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3º mês da cultura brasileira em Cuba
• Tempo e
espaço para uma arte e pensamento próximos
Mireya
Castañeda
HAVANA se
acostumou a celebrar semanas culturais e de cinema
de diferentes países. Pela terceira ocasião cabe ao
Brasil e com a intensidade de sua arte e pensamento,
terá lugar durante todo o mês.
Em uma
entrevista coletiva efetuada na sala Manuel Galich,
da Casa das Américas, palco da maioria das
atividades, foi apresentado o programa, que inclui
teatro, exposições de livros e artes plásticas,
palestras, cinema e música.
O embaixador do
Brasil em Cuba, Cesário Melantônio Neto, ao
introduzir as propostas, considerou que são inúmeros
os elementos partilhados pelos dois países, assim
como que são sólidos os vínculos existentes entre
suas instituições. "A cooperação cultural
Brasil-Cuba tem uma peculiaridade, é muito
espontânea", afirmou o diplomata.
Entretanto, a
diretora da Imprensa da Casa, Mayté Lorenzo, lembrou
os laços históricos dos intelectuais brasileiros com
a instituição. "A coleção latino-americana e
caribenha teve início, em 1963, precisamente com a
obra Memórias Póstumas de Brás Cubas", de
Joaquim Maria Machado de Assis".
Devido à música
brasileira "ser uma das mais ricas que existem",
segundo afirma o reconhecido saxofonista César
López, o Mês da Cultura Brasileira em Cuba teve
início com um concerto de López e seu grupo Habana
Ensemble, um grupo bem cotado dentro do jazz em Cuba
e no estrangeiro. O concerto teve lugar na sala Che
Guevara da Casa das Américas.
Este artista
sente uma grande paixão pela música brasileira e,
por isso, no concerto apresentou músicas antológicas
desse país. López, que cada mês, durante seu
concerto no Jazz Café, apresenta um espetáculo
chamado As Noites Brasileiras, fez questão de
lembrar que já gravou com músicos brasileiros como
Ivan Lins, e, ainda, com outras estrelas do mundo,
como Roy Hargrove, Silvio Rodríguez, Chucho Valdés,
Danny Rivera e Leo Brouwer.
O teatro
marcará presença com a encenação, no Teatro Nacional
de Guiñol, da obra A farsa do boi ou o desejo de
Catirina, a cargo da companhia de fantoches
Teatro Viajero. A peça do brasileiro Adriano Barroso
adentra no universo mítico-popular da região
amazônica com "a dança ou o carnaval do boi", uma
mistura da cultura afro-brasileira com lendas
amazônicas.
Outra das
propostas da Casa é a exposição América Ilustrada,
que mostra importantes peças da gráfica brasileira,
incluídas na coleção Arte da Nossa América, doadas
por artistas e instituições do gigante
sul-americano, nos últimos 15 anos.
Na Fábrica de
Arte o público poderá ficar atualizado acerca do
rumo atual das artes visuais no Brasil, graças a uma
palestra de Íbis Hernández, especialista da equipe
de curadores da Bienal de Havana, acerca da Bienal
de São Paulo, um encontro que já conta com mais de
30 edições e 60 anos de existência.
A Casa das
Américas volta a ser protagonista, desta vez no
âmbito da literatura, pois de seu Fundo Editorial
serão exibidas obras de mais de trinta autores. Na
biblioteca da Casa poderão ser apreciadas obras de
Machado de Assis, Frei Betto, Rubem Fonseca, Chico
Buarque, Thiago de Melo, Darcy Ribeiro, Augusto
Boal, Clarice Lispector, Fernando Morais, Nélida
Piñon, Emir Sader e outros, porém complementadas com
documentos dos seus arquivos "que testemunham o
entranhável relacionamento dos autores com a Casa".
Interessa
especialmente a homenagem que a Cinemateca oferece
ao grande ator brasileiro de cinema e telenovelas
José Wilker, falecido no mês de abril passado.
Wilker, 66 anos, que foi ainda diretor e
apresentador, é uma figura imprescindível na cultura
popular brasileira. Tornou-se famoso
internacionalmente por seu papel principal na
telenovela Roque Santeiro, de 1985, com
Regina Duarte. E pelo personagem de Vadinho, o
marido que retorna da morte para importunar Sonia
Braga, na fita Dona Flor e seus dois maridos,
de 1976.
Graças à
homenagem a José Wilker, no mês de outubro o público
poderá ver, no cinema 23 y 12 e na sala de cinema
Charlot, 14 das fitas em que Wilker atuou. Esta
retrospectiva começa com O homem da capa negra,
do diretor Sérgio Rezende, que conta a vida de
Tenório Cavalcanti, personagem muito polêmico do Rio
de Janeiro dos anos 50 o qual, levando uma capa
negra e com uma metralhadora na mão se converteu em
uma espécie de justiceiro, desafiando os corruptos e
poderosos que dominavam a cidade.
Ainda, destaque
para Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de
Andrade, que trata acerca da Inconfidência Mineira,
movimento revolucionário contra a dominação colonial
portuguesa, tendo como um de seus líderes o dentista
Tiradentes. Não podia falta Dona Flor e seus dois
maridos, filmada em 1976 por Bruno Barreto. É
inspirada na obra homônima de Jorge Amado, um belo
romance de costumes, mas carregado de ironia,
lirismo, algo de sátira social e um verdadeiro
esbanjamento de sensualidade.
Sempre
representando personagens de caráter, Wilker encarna
Poncio Pilatos no filme Maria, mãe do Filho de
Deus, de Moacyr Góes. Será exibida, ainda, a
fita Giovanni Improtta, dirigida e
protagonizada, em 2003, pelo próprio José Wilker, na
qual fala de um trapaceiro do Rio de Janeiro que
deseja ascender socialmente e se legalizar.
Wilker foi,
indubitavelmente, um dos melhores e mais famosos
atores do audiovisual brasileiro. Teve uma brilhante
carreira e foi muito reconhecido pelo público, pois
encarnou personagens variados, ganhando, com suas
excelente atuações, o respeito e a preferência do
público. Ao todo, fez mais de 110 interpretações
para o cinema e a televisão.
Este 3º Mês da
Cultura Brasileira em Cuba tem um intenso programa
concebido em parceria entre a embaixada do Brasil, o
Ministério da Cultura, o Instituto Cubano de Cinema
(Icaic) e a Casa das Américas. Mas é impossível
concluir sem um suspiro: não há nem samba nem
batucada...
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