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Cuba apta para converter-se em nação
de energias limpas
• “Devido aos limites físicos, ecológicos e
(portanto) sociais
do uso da energia nuclear e fóssil, ninguém será
capaz de
evitar que a energia renovável seja a solução,
inclusive porque será a única solução que permaneça”
(Hermann Scheer, membro do Bundestag alemão,
presidente da Eurosolar e diretor-geral do Conselho
Mundial pra as Energias Renováveis, morto em 14 de
outubro de 2010)
Livia Rodríguez Delis
COMO parte da atualização de seu modelo econômico,
Cuba tem entre suas prioridades a mudança da matriz
energética, com o objetivo de favorecer o uso
eficiente da energia e o desenvolvimento das fontes
renováveis.
Atualmente a Ilha tem alta dependência dos
combustíveis fósseis, somente 3,9% da energia
renovável é utilizada na geração de eletricidade
que, além de ser a principal fonte de poluição, seus
custos são transferidos às produções,
encarecendo-as.
Cada ano, em Cuba se produzem 17.586 gigawatts por
hora (Gwh) e o gasto nos horários de ponta gira em
torno dos 3.156 megawatts (mW), ao tempo que as
perdas totais, na transmissão e distribuição, se
contabilizam em 17,6%.
A estratégia pretende reduzir a dependência dos
combustíveis fósseis com o conseguinte efeito na
independência energética do país e diminuir o
elevado custo da energia que se entrega aos
consumidores, devido aos preços dos combustíveis no
mercado mundial.
Isto é respaldado nas Diretrizes aprovadas no 6º
Congresso do Partido, onde se expressa a necessidade
de desenvolver essa política no sistema elétrico
nacional ou em lugares isolados, para tornar mais
eficaz o serviço.
Além do mais, em 11 de dezembro de 2012 foi criada
uma comissão governamental responsável por elaborar
a proposta para a utilização e o desenvolvimento
perspectivo das fontes renováveis de energia, no
período compreendido de 2013 até 2030.
A FORÇA MOTRIZ MAIS PODEROSA
Em 2004, o sistema elétrico sofreu uma avaria que
provocou complicações na dinâmica econômica e social
da Ilha. A partir desse momento surgiu, como
iniciativa do líder histórico Fidel Castro, a
denominada Revolução Energética, programa que
iniciou com a substituição de obsoletas usinas
termoelétricas por geradores elétricos e a renovação
de velhos equipamentos eletrodomésticos, resultando
na estratégia de emprego racional da energia.
Este programa deu seus primeiros passos com a
sincronização de 2.400 mw de geração, distribuída
mediante o emprego de motores de alta eficiência, o
que permitiu incrementar a eficácia no Sistema
Elétrico Nacional (SEN) devido a uma menor despesa
de combustível e atenuar as perdas de energia na
transmissão, ao gerar a eletricidade de maneira mais
próxima aos consumidores.
“Para eliminar as fugas nas redes de distribuição
foram substituídos 215 mil postes, 7 mil quilômetros
de calibre primário, 1,8 milhão de linhas
secundárias, 33.700 circuitos secundários e 2,8
milhões de metros contadores”, explicou o diretor de
Estratégia e Política Nacional, do Ministério da
Energia e Mineração (Minem), Leandro Matos.
Um dos setores protagonistas da Revolução energética
foi o residencial, pois experimentou e ajudou à
total substituição das lâmpadas incandescentes (94
milhões) por lâmpadas fluorescentes compactas e 4,4
milhões de equipamentos eletrodomésticos
ineficientes.
“Tudo isto acompanhado, no âmbito legal, com a
emissão da resolução 190 que proíbe a importação das
lâmpadas incandescentes e a mudança de tarifas na
cobrança do serviço”.
Segundo dados do Minem sobre os efeitos nos horários
de ponta da substituição de lâmpadas, por cada
milhão delas se reduziu em mais de 25 mw o consumo
de eletricidade e o custo do investimento se
recuperou em menos de três meses”.
“Começou a funcionar, a partir de 2009, o
regulamento técnico que estabelece e controla os
requisitos técnicos de eficiência energética,
segurança elétrica e tropicalização dos principais
equipamentos importados, fabricados ou montados no
país, para permitir sua comercialização”.
Segundo Matos, em Cuba existem quatro laboratórios
autorizados pelo Gabinete Nacional para o Uso
Racional da Energia (Onure), onde se realizam provas
ou testes nos equipamentos, segundo as normas
aprovadas pelo Comitê Eletrônico Cubano.
“Quando os resultados são satisfatórios, assinalou,
o Onure emite uma aceitação técnica onde se
determina se os equipamentos podem ser
comercializados ou não em Cuba”.
Entretanto, nos setores industrial e comercial se
implementaram ações, como a substituição de mais de
2.500 bombas de água ineficientes em aquedutos e
esgotos, a instalação de bancos de condensadores nos
grandes centros consumidores e a criação do Grupo de
Supervisão Energética.
Para conseguir uma gestão energética nesses setores,
foi planificado o consumo de eletricidade baseado
nos índices de consumo e atividades que realizam.
Alem do mais, foi estabelecido o monitoramento e
controle diários do gasto e a análise do cumprimento
dos planos pelo faturamento do consumo”.
“Em cinco anos diminuiu o consumo de petróleo e seus
derivados, a intensidade energética diminuiu em 27%
e houve uma poupança de 9,3 milhões de toneladas de
combustível, equivalente a US$ 4,6 bilhões”,
explicou Matos.
“Estamos num momento favorável e oportuno para
iniciar uma segunda etapa da Revolução energética,
pois temos maior apoio e uma garantia de ação mais
efetiva”.
VISÃO E PRIORIDADES ENERGÉTICAS
A energia renovável é a que se obtém a partir dos
recursos naturais considerados inesgotáveis como o
sol, o vento, a chuva, as marés e o calor
geotérmico; por tal motivo não esta sujeita a
mudanças bruscas de preços, pois provém de fontes
gratuitas, ao contrário dos combustíveis fósseis que
se encarecem na medida em que escasseiam.
No ano 200 a.C. na China e no Oriente Médio
utilizavam moinhos de vento para bombear água e moer
o grão. Além do mais, os primeiros romanos
utilizavam a energia geotérmica para aquecer as
casas.
Com a premissa de que as bondades da natureza não
são poucas e a necessidade de aproveitá-las de
maneira sustentável, durante 2013 iniciou-se em Cuba
um programa de empreendimentos, com vista ao
desenvolvimento de fontes alternativas e limpas de
energia.
“Construímos os primeiros sete parques solares
fotovoltaicos e seis pequenas usinas hidrelétricas,
um gerador de 500 quilowatts de potência de biomassa
florestal e três usinas de biogás para produzir
eletricidade”, indicou o diretor de energia
renovável do Minem, Raciel Guerra.
“Também iniciamos a construção do primeiro parque
eólico de 51 mw do país e com certeza, neste 2014,
começaremos a construir as duas primeiras usinas
bioelétricas com biomassa da cana-de-açúcar, que se
têm estado preparando intensamente”.
Recentemente, terminaram os estudos
técnico-econômicos de factibilidade, de quatro dos
mais importantes projetos que se devem desenvolver
nos anos próximos. Quais são estes projetos?
“Referem-se à construção de 19 usinas bioelétricas a
partir da biomassa da cana-de-açúcar; 13 parques
eólicos; parques solares fotovoltaicos e pequenas
usinas hidrelétricas, nas barragens do país”.
Qual o papel que pode desempenhar a indústria
nacional?
“Também se estudam os empreendimentos necessários na
indústria nacional para a produção de sistemas de
energia renovável. O objetivo não é convertermo-nos
em importadores mas sim, mediante a parceria com
empresas estrangeiras, fabricar partes e peças em
nosso país, questão que nos permita desenvolver a
indústria, incrementar os postos de trabalho e
reduzir os custos, por exemplo na produção de
aquecedores”.
“Nossa meta? Dispor da energia necessária para a
nação, para seu desenvolvimento e oferecê-la com
qualidade; diminuir os custos, para que as cadeias
produtivas do país sejam eficientes; uma energia
mais barata para a população; contribuir com o
desenvolvimento do sistema empresarial, a partir da
redução dos custos por importação das novas
tecnologias e eliminar todos os focos de poluição”.
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