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Havana. 29 Abril, de 2014

AQUÁRIO NACIONAL
Um amigo que mantém as portas abertas

Lisanka González Suárez

VOU contando os passos que me separam da entrada do Aquário Nacional, no bairro Miramar, em Havana e na minha mente vou revendo as informações que escutei nas primeiras horas da manhã. Algumas delas me espantaram:  …criado um acampamento no Norte da Síria para treinar crianças suicidas… estudantes esfaqueados numa escola americana… e justamente, quando estou começando a refletir acerca das origens de tais fatos, uma lotação repleta de crianças duma escola estaca na minha frente e como um turbilhão os meninos descem e rumam pelo caminho que os conduz ao tanque onde estão os lobos-marinhos.

 Com certeza, os meninos devem ter travado uma luta fraternal para conseguir ficar mais perto do mamífero marinho, que parecia esperar por eles, pois quando me aproximei, um deles estava sendo “beijado” na bochecha por um dos lobos-marinhos, que aliás, move as nadadeiras em sinal de regozijo.

 A tenra cena me faz lembrar as notícias já lidas e não posso evitar comparar a situação das crianças cubanas com as doutras nações, que estão em meio de um abandono total, privadas da alegria da infância, sem possibilidades de frequentar a escola; que trabalham como adultos, prostituem-se ou vão à guerra. Ainda, vêm à minha mente aquelas crianças que, apesar de viverem em países desenvolvidos e terem boas condições de vida, carecem da segurança elementar que requerem, algo que constitui um verdadeiro problema para seus país. Sabe-se que alguns pais cubanos que moram no exterior, durante as férias determinam enviar seus filhos para onde estão os familiares que deixaram nesta pequena e desenvolvida Ilha do Caribe, pois aqui as crianças podem visitar sozinhas o Aquário e brincar sem perigo nos parques próximos dos seus lares.

 O Aquário Nacional tem mais de meio século e seu diretor há já 24 anos, Guillermo García Montero, esteve ligado a essa instituição desde que surgiu. Lembra que a ideia de construir o Aquário foi lançada desde os primeiros meses do triunfo revolucionário, em janeiro de 1959, quando uma equipe de seis ou sete companheiros que estavam empenhados no projeto, criaram laboratórios experimentais e estabeleceram relações com outros aquários no mundo e com companhias estrangeiras para adquirir os materiais necessários para a sua construção. Dessa forma, no domingo 23 de janeiro de 1960, abriu as portas aquele primeiro Aquário, ocupando um hectare do bairro Miramar, com algo mais de 30 trabalhadores e perto de 1,5 mil exemplares de 100 espécies marinhas. Começou, ainda, como um centro de divulgação, lazer e ciências básicas, condições básicas que tem mantido ao longo dos 54 anos.

 “Na época, o Aquário de Cuba foi o primeiro do seu tipo construído na América Latina e um dos primeiros no mundo. Na Europa”, afirma, “só havia dois ou três, e no Japão e nos Estados Unidos havia alguns mais”.

O QUE A NATUREZA NÃO PODE DESTRUIR

 A partir desse momento o Aquário viveu tempos bons e tempos difíceis, durante os quais teve que encarar múltiplos problemas e carências materiais, como na década dos anos 90, a qual foi muito difícil; mas conseguiram sair na frente. Contudo, com a natureza é bem diferente; os furacões que passaram ou se aproximaram da capital trouxeram grandes penetrações da água do mar, as quais provocaram grandes prejuízos em varias instalações, algumas das quais foram substituídas e outras ainda estão trabalhando. O mais embaraçoso de tudo isso é que tais situações foram atrasando vários dos projetos do Aquário.

 A primeira fase desta etapa concluiu no ano 2000, a nova entrada ao Aquário. E dois anos mais tarde a segunda etapa, com a abertura de novas áreas, piscinas e tanques e outros locais que fazem parte do projeto. Neste momento, trabalha-se noutros empreendimentos que incluem o alargamento de um centro de biodiversidade, uma lanchonete com capacidade para 400 pessoas e um centro de educação ambiental. Daí que alguém disse numa ocasião que o Aquário está talvez a meio do caminho.

 Contudo, apesar das condições e as obras que se realizam, o Aquário recebe anualmente uns 500 mil visitantes, número que se manteve, nos últimos 15 anos, com algumas flutuações acima e ainda maior (750 mil pessoas), quando foi aberta a outra parte do projeto.

 Hoje em dia, novas e velhas gerações de técnicos, especialistas e trabalhadores têm pela frente outros problemas, na hora de acometer as obras que estão faltando, pelo qual seria difícil fixar uma data de acabamento das obras no seu conjunto. “Não posso responder isso hoje”, diz a máxima autoridade do Aquário, após escutar a pergunta chave. “Falta a terceira etapa que corresponderia, para que esteja pronto o Aquário”.

  Para isso, biólogos, técnicos e treinadores, pessoal de serviço, de manutenção, da gastronomia, eles todos em geral trabalham de forma coordenada e estreita, para encarar o novo desafio que têm pela frente.

 “Atualmente, indica Garcia Montero, só há aquários no Brasil, México, Venezuela (um de agua doce) e na Argentina. Com as dimensões deste não há outro na área e acho que pelos shows com os golfinhos e os lobos-marinhos mais as exibições que fazemos, nosso Aquário pode ser considerado um dos melhores da América Latina, independentemente de que hoje estamos trabalhando na recuperação de todas essas instalações e isso vai demorar mais um ano ou dois”.

RODEADOS PELO OCEANO

 O Aquário é pioneiro em nível mundial na implementação de programas de educação que se desenvolvem com recursos próprios. Exemplo disso são as jornadas científicas infantis, atividade que vem sendo realizada desde o ano 1994 e na qual participam crianças do país todo. Casualmente, durante nossa visita, no Aquário estava decorrendo a 19ª Jornada Científica, com a participação de 624 delegados, 274 deles de 11 províncias e 20 municípios do interior da Ilha e da capital.

 No evento foram examinados centenas de trabalhos feitos por crianças das creches, escolas do ensino primário, escolas de ensino especial, de arte, de esportes e do nível pré-universitário. Desenhos, pôsteres, cantos, trabalhos, contos, cerâmicas, danças, multimídias, jogos didáticos e outros sobre o tema do meio ambiente e de sua comunidade, muitos dos quais ultrapassaram as expectativas, graças à criativa imaginação infantil.

 “Essas atividades todas são financiadas exclusivamente pelo próprio Aquário Nacional”, destaca o director. “O Aquário gere-se de forma autosuficiente desde o ano 1997, só recebemos uma fatia de financiamento para as obras de construção. O Aquário mantém relações com organismos internacionais como a Unesco, instituição que ofereceu apoio nalgumas atividades de educação ambiental, pesquisas e outras, mas não para as operações diárias nem para os empreendimentos”.

 O público nacional paga um preço muito baixo, segundo a opinião do diretor “quase simbólico”, que lhe dá direito a desfrutar dalguns dos espetáculos de alta qualidade. Isso produz receitas anuais da orden dos 8,5 a 9 milhões de pesos, além de dispor de outras fontes que permitem ao Aquário obter receitas em divisas, através dos visitantes estrangeiros.

 O Aquário Nacional é o mais importante desse tipo existente no arquipélago e apesar de todas as obras previstas ainda não terem sido concluídas, é visitado diariamente por centenas de crianças, que retribuem com longos aplausos as cambalhotas dos golfinhos ou dos lobos-marinhos, premiando assim o esforço dos perto de 300 trabalhadores que tornam possível esse ato que é quase que de magia.

 As crianças tão só enxergam os peixes, as plantas aquáticas e o mar, que a miude ameaça com alagar este ponto da costa. As obras ainda incompletas, as ruínas que perduram, os entulhos que restam, isso não é alvo da sua atenção.

 Não são tempos da foca Silvia, heroína dos meus filhos há uns 30 anos e modelo para meu pai, que a flagrou pulando na sua piscina, numa exposição fotográfica. Já não estão nem essa foca nem a golfinha Diana, que deixou que a apanhassem novamente após ter sido libertada, nem Yolanda sua treinadora, nem o mirante, nem meu pai… É uma época nova, outras gerações e outro Aquário, mas todos aqueles que o desfrutaram agradecem sua existência. •

A primeira mulher treinadora: Yolanda Alfonso Hernández

 TINHA 18 anos quando chegou ao Aquário e seu primeiro emprego foi como faxineira. Pouco tempo depois, trabalhou na cafeteria como garçonete e finalmente acabou sendo guardiã de uma das áreas.

 Yolanda trabalhava no Aquário na época em que chegaram os primeiros golfinhos. Ficou cativada com seus robustos e enormes corpos e passava o dia acompanhando seus movimentos através do vidro do tanque. A curiosidade da joven chamou a atenção da diretoria do centro e quando chegaram mais seis golfinhos trazidos por dois técnicos do Instituto da Pesca do México, ela foi escolhida, junto doutro companheiro, para receberem lições de treinamento com golfinhos e lobos-marinhos. Não tinha medo deles mas ficava espantada com seu olhar debaixo da água.

 “Assim foi, convertemo-nos nos primeiros treinadores dos golfinhos Diana e Ciclón, os quais libertamos depois de 11 anos ao cuidado dos homens. Levamo-nos para um ponto no mar onde havia um cardume de golfinhos e os soltamos. Eu chorei muito. Após dois anos, voltamos a apanhar a Diana, estava prenhe e a libertamos novamente. Neste momento, o Aquário possui oito golfinhos e 12 treinadores, alguns deles treinados por Yolanda e outros pelos que ela formou.

 Atualmente, Yolanda dá aulas de educação ambiental e na hora em que conversei com ela estava examinando os trabalhos escolhidos para concorrer na Jornada Infantil.

 Além das aulas e de outras atividades, a primeira treinadora feminina do Aquário visita habitualmente seus golfinhos, aos quais conhece muito bem, mas que a continuam cativando.
 

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