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Havana. 16 Abril, de 2014

Fernando González: “Fomos conscientes de que estávamos pagando por ser revolucionários”

Hernando Calvo Ospina

OS vi vir. O encontro era na Praça de Armas, próxima de El Templete, em Havana Velha. Pensei que jamais chegariam. Seu passo era devagar, despreocupado. Queriam olhar tudo. Era como se desejassem descobrir a cidade. Como se fossem os mais dedicados turistas.

Quis ir ao seu encontro, porem desisti quando olhei ao seu redor. Muitos olhos se tinham desmesurados, como não acreditando que eram eles. Então uma mulher se aproximou deles, e os tocou para constatar que eram eles. Os abraçou. Adiantaram uns passos e chegaram mais três jovens para cumprimentá-los.

Mas a maioria se contentava com admirá-los. Eles, com muita ternura recebiam e observavam essas demonstrações de carinho.

Depois de escutar uma versão de La Guantanamera, adaptada aos “Cinco heróis” por três músicos da rua, finalmente chegaram ao lugar do encontro. Abracei Fernando fortemente. Depois cumprimentei sua esposa, Rosa Aurora Freijanes. Não soube a quem devia cumprimentar primeiro: René, o outro antiterrorista livre, ou a sua esposa Olga, com os quais já tinha compartilhado meses atrás. Creio que primeiro abracei Olga. Nesse momento notei que Elizabeth Palmeiro, a esposa de Ramón Labañino, outro dos lutadores antiterroristas cubanos ainda presos, tentava passar desapercebida.

A secretária-geral da Associação de Solidariedade França-Cuba, Dominique Leduc, estava muito surpreendida. Eu a convidara sem precisar de que se tratava.

Foi muito difícil filmar na rua porque havia muito vento. Por isso tive que pedir licença para a entrevista no pequeno pátio de um hotel próximo. Enquanto disse de quem se tratavam, aceitaram de imediato: “É uma honra para nós receber nossos Heróis”. E a notícia espalhou-se de imediato entre os trabalhadores do lugar. “Este povo lhes deve muito”, escutei dizer a um homem muito emocionado”.

Aí tinha a Fernando sentado, esperando para fazer-lhe as perguntas. Antes de que Roberto Chile, o reconhecido câmara cubano dê-se a ordem para começar a filmar, o observava e me perguntava: como podem ser tão humildes, tão humanos, quando em cada esquina e lar de Cuba estão presentes?!

“Os guardas me acordaram à uma da madrugada de quinta-feira, 27 de fevereiro. Depois fui algemado nas mãos, cintura e pés, e às 15h30 tiraram-me da prisão de Safford (Arizona). Supostamente estava livre, mas aí mesmo, na porta, fui detido pelas autoridades de emigração. Levaram-me num comboio de veículos muito custodiado até a cidade de Phoenix. Depois a Miami... O operativo demorou 36 horas. Sempre estive algemado, e em meio a um grande operativo de segurança que me surpreendeu.

“Até no avião que me trazia a Cuba estava algemado, embora as algemas fossem de plástico, que cortaram quando o avião abriu a porta no aeroporto José Martí de Havana. Somente nesse momento me senti livre”.

Como se comportaram os presos com o senhor. Sabiam quem eras?

“No início era um preso mais. Mas pouco a pouco foram conhecendo o caso devido à solidariedade internacional. A solidariedade das organizações nos Estados Unidos conseguiu que nalgumas redes de televisão se informasse sobre nós. Além disso, os materiais de leitura que recebíamos os compartilhávamos com os outros presos. Isto foi atraindo a atenção e assim foram entendendo que éramos pessoas com um pensamento diferente.

Então falavam conosco de Cuba, da Revolução”.

O senhor esteve preso 15 anos, cinco meses e 15 dias. Foi uma punição contra fernando González?

“Desde o início deste processo fomos conscientes de que estávamos pagando por ser cubanos revolucionários. Por estar trabalhando para o povo de Cuba, para a Revolução, e até para o povo dos Estados Unidos, pois evitamos ações terroristas também contra o povo estadunidense.

A punição não foi contra minha pessoa, contra nós: foi uma necessidade de vingança pelo ódio que têm contra nosso processo revolucionário, contra uma história. E assim o assumimos”.

Como se sente o senhor em Cuba?

“Sinto-me livre, e não só por ter saído da prisão. Tenho essa liberdade que me negaram nos Estados Unidos. Aqui tenho a liberdade de fazer o que eu queira, incluindo a liberdade política. Nos EUA as pessoas não são livres de pensamento, porque eles têm muitos mecanismos para controlar e manipular a consciência das pessoas”.

Ficam ainda três lutadores antiterroristas presos...

“Temos uma dívida de gratidão com todos os amigos do mundo pelo que têm feito por nossa liberdade. Mas ainda temos muito a fazer, porque não nos conformamos com que Ramón e Antonio cumpram sua sentença, como cumprimos René e eu. Fazê-lo significaria que Gerardo jamais retorne. Por isso os amigos solidários no mundo devem continuar fazendo pressão para que os três sejam libertados e retornem o mais rápido possível”.

O senhor sente que a Revolução e o povo cubano  lhe cumpriram?

“Cumpriram-me. Nos cumprem. Jamais duvidei. Nós éramos claros de qual era nossa responsabilidade, e que devíamos resistir. Estávamos cientes de que publicamente, ou não, íamos ter o apoio da Revolução, do povo de Cuba. E isso inclui muitos cubanos residentes nos EUA e no mundo todo. Um dia foi decidido que a defesa e o apoio aos Cinco se tornasse pública. Isso foi uma decisão política. Mas embora não tivesse sido assim, nos sabíamos que não estaríamos sozinhos. (Extraído do blogue de Hernando Calvo Ospina)

 

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