Mireya
Castañeda
"NESTA 10ª edição, Maio Teatral se
interessa em conhecer como decorre o processo de
inclusão da literatura, o cinema e o vídeo no
teatro", segundo afirmou em Havana a diretora do
Departamento de Teatro da Casa das Américas, Vivian
Martínez Tabares.
"É por isso que se o espectador se
detém no programa que estamos propondo, apreciará
que as obras que vão apresentar os sete grupos
estrangeiros e os cinco cubanos têm em comum esse
diálogo", afirmou a também reconhecida crítica
teatral.
"A curadoria das obras é muito
exigente — salientou Martínez Tabares — mas também
temos que dizer que fazemos o trabalho a partir do
que temos ao nosso alcance e com o que contamos
economicamente".
Durante um encontro com a imprensa,
a diretora deste departamento da Casa das Américas,
que está comemorando seu cinquentenário, fez uma
caracterização dos 12 grupos e das obras que serão
apresentadas nesta temporada, que se estenderá de 16
a 25 de maio, em seis salas da capital, e nas
províncias de Cienfuegos, Camaguey e Santiago de
Cuba.
Dos convidados, quatro grupos já
participaram anteriormente desta cita do teatro,
entre eles o emblemático Malayerba, do Equador, que
nesta ocasião vai apresentar sua obra mais recente
Instrucciones para abrazar el aire,
dramaturgia e direção de Aristides Vargas, a qual,
segundo Martínez Tabares "recreia metaforicamente o
fenômeno da expropriação de crianças, durante a
ditadura na Argentina".
Os dois grupos da Bolívia, Teatro de
los Andes e Kiknteatr, apresentam-se com duas
versões de Shakespeare "ao modelo boliviano". O
primeiro apresentará Hamlet de los Andes,
"com um atraente trabalho de imagem e luz" e o
segundo, Romeo y Julieta de Aramburo
(indicação direta a Diego Aramburu, responsável pela
versão), que igualmente "contextualiza a realidade
desse país".
O Brasil também chegará com dois
grupos, Boa Companhia, com Primus, adaptação
de Verônica Fabrini e Isabella Tardin, sobre o conto
Informe para uma academia, de Frank Kafka,
que "traduzem a literatura em teatro físico,
acrobático, de ritmo atraente". E Teatro Coletivo da
Margem, que propõe dois unipessoais interpretados
pelo ator Narciso Telles, Memorial de silêncios e
margaritas, conformado com textos do uruguaio
Eduardo Galeano, acerca de torturados e torturadores
nos anos da ditadura no Brasil, e Potestade,
que parte de uma das obras mais importantes do
dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky, onde se
volta ao traumático roubo de crianças.
O grupo mexicano Teatro de Ciertos
Habitantes "nos traz um clássico de seu repertório
que dialoga com o cinema mudo", El automovil
gris. E foi convidada a Companhia Nacional de
Dança Contemporânea da República Dominicana que
dirige Marianela Boán, que vai apresentar sua
coreografia Sed, "um espetáculo que mistura a
dança, o teatro, o canto, o vídeo, o trabalho com o
objeto e a música ao vivo".
Os cinco grupos cubanos convidados
dialogam com a literatura: O grupo Ciervo Encantado
retorna com Un elefante ocupa mucho espacio,
inspirado no conto homônimo da argentina Laura
Devetach, Prêmio Casa das Américas 1975, em
Literatura para crianças e jovens; o Estudio Teatral
de Santa Clara, com Hojas de papel volando,
sobre o livro de poemas homônimo da colombiana
Patricia Ariza; o Teatro de la Luna, com
Matrimonio Blanco, texto do polaco Tadeusz
Rozewicz; o grupo de fantoches Teatro de las
Estaciones retorna com Alicia en busca del conejo
blanco, inspirada em dois textos de Lewis
Carroll e o grupo Teatro El Público, com a premiada
obra de Rogelio Orizondo Antigonón, un
contingente épico, a partir do mito grego de
Antígona.
Além do palco, esta temporada se
multiplica com um Encontro de Teatrólogos
Latino-Americanos e Caribenhos, workshops,
desmontagens de obras, exposições e a celebração do
cinquentenário da revista Conjunto, fundada
pelo guatemalteco Manuel Galich.
Uma década de Maio Teatral, espaço
que concede relevância ao diálogo do palco com
outros gêneros, mas também entre teatrólogos
latino-americanos e caribenhos, e o mais importante,
com o publico que os acompanha.