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Centenário do natalício de
Roberto Faz
Rafael Lam
O povoado de Regla está comemorando o 100º
aniversário natalício de seu querido Roberto Faz
(1914-1966), um dos cantores mais queridos e
populares de Cuba, e pelo qual todos os cantores
sentem grande respeito por sua voz e personalidade
carismática.
Roberto Faz nasceu na rua Calixto García 62, entre
as ruas Céspedes e Agramonte. O doutor Carlos
Gonzalez o descreve da seguinte maneira: baixinho,
olhos de cor castanha, cabeça grande, cabelo de cor
castanha e muitas vezes com bigode. Não era gordo
nem magro, embora por sua estatura desse a impressão
de ter mais quilos de peso. Pele branca e sorriso
fácil. Faltava-lhe um dedo na mão esquerda. Quando
se tornou popular lotava os locais onde cantava, era
muito querido pelo povo (Entrevista a Leonardo
Depestre).
A origem de Roberto foi muito humilde, desempenhou
diversos trabalhos: motorista, barman, cantava nos
bares de sua vila com o violão. Eram os dias
gloriosos da explosão do son na capital. Nas vilas
de Regla e Guanabacoa havia um ambiente folclórico
de batuques e cantos das potências ñáñigas (da
religião afro-cubana) mas junto das rumbas e das
congas dos blocos do carnaval que eram o lado forte
nesta zona. Lembremos que foi por Regla que
desembarcaram os negros da África e os chineses de
Cantão.
Em 1927, começou a cantar no sexteto infantil
Champán Sport, regido por Carlos Toledo. Neste
sexteto tocava o trompetista Félix Chapotín, que em
1950 assumiu a direção do conjunto de Arsenio
Rodríguez.
Nos domingos seu pai preparava um saboroso almoço
para Chapotín. Sabia que Chapotín ensinaria a seu
filho os ‘truques’ do son e de outras músicas
cubanas.
O próprio pai de Roberto Faz organizou o conjunto
Tropical. “Meu pai Pascual era meu administrador —
disse-me numa ocasião — ele influía muito para que
eu fosse cantor e o conseguiu. Mas também aprendi a
tocar todos os instrumentos da percussão, esse era
um dos entretenimentos dos jovens naqueles tempos em
Regla, numa etapa que não havia aparelhos de
televisão”.
Em 1930, já cantava em diversos sextetos como o
Ultramar, que pertencia à administração de seu pai,
e em 1932 trabalhou como cantor numa boate chamada
Hit. Com esse treino entrou na orquestra Habana, em
1938, e depois na orquestra Cosmopolita. Uma de suas
provas de fogo foi sua apresentação com a orquestra
Hermanos Palau, na majestosa boate Sans Souci, uma
das mais aristocráticas daqueles tempos.
Em 1939, tornou-se artista exclusivo da emissora
CMQ, nas ruas Prado e Monte, uma das metas de todos
os cantores que desejavam triunfar. Foi-se tornando
popular e em 1941 atuou na boate Parisién, do
exclusivo Hotel Nacional com a orquestra de Osvaldo
Estivil, onde também cantou Tito Gómez.
Em 1944, houve um momento decisivo para Roberto Faz
quando cantou com Alberto Ruiz no Kubavana, que se
apresentava na boate Zombie Club, na rua Zulueta,
entre Trocadero e Animas (o antigo Edén Concert).
Nesse mesmo ano, depois dessa grande experiência
com o Kubavana, Roberto Espí o chama para o grande
momento do Conjunto Casino, sua grande consagração.
Com esse conjunto fez época nos salões cubanos,
juntamente com Espí, Rolito Reyes e Agustín Ribot.
“No Casino cantei com sucesso boleros e peças de
José Antonio Méndez (Quiéreme y verás), Cesar
Portillo de La Luz (Realidad y fantasia) e
guarachas: A romper El coco (Otilio Portal),
Que se corra la bola (Alberto Ruiz)”.
Com esse conjunto viajou pelos Estados Unidos,
Porto Rico e Venezuela, entre 1945 e 1946. Em 1948,
gravou para a RCA Víctor e se iniciou com sucesso na
rádio e na televisão. Durante um tempo se manteve
nos cartazes e shows do hotel Saratoga e na emissora
Radio Cadena Habana.
Tudo isso foi até finais de 1955 quando o Conjunto
Casino se desintegrou. Roberto Faz, com alguns dos
integrantes do grupo, organizou seu próprio
conjunto, em 16 de janeiro de 1956. Naqueles dias
existia muita expectativa pelo novo projeto e, em 4
de fevereiro de 1956, foi a estreia do grupo com um
bailado memorável no Liceu de Regla. Nesse dia
interpretaram o sucesso do compositor Luis
Marquetti: Deuda. A casa gravadora que o
apoiava era a Panart.
Com seu novo conjunto foi convidado para cantar em
Key West, Tampa e Panamá. Em 1958, viajou à América
Central e à América do Sul, conseguindo muito
sucesso. Em 1957, apresentou-se durante uma
temporada na boate Alí Bar, onde já Benny Moré era o
rei. Existe uma foto de ambos guardada nos arquivos
históricos.
Em 1961, gravou o bolero Comprensión, de
Cristóbal Dobal, com muito sucesso. Outras
antológicas gravações de Roberto Faz foram: Como
vivo en Luyanó, um son de René Barrera;
Cositas que tiene mi Cuba, um son-montuno de
Parmenio Salazar; Melao de caña,
Sabrosona, Pintate los lábios María (reeditado
por Elíades Ochoa) e Carolina dengue,
dedicado a Damaso Pérez-Prado.
Na última etapa do conjunto de Roberto Faz, desde o
mês de dezembro de 1965, como presente de fim de
ano, começou a difundir o ritmo Dengue, de Pérez
Prado. Em 1966, ficou de moda El Dengue con su
tiquitiqui e outras peças que fizeram história
no Carnaval de Havana.
Em sua etapa final, Roberto Faz pôs na moda os
“boleros ligaditos” (popurrit), onde os trompetistas
faziam coro de fundo. Eram os tempos em que também
estava de moda Juanito Máquez com o ritmo Pa’ca;
Eddy Gaitán com o Wawa, o Pilón de Enrique Bonne e o
Mozambique, de Pello El Afrokán.
Em 26 de abril de 1966, em pleno auge dos ritmos
mozambique e dengue, Roberto Faz morreu. Três anos
antes tinha morrido Benny Moré. A década de 1960
teve duas mortes muito difíceis para a música
cubana, dois clássicos que disseram adeus à música.
Para conhecer mais sobre Roberto Faz podemos chegar
à vila de Regla em sua pequena lancha, catalogada
por Alejo Carpentier de um “tapete mágico” e visitar
o museu municipal, onde aparecem fotografias de
Roberto Faz, muito apreciadas e o Liceu de Regla,
quartel-general do cantor.
Roberto Faz esteve mais de três décadas cantando
nas mais exigentes sociedades, salões de baile,
festas e no Carnaval cubano. Deixou um rasto de
carinho em todos os dançarinos e fãs da música
cubana. No exterior, sua voz se continua escutando e
seus discos passam de mão em mão entre os
colecionadores.
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