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Havana. 23 Abril, de 2014

Cooperativas não-agropecuárias em Cuba

Lívia Rodríguez Delis

 NOS últimos meses aumentou na Ilha o número de cooperativas não-agropecuárias, modalidade que aspira a injetar dinamismo e eficiência às atividades econômicas da nação caribenha.

 Atualmente, existem em Cuba 452 associações deste tipo nos setores do comércio, gastronomia e serviços, construção, transporte, indústria e alimentação. Recentemente, foram criadas várias cooperativas nos ramos de energia e serviços contáveis.

 A história registra a criação da primeira cooperativa em 1884, quando 28 operários têxteis criaram na localidade de Rochdale, Inglaterra, um estabelecimento para facilitar o acesso aos alimentos.

 Os trabalhadores compravam grandes volumes de açúcar, farinha, sal e manteiga e depois vendiam a preços menores do que os existentes no mercado, numa associação sustentada no livre ingresso e livre saída; controle democrático; neutralidade política, racial e religiosa; vendas à vista; devolução de excedentes; juro limitado sobre o capital e educação contínua.

 A partir desse momento houve um auge desse movimento, que teve maior apogeu após a fundação na Europa, em 1895, da Aliança Cooperativa Internacional (ACI).

 Atualmente, estima-se que existem no mundo 750 mil cooperativas, que reúnem mais de 800 milhões de pessoas, o que significa mais de 12% da população do planeta.

 Dados da ACI indicam que atualmente as cooperativas oferecem serviços a um em cada dois habitantes do planeta e as 300 mais importantes do mundo possuem um capital avaliado em mais de US$2 bilhões.

 Cuba tem uma experiência de quase meio século neste tipo de associação, com o surgimento, em 1960, da Cooperativa de Créditos e Serviços (CCS); depois a Cooperativa de Produção Agropecuária (CPA) e posteriormente, em 1993, as Unidades Básicas de Produção Cooperada (UBPCs), todas no setor agrícola.

 Este aval, reconhecido em nível internacional, permitiu que Cuba presidisse a Rede Latino-Americana de Cooperativismo, organização que, juntamente com a Confederação de Cooperativas do Caribe e América Central e outras instituições, fomenta esta modalidade no continente.

 Com a extensão do cooperativismo para outros setores da economia, Cuba pretende desdobrar esses conhecimentos de mais de 50 anos para outras esferas da vida nacional.

 Sem dúvida, estas cooperativas, como alternativa organizativa e de autogestão, ocupam um lugar importante na atualização do modelo econômico cubano, aprovado no 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba onde, além da empresa estatal socialista, se reconhece e promove o cooperativismo, devido à necessidade de descentralizar a gestão do Estado para conseguir maior eficiência.

 Além do mais, não discrepam com o sistema de justiça social da Ilha, seus princípios básicos de membros abertos e voluntários, controle democrático e participação econômica dos membros, compromisso com a comunidade, e autonomia e independência, o que possibilita um clima de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade.

CONFECCIONES MODEL: INICIATIVA CUBANA DE PARTICIPAÇÃO

 Depois que passou a ser uma cooperativa, a Confecciones Model, uma antiga oficina têxtil na rua San Rafael, em Havana, tem ido mudando sua dinâmica.

 Há aproximadamente um ano, os trabalhadores desse centro, dedicado à confecção e venda de roupa — nomeadamente a tradicional guayabera (camisa típica cubana) — pensaram na possibilidade de serem independentes e desligar-se economicamente da empresa.

 “Se tecnicamente tínhamos todas as condições para enfrentar grandes volumes de produção, por que não mudar e estar em sintonia com o andamento da economia cubana?”, comentou ao Granma Internacional sua presidenta, Nancy Varela Medina.

 Para isto, contavam com uma importante equipe de trabalho, boas maquinarias e local adequado em espaço e lugar.

 “Fomos os primeiros a apresentar um projeto e realmente gostou muito; não foi fácil, mas o conseguimos. Assim que tivemos a aprovação do Conselho de Ministros iniciamos os trâmites com o Cartório Internacional e o registro mercantil, e a partir de 1º de outubro de 2013 começamos a trabalhar como cooperativa”.

 Entre modistas, costureiras, cortadores e designers, eles são 41, suficientes para encarregar-se dos grandes pedidos de uniformes e guayaberas que recebem.

O que mudou a partir desse momento?

 “As mudanças são palpáveis. Anteriormente tínhamos um salário fixo e uma estimulação; hoje recebemos segundo o que vendemos”, explicou Nancy Varela, que já sente o rigor de ser um ente autônomo e manter-se produtivo. “É bem diferente ser a diretora da oficina do que ser a presidenta da Cooperativa Confecciones Model”.

 “O regime de pagamento depende dos lucros, isto é, com os lucros da venda do mês anterior se paga aos trabalhadores, levando em conta seu desempenho, após pagar os compromissos econômicos com o Gabinete Nacional da Administração Tributária; as dívidas com a Empresa quanto ao aluguel do imóvel, local e equipamentos; e a compra da matéria-prima”.

 “Por exemplo, as costureiras especializadas em um dado trabalho (cosendo guayaberas ou trajes à medida) têm um salário diferente dos outros e segundo sua categoria recebem seu dinheiro. Neste momento, é muito difícil encontrar um pessoal preparado em costura como os que temos aqui. Por tal motivo, temos que cuidá-los”.

 Para Alfredo Valdés, costureiro, 80 anos, depois da saúde, a costura e a música são os dois elementos mais importantes na vida.

 “A música alegra o povo e sem roupa não se pode luzir. Isto é uma arte. O costureiro é um engenheiro”, afirmou Alfredo enquanto trabalhava.

 “Em Cuba há poucos costureiros. Temos que preparar os jovens e ensinar-lhes a beleza de uma profissão, que é necessário resgatar”.

 Ainda com insatisfações pessoais, Alfredo sente que sua vida melhorou desde que começou a trabalhar como parceiro da cooperativa. “Por agora estamos bem, mas não podem falhar o tecido e a linha”.

 A inquietação deste homem é muito justificada. Segundo a presidenta da cooperativa entre os obstáculos a enfrentar na nova estrutura organizativa está a disponibilidade e o custo da matéria-prima.

 “Temos alguns obstáculos com os insumos. Mediante contratos — explica Nancy — compramos diretamente o tecido e a linha à entidade Universal Havana. Antes o fazíamos à empresa intermediária. A maior dificuldade tem sido o preço, pois levando em conta os volumes, consideramos que deve ser um preço mais baixo ao preço que oferecem aos trabalhadores independentes”.

 Contudo, Marquidia Pérez, que leva quase 20 anos trabalhando em Confecciones Model, chama a atenção sobre outro sinal de alerta que pode afetar o ritmo produtivo.

 “Os clientes vão embora satisfeitos com a qualidade do trabalho, graças em boa medida à experiência dos nossos costureiros. Mas nos preocupa sua idade, pois os substitutos são escassos, faz falta capacitar mais os jovens e ensinar-lhes o valor deste trabalho”.

 “Esta nova estrutura trouxe-nos muitos benefícios, tanto econômicos como pessoais. Mas o mais importante é que agora somos mais unidos e nos ajudamos muito, que dizer, trabalhamos como companheiros. Sabemos que nossa sobrevivência depende do trabalho coletivo, da responsabilidade e das decisões que adotarmos, para manter com boa saúde nossa cooperativa”.

 

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