Presos Políticos do Império| MIAMI 5      

     

Só TEXTO|Assinatura jornal impreso| 

 C U B A

Havana. 29 Outubro, de 2014

Da Índia, um altar de respeito
pelo mundo

Oscar Sánchez Serra

TILONIA, em meio do deserto no estado de Rajastan, a umas sete horas da cidade de Nova Deli, a capital da Índia, é a sede de um projeto que nos últimos 42 anos tão só gerou amor para a humanidade. Barefoot College — a escola dos pés descalços — é um remanso de paz e altar de respeito por esse mundo cada vez mais ameaçado pela espécie humana.

Ali, sob os ideais de Gandhi, serve-se, educa-se e apoia-se as pessoas carentes, reforçando os seus conhecimentos, com o objetivo de que possam viver de maneira sustentável nas suas aldeias, vilas ou povoados.

Uma das abordagens do projeto, que hoje conta com o apoio do governo indiano, é formar e educar mulheres, mães e avós, já que elas são o alicerce da família e da sociedade.

"Um provérbio oriental diz que se se educa um rapaz se forma um homem, mas se se educa uma menina se forma uma aldeia", expressou ao Granma Internacional o representante da Barefoot College para a América Latina e o Caribe, Rodrigo París.

Como é que surgiu a ideia?

París afirma que foi uma proposta de um homem chamado Bunker Roy, com o intuito de recuperar os valores e ideais de Gandhi. "Ele recebeu uma grande educação na sua família e em vez de continuar os passos tradicionais de obter um bom emprego e ganhar dinheiro, resolveu apostar em um trabalho social voltado às pessoas com menos recursos. Criou a escola e a partir desse momento mora nesse lugar e trabalha o tempo todo para educar essas pessoas", garantiu.

Por que mulheres de mais de 35 anos?

"Elas são o centro da família e da comunidade em qualquer lado do mundo. Com mais de 35 anos porque já com essa idade procriaram, pensam como mães e têm raízes profundas no lugar onde moram. Uma mulher mãe, com essa idade, não somente pensa no seu bem-estar, mas também no de seus filhos e no da comunidade, no futuro, respeitam seu passado, amam a terra onde nasceram. Potencializar o conhecimento delas garante que a comunidade obtenha benefícios desse conhecimento e que a comunidade aproveite esse exemplo demonstrado por essa mulher para seus filhos, a família e todos em torno dela", afirmou.

Na escola dos pés descalços, o programa mais importante é o de engenharia Solar, pelo que, basicamente, as mulheres que chegam a Tilonia, vêm de aldeias rurais do mundo todo onde não há eletricidade. Esse é justamente um dos seus valores mais elevados, o ensino do emprego das fontes renováveis de energia, em um mundo onde já não cabe mais uma agressão ao meio ambiente.

Qual é a duração do curso?

"É de seis meses cada ano e participam 40 mulheres da América Latina, Ásia, África e Oceania. Ao não haver uma língua comum e sendo muitas delas analfabetas, já que vêm de zonas muito afastadas de seus países, aprendem com as cores, os números e os sinais. É uma aprendizagem artesanal, de repetir, de aprender, de reaprender, de terem paciência, de fazer as coisas uma e outra vez até que se retêm na memória", disse París.

Afirma que as mulheres conseguiram demonstrar que tudo é possível, que a decisão e os sonhos conseguem os avanços. "Elas partem de Barefoot cheias de saudade, travam amizade com outras mulheres do mundo que não sabiam que existiam, conseguem demonstrar elas próprias tudo aquilo que valem, conseguem assimilar sinais da cultura indiana, entendem que a educação é um tesouro e se convertem em um exemplo espetacular para seus filhos e netos", comenta o representante do projeto para a área latino-americana e caribenha.

"As mulheres do Paraguai foram as primeiras latino-americanas a viajarem a Tilonia, eram deficientes físicas, vieram em cadeiras de rodas e isso não foi um entrave para a sua superação no conhecimento da energia solar. As haitianas vieram com sua música e nos descansos e no tempo do lazer cantavam e muitas delas acabavam dançando, contagiando suas amigas de outros países, em um ciclo virtuoso, no qual o entretenimento e a comunicação aparecem sem importar a raça, a língua, a religião, a origem", aprofundou París.

Desde o passado mês de setembro, duas cubanas da província de Granma, no oriente do país, Acelia Arias Reyes e Mileidis Fonseca Oliva, estão no Barefoot College, com o objetivo de enriquecer sua experiência quanto ao emprego da energia solar como fonte de geração de energia, experiência que vêm implementando no povoado de Magdalena, nas proximidades da cidade de Bayamo.

Elas, tal como o resto das participantes em Tilonia, não falam inglês embora tivessem a possibilidade de aceder a processos docente-educativos, como parte do sistema nacional de ensino de Cuba, que abrange o país todo. Contudo, pela primeira vez pegaram um avião e viajaram ao outro lado do mundo.

Até a Índia viajaram essas duas mulheres cubanas com a mesma sede de aprender que suas novas companheiras e incutidas por essa filosofia de Mahatma Gandhi, expressa em uma frase de grande sabedoria: "Vive como se fosses morrer amanhã; aprende como se o mundo fosse durar pra sempre".

A iniciativa da Barefoot College é um exemplo para o mundo, a partir de um país que representa hoje uma das economias emergentes mais importantes do planeta e membro do grupo Brics. A Índia, a partir da Tilonia, mostra ao universo uma das mais belas e marcantes expressões da cooperação Sul-sul, expressa em outra sentença de Gandhi: "o amor é a força mais humilde, porém a mais poderosa de que dispõe o mundo".
 

IMPRIMIR ESTE MATERIAL


Diretor Geral: Pelayo Terry Cuervo. Diretor Editorial: Gustavo Becerra Estorino
HOSPEDAGEM: Teledatos-Cubaweb. Havana
Granma Internacional Digital: http://www.granma.cu/

  Inglês | Francês | Espanhol | Alemão | Italiano | Só TEXTO
Só TEXTO / Assinatura jornal impreso

© Copyright. 1996-2014. Todos os direitos reservados. GRANMA INTERNACIONAL/ EDICAO DIGITAL

Subir