|
Cuba aspira a um diálogo respeitoso, recíproco e em
igualdade com os EUA
Sergio Alejandro Gómez

NO fechamento desta edição, CUBA e os Estados Unidos
iniciavam, em 21 de janeiro, em Havana, conversações
ao mais alto nível, nas ultimas décadas, para abrir
o caminho do reatamento das relações diplomáticas e
tratar de outros temas de interesse bilateral.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores de
Cuba (Minrex) afirmou à imprensa que nosso país vai
participar destes encontros com espírito
construtivo, em um diálogo respeitoso, baseado na
igualdade soberana e na reciprocidade, sem abrir mão
da independência nacional e a autodeterminação do
povo cubano.
“Não devemos pretender que tudo seja resolvido em
uma só reunião”, avaliou a fonte diplomática, após
precisar que Cuba e os EUA estão dando passos para
reatar os vínculos rotos há mais de 50 anos. “A
normalização das relações é um processo muito mais
longo e complexo, onde será preciso abordar temas de
interesse de ambas as partes”.
Acrescentou que as medidas tomadas pelo presidente
Barack Obama vão no rumo positivo, mas ainda resta
muito a fazer em temas como o bloqueio econômico,
comercial e financeiro que esse país impõe a Cuba de
maneira unilateral.
O diplomata explicou que, após os anúncios dos
presidentes Barack Obama e Raúl Castro, em 17 de
dezembro passado, as partes acordaram transformar a
agenda da rodada de conversações sobre assuntos
migratórios que estava marcada para esta data.
Durante os dias 21 e 22 tinham sido previstos três
encontros, para abordar o tema migratório, o início
do processo para o reatamento das relações
diplomáticas e outros assuntos de interesse
bilateral e de cooperação.
A delegação norte-americana foi presidida pela
secretária assistente do Estado para os assuntos do
Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, a
funcionária de mais alto nível que visita a Ilha
desde finais da década de 70 do século passado.
Entretanto, a parte cubana estava representada pela
diretora-geral para os assuntos dos Estados Unidos
do Minrex, Josefina Vidal Ferrerio.
ASSUNTOS MIGRATÓRIOS
A fonte também explicou que Cuba ofereceria
informação à delegação norte-americana sobre o
andamento das medidas tomadas, em janeiro de 2013,
para atualizar a política migratória cubana e seu
impacto no fluxo de pessoas entre ambos os países.
Neste primeiro encontro, a parte cubana expressaria
profunda preocupação pela persistência da política
“pés secos, pés molhados” e a Lei de Ajuste Cubano,
que constitui o principal estímulo para emigração
ilegal, afirmou a fonte diplomática.
Acrescentou que também mostraria sua rejeição à
política estabelecida no ano 2006 pelo ex-presidente
George W. Bush de outorgar parole (residência nos
EUA) aos profissionais e técnicos cubanos da saúde
que abandonassem sua missão em terceiros paises.
“A reunião também será espaço para falar da
cooperação bilateral no enfrentamento à emigração
ilegal, o contrabando de pessoas e a fraude de
documentos”, acrescentou.
“Cuba expressará seu interesse de incrementar a
cooperação com as autoridades norte-americanas neste
tema, especificamente no enfrentamento à emigração
ilegal”.
INÍCIO DUM NOVO CAPÍTULO
Quinta-feira (22) se efetuava a reunião dedicada ao
processo de reatamento das relações diplomáticas e a
abertura de embaixadas.
“Discutiremos como vamos reatar as relações”, disse
a fonte diplomática, acrescentando que também seriam
abordados os princípios sobre os quais se vão manter
estes nexos.
“A delegação cubana enfatizará em que o reatamento
das relações diplomáticas e a abertura de
embaixadas, em ambas as capitais, deverá ser baseado
nos princípios do direito internacional referendados
na Carta das Nações Unidas e nas Convenções de Viena
sobre Relações Diplomáticas e Relações Consulares”,
precisou.
O acatamento desses documentos significa o respeito
recíproco ao sistema político e econômico de cada um
dos países e evitar qualquer tipo de intervenção nos
assuntos internos das nossas nações.
Esses princípios, na essência, são a igualdade
soberana, a solução das controvérsias por meios
pacíficos, abster-se de empregar a ameaça ou o uso
da força contra a integridade territorial ou a
independência política de qualquer Estado, bem como
a igualdade de direitos, a livre determinação dos
povos e a não intervenção nos assuntos que são
jurisdição interna dos Estados.
“Nesse contexto abordaremos a situação bancária da
nossa missão em Washington, que leva quase um ano
sem esses serviços”, disse. E precisou que “para
abrir embaixadas isto é algo que deve ser
resolvido”.
Por outra parte, o diplomata cubano adiantou que
Cuba sentaria pautas ou pelo menos enunciaria um
grupo de temas que devem ser atendidos e discutidos
dentro dum processo de normalização.
“Resulta um contra-senso reatar relações enquanto
Cuba continua injustamente na lista de estados
patrocinadores do terrorismo internacional”.
Ainda, se existe a decisão de normalizar as
relações, é essencial eliminar o bloqueio econômico,
comercial e financeiro.
“É preciso discutir as compensações por danos e
prejuízos por uma política que tem estado em vigor
por mais de 50 anos”, disse.
TEMAS BILATERAIS E DE COOPERAÇÃO
“Estamos cooperando nalguns setores de interesse
mútuo e de benefícios para ambos os países. Devemos
abordar as potencialidades que tem esta cooperação
bilateral”, detalhou o funcionário cubano.
Na atualidade, existem certos níveis de coordenação
no enfrentamento à emigração ilegal entre as tropas
guarda-fronteiras de Cuba e o serviço da guarda
costeira americana, bem como cooperação em
interdição de drogas.
Também existe cooperação quanto a vazamentos de
petróleo, no âmbito dum instrumento regional, e
existe um acordo assinado entre ambos os países
sobre busca e salvamento, em caso de acidentes
aéreos e marítimos.
Da mesma maneira, ambas as nações estão começando a
falar sobre monitorar movimentos sísmicos, entre
outros assuntos.
“Nesta reunião, Cuba reiterará a proposta que fez
no ano passado, ao governo dos EUA, de diálogo
respeitoso sobre bases de reciprocidade no referido
ao exercício dos direitos humanos”.
Existem preocupações legitimas sobre o exercício
dos direitos humanos nos Estados Unidos e situações
que se dão nesse país que não sucedem no nosso.
“Tudo isto pode ser abordado num diálogo sobre bases
recíprocas e em igualdade de condições”, afirmou.
Também disse que o governo estadunidense expressou
seu interesse de vincular-se com a sociedade civil
cubana. “Neste sentido os recebemos para que se
reúnam com as organizações reconhecidas que
conformam uma vibrante sociedade civil em Cuba:
estudantes, mulheres, camponeses, profissionais,
deficientes físicos, sindicatos, e outros”.
“Como vizinhos, Cuba e os EUA devem identificar
áreas de interesse mútuo onde se possa colaborar em
benefício dos dois países, da região e do mundo”,
assinalou.
A fonte detalhou que Cuba e os EUA estão entrando
numa nova etapa em suas relações e devem tentar não
repetir os mesmos erros do passado. |