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C U L T U R A

Havana. 5 de Março, de 2014

De sapateiro em Los Sitios
a rei da melodia


Amélia Duarte de la Rosa

 AQUELE jovem do popular bairro havanês Los Sitios, sapateiro e vendedor de jornais, estava longe de imaginar que algum dia uma de suas composições chegaria a ser uma das canções mais representativas de Cuba, em nível internacional.

 Guajira Guantanamera, patrimônio musical de Cuba e um dos temas que mais versões têm em várias latitudes, deve seu nascimento ao gênio de Joseíto Fernández, um autor e compositor, talvez não muito lembrado como deveria, que morreu há quase 35 anos, em 11 de outubro de 1979.

 Mas quem foi realmente este homem de aspecto humilde, que soube transcender na Ilha da música, berço de tantos compositores, músicos e cantores pródigos?

 O rei da melodia — como era conhecido — embora jamais quisesse viajar ao estrangeiro, teve em sua música sua fiel embaixadora.

 Respeitoso e calado segundo comentam aqueles que o conheceram, Joseíto começou a cantar desde muito jovem, de maneira autodidata.

 No início de sua carreira, integrou trios, grupos e orquestras. Figurou nos sextetos de som Los Dioses del Amor, Juventud Habanera, Boloña, Jiguaní e Amate. Também cantou com charangas de danzón, entre elas, a de Alejandro Riveiro, que depois foi chamada Orquestra de Joseíto Fernández.

 Em 1928 compôs La Guantanamera; contudo, a nascente canção concebida a ritmo de sexteto ganhou celebridade em 1963, quando o cantor estadunidense Pete Seeger a interpretou, durante um concerto no Carnegie Hall, de Nova York.

 Ainda assim, em 1940, Joseíto e sua orquestra de danzón gravaram a canção para a editora RCA Victor. A guajira-son foi muito popular nessa década. Não foi depois de que um trio de cantores norte-americanos fizesse a primeira gravação comercial de La Guantanamera — com os versos de José Martí incluídos — que o tema se tornasse rapidamente sucesso internacional. A partir desse momento, muitos cantores e agrupações incluíram a peça no seu repertório, de maneira sempre renovada.

 Rememorando a história de Joseíto (o rei), segundo os estudos sobre sua vida, em 1943 foi contratado pela emissora CMQ, para realizar o programa artístico musical “O acontecimento do dia”, que se manteve no ar durante 14 anos. Joseíto, que sempre vestia de branco, fechava o programa cantando La Guantanamera, com versos alusivos ao fato, geralmente trágico, que a emissora de turno narrava.

 O recentemente falecido Senén Suárez o lembrava em um de seus artigos como homem simples, de povo:

 “O que mais me impressionou de Joseíto foi sua personalidade, sua singeleza, apesar de ser um artista modestamente pobre e que sentia o campo como se tivesse nascido nele. Sempre se vestia com calças brancas e guayaberas (camisa típica cubana) brancas, e cartola de tecido fino, todo em seu conjunto irradiava brancura absoluta de alma, espírito e pessoa. Esse era Joseíto por onde quer que passava”.

 “(...) O cantor era muito querido no bairro onde viveu 50 anos de sua prolífera vida artística, Gervasio, número 658, entre Estrella e Maloja, onde tinha um altar majestoso, atualmente museu, onde se apresentam atividades de todo tipo”.

 Porém, mais que a popular peça que o imortalizou, o interprete também foi um prolífero compositor. De sua autoria são os boleros A mi madre, Me has enganado, Tú misma me acostumbraste; as guajiras El canto de mi sinsonte, A ti guajira; e as guarachas El cuarto se moja e Elige tu, que canto yo, tema glorificado por Benny More com sua Banda Gigante, nos finais dos anos 50. Joseíto também tem o mérito de ser uma das figuras mais representativas do danzonete.

 Os arquivos de rádio e televisão entesouram sua voz e imagem nas apresentações que realizou nas emissoras CMW, CMCO, CMQ, RHC Cadena Azul, e nos programas de televisão San Nicolás del Peladero e Palmas e Cañas.

 “Cubano até a medula dos ossos”, como ele mesmo afirmou em uma ocasião, Joseíto destacou por sua retidão e tratamento respeitoso. Os testemunhos afirmam que dominou a fama e jamais abandonou seus amigos. Exemplo disto é a última décima que escreveu em Havana, pouco antes de sua morte:

Sempre simples, decente

atento com todos

e ainda com dor profunda

sempre tenho sido complacente.

Não tive nunca um gesto feridor

nem sequer com uma criança,

porque sempre na minha carreira

tenho pensado como humano

que aquele que é cruel e tirano

é preferível que morra.

 

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