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95º
aniversário do "Bárbaro do Ritmo"
Recordações de
Benny More
em Havana
Rafael
Lam
BENNY More, em
seu tempo, foi o ícone da capital cubana, em sua
vida boemia e andarilha, em suas cantinas, boates,
salões de baile, teatros, espetáculos, gravações de
discos e em sua vida musical.

Benny Moré, conhecido como o ‘Bárbaro do Ritmo’ foi
uma das figuras principais do son cubano. Ele era
chamado de O Sonero Mor.
Chegou a essa
grande cidade em 1936 e se instalou definitivamente,
em 1940. O cantor disse a seu primo Enrique Benítez
Mora (vulgo El Conde Negro): "Eu fico em Havana; ou
viro poeira ou me salvo".
Perambulava por
botecos e cantinas, era expulso de muitos locais de
luxo, morava em hospedarias de baixa categoria e
cantou com o quarteto Cordero, o septeto Fígaro, o
conjunto Cauto de Mozo Borgellá, o conjunto de
Matamoros e outros.
Em 1945 viajou
ao México e retornou em 1951; na primeira entrevista
declarou ao jornalista Don Galaor, da revista
Bohemia: "Eu tinha vindo para conquistar Havana
e não abria mão do meu empenho". Era preciso ver-me.
Eu tinha fé na minha voz, nas minhas canções. Pus um
violão debaixo do meu braço e sai caminhar pelas
ruas, para cantar aos turistas, e não sinto vergonha,
Carlos Gardel fez o mesmo que eu. Aquela tragédia
demorou uns três anos, mais do que eu teria desejado.
Eu queria cantar em Havana. Triunfar na capital.
Passei muita fome, as coisas correram muito mal, de
certeza, mas nada superava a emoção de estar na
grande cidade; para um camponês pensar em Havana era
o maior fato de sua vida".
Em 1952 gravou
com a orquestra de Ernesto Duarte, também se
apresentou, com muito sucesso, na emissora Mil Diez,
de RHC Cadena Azul, onde estreou o ritmo batanga,
com a orquestra Ritmos de Cuba, de Bebo Valdés.
Em Havana,
Benny More morou em muitos lugares: na rua Paula
111, no Reparto Hornos, em Marianao; na rua Oquendo
1056, entre Clavel y Santa Marta, e finalmente, o
Benny instalou-se, em 1957, na avenida 43, entre 84
e 86 (agora rua 243, entre 86 e 88), em La Cumbre,
Caballo Blanco, zona do bairro San Miguel del
Padrón, perto do Alí Bar. A casa foi mandada a
construir pelo próprio Benny, é de dois andares, com
um pedaço de terra para plantar e áreas para criar
aves e animais.
O EL CONUCO
Soubemos
daquele pedaço de terra, que ele chamava conuco (voz
indígena que significa terra de plantio) através do
excerto de um filme da televisão, no qual se vê
Benny More cortando o cacho de uma bananeira e dando
rações aos porcos e galinhas, um dos seus
passatempos, para manter suas tradições de camponês,
para se livrar das tensões depois de suas
apresentações e gravação de discos.
A casa mantém-se
bem cuidada, atendida com esmero, e conta com
excelentes fotos oferecidas por Jorge Luis Sánchez,
diretor da fita El Benny. Na entrada, há uma
placa que diz: "Aqui morou o ‘sonero’ Benny More,
sangue e espelho de nossa condição mestiça,
homenagem de Cuba. Fundação da Cultura
Afro-hispano-americana, Sevilha, Havana, 1998".
Uma de suas
esposas, a bailarina Norayda Rodríguez, contou ao
jornalista Félix Contreras que Benny era um homem
especial... Lembro-me do que ele gostava de comer:
pato ao molho, dos patos que ele criava no quintal;
cozinhava ‘ajiaco’ (caldo de legumes, vegetais e
carnes), bebia refrigerante de tamarindo.. isso era
do que mais gostava... ah!, e rabo de boi estufado,
com molho de tomate e pimenta. Gostava também de
comer lagosta.
Outras
refeições apreciadas por Benny More, segundo seus
irmãos, eram: leitão assado, carne seca, bacalhau,
quiabo, arroz com camarão, ‘ajiaco’, banana com
torresmo, cutia assada (temperada com pedaços de
cana de açúcar, para matizar o forte cheiro).
Preparava uma esquisita comida lucumi: mandioca com
farinha, gordura e bolas de amendoim. Adorava imenso
a comida chinesa (cubanizada) do restaurante
Pacífico. Desfrutava dos enchidos fabricados pelo
negro Congo, em Catalina de Guines.
Segundo a atriz
Odalys Fuentes, o cantor costumava comer ovos
escalfados aos quais acrescentava alho e óleo, para
acompanhar sua bebida preferida, o rum Peralta, e
não era fã da cerveja.
ESTREIA DA
BANDA GIGANTE

Benny Moré e sua
Banba Gigante deleitaram o público com ritmos como
son,
guajira, afro, rumba, montuno e bolero.
A Banda Gigante
foi conformada com a colaboração de vários músicos
excelentes. Começou a ensaiar em um local, no
cruzamento das ruas Infanta e Pedroso e estreou no
programa Cascabeles Candado, da CMQ Rádio. Era
formada por 15 ou 20 músicos. Contou, em alguns
momentos, com orquestrações de Eduardo Cabrera
’Cabrerita", Pedro Justiz "Peruchin" e Generoso
Jiménez. Os conceitos harmônicos eram bem do son
cubano, à maneira de Bebo Valdés.
Clemente
Piquero "Chicho", revelou ao realizador Puri Faget
que a estreia "foi sensacional, espetacular, a
elegância dos músicos foi surpreendente, com paletós
cruzados de quatro botões, gravata de seda, calças
de perna estreita e sapatos de charol. Benny
envergava um fato branco de linho irlandês, gravata
vermelha, um cravo na lapela e sapatos de duas cores.
A orquestra revelava-se um verdadeiro show que
ninguém queria perder. Alguns ficaram petrificados,
ofuscados, desfrutando do espetáculo".
Benny cantou em
boates de primeira, segunda e terceira categorias,
fez concertos em La Campana, La Sierra, o El Palete,
e no Alí Bar. Também esteve em Montmartre e
Tropicana. Ali apresentou-se com Rita Montaner, na
superprodução El Solar, sob a regência do coreógrafo
Alberto Alonso. Em 1958 estava no terceiro show de
Tropicana, o que veio demonstrar que Benny lotava os
salões e a qualquer hora.
Foram
memoráveis suas apresentações, em março de 1961, no
carnaval da Avenida do Porto e nesse ano obteve o
disco de prata pelo disco LP Se te cayó el tabaco.
Em 1962, atuou
na boate Caribe, do hotel Habana Libre, nos jardins
das fábricas de cerveja La Tropical e La Polar, nas
boates Cabaret Sierra, Night and Day e no teatro
Amadeo Roldán, no 1º Festival Nacional de Música
Cubana, organizado por Odílio Urfé. Ainda, nesses
dias, em 12 de setembro, atuou no salão Mambí, no
estacionamento de Tropicana.
NO ALÍ BAR

A boate Alí Bar, um
dos recantos emblemáticos de Benny Moré em Havana.
A boate Alí Bar
é um dos recantos emblemáticos de Benny More. Foi
seu quartel general, onde deixou uma lenda
perdurável. Em suas apresentações dividiu o palco
com todos os cantores que na época ocupavam os
primeiros lugares na preferência musical.
Benny More
começou no Alí Bar em 1953, fazendo suas
apresentações com um pequeno grupo de músicos da
boate, às vezes reforçado com o trombone de Generoso
Jiménez. Somente numa ocasião, como algo especial,
Benny apresentou-se com a Banda Gigante. Benny
sempre tinha muitos compromissos por Cuba toda, mas
sempre procurava um momento para cantar no Alí Bar.
O grande
compositor e violonista Leo Brouwer diz que Benny
More "fez o que sentiu e não o que lhe convinha".
Homenagem a
Benny More, o ‘Bárbaro do Ritmo’, em eu 95
aniversário natalício, com recordações de sua
passagem por Havana, cidade que neste ano completa
495 anos de fundada. •
Pies de
fotos...
Em
24 de agosto completam-se 95 anos do nascimento de
Benny Moré. Nasceu em 1919, no bairro Pueblo Nuevo,
da cidade de Santa Isabel de las Lajas, em
Cienfuegos.
Estátua de bronze de Benny Moré, de tamanho natural,
na cidade de Cienfuegos, Cuba. |