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Cuba: As viagens e os castelos de Havana
Roberto F. Campos
PARA a
Organização Mundial do Turismo (OMT) viajar
constitui uma atividade que tipifica o enfrentamento
da paz contra a guerra, sobretudo a partir da
compreensão e a tolerância intrínsecas.
E esse conceito
tem muitas bases no conhecimento dos viajantes
acerca da história e das tradições dos povos, que no
caso cubano e, particularmente sua capital; Havana,
atrai a atenção por seus castelos, símbolos
permanentes de uma época anterior.
Lugares que
atestam um momento de dominação, agora são
transformados em imagem icônica da cidade, postal
que identifica a urbe central do arquipélago cubano.
Havana, com
seus contrastes, também tem castelos. Baluartes de
uma época colonial entre os ataques dos piratas e o
desejo espanhol de preservar sua colônia. Isso tudo
ficou quase intato e hoje pode ser apreciado
facilmente. Praticamente, estas fortalezas
constituem símbolos da perpetuidade da memória
histórica da cidade, da sua permanência, sendo por
isso que aparecem nos postais turísticos como o mais
distintivo.
O exemplo mais
significativo é constituído pelo castelo do Morro,
que recebe aqueles que chegam pelo mar, ou
simplesmente àqueles — que visitam Havana — e
pretendem conhecer os lugares mais representativos
da cidade, fundada definitivamente em 16 de novembro
de 1519.
O
IMPENITENTE MORRO
Sempre à
espreita, o castelo de Los Tres Santos Reyes del
Morro, assenta sobre um alto rochedo, na entrada da
baía de Havana. Esta fortaleza e seu farol guiam os
navios e são uma imagem perfeita para aqueles que,
durante as viagens, fitam seu olhar nos grandes
detalhes.
Na atualidade,
é um lugar para visitar, chegando a ele mediante uma
embarcação que cruza o canal de entrada da baía ou
por terra, cruzando o túnel de Havana.
Porém, antes de
sua utilização como lugar turístico, muitas coisas
aconteceram, pois a Coroa espanhola concebeu planos
defensivos da cidade, entre os séculos 17 e 18,
devido aos ataques marítimos efetuados pelos
piratas.
As obras
duraram 40 anos, iniciadas em 1589 e findas em 1630,
sob a direção do engenheiro militar Juan Bautista
Antonelli, quem foi, ainda, o pai de outros redutos
da vila.
O Morro, como
simplesmente é conhecido, tem forma de polígono
irregular, com grossas muralhas, ergue-se a 40
metros acima do nível do mar e possui baluartes e
outras construções próprias para a defesa.
Como fato mais
destacado, o Morro permitiu enfrentar, em 1762, a
esquadra inglesa que se apoderou dessa fortaleza e a
partir dela, propiciou-se a tomada e ocupação de
Havana, que durou 11 meses (até 6 de julho de 1763).
Qualquer
viajante que chega hoje em dia à cidade distingue
acima da fortaleza uma torre de dez metros, seu
farol marítimo, que serviu de atalaia e sofreu
várias mudanças: no começo a luz do farol era
alimentada com lenha; a partir de 1819 com óleo, em
1928 com acetileno e finalmente desde 1945 com
eletricidade.
LA FUERZA
TORNOU-SE INEXPUGNÁVEL
Protegendo a
entrada da baía, e sendo a fortaleza mais antiga,
encontra-se na parte mais cosmopolita da cidade o
castelo da Real Fuerza. Ali se pode desfrutar de uma
tarde maravilhosa, sobretudo o pôr do sol, em um
café na parte superior, ou desfrutar de exposições
de artistas da cerâmica no seu interior.
Contudo, sua
construção esteve também ligada ao auge dos ataques
dos corsários e piratas, questão que obrigou o rei
da Espanha, Felipe II, a ordenar ao governador de
Havana na época, D. Hernando de Soto, a construção
de uma grande fortaleza.
Estas obras
começaram em 1558 e terminaram 20 anos depois, em
1578. Como peculiaridade, nos seus começos estiveram
a cargo da única mulher governadora da capital, Dona
Isabel de Bobadilla, esposa de Hernando de Soto,
aventureiro que morreu em 1542, no rio Mississippi,
durante a conquista da Flórida.
Então, aquela
mulher apaixonada, que sempre esperou o retorno do
seu companheiro, entregou a direção das obras ao
arquiteto Mateo de Aceituno. Acabou sendo uma
construção tão forte que alguns governadores a
utilizaram como residência.
E como uma
curiosidade, a senhora Bobadilla se converteu em um
símbolo tal que foi criado um cata-vento, e acima
dele foi colocada uma estátua de metal, na cúpula do
castelo, recebendo essa figura o nome de La
Giraldilla, um dos principais emblemas de Havana,
que representa a figura de uma mulher olhando o
horizonte.
LA PUNTA,
MUITO PRÓXIMO DO MAR
O castelo La
Punta foi construído em um rochedo, bem perto do
mar, diretamente sobre ele. Sua construção durou dez
anos, sendo acabado em 1600, quer dizer, 30 aos
antes que o Morro. Esta fortaleza é um baluarte
muito simples, em forma de quadrilátero, com 100
metros de comprimento e 58 de largura.
Os
historiadores lembram que quando da ocupação de
Havana por parte dos ingleses, o castelo sofreu
grandes danos, que depois foram reparados. Em 1868,
durante a Guerra dos Dez anos, pela independência da
Coroa espanhola, acrescentaram-se quatro esplanadas,
para desdobrar quatro canhões em cada uma delas.
SAN CARLOS
DE LA CABAÑA: SEDE DE EVENTOS
Além de acolher
o Museu das Armas e um local onde o comandante
guerrilheiro cubano-argentino Ernesto Che Guevara
instalou seu escritório, nos primeiros tempos da
Revolução Cubana, em 1959, este lugar representa o
centro do Parque Histórico, Turístico e Militar
Morro-Cabaña.
Esta grande
fortaleza também foi construída sob a regência do
arquiteto Juan Maria Antonelli e está situada numa
colina que domina a cidade toda, posição que os
militares da época consideravam chave para a defesa
da cidade.
Foi de tal
maneira que o próprio Antonelli, após construir o
Morro, olhou para aquela elevação e disse que quem a
dominasse também conseguiria tomar Havana, como
aconteceu depois com a armada inglesa.
As obras
começaram em 1763 — imediatamente depois da retirada
dos ingleses — por ordens de Carlos III e acabaram
um ano mais tarde. Os planos foram feitos pelo
francês M. de Valliere e os desenhos também correram
pela conta do francês M. Ricaud de Tirgole.
Falamos neste
caso de uma praça de 750 metros de comprimento, com
um polígono de 450 metros de muralhas, com
baluartes, terraços, capoeiras e
revelins. Em 1859 continha uma tropa de 1,3
mil soldados, com 120 canhões e obuses de bronze.
Nos seus pátios
foram fuzilados alguns patriotas cubanos, como Juan
Clemente Zenea, foi sede do comando das tropas
rebeldes, depois do ano 1959, cárcere, palco de
julgamentos contra a segurança do Estado e
finalmente local turístico.
E como símbolo
que distingue a cidade, atualmente, cada noite, às
21 horas, é disparado um tiro de canhão, conhecido
pelos cubanos como o "Canhonaço das nove",
empregando uma peça de artilharia da época colonial,
manipulada por cadetes, que envergam os uniformes da
época colonial.
A tradição
recolhe que esse disparo dava a ordem para fechar as
muralhas da cidade, outra das medidas de proteção da
vila contra os piratas.
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