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Os novos ares da luta cubana
Yoel Tejeda
JÁ
ficou atrás na história do esporte da luta o torneio
Granma-Cerro Pelado, compromisso anual cubano, no
qual a Cidade Esportiva de Havana reúne os melhores
lutadores de nosso país e vários competidores
estrangeiros, os quais, exceto os estadunidenses,
são geralmente derrotados pela qualidade e força dos
anfitriões.
Com
o intuito de averiguar com maior profundidade acerca
do acontecido no certame e falar de outros temas
atuais relativos a este esporte na Ilha maior das
Antilhas, Granma Internacional contatou com o
professor Marvin Fontes Herrera, da Universidade das
Ciências da Cultura Física e o Esporte Manuel
Fajardo, para conhecer sua opinião especializada,
com essa fluidez de palavras que o carateriza.
Qual é sua apreciação do acontecido no torneio
Granma-Cerro Pelado?
Do
ponto de vista técnico considero que os lutadores
cubanos têm elevado seu nível de maneira
progressiva, apesar de — e isso não ser um segredo
para ninguém — da carência de eventos
internacionais.
Porém, especificamente, o nível no estilo
grecorromano…
Neste caso, o regulamento atual (vigente desde
janeiro de 2014) favorece muito nossos lutadores,
pois se retomou a penalidade de passividade quando o
opoente se manifesta de maneira inativa. Então o
lutador tem a chance de eleger onde quer continuar o
combate, bem na posição de pé ou em terra, e nesta
última os cubanos, de maneira histórica, possuem
habilidades desenvolvidas.
Falamos das técnicas com desbalanço e com
arquejamento, mediante as quais se levanta o
adversário da terra e se arremessa. Precisamente com
estas ações tivemos grandes resultados durante a
década dos anos 90. Exemplo perceptível é o caso de
Filiberto Azcuy, bicampeão olímpico nos Jogos de
Atlanta 1996 e Sydney 2000. Outros lendários
expoentes que tiraram o máximo a estes movimentos
foram Lázaro Rivas, Roberto Monzón, Héctor Milián e
outros.
Como valoriza os resultados da modalidade de luta
livre?
Apreciou-se que conseguiram elevar o arsenal
técnico-tático, constatado mediante as diferentes
combinações executadas contra seus adversários,
principalmente os dos Estados Unidos, nosso
contrário mais forte na área. É preciso lembrarmos
que o verdadeiro nível da luta está na Europa, pelo
que nos beneficiaria muito ter encontros amistosos
com lutadores desse continente.
Você comentava que o novo regulamento beneficia os
cubanos quanto à passividade, porém, em que outra
medida os favorece?
Quando se pergunta no mundo todo, quais são as
características que distinguem os lutadores cubanos,
sempre se diz que são muito fortes e resistentes.
Este regulamento permite que o concorrente possa
combater durante um longo tempo, mas coloca uma
questão: há que fazer movimentos técnicos precisos,
para dizê-lo no jeito dos cubanos, “é preciso
combater”.
Que acha do retorno de Mijaín López?
Mostrou que é um fora-de-série. Agora é que ele
está começando sua preparação, com vista aos
compromissos previstos. No torneio tentou manter-se
lutando durante os dois minutos para aumentar a sua
resistência. Venceu seus adversários por
superioridade, e no combate que não fez assim
concluiu com uma diferença de mais de cinco pontos,
além de que não lhe marcaram ponto técnico algum.
Esperava-se mais das mulheres lutadoras?
Ante tudo é importante lembrar que Cuba se inseriu
na prática da luta feminina no ano 2006, nos Jogos
Centro-americanos e do Caribe de Cartagena de
Índias, Colômbia. Quer dizer, que ainda não se
completou nem uma década de experiência. Existem
grandes expectativas e exigências, mas devemos ter
em conta que ante uma escassa preparação na arena
internacional e a juventude deste time, quanto a sua
conformação — apesar de as lutadoras terem idades
diferentes — é preciso dar-lhes um pouco mais de
tempo para seu desenvolvimento e a obtenção dos
resultados que se esperam.
Ainda assim, acho que lutaram bem. Perderam alguns
combates devido à ansiedade, pois apesar de elas
terem marcado pontos primeiramente, no fim acabavam
perdendo o controle do combate e eram derrotadas.
Nesse instante muitos perguntavam o que tinha
acontecido e querem deitar as culpas numa suposta
preparação psicológica pouco efetiva, quando
realmente o que faltou foi ter efetuado maior número
de enfrentamentos em eventos internacionais. São
aspectos que por ocasiões muitos não conseguem
entender.
Qual a situação atual da luta cubana?
Realmente
goza de boa saúde. Um primeiro avanço é o fato de
que tenhamos colchões para sua prática em mais de
125 dos 169 municípios do país, tentando conseguir
maior participação em massa. Da mesma maneira,
tiramos benefícios dos Conselhos de Ciência e
Técnica existentes em todas as províncias, os quais
vieram dando resposta aos problemas do esporte,
através das investigações e sua implementação na
prática. Contamos com colaboradores em mais de 13
países da região e com aproximadamente uma dezena de
árbitros internacionais. Além do mais, podemos
sentir orgulho de termos a Filiberto Azcuy no Hall
da Fama da Federação Internacional (FILA, por suas
siglas em inglês).•
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