Presos Políticos do Império| MIAMI 5      

     

Só TEXTO / Assinatura jornal impreso

C U L T U R A

Havana. 5 de Março, de 2014

NA 23ª FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO
Poetas carregados de mundo
• Os poetas equatorianos Margarita Laso, Iván Oñate e Antonio Preciado leram seus poemas ao público havanês

A casa Guayasamín, no Centro Histórico da Cidade, abriu suas portas à poesia, como uma das sedes alternas capitalinas da 23ª Feira Internacional do Livro, que se estendeu até 9 de março por outras paragens da Ilha.

 Até ali chegaram os bardos participantes do evento para presentear ao público seus poemas. Os equatorianos Margarita Laso, Antonio Preciado e Iván Oñate, bem conhecidos no seu país e internacionalmente, tiveram o bom gesto de conversar com o Granma Internacional, após a leitura de seus versos.

 Autora de mais de cinco livros de poemas, com destaque para Erosonera, Queden en la lengua mis deseos e El trazo de las cobras, Margarita Laso, também cantora e produtora de 12 discos, concretizou acerca da poesia que escreve “que está feita das palavras na sua condição acústica, sua sonoridade, musicalidade e ritmo, mas também na sua condição misteriosa. Nessa busca há algo que se procura atingir e está nesse mistério das palavras, que nos permite enlaçar-nos, tecer-nos, comunicar-nos e que, contudo, nos fala a todos de diferente maneira.”

 A poesia ajuda a senhora a vencer seus medos interiores?

 “Eu creio que a poesia ajuda a sarar, a consolar, a aliviar, não creio que chegue a ser um remédio, mas creio que quando se busca sair da solidão, o máximo paradoxo é irmo-nos à palavra tão solitária da poesia”.

 Na sua lírica o amor e o autóctone vão de mãos dadas: “Nos meus poemas há uma paisagem geográfica afetiva e atrás desta expressão têm sido inevitáveis as referências ao amatório, mas não só na celebração, mas sim do despeito, o rancor, a ira. Isto também tem sido parte da cura”. 

 Iván Oñate, narrador e catedrático, vai deixando um tom ascendente quando lê cada poema, como se o fim chegasse até o início da seguinte leitura. “Uma técnica do espírito, para que me queiram escutar.”

 Convicto de que as pessoas não escolhem a poesia mas sim que é a poesia a que escolhe o poeta, define muito bem essa condição sua da que ninguém poderia duvidar. “Sempre se sabe quando se trata de um bom ou de um péssimo poeta, se é tão só um fazedor de versos. O poeta é outra coisa”.

 Que poesia o escolheu a você?

 Eu fui escolhido pela poesia da dor, dura, do absurdo de viver, mas nela se percebe o anelo de reconciliação com o amor. A poesia esta feita para que tenhamos saudades dela, é para estarmos ausentes, se apresenta mais quando fazemos silêncio, a verdade se nos revela nos momentos em que estamos sozinhos”.

 Dentre os mais de dez cadernos poéticos de Oñate destaque para Quando morí, do qual ele leu alguns poemas na velada.

 De acordo com o título, quando o senhor considera que se “vivem” instantes de morte?

 A resposta está em um poema do livro chamado Banda de rock: Morre-se mil vezes quando se ama mais de uma vez, quando algo aconteceu nos nossos corações”.

 Por seu lado, Antonio Preciado, atualmente embaixador do Equador na Nicarágua, deu fé acerca da utilidade que ele encontra em recitar de cor seus poemas e fazê-lo sempre de pé.

 “Estou convicto de que na raíz mesma da criação está prevista a comunicação, um destinatário ou muitos destinatários. Busco a possibilidade de comunicar também na escrita, porque não se escreve para a gente mesma. A palavra está carregada de mundo e essa carga só é possível com a participação de todos”.

 De seu livro Con todos los que soy, da editora cubana Matanzas, e lançado nesta Feira, adiantou sua essência: “Em mim vivem muitos, apertados em quem singularmente sou, então do ponto de vista da criação, da escrita, da poesia,  tenho que buscar a forma de que, sem que a poesia seja uma cópia da realidade, se perceba que o poeta recebe a incidência de seu veio alimentador”.

 “Creio que a palavra não pode ser inóqua, e na palavra comprometida do poeta, não dita de forma burda. É preciso procurar a fórmula, os recursos expressivos que sirvam para uma comunicação atual, que se aproxime, que arrepie a pele do receptor, que toque nele.”

 Las bocas de los ángeles foi um dos poemas mais aplaudidos, com toda a certeza, devido à altura que atinge nele a dimensão humana. “A defesa da negritude é um eixo transversal na minha obra poética. Eu não creio que deva deixar de dizer tudo o terrível que fizeram aos negros, ao longo da história, mas sei também que na escala zoológica a humanidade é uma só. Primeiramente sou um ser humano, depois um homem negro com determinadas características raciais, culturais, étnicas, e vou de encontro com os demais, que são meus irmãos e que é a grande maioria”.

 “Tenho — continuou — um amor imenso que odeia um pouquinho o que é preciso odiar nesta vida — a guerra, o opressor, o império e seus sequazes —  eu procuro então o encontro com todos os seres humanos, sou um militante da humanidade”.

 

IMPRIMIR ESTE MATERIAL


Diretor Geral: Pelayo Terry Cuervo. Diretor Editorial: Gustavo Becerra Estorino
HOSPEDAGEM: Teledatos-Cubaweb. Havana
Granma Internacional Digital: http://www.granma.cu/

  Inglês | Francês | Espanhol | Alemão | Italiano | Só TEXTO
Só TEXTO / Assinatura jornal impreso

© Copyright. 1996-2013. Todos os direitos reservados. GRANMA INTERNACIONAL/ EDICAO DIGITAL

Subir