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Havana. 7 Maio, de 2014

Ensino especial em Cuba
Olhar de perto o horizonte
• Com uma matrícula de quase 100 estudantes, a Escola Especial para Crianças Cegas e com Baixa Visão Abel Santamaría, em Havana, constitui um exemplo de inclusão social para aquelas que padecem desse tipo de deficiência física

Sundred Suzarte Medina

EMBORA seu andar seja pausado, "olha" para a frente como alguém que desafia as circunstâncias e bem vale um sorriso observá-lo: muito seguro de si próprio, desafiando o futuro, sonhando no seu porvir. Leva nas mãos as ferramentas cúmplices de um triunfo indubitável; porque mais do que uma condição humana, é a aptidão a que o faz progredir e enxergar aquilo que olhos comuns não conseguem.

Reiniel Guzmán Frómeta tem quinze anos e está na décima série, no instituto pré-universitário Jesús Suárez Gayol, em Havana. Trata-se de uma escola normal, como qualquer outra da capital cubana. Suas relações com o resto dos colegas da turma são boas, seu rendimento acadêmico é ótimo e o desenvolvimento social excelente. Para alguns professores, é o melhor estudante da turma; para a maioria, o aluno mais integral da escola. Limitações? Nenhuma... Bom, sim... ele é cego.

Mas além disso, Reiniel é um exemplo do que se pode conseguir, caso existir boa ligação escola-família, para a inclusão bem-sucedida na sociedade de pessoas com algum tipo de deficiência. Depois de uma formação escolar que abrangeu desde a idade pré-escolar até a nona série, na Escola Especial para Crianças Cegas e com Baixa Visão Abel Santamaría, na Cidade Escolar Libertad, na capital cubana, Reiniel estava pronto para entrar no sistema de ensino geral: dominava as técnicas de orientação e o sistema Braille de leitura e escrita. Atualmente, seus resultados são alentadores.

"Nesse centro aprendi os primeiros passos que me serviram para transitar e passar para um centro de ensino regular. A qualidade dos professores é excelente e a mudança não foi difícil. Sempre contei com o apoio de todos, em todos lados, e embora não saiba o que vou estudar, tenho muito claro que quero entrar na Universidade", confessa Reiniel.

Segundo o diretor da escola Abel Santamaría, José Manuel López López, o objetivo essencial desse centro é apetrechar as crianças com destrezas que lhes permitam integra-se plenamente à sociedade, ainda com suas limitações, de forma tal que estas não travem o sucesso nas suas vidas privadas ou profissionais.

UMA ESCOLA PARA A INCLUSÃO SOCIAL

A escola Abel Santamaría é ampla, muito ventilada e conta com espaços ao ar livre para a dispersão e a mobilidade. Dispõe de 56 professores e uma matrícula de 97 crianças, das quais 30 são cegas totalmente e as restantes padecem 29 tipos de doenças visuais, com destaque para a catarata e a miopia. Ainda, há 13 com atraso mental associado, algumas com surdez e cegueira e uma com autismo.

"Nós trabalhamos aqui com os programas do ensino geral, somente mudamos os métodos, procedimentos e métodos de ensino. Uma criança aqui obtém os mesmos conhecimentos e no mesmo tempo que uma criança no ensino geral. Isso torna possível que no momento de se integrarem, elas tenham a mesma preparação".

"Quando chegam a dominar as técnicas de orientação e sabem manipular a bengala, podemos falar da possibilidade de integrá-las a outro tipo de ensino. As crianças com baixa visão são treinadas para que empreguem sua capacidade visual com alta eficiência e a ponham em função da sua aprendizagem e da vida social".

"Quando são transferidas para outro sistema, convertemo-nos num centro de acompanhamento e apoio: facilitamos a elas todos os meios para o sucesso total na outra escola. Igualmente, capacitamos os professores. Até ao momento, nenhuma das 79 crianças integradas teve que retornar para nossa instituição. E no ano letivo próximo, tencionamos enviar 14 estudantes ao ensino geral".

"Atualmente, há 18 jovens cegos cursando estudos universitários na capital, com ótimos resultados acadêmicos", sustenta o diretor.

Com o propósito de atingir os maiores níveis de inclusão, o centro possui quatro oficinas que lhes permitem desenvolver habilidades manuais àquelas crianças que presumivelmente não possam entrar no ensino pré-universitário.

Apesar dos objetivos centrais da escola, o diretor explica que o entrave principal para a transição do jovem para o ensino geral está na decisão de alguns pais, os quais consideram que seus filhos vão sair melhor preparados se acabam todos os anos nessa escola.

Contudo, alguns professores dessa instituição coincidem em que o processo de socialização passa necessariamente pela vinculação com pessoas que não padeçam essas limitações. É por isso que o claustro trabalha de forma muito coordenada com a família, com o propósito de mostrar-lhe as melhores vias de ensino, para que as crianças aprendam a desenvolver-se de maneira individual.

ÚTEIS À SOCIEDADE

O ensino especial em Cuba constitui um dos principais desafios para o sistema educativo no país, pois supõe a especialização dos professores e o emprego de materiais e implementos que em muitos casos resultam onerosos. Ainda assim, na escola Abel Santamaría existe a iniciativa de criar meios de trabalho com os recursos disponíveis e vincular os próprios estudantes na procura de alternativas. Dessa forma, confeccionam atris com papelão, quadrículas para o ensino da matemática ou empregam outras variantes.

Há mais de 50 anos, o Estado cubano potencializa de maneira bem-sucedida, a inclusão social das pessoas com deficiências e insiste na necessidade de que a sociedade os aceite com suas limitações e veja nelas uma opção para o desenvolvimento do país.

Segundo Geraldina de las Mercedes González, psicóloga e cega por natureza, as pessoas que consideram que uma deficiência física é uma limitação para dar sua contribuição à sociedade estão enganadas, pois esses pensamentos não são mais do que "barreiras psicológicas que fazem mais dano que as barreiras arquitetônicas. Quando temos as possibilidades de desenvolver-nos socialmente o conseguimos de maneira bem-sucedida; tentamos fazê-lo da melhor maneira possível".

"E eu quero enviar esta mensagem àquelas pessoas que nos pudessem subvalorizar em momento algum: somos seres humanos iguais que os demais, com uma forma diferente de adquirir informação, através do canal auditivo e tátil; mas contamos com as mesmas potencialidades, do ponto de vista intelectual. Ainda, merecemos compartilhar um pouco da felicidade de contribuirmos e sermos úteis à sociedade", ressalta Geraldina, com um olhar úmido que contrasta com a distância em que pousa sua vista, como quem consegue olhar mais além do horizonte.
 

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