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RELAÇÕES SOCIAIS
Um mundo para os seres humanos
Yenia Silva Correa
UMA
das prioridades de muitas instituições e centros de
pesquisa em Cuba tem sido trabalhar a favor dos
estudos sobre a mulher. Debater sobre estes aspectos
fora do campo acadêmico é requisito fundamental para
educar a partir da comunicação, num mundo que deve
ser cada vez mais inclusivo.
A
presidenta da Cátedra de Gênero e Comunicação, do
Instituto Internacional de Jornalismo José Martí, a
doutora Isabel Moya Richard, compartilha suas
impressões a respeito do tema.
Qual
a situação atual dos estudos de gênero em Cuba?
“Acho que os estudos de gênero em Cuba estão num bom
momento. A criação de 33 cátedras de estudos sobre a
mulher, a existência de um mestrado de gênero e do
Centro de Estudos da Mulher, da Federação das
Mulheres Cubanas (FMC) têm desenvolvido um
conhecimento que permite um exame próprio da
realidade cubana. Contamos, ainda, com uma
incipiente bibliografia onde se publica o pensamento
de pesquisadores cubanos sobre estes temas.
Inclusive nalgumas questões estamos bastante
avançados, como por exemplo no estudo das
masculinidades”.
Quanto tem contribuído o diplomado de Gênero e
Comunicação à compreensão do tema?
“O
diplomado nasceu no ano 2002 e deve-se, em primeiro
lugar, à sensibilidade de Guillermo Cabrera, o
diretor do Instituto naquele momento, que criou a
cátedra de Gênero e Comunicação. Começamos com ações
pequenas. Depois foi possível o desenvolvimento
deste diplomado que tem graduado mais de 200 pessoas
da América Latina e Espanha, permitindo desenvolver
outras oficinas e seminários. O diplomado é uma das
muitas ações que realizamos”.
As
mulheres se desempenham num mundo onde predomina o
ponto de vista masculino nas relações sociais. Será
que também vai chegar o momento onde exista o ponto
de vista feminino?
“A
questão não é ver o mundo a partir do olhar
masculino ou feminino. O desafio — e ao que
realmente aspira o feminismo — é ver um mundo para
os seres humanos, reconhecendo suas diversidades, a
pluralidade na maneira em que ser homem ou ser
mulher se possa estruturar”.
“Acho que o maior problema da sociedade
contemporânea é o mandato obrigatório de que coisa é
ser mulher ou homem. Na prática vemos que há
diferentes maneiras de assumir isto. Essas maneiras
devem ser desenvolvidas a partir das possibilidades,
dos interesses, do desejo das pessoas e não por
obrigados mandatos culturais. Daí a importância de
que os meios levem estes temas a debate”.
“Às
vezes, a aproximação dos meios é muito esquemática:
ou uma super mulher que é praticamente impossível
conseguir e que não resulta paradigma para ninguém
porque não tem vida própria, ou o modelo de mulher
que para ter sucesso deve abrir mão da família, ou
pelo contrário, a maternidade como algo obrigatório
e forçado. Esses esquemas não levam a nenhuma
parte”.
Então, o que acha a senhora que devemos fazer os
profissionais dos meios?
“Penso que devem abordar como um problema esta
realidade. Em datas determinadas entrevistamos
mulheres magníficas, maravilhosas e sacrificadas,
mas não se aborda o problema de como se vive a
maternidade. Por que razão são tão poucos os homens
que cuidam dos filhos a partir dos seis meses e até
o ano de vida, se recebem as mesmas vantagens?”
“Infelizmente, as mulheres também somos machistas
porque essa é uma ideologia que está na sociedade.
Educaram-nos assim. Por ocasiões pensamos que devido
aos sucessos atingidos pelas cubanas na vida pública
já isso significa uma igualdade. Temos avançado
muito na participação política. Somos o segundo país
do mundo com mais mulheres no Parlamento. Mas existe
um desafio a partir da cultura que é mais difícil de
transformar. Existe uma estrutura cultural que vai
desde o lar até os grandes meios, que continuam nos
conformando à maneira tradicional. Por isso, no caso
particular de Cuba, o importante é abordar isso como
um problema, pois existem muitos sucessos e não
temos tantos problemas como os de outras
sociedades”.
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