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Teatro Martí abre novamente suas
portas em Havana
Juan Diego Nusa Peñalver
FOI
um anelo da nação cubana toda e particularmente dos
moradores de Havana. Em 24 de fevereiro de 2014, no
119º aniversário do reatamento das lutas pela
independência nacional e contra o colonialismo
espanhol, dirigidas pelo Apóstolo José Martí, se
tornaram realidade as aspirações dos havanenses, com
a reinauguração do célebre teatro Martí, emblemática
sala de espetáculos que voltou à vida cultural do
país, depois de mais de 40 anos fechada.
Na
função artística que teve lugar para a inauguração
desta nova etapa marcou presença o presidente
cubano, Raúl Castro Ruz, além de outras
personalidades e se apresentou um espetáculo com um
roteiro de luxo, com a interpretação de peças
antológicas da tradição musical cubana.
Sob
o título de “Voltar ao Martí”, os espectadores
escutaram novamente na lendária sala excertos das
zarzuelas Cecília Valdés, Maria
La
O, Amália Batista
e corearam a peça Damisela encantadora, de
Ernesto Lecuona, além de desfrutarem de uma estampa
costumbrista, nas vozes de Mario Limonta e Aurora
Basnuevo.
Jovens cantores dedicados ao canto lítico e
dançarinos tiveram a responsabilidade de abrir esta
nova temporada no teatro Martí, em cujo palco
histórico atuaram muitos nomes imprescindíveis da
história dos espetáculos na Ilha.
O
doutor Eusébio Leal, Historiador de Havana e
artífice da recuperação desta jóia arquitetônica,
considerou que a reabertura desta sala era “um
tributo pequeno e modesto à obra da Nação cubana”. E
agradeceu, particularmente, ao líder da Revolução (a
Fidel Castro), o qual teve a visão, naquele
memorável Congresso da União dos Escritores e
Artistas de Cuba, de expor resolutamente que a
cultura era a primeira coisa que devíamos salvar. “E
certamente a cultura sempre andou paralela ao grande
desafio histórico que supõe a Nação, sua vida, seus
propósitos, seus sonhos, suas esperanças atuais e
futuras”.
UMA
PARTE DA HISTÓRIA DE CUBA
Como está espelhado na história desta instalação,
em 8 de junho de 1884 foi inaugurado em Havana um
simples mas muito chique teatro, de estilo
neoclássico chamado Irijoa, pois seu construtor foi
um basco chamado Ricardo Irijoa.
“O
Coliseu das cem portas”, como foi denominado pelo
poeta natural de Bayamo, José Fornaris, foi
inaugurado com uma função para benefício do convento
El Buen Pastor, encenada por artistas amadores.
Posteriormente, ofereceram-se bailados públicos e
diversos espetáculos: desde companhias de teatro
humorístico e o circo de Dom Santiago Pubillones até
zarzuelas, operetas, voudeviles e a estréia em Cuba
da ópera
La
Bohème,
de Giacomo Puccini. Durante o ano 1896 os artistas
humorísticos da companhia do empresário Generoso
González começaram a atuar no Martí. Nesse palco se
estrearam obras como La mulata Maria, com
música de Raimundo Valenzuela e o primeiro roteiro
de Federico Villoch, qualificado depois como o Lope
de Vega cubano, por causa de sua vasta obra; e
Mefistófeles, de Ignácio Sarachaga e partitura
de Rafael Palau.
Em
1899, Enrique Pastoriza comprou o teatro aos
herdeiros de Irijoa e ao longo de vários meses teve
o nome de Éden Garden.
Em
17 de janeiro de 1899, já terminada a guerra de
independência na Ilha maior das Antilhas, tira-se
esse nome e começa a ser chamado teatro Martí, um
sobrenome que o dignificaria. “Está na hora em que,
nas ruas havanenses e em outros lugares de Cuba,
começa a se prestar tributo ao heróis, ao Apóstolo,
ao mestre, ao poeta, ao político, ao orador
insigne...” precisou o doutor Leal, em suas palavras
de abertura desta nova etapa.
Contudo, o teatro Martí faz parte de acontecimentos
relevantes da história de Cuba, quando no ano 1999
serviu de sede à Assembleia Constituinte, que teve a
responsabilidade de redigir a primeira Carta Magna,
para a nova República Cubana, que nascia como um
protetorado ianque, em 20 de maio de 1902, além dos
inflamados debates que gerou a decisão do governo
estadunidense, a potência que ocupava a Ilha, de
impor como um apêndice à Constituição a Emenda
Platt, deixando sem valor todos os atos soberanos de
Cuba.
Em
seus muros ressoaram as vibrantes palavras de vários
dos delegados da Constituinte contra a ignominiosa
ofensa, entre eles a do marquês de Santa Lucía,
Salvador Cisneros Betancourt, major general do
Exército Libertador e presidente da República
insurgente, e Juan Gualberto Gómez, nascido como
filho de escravos em Sabanilla del Comendador, na
província de Matanzas, no engenho Vellocino de Oro;
que se converteu em advogado e jornalista na França.
“Estes dois patriotas, Salvador Cisneros e Juan
Gualberto Gómez se opuseram rotundamente à Emenda
Platt, por isso seus nomes ainda ressoam nos nossos
ouvidos”, expressou o Historiador de Havana.
O
teatro Martí ressurge hoje de suas cinzas, após
intensos trabalhos de reconstrução que duraram anos,
pois as obras incluíram a modernização da sua
estrutura interior, sem afetar a decoração e o
design originais, para o bem da Pátria. Já os
havanenses poderão escutar o som das três badaladas
da alegria”, as que anunciam o começo de cada
função.
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