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Uma semente pela
não violência de gênero
• Um projeto
inclusivo advoga, a partir dos meios audiovisuais, a
mudar estereótipos, atraindo instituições, jovens e
artistas
Yenia
Silva Correa
EM março de
2011, teve lugar na Casa da Alba Cultural, em Havana,
a apresentação oficial do Projeto "Todas
Contracorriente", que luta pela não violência contra
as mulheres e as meninas, uma iniciativa que procura
dar maior visibilidade à figura feminina,
particularmente na mídia.
Três anos após
ter sido criado, conta com o apoio de instituições e
organizações nacionais. Para falar acerca deste tema
sua líder, a cantora cubana Rochy Almeneiro, visitou
a sede do semanário Granma Internacional.
Por que é
que surge "Todas Contracorriente"?
"Este projeto
surge graças ao meu relacionamento com o dr. Julio
César González Pagés. Comentávamos a tendência que
há nos meios audiovisuais de mostrar a mulher tão só
como um objeto sexual. Ele me propôs fazer algo a
esse respeito, a partir da música, e gostei imenso
da ideia. Eu cantava uma música que se chama
Contracorriente, da autoria de Yamira Díaz, e lhe
disse: "Esta pode ser uma peça que se pode levar a
um novo contexto e usar para esse tema", e assim
começou o projeto. Gravamos e pedi a nossa amiga
Omara Portuondo se queria participar comigo. Ela
aceitou logo. Sua participação foi como dar
legitimidade à importância deste trabalho, porque
ela é uma figura de muito respeito e tem defendido a
cultura cubana em todas as vertentes. Sua presença
foi como sair com o pé direito".
Quem aderiu
a esta iniciativa?
"Sempre
pensamos que é um projeto aberto para todo aquele
que se queira envolver, que pretende dar
visibilidade à mulher de maneira integral, lutar
pela não violência contra as mulheres e as meninas e
aceitar todos: mulheres, homens, jovens ou não, para
que se apropriem dessa ideia e participem do
trabalho".
"A partir do
momento em que a pessoa colabora de alguma maneira,
já faz parte do projeto. Esta é a ideia. Não é algo
meu nem muito menos. Embora eu seja a cara líder,
está aberto para todo aquele que queira ser uma
pessoa ‘contracorrente’".
Que
atividades vêm realizando?
"Abrimos este
espaço na Casa da Alba, chamava-se ‘Mulheres da
Alba’, e convidamos músicas, cientistas, escritoras
e poetisas, para compartilhar com o público".
"Graças ao
apoio do Instituto Cubano da Música (ICM), a
Federação das Mulheres Cubanas (FMC) e outras
organizações, como o Sistema das Nações Unidas e a
Unicef, determinamos tornar este projeto móvel e
levá-lo para as províncias".
"Nós propusemos
ao ICM uma turnê nacional e foi aprovada logo. Com o
apoio da FMC resolveram-se as questões logísticas,
que incluíam oficinas de sensibilização nestes temas
e concertos com os quais pretendíamos mostrar que as
pessoas podem escutar canções, desfrutar de um bom
momento, inclusive dançar com canções que não têm
que agredir a mulher nem mostrar violência de
maneira nenhuma".
"A primeira
turnê foi por mais de 14 cidades do país. As
oficinas tiveram lugar nas escolas de instrutores da
arte. Fizemos concertos nas cidades principais das
províncias e houve visitas aos monumentos dedicados
às mulheres importantes da história, porque tornar
mais visíveis as mulheres na história também é uma
forma de lutar pela não violência".
"Inclusive,
temos uma proposta para o Ministério do Turismo no
sentido de traçar uma rota pelos monumentos
dedicados a estas mulheres, no país todo. A ideia é
que se saiba que em cada província há uma mulher que
deve ser homenageada".
"A segunda
turnê teve como objetivo a formação de líderes de
opinião e a apresentação da campanha ‘O valente não
é violento’, direcionada aos homens.
Que lugar
ocupa o trabalho com os jovens?
"O trabalho nas
turnês é direcionado fundamentalmente ao público
jovem, porque são os que estão sendo mais
bombardeados com os produtos audiovisuais violentos,
com o machismo e são eles o que têm nas mãos
transformar a sociedade".
"Creio que é
trabalho nosso educá-los, por isso escolhemos as
escolas de arte, porque os intrutores da arte estão
inseridos nos lugares onde se estão determinando
políticas culturais em nível comunitário. Achamos
importante envolver a juventude que se está formando
para que sejam educadores".
O que foi
previsto para 25 de novembro?
"Em 2011 teve
lugar a primeira oficina de sensibilização acerca
destes temas para os artistas. Em breve, vai haver
outra ligada à jornada da não violência, que é de 25
de novembro a 10 de dezembro. São 16 dias de
ativismo mundial pela não violência, e o dia 25 de
novembro é o dia mundial da não violência com as
mulheres e as meninas.
"Existe um
programa da rede de artistas "Únete", acerca daquilo
que se pode fazer no país para dar maior
visibilidade à campanha. Isso inclui oficinas
dirigidas aos artistas de todos os ramos:
audiovisuais, artes plásticas, teatro, dança..."
O quanto
deve mudar a imagem da mulher que hoje oferecem os
produtos audiovisuais?
"O trabalho da
mídia é muito importante. Acho que os que determinam
as políticas culturais, em nível nacional, deveriam
frequentar estes cursos com os especialistas do
gênero. Existe decisão em nível do país para que
isto venha a acontecer, mas é preciso que se
apropriem dela, sobretudo a televisão. Há muitos
produtos que transmitem valores violentos e estou
certa de que é por causa do desconhecimento dos
realizadores e dos artistas".
"Não se trata
de travar uma guerra contra os homens, mas sim da
defesa dos direitos de equidade entre homens e
mulheres, do respeito à outra pessoa, de que nós
todos advoguemos por uma cultura de paz".
Os trabalhos
para mudar as consciências são em longo prazo. Estão
prontos para continuar este projeto sem medir o
tempo?
"O ‘Todas
Contracorriente’ chegou a nós para ficar. Assim que
entrei neste projeto o tenho como uma das razões de
vida e se trata de não esmorecer. O caminho é longo.
Talvez não vejamos o resultado, mas o importante é
irmos plantando a semente da não violência".
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