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Reabilitação neurológica com
enfoque integral
• No 25º
aniversário da sua criação, por iniciativa de Fidel,
o Centro Internacional de Restauração Neurológica de
Havana (Ciren) tem contribuído para melhorar a
qualidade de vida de mais de 120 mil pacientes de 96
países, incluindo Cuba
Lilliam Riera
Fotos de Anabel Díaz Mena
O
reconhecimento da comunidade científica e o
agradecimento dos pacientes atendidos no decurso
destes 25 anos de trabalho humano, fazem orgulhar o
Centro Internacional de Restauração Neurológica (Ciren)
de Havana, que se distingue por trabalhar com um
enfoque integral na reabilitação de pacientes que
apresentam alguma lesão ou doença do sistema
nervoso.
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O
trabalho nesta área está focalizado na
recuperação das capacidades cognitivas,
que permitem a realização de atividades
funcionais básicas. |
"A partir de
sua inauguração, em 26 de fevereiro de 1989 até à
data, uns 120 mil pacientes de 91 países — 105 mil
cubanos e 15 mil estrangeiros — conseguiram melhorar
a sua qualidade vida, graças aos tratamentos
recebidos", afirmou numa entrevista concedida ao
Granma Internacional o doutor Emilio Villa
Acosta, presidente dessa instituição científica.
O médico lembra
que essa instituição foi criada por iniciativa do
líder histórico da Revolução, Fidel Castro, e
garante que foi a primeira e até agora a única no
mundo onde é aplicado um sistema de reabilitação
intensiva (até sete horas diárias) para tratar das
sequelas provocadas pelas doenças neurológicas
degenerativas.
O alto nível
científico dos seus especialistas e a dedicação de
todo o pessoal à nobre tarefa de restituir
capacidades, diferenciam a alta instituição, que
trabalha com equipes muldisciplinares, sob a direção
de neurologistas experientes.
Pertencente ao
Ministério de Saúde Pública, no Ciren existem dois
importantes programas de tratamento: o de
Restauração Neurológica e o de Restauração Biológica
Geral (Rebioger).
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A
reabilitação intensiva, com uma duração
de até sete horas diárias, procura
diminuir as sequelas de doenças
neurodegenerativas. |
O primeiro
deles é formado por cinco clínicas especializadas,
entre as que se encontram a de Transtornos do
movimento e doenças neurológicas degenerativas —
única do país e a primeira a ser criada no
hemisfério ocidental — onde se trata, entre outras
doenças, do Mal de Parkinson, que aumenta a sua
freqüência com o envelhecimento da população.
O Parkinson é
incurável, mas pode ser tratado e se caracteriza por
lentidão nos movimentos, rigidez, tremores,
alterações dos reflexos da postura e dificuldades na
fala.
Nas outras
quatro são atendidas afecções da medula espinal,
neuromusculares, doenças cerebrovaculares, traumas
crânio-encefálicos e a paralisia cerebral infantil.
O segundo
programa, desenhado para pessoas maiores de 30 anos,
sãs ou aparentemente sadias, busca melhorar os
diversos efeitos que provoca o estresse oxidativo,
para o qual lançam mão de um leque de produtos
desenvolvidos por cientistas e médicos do Ciren.
A assimilação
de tecnologias avançadas e a criação de métodos e
procederes próprios, para transferi-los ao sistema
nacional de saúde e pô-los ao serviço da população,
e no caso dos segundos, também para a sua
comercialização, é outra das missões deste centro
com grande prestígio.
PACOTE
TECNOLOGICO CUBANO PARA CIRURGIAS AVANÇADAS
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A
instituição possui ginásios
especialmente desenhados e com
equipamento moderno para fins
terapêuticos. |
O Ciren é
munido da mais moderna e precisa tecnologia de
diagnóstico, empregue nas neurociências clínicas e
experimentais; e ao mesmo tempo conta com um pacote
tecnológico 100% cubano, que permite a realização de
cirurgias avançadas por mínimo acesso, de maneira
bem-sucedida e sem complicações.
Este pacote é
composto por uma armação ou marco estereotáxico (Estereoflex)
que se fixa à cabeça do paciente para a realização
da cirurgia — desenvolvido, em parceria, pelo Ciren
e pelo Centro de Imunoensaio (CIE) — e softwares
próprios para a planificação cirúrgica
tridimensional, o registo da atividade elétrica
neuronial, em regiões profundas do cérebro e a
cirurgia neurológica vascular.
O emprego deste
método avançado próprio permite a realização em Cuba
de cirurgias funcionais para o tratamento do
Parkinson, em pacientes em fases avançadas da doença
(4 e 5); retirada de tumores do sistema nervoso;
deformações vasculares intra-craniais, epilepsias e
outras.
O doutor Villa
Acosta referiu que 970 pacientes, entre cubanos e
estrangeiros, que sofrem de Parkinson e epilepsias,
têm sido operados, com a ajuda deste pacote
tecnológico.
Ainda, referiu
que treze instituições do país, das províncias de
Cienfuegos, Villa Clara, Holguín e Santiago de Cuba,
possuem o equipamento e seu pessoal é qualificado
para efetuar essas cirurgias.
TÉCNICA
CIRÚRGICA INOVADORA PARA TRATAR DO PARKINSON
É preciso
destacar que este desenvolvimento próprio favoreceu
a aplicação, pela primeira vez no Ciren, e com
caráter de inovação mundial, de uma nova técnica
cirúrgica para o tratamento do Parkinson — a
subtalamotomia dorsal lateral seletiva — que
consiste em "lesar" uma estrutura neuronial (o
núcleo subtalâmico), o qual desempenha um papel
fundamental no controle dos movimentos.
Além do emprego
da mais moderna farmacologia no Ciren contam, sem
dúvida, com ferramentas de luxo para a abordagem da
referida patologia, as quais continuam sendo
aperfeiçoadas.
Os resultados
obtidos pelo Ciren com esta nova técnica e outras
cirurgias funcionais têm sido publicados em revistas
especializadas de alto impacto no mundo; já foram
apresentados em congressos internacionais de
Neurologia, e têm merecido o reconhecimento e a
colaboração da universidade de Emory, em Atlanta,
Estados Unidos, através dos doutores Mahlon de Long
e Jorge Junco.
Durante muitos
anos, o Ciren contou, também, com o apoio e a
cooperação de outro profissional de destaque, o
doutor José A. Obeso, da Clínica Universitária de
Navarra, Espanha, quem foi o principal promotor de
uma reunião internacional de especialistas sobre
temas relativos ao Parkinson, que a instituição
cubana acolheu como sede, há alguns anos.
Da mesma forma,
mantém contatos com famosos especialistas do México,
Alemanha e o Reino Unido, entre outros, "como uma
forma sadia de globalização do conhecimento, em
função do bem-estar e da saúde dos povos", diz o
doutor Villa Acosta.
PROJETOS EM
DESENVOLVIMENTO COM COLABORAÇÃO INTERNACIONAL
O doutor Villa
Acosta informou que atualmente trabalham em vários
projetos, em parceria com instituições doutras
nações, entre os quais mencionou um deles
relacionado com o diagnóstico e tratamento do
autismo, com envolvimento da Espanha, México, Brasil
e a Argentina.
Precisou que
com o México e o Canadá continuam pesquisando acerca
da epilepsia, enquanto que com os Estados Unidos,
Espanha, Alemanha e Inglaterra está sendo valorizado
o emprego da Eritropoetina no tratamento do
Parkinson, bem como outras novas variantes
cirúrgicas.
Referiu que,
ainda, trabalham muito estreitamente com o Instituto
de Hematologia e Imunologia (do Ministério de Saúde
Pública cubano) e com o Centro de Neurociências de
Cuba (Cneuro), que juntamente com o CIE faz parte do
Grupo da Indústria Biotecnológica e Farmacêutica (BioCubaFarma).
Com o Instituto
de Hematologia e Imunologia estão trabalhando no
transplante neural, utilizando células da medula
óssea do próprio paciente, para tratar de um infarto
cerebral. Desde 1987, o Ciren desenvolveu técnicas
de transplante neurológico.
Entretanto, em
parceria com o Cneuro foi criado um laboratório de
estudos cognitivos para o desenvolvimento de
ferramentas e de softwares que facilitem os
tratamentos para a recuperação dessas capacidades,
sobretudo em pacientes que tenham sofrido trauma
cranial.
"No Ciren não
para a pesquisa e a inovação", diz o doutor Villa
Acosta. E lembra que são muitos os desafios, pois
seus especialistas trabalham na fronteira do
conhecimento humano.
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