Brasil financiou os bens e serviços
da construção do terminal de contêineres e a
remodelação do porto de Mariel, equipado com
tecnologia de última geração para receber e operar
cargas de navios de grande calado, como os chamados
"Postpanamax", que começarão a chegar quando seja
completada a ampliação do Canal de Panamá, em
dezembro de 2015.
A instalação, a 45 quilômetros a
oeste de Havana, está situada na rota dos principais
fluxos de transporte marítimo do hemisfério, pelo
que os especialistas coincidem em indicar que o
porto tem características para ser o maior do Caribe
quanto ao tamanho e volume de atividade.
O terminal é o coração da zona
especial, de 465 quilômetros quadrados, que
oferecerá uma infraestrutura de auto-estradas que
ligarão o porto de Mariel com o restante do país,
uma rede ferroviária, estruturas de comunicações e
serviços variados.
Na zona especial, atualmente em
construção, se realizarão atividades produtivas,
comerciais, agropecuárias, portuárias, logísticas,
de formação e capacitação, de lazer, turísticas,
imobiliárias, e de desenvolvimento e inovação
tecnológica, em instalações que incluem centros de
distribuição de mercadorias e parques industriais.
Dividida em oito setores, para seu
desenvolvimento por etapas, as primeiras serão
destinadas às telecomunicações e a um parque de
tecnologia moderna, no qual estarão montadas
indústrias farmacêuticas e de biotecnologia, dos
setores aos que se dará prioridade em Mariel, junto
com o das energias renováveis e o agrícola e
alimentar, entre outros.
O governo cubano estuda, atualmente,
a aprovação de 23 projetos da Europa, Ásia e a
América para estabelecer-se em Mariel, em setores
químicos, de materiais da construção, logística e de
arrendamento de equipamentos.
Inaugurada em 27 de janeiro, durante
seus primeiros seis meses de operação, o terminal já
recebeu 57 navios e uns 15 mil contêineres, uma
quantidade mínima porque a capacidade de
armazenamento é de 822 mil. Os navios Postpanamax
poderão transportar até 12.600 contêineres, três
vezes más que os navios que podem atravessar agora o
canal interoceânico.
Outro economista, Pedro Monreal,
calcula que o custo por contêiner cairá então, a
metade.
O menor custo, analisou, melhoraria
a competitividade das manufaturas brasileiras, por
colocar um exemplo. Mariel, onde operará também uma
zona franca, poderia converter-se em plataforma de
produção e exportação para essas empresas, inclusive
para abastecer seu próprio mercado.
O decreto Lei 313, que criou a ZEDM,
é de 13 de setembro de 2013, mas a remodelação de
Mariel tinha começado três anos antes, conduzida por
una empresa mista formada, em fevereiro de 2010,
pela companhia de Obras e Infraestrutura,
subsidiária da construtora privada brasileira
Odebrecht, e por Quality Cuba SA.
O terminal de contêineres é
administrado pela Global Ports Management Limited,
um dos maiores operadores portuários do mundo, que
trabalha desde há tempo com a firma cubana Almacenes
Universais S.A, proprietária, usuária e responsável
por zelar pelo uso eficiente do enclave portuário.
Também a relação entre Cuba e o
Brasil é de longa data. O ex-presidente Luis Inácio
Lula da Silva (2003-2010) não oculta suas simpatias
pela Revolução deste país caribenho, o qual visitou
em inúmeras ocasiões, primeiro como dirigente
sindical e político, depois como mandatário e agora
como ex-governante.
Dois pacotes de acordos assinados em
2008 e 2010, entre Lula e o presidente cubano Raúl
Castro, marcam seu interesse por reforçar os
vínculos binacionais, um esforço continuado pela
atual mandatária brasileira, Dilma Rousseff.
Anteriormente, tinha sido acordado o
crédito para o Mariel. Roussef especificou, quando
esteve presente na inauguração do terminal, que
somou US$ 802 milhões para esta etapa, mais US$ 290
milhões para a segunda fase. O primeiro dos créditos
foi destinado, inicialmente, à auto-estrada, mas o
governo local determinou começar pelo porto.
O empréstimo foi outorgado pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), do Brasil. Havana contribuiu com 15% do
investimento necessário para as obras.
"Cuba é uma prioridade para nosso
governo e também Havana põe muita atenção no
Brasil", comentou o diretor-geral da Agência
Brasileira de Promoção das Exportações e
Investimentos (Apex-Brasil), Hipólito Rocha.
A Apex-Brasil foi criada para
promover negócios em parceria com Cuba, o Caribe e a
América Central.
A Odebrecht é a companhia mais
importante ligada a Mariel, mas fontes diplomáticas
disseram que no total umas 400 empresas brasileiras
participam das obras. "Entre nossos países há
afinidade, decisão política, vocação para
integrar-se, mas também são importantes os
negócios", comentou o brasileiro Rocha.
Acrescentou que Cuba cumpre
rigorosamente seus compromissos financeiros com o
Brasil e que a relação binacional "está muito
consolidada, é sustentável e deixa benefícios também
ao nosso país".
Se de sinais se trata, os
presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia,
Vladimir Putin, os deram quando realizaram duas
visitas a Cuba, em julho, para ampliar os projetos
de colaboração com Havana.
Os dois presidentes estiveram em
Cuba, no âmbito de sua participação na Sexta Cúpula
do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e a
África do Sul), entre 14 e 16 de julho, que teve
lugar no Brasil.
O reforço destes vínculos promete
maior acesso aos mercados chinês e russo, atração
para investimentos em áreas de interesse comum, como
a indústria farmacêutica e energética, cooperação
para a modernização em setores estratégicos, portos
e telecomunicações, afirmam especialistas. (Excertos
tomados da IPS)