Síria a caminho
das urnas
Manuel Vázquez
AS autoridades sírias anunciaram a
celebração de eleições presidenciais, como via para
preservar a ordem institucional do Estado e garantir
um governo capaz de conduzir o grande desafio de
reconstruir o país, depois do atual conflito armado.
Dessa maneira fica no limbo a pretensão de algumas
pessoas e grupos contrários ao presidente Bashar AL-assad,
patrocinados por países ocidentais e aliados
regionais, de conformar um chamado governo de
transição que, segundo suas esperanças, desmontaria
toda a ordem institucional síria.
Com o chamado às eleições, os sírios
poderão eleger em poucos meses, de maneira direta,
um presidente entre tantos candidatos se
apresentarem, incluídos da oposição assente no país.
O caminho ficou aberto pela Assembleia do Povo da
Síria (Parlamento) em 21 de abril, quando acordou
iniciar imediatamente o processo de candidaturas à
presidência do país, e fixou a data das eleições
para 3 de junho próximo.
"Declaramos que as eleições
presidenciais se levarão a cabo na data prevista,
manifestou o presidente do Parlamento, Mohamed Yihad
AL-Laham, sem demoras e sem prestar atenção ao que
muitas pessoas dizem do estrangeiro, numa tentativa
de enfraquecer a confiança e acabar com nossa via
política e democrática". Na sessão parlamentar, AL-Laham
realizou um chamamento a todos os sírios, dentro e
fora do país, para exercer o voto, e àqueles que
desejem candidatar-se para a presidência, expressar
assim seu direito constitucional de fazê-lo.
Ao se referir à posição mantida pelo
governo sobre o caráter puramente nacional do
processo das eleições, o presidente do Parlamento
enfatizou que não existe vontade superior (para a
eleição presidencial) que a do povo sírio.
Nesta ocasião, como resultado de
emendas constitucionais aprovadas em 2012, poderão
aspirar à chefatura de Estado todos aqueles
candidatos que reúnam os requisitos estabelecidos
pela lei. Entre outros aspectos, o aspirante devera
ter unicamente a nacionalidade síria e ter residido
no país, de maneira ininterrompida, durante os
últimos dez anos. Dessa maneira, não se poderão
candidatar os membros da chamada oposição no exílio,
os quais se têm organizado sob os ditames de
potências estrangeiras, interessadas em derrubar o
governo, e que apoiam os grupos de irregulares
armados que têm provocado a atual situação de caos
na Síria.
Tal como era esperado, antes de
conhecer os possíveis candidatos, esses grupos se
têm pronunciado contra qualquer resultado que saia
das urnas, independentemente da porcentagem da
população votante, ou quão transparentes e limpas
resultem as eleições, simplesmente porque eles não
podem aspirar ao poder. Desta forma se evidencia que
o conceito de democracia para a oposição síria
assente no estrangeiro está diretamente relacionado
com as possibilidades que eles vejam de apropriar-se
do governo.
CAMINHO TORTUOSO
Contudo, o caminho do povo sírio
rumo às urnas não será simples. No quarto ano de
guerra, várias zonas do país ainda são controladas
pelos grupos extremistas islâmicos, como a cidade de
Ragga, no nordeste sírio. Noutras urbes e províncias,
como Alepo, Homs, Latakia, Idleb, Deraa, Quneitra e
Damasco, existem municípios nos quais os combates
são cotidianos, e onde a abertura dum colégio
eleitoral é simplesmente impossível.
Entretanto, a votação dos milhões de
deslocados, cuja maioria esta dentro das fronteiras
nacionais, embora fatível, representa um desafio a
superar quanto à organização.
Contudo, os recentes avanços
estratégicos do exército árabe sírio na faixa
ocidental do país, possibilitam realizar as eleições
em condições de relativa estabilidade, cumprindo-se
assim um requisito básico da democracia: que a
maioria exerça o direito a expressar sua vontade.
Sem dúvida, as últimas vitórias das
forças armadas, sobretudo em numerosas cidades da
cadeia montanhosa de Qalamoun (onde uma vez os
extremistas islâmicos ganharam força) contribui para
reforçar a posição daquele que seja o candidato à
presidência pelo atual partido governante.
A esse respeito, sírios consultados
consideram como algo seguro a postulação do atual
presidente, Bashar AL-Assad, que, estimam, caso
aspirar novamente à chefatura do Estado, venceria
sem dificuldades de maior. Esta confiança parte do
fato de que, inclusive, setores da população que no
passado foram críticos ao governo, neste momento
veem nele a melhor possibilidade de manter a
integridade da Síria, ante a arremetida extremista
que, fomentada a partir do exterior, faz colapsar o
país. (Excertos extraídos de Rebelión)
Al-Assad obtém uma
vitória em Homs
OS radicais insurgentes sírios
retiraram-se do coração da cidade de Homs, um dos
epicentros da rebelião contra o presidente Bashar
al-Assad, o que significa uma vitória simbólica do
presidente pouco antes de um mês de sua possível
reeleição.
O acordo de 4 de maio entre o
governo de Damasco e os bandos armados também inclui
a libertação de pessoas presas pelos insurgentes,
nas províncias de Alepo e Latakia, e o alívio da
pressão rebelde em duas localidades xiitas, sitiadas
pelos extremistas no norte da Síria.
Os rebeldes, a maioria sunitas,
conseguiram criar um baluarte na cidade velha de
Homs e nos distrito próximos, mas nos últimos quatro
meses apenas controlavam dois quilômetros quadrados
dos 40 com que conta a destruída cidade.
O governador de Homs, Talal al
Barazi, disse recentemente que um total de 980
milicianos opositores abandonaram a zona. A operação
levou-se a cabo sob supervisão da ONU.
A evacuação tem lugar após meses de
vitórias do Exército sírio, com o apoio de seu
aliado libanês Hezbolá, ao longo dum corredor
estratégico que une a capital Damasco com Homs e a
zona em que prevalece a minoria alauí, à qual
pertence al-Assad e que é um ramo do islã xiita.
O último grupo de terroristas
abandonou em 8 de maio a cidade de Homs (oeste)
controlada atualmente pelas forças governamentais,
afirmou Hispantv e agências de notícias.