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NA 23ª FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO
Poetas carregados de mundo
• Os poetas equatorianos
Margarita Laso, Iván Oñate e Antonio Preciado leram
seus poemas ao público havanês
A
casa Guayasamín, no Centro Histórico da Cidade,
abriu suas portas à poesia, como uma das sedes
alternas capitalinas da 23ª Feira Internacional do
Livro, que se estendeu até 9 de março por outras
paragens da Ilha.
Até
ali chegaram os bardos participantes do evento para
presentear ao público seus poemas. Os equatorianos
Margarita Laso, Antonio Preciado e Iván Oñate, bem
conhecidos no seu país e internacionalmente, tiveram
o bom gesto de conversar com o Granma
Internacional, após a leitura de seus versos.
Autora de mais de cinco livros de poemas, com
destaque para Erosonera, Queden en la
lengua mis deseos e El trazo de las cobras,
Margarita Laso, também cantora e produtora de 12
discos, concretizou acerca da poesia que escreve
“que está feita das palavras na sua condição
acústica, sua sonoridade, musicalidade e ritmo, mas
também na sua condição misteriosa.
Nessa busca há algo que se procura atingir e está
nesse mistério das palavras, que nos permite enlaçar-nos,
tecer-nos, comunicar-nos e que, contudo, nos fala a
todos de diferente maneira.”
A
poesia ajuda a senhora a vencer seus medos
interiores?
“Eu
creio que a poesia ajuda a sarar, a consolar, a
aliviar, não creio que chegue a ser um remédio, mas
creio que quando se busca sair da solidão, o máximo
paradoxo é irmo-nos à palavra tão solitária da
poesia”.
Na
sua lírica o amor e o autóctone vão de mãos dadas:
“Nos meus poemas há uma paisagem geográfica afetiva
e atrás desta expressão têm sido inevitáveis as
referências ao amatório, mas não só na celebração,
mas sim do despeito, o rancor, a ira.
Isto
também tem sido parte da cura”.
Iván Oñate,
narrador e
catedrático, vai deixando um tom ascendente quando
lê cada poema, como se o fim chegasse até o início
da seguinte leitura. “Uma
técnica do espírito, para que me queiram escutar.”
Convicto de que as pessoas não escolhem a poesia
mas sim que é a poesia a que escolhe o poeta, define
muito bem essa condição sua da que ninguém poderia
duvidar.
“Sempre se sabe quando se trata de um bom ou de um
péssimo poeta, se é tão só um fazedor de versos.
O
poeta é outra coisa”.
Que
poesia o escolheu a você?
Eu
fui escolhido pela poesia da dor, dura, do absurdo
de viver, mas nela se percebe o anelo de
reconciliação com o amor.
A
poesia esta feita para que tenhamos saudades dela, é
para estarmos ausentes, se apresenta mais quando
fazemos silêncio, a verdade se nos revela nos
momentos em que estamos sozinhos”.
Dentre os mais de dez cadernos poéticos de Oñate
destaque para Quando morí, do qual ele leu
alguns poemas na velada.
De
acordo com o título, quando o senhor considera que
se “vivem” instantes de morte?
“A
resposta está em um poema do livro chamado Banda
de rock: “Morre-se mil vezes
quando se ama mais de uma vez, quando algo aconteceu
nos nossos corações”.
Por
seu lado, Antonio Preciado, atualmente embaixador do
Equador na Nicarágua, deu fé acerca da utilidade que
ele encontra em recitar de cor seus poemas e fazê-lo
sempre de pé.
“Estou
convicto de que na raíz mesma da criação está
prevista a comunicação, um destinatário ou muitos
destinatários.
Busco a possibilidade de comunicar também na
escrita, porque não se escreve para a gente mesma. A
palavra está carregada de mundo e essa carga só é
possível com a participação de todos”.
De
seu livro Con todos los que soy, da editora
cubana Matanzas, e lançado nesta Feira, adiantou sua
essência: “Em mim vivem muitos, apertados em quem
singularmente sou, então do ponto de vista da
criação, da escrita, da poesia, tenho que buscar a
forma de que, sem que a poesia seja uma cópia da
realidade, se perceba que o poeta recebe a
incidência de seu veio alimentador”.
“Creio que a palavra não pode ser inóqua, e na
palavra comprometida do poeta, não dita de forma
burda. É preciso procurar a fórmula, os recursos
expressivos que sirvam para uma comunicação atual,
que se aproxime, que arrepie a pele do receptor, que
toque nele.”
Las
bocas de los ángeles
foi
um dos poemas mais aplaudidos, com toda a certeza,
devido à altura que atinge nele a dimensão humana.
“A
defesa da negritude é um eixo transversal na minha
obra poética. Eu não creio que deva deixar de dizer
tudo o terrível que fizeram aos negros, ao longo da
história, mas sei também que na escala zoológica a
humanidade é uma só.
Primeiramente sou um ser humano, depois um homem
negro com determinadas características raciais,
culturais, étnicas, e vou de encontro com os demais,
que são meus irmãos e que é a grande maioria”.
“Tenho
— continuou — um amor imenso que odeia um pouquinho
o que é preciso odiar nesta vida — a guerra, o
opressor, o império e seus sequazes — eu procuro
então o encontro com todos os seres humanos, sou um
militante da humanidade”.
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