Somos 24 milhões
Kumuênho da Rosa
O Presidente
da República, José Eduardo dos Santos, defendeu a
ponderação à pressa na preparação das eleições
autárquicas e propôs que os deputados se debrucem, o
quanto antes, sobre um calendário de tarefas que
inclua a adequação da legislação eleitoral, a
actualização do registo eleitoral para as Eleições
Gerais de 2017, e a produção da legislação para as
Autarquias Locais e para a realização de Eleições
Autárquicas.
Apontado
na véspera como um dos temas mais esperados da
Mensagem do Presidente da República sobre o estado
da Nação, ponto mais alto da reunião solene de
abertura do ano legislativo, as eleições autárquicas
tiveram, de facto, um tratamento diferenciado do
mais alto magistrado da Nação. O Chefe de Estado foi
bastante exaustivo e deixou claro que por ser um
“grande desejo dos angolanos”, as eleições
autárquicas têm estatuto de prioridade também para o
Executivo.
José Eduardo
dos Santos lembrou, porém, que decorre da própria
Constituição que a oportunidade da criação,
alargamento gradual de competências, doseamento da
tutela de mérito entre a administração local do
Estado e as autarquias locais, são determinados por
lei emanada de órgãos competentes do Estado,
“incluindo o Parlamento”. “São várias as questões
que estes órgãos têm de tratar até que sejam
reunidas as condições necessárias para a criação das
autarquias”, disse o Presidente da República.
O Chefe de
Estado alertou para o tempo que, por certo, leva a
negociação e discussão dos diplomas legislativos
para a legitimação e adequação jurídica do processo
autárquico. Recordou que só a discussão da revisão
da legislação eleitoral em que se basearam as
Eleições Gerais de 2012 levou mais de um ano, e para
2017 há que ter em conta o processo de registo
eleitoral para as Eleições Gerais e para as Eleições
Autárquicas.
Evitar a pressa
“São
assuntos muito sérios para apreciar e para se
clarificar o calendário de tarefas a realizar nos
dois processos eleitorais. Penso que todos queremos
dar passos firmes em frente para aprofundarmos o
nosso processo democrático”, defendeu o Presidente,
que avisou: “é melhor evitar a pressa para não
tropeçarmos”.
José Eduardo
dos Santos propôs que seja definido no Parlamento,
em primeiro lugar, um calendário de tarefas a
realizar para concretizar os dois processos
eleitorais e só depois passar a acção. O Chefe de
Estado encerrou a abordagem do tema com um apelo à
unidade e à coerência, pois como disse, há que
trabalhar de forma unida e coerente para a
concretização desse grande desejo dos angolanos, ao
invés de transformar o assunto num tema de
controvérsia e retórica político-partidária.
Na mensagem
sobre o estado da Nação, o Presidente da República
realçou os “importantes progressos” em vários
objectivos nacionais, como a consolidação da paz e
unidade nacional, do Estado e das instituições
democráticas, e o aperfeiçoamento das políticas
públicas e melhoria gradual dos resultados.
O Chefe de
Estado considerou um facto que a paz em Angola
“consolida-se todos os dias”, tudo porque os
angolanos decidiram “virar para sempre a página da
guerra e têm a paz como o maior bem da Nação a
preservar”.
“Continuar a
consolidar a paz e a unidade nacional e trabalhar
para se alcançar a inclusão social, o progresso e o
bem-estar de todos, é o desejo comum de todos os
que querem a edificação de uma Angola democrática,
moderna e próspera”, afirmou o Presidente que
destacou os “grandes progressos” na consolidação das
instituições democráticas.
Qualidade do debate
O Chefe de
Estado elogiou os deputados pelo aumento da produção
legislativa, mas também pelo aumento qualitativo e
quantitativo da “crítica construtiva”, que com o
passar do tempo vai superando a “discussão estéril
sem objectivos claros”. José Eduardo dos Santos
disse que o Executivo procura “seguir o mesmo
caminho”, ao aperfeiçoar a organização e
funcionamento, com vista a melhorar a sua prestação.
Ainda no que
se refere às instituições democráticas, o Presidente
da República destacou a reforma da Justiça e do
Direito, mas também dos tribunais. “Esses esforços
visam também a melhoria da convivência política, no
respeito pela diversidade e preservação das
liberdades, garantias e direitos dos cidadãos”.
Números do Censo
O Presidente
destacou os resultados preliminares do Recenseamento
Geral da População e Habitação, operação que
considerou “grandiosa, complexa e bem sucedida”,
que deve orgulhar a todos os angolanos. Os números
apresentados causaram impacto. Desde logo porque
permitiu apurar que a população angolana é de 24.3
milhões de habitantes, sendo 52 por cento do sexo
feminino.
Mas os dados
preliminares do Censo Geral da População e Habitação
indicam ainda que a província de Luanda concentra
26,7 por cento da população do país, à frente da
Huíla com 10 por cento, de Benguela e Huambo com
oito por cento cada uma, Cuanza Sul com sete por
cento, Bié e Uíge com seis por cento cada uma. As
sete províncias concentram 72 por cento do total da
população residente no país.
Entre as
províncias com menos habitantes, Bengo tem apenas um
por cento da população do país. Outras cinco
províncias (Cuanza Norte, Namibe, Zaire, Cuando
Cubango e Lunda Sul) apresentam-se com uma população
inferior a três por cento do total da população.
O Presidente
da República disse que os resultados do Censo Geral
da População há muito que eram esperados. Agora as
instituições dispõem, finalmente, de uma boa base
para formular a Política Nacional de População e a
Política Nacional de Ordenamento e Desenvolvimento
do Território, instrumentos essenciais que vão
permitir estudar as melhores vias para alcançar os
objectivos do Plano Nacional de Desenvolvimento.
O Chefe de
Estado falou do novo modelo de desconcentração
administrativa e de administração local de Luanda.
“A enorme concentração de população na capital
tornou indispensável a adopção de um novo modelo de
desconcentração administrativa e de administração
local diferenciado das demais províncias, para se
fazer face aos seus crescentes problemas de
ordenamento, saneamento, mobilidade urbana, ordem
pública e combate à criminalidade e à imigração
ilegal”.
Nem tudo são rosas
Mas nem tudo
foram boas notícias na mensagem do Presidente da
República sobre o Estado da Nação. Em tom de apelo
à reflexão colectiva, o Chefe de Estado falou da
quebra, ainda que ligeira, nas receitas fiscais do
sector petrolífero como resultado da queda da
produção de petróleo, 10 por cento abaixo do
programado, e, embora sem especificar, anunciou
medidas para “maior racionalidade da despesa” até
Dezembro.
“Até ao fim
do mês de Outubro vou submeter, para apreciação dos
senhores deputados, a proposta do Orçamento Geral do
Estado para o ano de 2015 e, nessa ocasião, serão
detalhadas as acções que o Executivo deverá
implementar com vista a manter a estabilidade
macroeconómica num contexto internacional incerto e
difícil”, declarou.
Desde Junho
que se assiste à queda do preço do petróleo bruto,
oscilando entre os 81 e 85 dólares por barril, um
revês para a economia angolana na medida em que o
preço de referência para o cálculo do OGE de 2014 é
de 98 dólares por barril.
A produção
não petrolífera, entretanto, segue no sentido
inverso. Segundo o Chefe de Estado, espera-se que
cresça 8.2 por cento, ainda assim insuficiente para
compensar o efeito da redução da produção
petrolífera. “A taxa de crescimento do PIB prevista
no princípio do ano que era de 6,7 por cento, poderá
baixar ligeiramente”, sublinhou.
O Presidente
da República anunciou a redução de impostos, no
quadro da reforma fiscal. Explicou, no entanto, que
a reforma em curso procura aumentar a base de
incidência e garantir uma maior eficiência na
arrecadação da receita tributária. “É com este
objectivo que o Governo aprovou recentemente a
criação da Administração Geral Tributária,
unificando num único órgão de Administração Pública
os actuais serviços de Alfândegas e a Direcção
Nacional dos Impostos”.
O Presidente
da República considerou a diversificação da
actividade económica e da produção, em particular,
“tarefa urgente e inadiável” para o futuro do país e
“uma mais efectiva independência nacional”.
O Chefe de
Estado considerou asseguradas a estabilidade
política e social e a estabilidade macroeconómica e
apontou o crescimento como o grande desafio que se
coloca para todos os angolanos. “Nós definimos como
estratégia para conseguir um crescimento sustentado
por vários anos, a reabilitação, modernização e
desenvolvimento das infra-estruturas económicas e
sociais, a promoção e realização do investimento
público e privado e a formação, qualificação e
gestão adequada dos recursos humanos, bem como a
adopção de uma política laboral e remuneratória
objectiva”.
Projectos Estruturantes
O Presidente
da República disse ser nesta senda que estão em
execução 11 programas de projectos estruturantes,
que visam criar condições para que a médio prazo a
economia nacional se torne mais competitiva e possa
competir com as economias da região, fazendo crescer
e distribuir melhor a riqueza nacional.
O Presidente
falou da aposta nas vias de comunicação, com a
reabilitação e construção de estradas na rede
fundamental, na rede secundária e nas vias
terciárias, assim como reabilitação e construção de
portos, aeroportos e terminais de transportes na
capital do país e nas demais províncias.
De forma
gradual e criteriosa, disse o Chefe de Estado,
começaremos a construir a Rede de Plataforma
Logística Nacional, que vai articular diferentes
infra-estruturas e sistemas de transporte. Segundo o
Presidente, vão ser priorizadas as zonas de comércio
fronteiriço mais amplas como o Luvo, na província do
Zaire, Luau (Moxico), Santa Clara (Cunene) e Massabi
(Cabinda), numa acção que busca aumentar a
influência angolana nos países vizinhos, reforçar a
segurança e conter a imigração ilegal.
O Presidente
da República também falou do programa de
desenvolvimento de infra-estruturas no sector de
telecomunicações, cuja eficiência e
operacionalidade, constitui um “factor decisivo de
diversificação e integração da economia e do
território nacional”, mas também um “instrumento de
autonomia e soberania nacionais, de bem-estar dos
cidadãos e de competitividade das empresas num mundo
cada vez mais global e interdependente”.
Segundo o
Chefe de Estado, a aposta nesse sector vai da
generalização da fibra óptica ao sistema de cabos
submarinos internacionais, até às telecomunicações
por satélite, com o programa de construção de um
satélite angolano (projecto ANGOSAT). No domínio da
energia, falou da ampliação da barragem de Cambambe,
a construção da barragem de Laúca e da Central do
Ciclo Combinado do Soyo, que vai aumentar a potência
instalada dos cerca de dois mil e 162 megawatts
actuais para cerca de cinco mil megawatts até 2017.
Água para Todos
O Presidente
lembrou aos deputados o programa “Água para Todos”,
que tem como meta até ao final deste ano beneficiar
65 por cento da população. Uma grande prioridade é
assegurar o abastecimento de água às populações mais
atingidas pela seca e materializar os projectos de
construção de sistemas de abastecimento de água para
132 sedes de município.
Mensagem sobre o estado da Nação
do Presidente da República
SENHOR
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL,
SENHORES
DEPUTADOS,
ILUSTRES
CONVIDADOS,
CAROS
COMPATRIOTAS,
É sempre com
renovado prazer que perante a Assembleia Nacional
pronuncio a Mensagem sobre o Estado da Nação. E o
meu prazer é ainda maior quando posso hoje afirmar
diante de todos que a situação política do país é
estável.
A paz
consolida-se todos os dias graças ao espírito de
tolerância, de compreensão, reconciliação e perdão
de todos os angolanos, que independentemente da sua
filiação partidária, credo religioso ou região
viraram para sempre a página da guerra e têm a paz
como o maior bem da Nação a preservar.
Continuar a
consolidar a paz e a unidade nacional e trabalhar
para se alcançar a inclusão social, o progresso e o
bem-estar de todos, é o desejo comum de todos os
que querem a edificação de uma Angola democrática,
moderna e próspera.
Os partidos
políticos, a sociedade civil e as igrejas promovem
campanhas de consciencialização e educação para a
paz e a democracia, baseadas nos valores da
liberdade, do respeito mútuo e da opinião alheia,
tolerância, harmonia social, fraternidade e
solidariedade.
Os nossos
esforços estão agora orientados no sentido da
consolidação das instituições democráticas, onde,
diga-se em boa verdade, registamos grandes
progressos. Aqui mesmo nesta Casa das Leis o debate
político é mais frequente, aumentou em qualidade e
quantidade a crítica construtiva e está a superar a
discussão estéril, sem objectivos claros.
Aumentou
também a produção legislativa e a preocupação em
atender as expectativas dos cidadãos. O Executivo
procura seguir o mesmo caminho, aperfeiçoando a sua
organização e funcionamento, para prestar melhor
serviço público aos governados.
O Poder
Judicial está a realizar uma grande reforma da
Justiça e do Direito e a reforma dos Tribunais.
Esses esforços visam também a melhoria da
convivência política, no respeito pela diversidade e
preservação das liberdades, garantias e direitos dos
cidadãos.
A sociedade
civil e os diferentes actores não estatais
multiplicam as suas iniciativas. O Fórum da
Juventude, o Fórum da Mulher Rural e mesmo o
Festival Nacional da Cultura (FENACULT) são exemplos
de criação de novos espaços de auscultação e diálogo
ou de afirmação da nossa identidade cultural, que
vão ter continuidade nos próximos anos.
SENHORES
DEPUTADOS,
No passado
mês de Maio realizámos o primeiro Recenseamento
Geral da População e Habitação, depois da
Independência Nacional. Foi uma realização grandiosa
e complexa, bem sucedida, de que nos devemos
orgulhar todos.
Os primeiros
resultados preliminares dizem-nos que o país tem 24
milhões e 300 mil habitantes, sendo 52 por cento do
sexo feminino. Portanto, as mulheres constituem
claramente a maioria da população de Angola.
A província
de Luanda concentra 26,7 % (por cento) da população
do país, isto é, seis milhões e meio de habitantes.
Seguem-se as províncias da Huíla com 10 por cento,
de Benguela e Huambo com 8 por cento cada uma,
Cuanza-Sul com 7 por cento, Bié e Uíge com 6 por
cento cada uma. Estas sete províncias concentram 72
% (por cento) do total da população residente no
país.
A província
do Bengo registou o menor número de residentes com
1% (por cento) da população do país. Seguem-se
outras cinco províncias com uma população inferior a
3 por cento da população nacional, designadamente as
do Cuanza-Norte, Namibe, Zaire, Cuando-Cubango e
Lunda-Sul. Estas seis províncias concentram apenas
11% (por cento) da população do país.
Há muito que
ansiávamos por estes resultados. Temos, finalmente,
uma boa base para formular a Política Nacional de
População e a Política Nacional de Ordenamento e
Desenvolvimento do Território, que são essenciais
para estudarmos as vias que nos permitam alcançar
os objectivos do Plano Nacional de Desenvolvimento.
A enorme
concentração de população na capital tornou
indispensável a adopção de um novo modelo de
desconcentração administrativa e de administração
local diferenciado das demais províncias, para se
fazer face aos seus crescentes problemas de
ordenamento, saneamento, mobilidade urbana, ordem
pública e combate à criminalidade e à imigração
ilegal.
SENHORES
DEPUTADOS,
Se é verdade
que a paz e a estabilidade política são bens
preciosos, não é menos verdade que devemos garantir
também a estabilidade económica, sem a qual muito se
pode perder.
A situação
económica e social do país é estável e a sua gestão
macroeconómica tem sido conduzida com a necessária
atenção, para se garantir o cumprimento dos
indicadores estabelecidos no Orçamento Geral do
Estado 2014, aprovados por esta augusta Assembleia.
A taxa de
inflação que em 2013 foi de 7,7 % (por cento), a
mais baixa de sempre, situou-se no primeiro semestre
do corrente ano em 6.9% (por cento). Por outro lado,
a taxa de câmbio da moeda nacional tem-se mantido
estável.
Em 2013 e no
primeiro semestre de 2014, as receitas fiscais
provenientes do sector petrolífero baixaram
ligeiramente, devido à queda da produção em dez por
cento do programado, que, como sabem, é de 1 milhão
e 815 mil barris/dia. Pensamos começar a inverter
esta trajectória no próximo ano.
Este ano,
como sabem também, as economias dos países
desenvolvidos não vão cumprir certamente a previsão
de crescimento de 1.8 % (por cento). Alguns países
de desenvolvimento médio também experimentam
dificuldades e a procura mundial de petróleo está a
baixar, havendo assim um excesso desse produto no
mercado internacional.
Por essa
razão, o preço do petróleo bruto está a descer desde
Junho último, estando hoje a oscilar entre os 81 e
85 dólares por barril, quando o preço de referência
com que calculámos o OGE de 2014 é de 98 dólares
por barril.
Assim, o
Produto Interno Bruto Petrolífero deverá baixar 3.5
% (por cento). A produção não petrolífera, em
contrapartida, deverá crescer 8.2 % (por cento), mas
ainda assim insuficiente para compensar o efeito da
redução da produção petrolífera. Portanto, a taxa de
crescimento do PIB prevista no princípio do ano que
era de 6,7 % (por cento), poderá baixar
ligeiramente.
A queda da
receita petrolífera está já a condicionar,
naturalmente, as receitas públicas e isto exigirá
que se tomem medidas para se garantir maior
racionalidade da despesa até ao fim deste ano e uma
maior arrecadação de receitas no sector não
petrolífero.
Por outro
lado, está em curso a Reforma Fiscal, através da
qual serão reduzidos os impostos, mas aumentada a
sua base de incidência e uma maior eficiência na
arrecadação da receita tributária.
Com este
objectivo, o Governo aprovou recentemente a criação
da Administração Geral Tributária, unificando num
único órgão de Administração Pública os actuais
serviços de Alfândegas e a Direcção Nacional dos
Impostos.
Até ao fim
do mês de Outubro vou submeter, para apreciação dos
Senhores Deputados, a proposta do Orçamento Geral do
Estado para o ano de 2015 e, nessa ocasião, serão
detalhadas as acções que o Executivo deverá
implementar com vista a manter a estabilidade
macroeconómica num contexto internacional incerto e
difícil.
SENHORES
DEPUTADOS,
CAROS
COMPATRIOTAS,
A
sustentabilidade do nosso desenvolvimento pressupõe
a necessidade de reduzir a actual dependência da
nossa economia do petróleo bruto. Diversificar a
actividade económica e a produção, em particular, é,
pois, uma questão crítica, uma tarefa urgente e
inadiável, determinante do nosso futuro e de uma
mais efectiva Independência Nacional.
Em 2013,
aprovámos o Plano Nacional de Desenvolvimento, que
tem como objectivos gerais a estabilidade, o
crescimento e o emprego. A estabilidade política e
social e a estabilidade macroeconómica estão
asseguradas, como vimos antes.
O grande
desafio que se coloca perante todos nós é o do
crescimento e nós definimos, como estratégia para
conseguir um crescimento sustentado por vários anos,
a reabilitação, modernização e desenvolvimento das
infra-estruturas económicas e sociais, a promoção e
realização do investimento público e privado e a
formação, qualificação e gestão adequada dos
recursos humanos, bem como a adopção de uma
política laboral e remuneratória objectiva.
Deste modo,
estão em execução onze programas de Projectos
Estruturantes, que todos conhecem e que visam criar
as condições para que a nossa economia seja mais
competitiva e possa, a partir do segundo semestre de
2016, produzir mais e melhor diversos bens e
serviços, competindo com as economias da região e
fazendo crescer e distribuir melhor a riqueza
nacional.
No domínio
das vias de comunicação, por exemplo, vamos atingir
a reabilitação, construção de cerca de mil e 42
quilómetros de estradas na rede fundamental, 593
quilómetros na rede secundária e 776 quilómetros nas
vias terciárias. Continuaremos a reabilitação e
construção de portos, aeroportos e terminais de
transportes na capital do país e nas províncias.
De forma
gradual e criteriosa começaremos a construir a Rede
de Plataforma Logística Nacional, que articulará
diferentes infra-estruturas e sistemas de
transporte. Serão priorizadas as zonas de comércio
fronteiriço mais amplas, como o Luvo, na província
do Zaire; o Luau, na província do Moxico; Santa
Clara, no Cunene e Massabi, em Cabinda, que nos
permitem aumentar a nossa influência nos países
vizinhos, e reforçar a nossa segurança e conter a
imigração ilegal.
Um eficiente
e operacional sistema de Telecomunicações não é só
um decisivo factor de diversificação e integração da
economia e do território nacional, mas também um
instrumento de autonomia e soberania nacionais, de
bem-estar dos cidadãos e de competitividade das
empresas num mundo cada vez mais global e
interdependente.
Por essa
razão, temos neste domínio um vasto e ambicioso
programa de desenvolvimento que vai das
infra-estruturas, incluindo a generalização da fibra
óptica ao sistema de cabos submarinos
internacionais, até às telecomunicações por
satélite, com o programa ANGOSAT (satélite angolano)
em construção.
No domínio
da energia, está em curso a ampliação da barragem de
Cambambe, a construção da barragem de Laúca e da
Central do Ciclo Combinado do Soyo, que nos
permitirá aumentar a potência instalada dos cerca de
dois mil e 162 megawatts actuais para cerca de 5.000
megawatts até 2017, que é uma tarefa gigantesca em
qualquer parte do mundo.
Paralelamente, será ampliado o sistema de transporte
e distribuição de energia eléctrica para colocar
este bem à disposição da população e das empresas.
Continuamos
também a implementar o programa Água para Todos, que
tem como meta até ao final deste ano beneficiar 65
por cento da população com água potável. Uma grande
prioridade é assegurar o abastecimento de água às
populações mais atingidas pela seca e materializar
os projectos de construção de sistemas de
abastecimento de água para 132 sedes de município.
Em Luanda,
onde há uma grande concentração populacional, estão
previstos dois novos sistemas de captação,
tratamento e distribuição de água de grande
dimensão. São os projectos Bita e Quilonga Grande,
assim como o programa de ligações domiciliárias.
Estes projectos só ficam concluídos em 2016 ou 2017,
por isso até lá teremos de encontrar uma solução
intercalar de cisternas e chafarizes para colocar a
água potável o mais próximo possível das famílias
que não têm água canalizada.
SENHORES
DEPUTADOS,
Reunidas
estas condições já será mais fácil promover e atrair
o investimento privado angolano e estrangeiro para o
sector produtivo, com vista a aumentar a produção, a
reduzir as importações e a aumentar as exportações
do sector não petrolífero e a garantir o crescimento
e o emprego.
Mas, mesmo
nas circunstâncias actuais, o Governo definiu um
conjunto de projectos prioritários, que constam de
Programas Dirigidos para as cadeias produtivas do
cimento, dos têxteis, das bebidas, do açúcar, dos
silos para cereais e rações para animais, da
avicultura de corte e da produção de ovos e carne,
da pesca artesanal continental e da aquicultura.
Neste
quadro, a actividade comercial é naturalmente
essencial e a sua vocação principal será a
distribuição e circulação da produção nacional. Por
essa razão, foi aprovado o Programa da Expansão da
Rede Comercial Grossista e de Retalho nas cidades e
no campo.
SENHORES
DEPUTADOS,
De acordo
com estudos independentes, cerca de metade da
população de Angola saiu do limiar da pobreza
absoluta. Várias instituições internacionais
enfatizam os progressos alcançados pelo nosso país,
revelando que a percentagem de angolanos com menos
de dois dólares/dia passou de 92% (por cento) em
2000 para 54% (por cento) em 2014.
Este ritmo
de redução da pobreza, invulgar no nosso continente,
anima-nos a prosseguir no sentido de alcançar a sua
total erradicação. Dos muitos factores de que
depende esse objectivo, o principal é um rendimento
digno na actividade que cada um exerce, por conta
própria ou de outrem, no sector privado ou público.
Essa
actividade deve ser de preferência produtiva e
contribuir para a oferta crescente de emprego e para
a expansão da riqueza nacional. As políticas
públicas de redistribuição do rendimento, seja a
nível fiscal seja no sector de segurança social e as
despesas sociais e de apoio ao desenvolvimento, são
também um instrumento essencial para se reduzir a
pobreza e se promover uma sociedade mais justa e
equitativa.
Assim, neste
contexto, os Antigos Combatentes e Veteranos da
Pátria, bem como os ex-militares desmobilizados das
guerras de Angola e os portadores de deficiência
verão reforçados os orçamentos a eles destinados e
enriquecidos os seus programas com novas medidas de
apoio e assistência social.
Os
resultados destas políticas em Angola estão
expressos no Relatório de 2014 sobre o
Desenvolvimento Humano elaborado pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Com efeito,
depois de 2002 o nosso país, no conjunto de 187
países analisados, é a terceira taxa mais elevada de
crescimento anual do Índice de Desenvolvimento
Humano com 2% (por cento), apenas sendo ultrapassado
pelo Ruanda e a Etiópia.
Apesar de
termos ainda um longo e árduo caminho pela frente, o
país dispõe de condições para ascender daqui a duas
décadas ao grupo de países com Desenvolvimento
Humano Elevado.
Os alicerces
estão a ser erguidos nesse sentido, já que em 2000 a
esperança de vida à nascença de um angolano era
somente de 45,2 anos e, em 2013, passou a ser de
51,9 anos. Ou seja, em apenas 13 anos acrescentámos
quase sete anos à esperança de vida.
Para esta
evolução tão animadora muito contribuíram os
progressos observados, nos níveis educacional e
sanitário da nossa população. Neste momento, a taxa
de alfabetização de adultos atingiu 73 por cento,
quando há dez anos não chegava sequer aos 50 por
cento.
No último
ano, tivemos 636 mil alunos em programas de
alfabetização. No Ensino Especial tivemos quase 27
mil alunos e no Ensino Pré-Escolar estamos a atingir
os 600 mil alunos; no Ensino Primário já
ultrapassámos os 5 milhões de alunos, com uma taxa
bruta de escolaridade de 140 por cento, que quase
triplica a verificada no ano 2000.
A paz
permitiu estender o ensino a todo o país. Por isso,
no Ensino Secundário, já temos mais de um milhão de
alunos. E finalmente no Ensino Superior, o número de
estudantes foi da ordem dos 217 mil, com uma taxa
bruta de escolaridade de 10 por cento, que quase
quadruplicou o nível do ano 2000.
Esta
verdadeira revolução quantitativa carece agora de
uma revolução qualitativa, convergente com as
prioridades do nosso desenvolvimento. Precisamos de
mais e melhores professores, de melhorar os métodos
de ensino e de avaliação mais rigorosa e objectiva
nos cursos de ensino médio e profissional, em
particular, e no Ensino Superior, de modo a não
formarmos jovens que não consigam emprego por falta
de competências ou que acabem por aceitar o
sub-emprego.
Apesar
destes avanços, constatamos que ainda existem
milhares de crianças fora do sistema de ensino. As
razões são a falta de salas de aula ou a existência
de salas em condições precárias, e a falta de
professores com boa formação.
Esta
realidade levou o Governo a preparar um Plano de
Contingência com um orçamento estimado de 1 trilhão
de Kwanzas, prevendo a construção de cerca de 63 mil
salas de aula e a formação de mais de 126 mil
professores, para atender o número de alunos, como
resultado do aumento do número de escolas.
Diante da
actual situação económica e financeira difícil e
incerta, causada pela queda do preço do petróleo,
infelizmente o referido Plano já não poderá ser
executado em três anos, como nós pretendíamos, mas
talvez só possa ser executado num período de cinco a
dez anos.
SENHORES
DEPUTADOS,
Os
resultados alcançados no Índice de Desenvolvimento
Humano exprimem também os progressos registados a
nível sanitário. A taxa de mortalidade infantil é
inferior a 100 em mil nados vivos, quando esta cifra
ultrapassava os 170 em cada mil nados vivos no ano
2000.
A taxa de
mortalidade de crianças menores de cinco anos passou
de 300 em cada mil nados vivos, no início do ano
2000, para cerca de 120 em cada mil neste momento. A
taxa de mortalidade materna diminuiu de 1.400 mortes
maternas em cada 100 mil nados vivos para menos de
300 em cada 100 mil. Também a taxa de morbilidade
devida à malária caiu de 25 para 15 por cento.
Reconhecemos, porém, que apesar destes progressos
notáveis ainda temos de dispender esforços no
sentido de incrementar o combate à tuberculose, à
propagação do VIH-SIDA, à incidência da
tripanossomíase, à proliferação de falsos
medicamentos ou ao número ainda muito elevado de
partos não assistidos por pessoal qualificado.
SENHORES
DEPUTADOS,
MINHAS
SENHORAS E MEUS SENHORES,
As eleições
autárquicas estão na agenda política de todos os
partidos e têm suscitado os mais acesos debates e
as mais diversas dissertações. Com efeito, a
Constituição da República diz que os órgãos
competentes do Estado, incluindo o Parlamento,
determinam por lei a oportunidade da sua criação, o
alargamento gradual das suas competências, o
doseamento da tutela de mérito e a transitoriedade
entre a Administração Local do Estado e as
autarquias locais.
São várias
as questões que estes órgãos têm de tratar até que
sejam reunidas as condições necessárias para a
criação das autarquias. Uma equipa de trabalho
constituída por juristas experientes identificou,
pelo menos, as seguintes:
1.
Adequação de recursos económicos, financeiros,
técnicos, materiais e humanos;
2.
Divisão territorial, tendo em conta as
especificidades culturais, sociais, económicas e
demográficas de cada área que abrange o município;
3.
Compatibilização entre a Administração Local do
Estado e a Administração Autárquica;
4.
Configuração dos órgãos representativos locais, os
seus poderes, atribuições e competências;
5. O
sistema de eleição dos representantes locais;
6.
Definição do modelo de financiamento das autarquias;
7.
Convivência no mesmo espaço territorial de serviços
de Administração Local do Estado e serviços da
Administração Autárquica.
Como se pode
concluir, a negociação e discussão dos diplomas
legislativos para a legitimação e adequação jurídica
do processo autárquico levará o seu tempo.
Mas a
discussão da revisão da legislação eleitoral em que
se basearam as Eleições Gerais de 2012, como sabem,
levou mais de um ano. A acrescentar a isso há o
processo de Registo Eleitoral para as Eleições
Gerais de 2017, bem como para as Eleições
Autárquicas.
O registo
oficioso previsto na Constituição não é possível
realizar até 2017, por vários motivos que o
Executivo já submeteu à apreciação e decisão da
Assembleia Nacional. Optar-se-á, certamente, pelo
registo administrativo, que também levou mais de um
ano a realizar para as eleições gerais de 2012.
Portanto, como vêem são imensas as tarefas que ainda
temos de desenvolver.
Eu prefiro
sempre ser realista e pragmático. Prefiro ter um
calendário de tarefas que possa cumprir
efectivamente. Então pergunta-se, será que até ao
ano de 2017 poderemos, em primeiro lugar, adequar a
legislação eleitoral e actualizar o registo
eleitoral para a realização de Eleições Gerais e, em
segundo lugar, conceber a legislação para as
Autarquias Locais e para a realização das Eleições
Autárquicas? É um assunto a apreciar.
Portanto,
são assuntos muito sérios para apreciar e para se
clarificar o calendário de tarefas a realizar nos
dois processos eleitorais. Penso que todos queremos
dar passos firmes em frente para aprofundarmos o
nosso processo democrático, mas é melhor evitar a
pressa para não tropeçarmos!
Penso que
devemos trabalhar de forma mais unida e coerente
para a concretização desse grande desejo dos
angolanos, ao invés de transformar este assunto num
tema de controvérsia e retórica político-partidária.
Sugiro que aqui nesta Casa das Leis definamos em
primeiro lugar o calendário das tarefas a realizar
para a concretização dos dois processos eleitorais e
depois passar a acção.
SENHORES
DEPUTADOS,
ILUSTRES
CONVIDADOS,
MINHAS
SENHORAS E MEUS SENHORES,
A República
de Angola está a consolidar o seu processo de
desenvolvimento num contexto mundial e regional de
crescente instabilidade, quer ao nível
político-militar e de segurança, quer ao nível
económico e de saúde pública.
Este ano
fica infelizmente marcado com o reaparecimento e
rápida propagação do vírus da Ébola, que causou já
milhares de mortos no nosso continente. A nível
interno foram tomadas medidas adequadas de prevenção
e controlo desta pandemia, cujo combate exige
esforços conjugados de todos os governos do mundo.
Por outro
lado, no corrente ano têm-se multiplicado focos de
tensão e de ruptura em várias zonas do mundo, tendo
surgido novos conflitos armados com forte impacto na
nossa Região. O alastrar destes conflitos está a dar
origem a confrontos militares, com processos de
diálogo e negociação complicados.
O Executivo
que detém a presidência da Comissão Internacional da
Região dos Grandes Lagos tem-se empenhado na procura
de soluções, tanto no quadro bilateral como
multilateral, como ainda no âmbito do Conselho de
Segurança das Nações Unidas e do Conselho de Paz e
Segurança da União Africana.
Angola tem
reafirmado a sua disponibilidade em participar
nesses processos, apoiando e promovendo o diálogo e
a paz, em particular na África Central e na Região
dos Grandes Lagos. Inscreve-se no esforço de
manutenção da paz a disponibilidade manifestada pelo
nosso Governo para integrar as Forças da Paz das
Nações Unidas, previstas no quadro da MINUSCA
(Missão das Nações Unidas para a República Centro
Africana), satisfazendo assim a solicitação feita
pela Presidente da República desse país irmão.
Esta postura
de promoção da paz e da segurança tem conduzido a
um reconhecimento a nível internacional do papel de
Angola como um parceiro estratégico para a
construção da paz e a estabilidade em África.
Por essa
razão, a maioria dos países da comunidade
internacional está a acolher como sendo natural e a
apoiar a candidatura de Angola para Membro Não
Permanente do Conselho de Segurança da ONU para o
biénio 2015-2016.
SENHOR
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL,
SENHORES
DEPUTADOS,
MINHAS
SENHORAS E MEUS SENHORES,
Termino,
desejando que os trabalhos do novo Ano Parlamentar
da presente Legislatura decorram com êxito e que os
Senhores Deputados se empenhem cada vez mais na
defesa dos superiores interesses do Povo angolano.
VIVA ANGOLA!
(Extraído
do Jornal de Angola)