Adalberto y su
son: 30 anos
não são nada
Rafael Lam
ADALBERTO Alvarez é o músico mais
emblemático do son contemporâneo, o conjunto musical
que ele dirige completou 30 anos em 26 de fevereiro
passado, um tempo que para ele não é nada porque
"aspira a manter o son vivente durante muitos anos
mais".
Adalberto lembrou aqueles dias em
que iniciava um novo projeto em Havana, em 1984,
tendo "o impulso amistoso de Oscar D´Leon, o qual
nos batizou com o nome de Adalberto y su son. Saímos
com uma nova linha frontal, os cantores: Félix Baloy,
Ciso Guanche e a voz primeira de Héctor Anderson.
Pancho Amat tocava o três e tínhamos outros músicos
muito bem treinados. Logo, várias das nossas peças
apareceram nos primeiros lugares da lista de
sucessos para os dançarinos: Esperando que vuelva
María, El regreso de María, Mi negra se ha vuelto
loca..."
Antes dessa experiência de Adalberto
y su son, o músico havia deixado uma forma peculiar
de fazer música com o Conjunto Son 14, em 1978, no
qual criou "com certo esquema aleatório no tom, uma
música simples, espontânea e cheia de frescura",
segundo escreve numa nota, na capa do primeiro disco
de Son 14, o pianista, compositor e produtor, Fank
Fernández.
Em 1992, Adalberto revelou ao
jornalista Leonardo Padura que no começo, na década
de 70, procuravam uma atmosfera que tivesse relação
com a ‘salsa’ latina, da qual ele tinha uma
abundante informação.
"O primeiro foi buscar meu estilo,
uma personalidade, um selo que me identificasse e me
diferenciasse do conjunto Rumbavana, agrupação para
a qual eu compunha canções e com a qual me
identifiquei na minha juventude".
Por isso introduziu os trombones.
"Naquela época dominavam o palco Tito Puente, os
Palmieri e a orquestra Fannia All Star,
identifiquei-me com algumas das músicas de origem
latino-americana e me propus, com minhas
composições, impor um selo próprio, bastante
semelhante ao que se produzia na música para dançar
na América Latina. Dessa maneira, tentava dalguma
forma devolver-lhes o que eles estavam fazendo com a
música nossa. Por isso é que Son 14, às vezes, era
parecido com um grupo latino-americano, isto é, um
grupo capaz de satisfazer o gosto de qualquer país
do continente, porque estávamos mais perto do estilo
geral da música para dançar que estava sendo feita
na América Latina, com um defeito que, voltando a
escutar, já passados tantos anos, as gravações de
Son 14, consegui descobrir algo de muito interesse:
fazíamos a música muito mais rápida que o restante
dos ‘salseiros’, isto é, mais ao gosto do dançarino
cubano. E eu penso que se tivesse a experiência
destes anos, faria uma música mais adequada ao
dançarino, mais perto desta cadência que estou
fazendo agora com o grupo Adalberto y su Son.
E ainda mais, Adalberto foi criando
um estilo, um timbre no son, fundido com a trova
tradicional. Da trova extraiu a lírica romântica e
do son os essenciais ‘tumbos’ e ‘montunos’. Como
bússola se inspirou no pianista Lilí Martínez, em
Arsenio Rodríguez e Félix Chapottín. Alimentou-se,
ainda, da guaracha ao estilo de Ñico Saquito.
"Sempre estaremos comprometidos e em dívida com os
grandes cultores do son, como Arsenio, gostaria de
homenagear Benny Moré. O son é do ano em que você o
cantar", diz Adalberto.
Noutro momento, peço a Adalberto
fazer um inventário dos acontecimentos mais
importantes de todos estes anos de vida artística.
"Como acontecimento relevante, o
primeiro foi a Escola Nacional de Arte (ENA), onde
estudei música desde 1962. Daquela experiência
lembro meus companheiros de estudo: Beatriz Márquez,
José Luis Cortés, Pachito Alonso, Emiliano Salvador,
Joaquín Betancourt, Demetrio Muñiz. Com alguns
parceiros formamos clandestinamente, em 1966, a
orquestra típica da ENA, formada por dois fagotes,
duas flautas, dois oboés, três violinos, viola e
violoncelo, uma experiência muito divertida. Foram
inesquecíveis minhas primeiras composições tocadas e
gravadas pela orquestra Rumbavana: El son de
Adalberto, Sobre um tema triste..."
"Depois, veio a etapa do meu serviço
social em Camaguey, onde dei aulas na escola de
música. Simultaneamente, me apresentava com o
conjunto Avance Juvenil, do meu pai Nene. Naqueles
dias, foi decisiva a chegada de Eduardo Morales
(Tiburón) a nosso projeto. Com o decurso do tempo,
uns quantos músicos de Camaguey, cheios de ilusões,
procuramos um lugar na música de Cuba, empreendemos
a invasão para o Oriente e formamos em Santiago de
Cuba o conjunto Son 14".
As influências e a herança musical
de Adalberto são dignas de serem contadas. "Minha
mãe, Rosa Zayas, cantava muito bem; em boa medida
era minha conselheira musical. Meu pai era músico
nos conjuntos Avance Juvenil e Soneros de Camacho.
Na minha casa se respirava música tradicional:
Arsenio Rodríguez, Félix Chapottín, La Sonora
Matancera, o conjunto Casino, a orquestra Aragón, a
Sensación, Neno González, Benny More".
Os dotes principais de Adalberto —
tal como no caso de Juan Formell — estão
concentradas em suas músicas bem-sucedidas: A
Bayamo em coche, El son de La madrugada, ¿Y qué tu
quieres que te den?, A bailar El toca toca, Para
bailar casino, Gozando en La Habana. Ainda, ele
gravou discos em parceria com Isaac Delgado, Celina
González e Omara Portuondo.
Muitas das músicas de Adalberto
foram gravadas por bandas latinas dedicadas à salsa:
La 440, Wilie Rosario, Charanga Casino, El Trabuco
Mexicano, Andy Montañez, Juan Luis Guerra, Eddie
Palmieri, Gilberto Santa Rosa e muitas mais.
Adalberto Alvarez se tem convertido
em um porta-bandeira da modalidade de dança chamada
Casino, típica de Cuba. Foi agraciado com o Prêmio
Nacional da Música 2008. Levou o son a meio mundo;
em 1983 apresentou-se no Greek Theatre Berkeley, de
São Francisco, Califórnia; em Nines, no Templo de
Diana, em Paris. Em 2002 apresentou-se no Palácio
dos Congressos de Paris, com Compay Segundo. Tem
gravados uns 20 discos. Hoje em dia, Adalberto
dirige seu próprio projeto: a Fiesta del Tinajón, em
Camaguey. "Meu objetivo principal tem sido sempre
fazer dançar os dançarinos, essa é nossa missão, dar
alegria ao povo", acaba dizendo este músico cubano.