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As boas energias de Paulo FG
• O cantor e compositor apresenta um
novo disco, Abre que voy, com a editora Egrem e faz
sua estreia como ator
Mireya Castañeda
PAULO FG é uma das figuras centrais da timba
(tipo de música) cubana. Sua imagem elegante e
moderna arrasta legiões de fãs. Mas, muita atenção,
ele é realmente um músico extremamente inteligente e
com muita habilidade para improvisar.
Muitos músicos lhe reconhecem sua perícia para
combinar, tanto com a melodia como com as palavras
de suas canções e sua versatilidade no palco.
Paulito FG lançou, recentemente, no bar-café
Delirio Habanero, do teatro Nacional, seu novo
disco Abre que voy, da editora Egrem, casa
discográfica que está comemorando seu 50º
aniversário.
Paulito afirma que “sempre quis ser músico”. E para
suas composições se inspira em tudo aquilo que o
rodeia e nos fatos cotidianos.
“Sempre esteve na minha música, no meu voo poético,
na minha rumba, na minha descarga. Todo artista com
sentido de pertença tem grande sensibilidade e
consciência do entorno em que vive, das coisas que
acontecem... Minha carreira é artística e musical...
sou muito honesto. Acompanho com muita atenção
minhas inquietações musicais, tento satisfazer o que
as pessoas exigem para sentir-se bem, para
divertir-se, para entreter-se. Meu trabalho é fazer
música para dançar, tenho uma orquestra que me
acompanha, que acredita na minha pessoa. Gosto de
fazer dançar as pessoas, de fazê-las rir, essa é
minha tarefa como artista, cantar ao amor e a outras
coisas que fazem parte da picaresca do cubano, do
cotidiano”.
Paulo Fernández Gallo (Havana, 1962) além de cantor
é um bom compositor. No novo CD os dez temas são de
sua autoria.
Do seu início, a fusão tem estado em primeiro
plano, mistura correntes como o rock, a balada, o
jazz e o son, com sonoridades contemporâneas às
quais une textos novos.
A linguagem de muitas músicas de inúmeras
agrupações tem estado no bojo da crítica, pela
vulgaridade de muitas delas. Não sendo o caso de
Paulo FG.
Tampouco é de filosofar, pois sua orquestra,
La Elite,
faz música para dançar. A esse respeito ele
expressou:“...gosto muito da linguagem direta, não
gosto de divagar com metáforas... a linguagem direta
é mais prática para a música para dançar, o público
gosta mais disto”.
A carreira de Paulo FG foi ascendendo
constantemente, desde que se apresentou no Festival
Internacional de Varadero, em 1986, com Adalberto
Alvarez y su son. Depois, foi cantor principal
de grupos como Dan Den, de Juan Carlos
Alfonso, e Opus 13, agrupação dirigida por
Joaquín Betancourt.
Em 1992, criou seu próprio grupo, apresentando-se
em mais de vinte países e gravando uma dezena de
discos.
O primeiro disco com sua agrupação, Tú no me
calculas, data de 1993, a seguir aparecem,
Sofocándote (1994); El bueno soy yo
(1996, Prêmio Egrem, na categoria de música para
dançar e da popularidade); Con la consciencia
tranquila (1997); Una vez más por amor
(2000); Te deseo suerte (2002); Ilusión
(2005, disco de boleros clássicos, com um novo
contexto para a contemporaneidade, Prêmio Cubadisco
na categoria canção); Un poquito de to (2006)
e Sin etiqueta (2010).
“ABRE QUE VOY”
Paulo FG tem liderado, em Cuba, a maioria das
sondagens da popularidade. Contudo, nos últimos
tempos não esteve tão presente nos palcos da Ilha. A
esse respeito, nos falou depois da apresentação de
Abre que voy:
“Quero
ter maior presença. Felizmente, mantemos um público,
uma demanda. Mas temos projetos internacionais e por
isso temos estado um pouco afastados, creio que com
uma boa campanha de apresentação das canções e dos
vídeosclipes este disco vai ajudar nisso”.
Espera que o disco seja “um novo impulso, depois de
certos impasses de produção discográfica, de
trabalho. Estava tranquilo e reuni muitas coisas, me
preparei e trago avanços”.
Para Paulo FG “o disco em geral tem um potencial em
suas músicas e pode inserir-se na preferência dos
dançarinos e do público em geral. Por exemplo, La
matadora tem sido uma peça muito elogiada.
Sabemos disso pelos downloads na Internet. A música
deste disco tem aberto espaços. No Peru foi proposto
como o melhor disco do ano da timba”.
“É por isso que tenho boas energias com a nova
música — explicou — nos eventos funciona muito bem,
o público não conhece as peças e não vá embora da
pista, isso se chama aceitação”.
Temas do disco?
“De amores, é um tema que sei que as pessoas
vão gostar muito, sobretudo aqueles que tenham
sensibilidade. Outros vão gostar pelo sabor, por
essa condição do cubano de sentir a música para
dançar, com temas muito simpáticos como La
matadora, Por su culpa, La culpa es de
Cupido, um tipo de salsa-timba, de fusão com
novas tendências, que me faz lembrar Tu no me
calculas, meu primeiro disco e Dale play,
que significa continuar para diante”.
A la Lokera,
com o grupo de regueton Jacob Forever...
“Isto não é novo, sempre gosto de fazer nossa
música com outros gêneros, acho que esta fusão, não
só com o regueton, é boa para qualquer artista,
sempre que a interpretação seja de qualidade e de
acordo a um gosto estético”.
Para De amores, uma das músicas mais
bonitas, se une com o nicaraguense Luis Enrique,
famoso na América Latina por seu estilo de salsa
romântica e vencedor de um Grammy Latino, em 2012
como melhor álbum Salsa por Soy y seré.
“Luis Enrique é um músico consolidado, do ponto de
vista internacional. Temos um timbre bastante
parecido. Foi muito bonito trabalhar juntos, temos
empatia, simpatia pessoal. Compartilhamos como
amigos”.
O novo CD abrange vários gêneros, merengue,
bachata, balada... “É algo que me caracteriza do meu
início. Não comecei como solista, por tal motivo era
obrigado a fazer diferentes gêneros. Eu sou um
cantor, não só um salseiro. Faço o que sinto que
possa transmitir”.
Ao precisar acerca de Abre que voy, afirmou
que é um disco “eminentemente para dançar com certos
descansos. As pessoas necessitam um momento de
descanso. Abre que voy é para bailar forte,
depois o merengue tem outro movimento, a salsa e a
bachata são dançadas de outra maneira, para que as
pessoas se mexam de maneira diferente”.
O novo disco tem uma sonoridade diferente, com
muita qualidade, está muito bem masterizado
(engenheiro Juan Mario Aracil), mixagem (GML
Recording Studios) e gravação (na Abdala e Elite
Productions Studios).
Para Paulo FG “a música tem que ter um trabalho de
produção e edição tecnológica para que lhe dê os
níveis adequados e para que soe em diferentes
panoramas, de maneira agradável e efetiva. Pode,
inclusive, ser um bom disco, mas sem um bom trabalho
não vai ter sucesso. Abre que voy foi
trabalhado por todas partes. O disco está completo e
vai gostar muito”.
Algum anúncio?
“Dois projetos para este ano, um de música para
dançar e outro de música romântica, que seria o
segundo meu, o primeiro foi Ilusión”.
“VUELOS PROHIBIDOS”
Quando jovem, Paulo FG começou a estudar teatro mas
depois não tinha tempo para a atuação. “A música era
mais forte que eu, de tal maneira que não pensava
noutra coisa, sou muito tenaz com minha obra, gosto
do trabalho musical, de produzir para as pessoas,
descarregar toda a energia no palco é minha
realização”.
Agora faz estreia como ator no filme Vuelos
prohibidos, dirigido por Rigoberto López, que
não é um recém-chegado à música, pois seu
documentário Yo soy del son a la salsa (1996)
é um clássico da cinematografia cubana.
“O filme foi uma proposta de amigos. Atuar foi
difícil, estava na França filmando e ao mesmo tempo
trabalhando para o disco. Escutava e enviava
mensagens sobre o trabalho, foi muito difícil porém
enriquecedor, uma grande experiência”.
No filme, Paulo FG não canta e contracena com a
atriz francesa Sanâa Alaovi. Atualmente, o filme
está em processo de edição, “é uma história de amor
que se desenvolve entre Paris e Havana, que ao mesmo
tempo tenta refletir sobre vários temas da Cuba
atual”.
Diz que “tem sido uma honra ter trabalhado com
Manuel Porto, Mario Balmaseda e Daysi Granados”,
nomes imprescindíveis do cinema e do teatro cubanos.
Uma avaliação de sua carreira?
“Minha felicidade é fazer música, com sucesso ou
sem sucesso. Já tive sucesso e sou modesto e
conforme. É preciso viver. Tenho sido consequente
com nosso público e as pessoas nos retribuem e isso
é impagável. Faço meu trabalho com muita paixão”.
As boas energias de Paulo FG concederam-lhe gravar
um novo fonograma, Abre que voy, e não só
fazer estreia no cinema, mas também fazê-la como
protagonista. Com certeza tem que ter trabalhado com
muita paixão para conseguir fazer um disco e um
filme ao mesmo tempo.
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