamento russo e os chefes de todas as
regiões russas, reunidos na Sala San Jorge do Grande
Palácio do Kremlin.
ALGUNS DADOS PARA COMPREENDER A CRIMEIA
1.
Apesar de fazer parte da Ucrânia, a maioria dos
cidadãos da Crimeia é de origem russa. Segundo o
último censo demográfico nacional de 2001, a
composição da população é a seguinte: 58% russos,
32% ucranianos e 10% tártaros.
2.
Em Sevastopol, a cidade mais importante da Crimeia,
Rússia tem a base de sua frota do mar Negro. Segundo
o último acordo assinado com o governo ucraniano,
Rússia manteria esse porto até pelo menos o ano
2042. “Rússia jamais, jamais abandonará Sevastopol”,
expressava há dois anos o comandante da frota russa
do mar Negro, Igor Kasatonov. Por razões
geoestratégicas, a Rússia não está disposta a perder
a base de Sevastopol.
3.
Dentro da Ucrânia, Crimeia é uma região autônoma com
sua própria Constituição. Nas últimas eleições
presidenciais, Crimeia votou majoritariamente em
Viktor Yanukovich,
o presidente que teve que fugir há uns dias de Kiev,
devido a um levante armado fascista, apoiado pelo
governo dos EUA e pelas potências da Europa
Ocidental.
4.
Os tártaros constituíram durante séculos a maioria
da população da Crimeia. Na Segunda Guerra Mundial,
uns 20 mil tártaros colaboraram com o exército
nazista (enquanto outros milhares lutavam nas
fileiras do exército soviético). Stalin acusou o
povo tártaro de “colaboracionismo” e em maio de 1944
ordenou sua deportação para as estepes de
Uzbequistão. Em 1947, já não havia tártaros na
Crimeia. Após o colapso da União Soviética, muitos
tártaros retornaram do Uzbequistão para a Crimeia.
5. A
Crimeia, com maioria tártara, fez parte da Rússia
desde 1774. Em 1954, o líder soviético na época,
Nikita Kruschev, transferiu Crimeia para a República
Socialista Soviética da Ucrânia. A decisão foi muito
polêmica em Moscou. Durante sua carreira como
político, Kruschev tinha ascendido através das
fileiras do Partido Comunista Ucraniano.
6.
Em uma enquête realizada há dois anos na Rússia, 70%
dos cidadãos russos consideravam Crimeia como parte
de seu país. Em comparação, somente 30% considerava
Tchetchênia parte da Rússia. (Curiosamente, a
Tchetchênia faz parte da Rússia, enquanto a Crimeia
faz parte da Ucrânia).
As
minorias ucraniana e tártaras apoiam o governo
ucraniano de fato e exigem continuar integrados na
Ucrânia.
RECUADRO...
•
COM 100% dos votos contados, “o número dos votos dos
participantes do referendo que apoiaram a adesão à
Rússia, com os direitos da Federação Russa, foi de
1.233.002, isto é, 96,77% dos votantes”, disse o
chefe da comissão do referendo na Crimeia, Mikhail
Malyshev, ao resumir os resultados finais do
referendo.
A
participação final foi de 1.274.096 pessoas, o que
representa 83,1% dos votantes. Somente 2,51% dos
participantes apoiou a permanência na Ucrânia.
No
escrutínio de Sevastopol, segundo o chefe da
comissão eleitoral da cidade, Valeri Medvédev, 95,6%
dos votantes se expressaram a favor da reintegração
na Federação da Rússia. Em Sevastopol, 89,5% dos
eleitores participaram do referendo.
Com
certeza, a aspiração da Crimeia de querer separar-se
da Ucrânia está desmontando o plano dos EUA e das
potências ocidentais de tomar o controle do país
mais importante para a segurança nacional russa.
A
gravidade da situação reside em que está em jogo,
nada mais nada menos, que o controle da Eurásia,
questão que o estrategista britânico Sir Mackinder
chamou de The Hertland (O coração do mundo),
imprescindível para controlar o mundo.
OBAMA ANUNCIA SANÇÕES DERIVADAS DO REFERENDO DA
CRIMEIA
O
presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou sanções
contra sete funcionários russos, após os resultados
do referendo de domingo (16), na Crimeia.
Os
funcionários são Vladislav Surkov (ajudante do
presidente da Federação Russa), Sergey Glázyev
(conselheiro presidencial); Leonid Slutsky (deputado
da Duma Estatal); Andrei Klishas (presidente do
Comitê de Direito Constitucional, Assuntos Jurídicos
e Judiciais e de Desenvolvimento da Sociedade Civil,
do Conselho da Federação da Rússia); Valentina
Matviyenko (porta-voz do Conselho da Federação);
Dimitry Rogozin (primeiro-ministro russo) e Yelena
Mizúlina (deputada da Duma Estatal).
Ainda, também foram impostas sanções ao
primeiro-ministro da Crimeia, Serguéi Aksiónov; ao
presidente do Parlamento, Vladimir Konstantinov e ao
presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukóvich.
A
medida supõe o bloqueio de propriedades e contas que
os sancionados tenham nos EUA, bem como a proibição
de entrar no território norte-americano.
Os
ministros dos Assuntos Exteriores da União Européia
também acordaram sancionar 21 dirigentes russos e
ucranianos pelo referendo de independência da
Crimeia.
Por
sua vez, o primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin,
incluído na relação, não demorou em reagir, através
do Twiter, com a seguinte mensagem: “Senhor Obama, o
que deveríamos fazer aqueles que não temos contas
nem propriedades no estrangeiro? Ou será que não
pensou nisso? (SE)